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CAPÍTULO 6 – DISTINÇÃO ENTRE REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

6.1 Salário versus Remuneração

Consideram-se remunerações206 como as aglutinações de retribuições, dinheiro ou utilidades, percebidas pelos empregados em razão da prestação de serviços decorrentes dos contratos de trabalhos. São pagas pelo empregador ou terceiros de modo a subsidiar as necessidades básicas dos trabalhadores207.

O art. 457 da CLT não conceitua remuneração, mas alega que, por remuneração deve-se compreender, além, pelo salário devido ao empregador, as gorjetas que o empregado receber de terceiros. Pode-se, então, resumir a remuneração em uma fórmula matemática onde REMUNERAÇÕES = SALÁRIOS + GORJETAS208.

204 Cf. RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado de Direito do Trabalho: Parte II - Situações Laborais

Individuais. Lisboa: Almedina, 2012, p. 561.

205 Art. 457, caput, da CLT, na qual transcreve-se o enunciado: “Compreendem-se na remuneração do

empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber”.

206 A doutrina portuguesa distingue a remuneração em sentido amplo da remuneração em sentido estrito

(retribuição). A retribuição é a “prestação patrimonial, em dinheiro ou espécie, regular e periódica, que é devida ao trabalhador, por força do seu contrato, das normas que o regem ou dos usos, como contrapartida do seu trabalho”. Por outro lado a remuneração em sentido amplo “engloba o conjunto das vantagens patrimoniais de que o trabalhador beneficia em razão do seu contrato de trabalho e que podem ou não decorrer do trabalho prestado” (v. RAMALHO, Maria do Rosário Palma. op. cit., p. 570).

207 V. MARTINS, Sérgio Pinto. op. cit., p. 208.

208 Art. 457, CLT dispõe: “Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais,

além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. § 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões,

Por outro lado, o salário é conceituado por ser uma retribuição percebida pelo empregado em virtude da relação de emprego, pagas habitualmente e diretamente pelos empregadores209.

O salário210 pode-se compor em pecúnia, mas não exclusivamente, pois há casos em que o salário é complementado com prestações in natura, de tal modo que para os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa oferece, por força do contrato ou do costume, integra a retribuição dos empregados, desde que pagas de forma habitual. A lei de forma cogente impede que as empresas utilizem como pagamento bebidas alcoólicas ou drogas nocivas211.

Usualmente, as utilidades fornecidas pelo empregador aos empregados possuem natureza salarial com a finalidade de proteger os empregados para não terem que custear certas utilidades nas quais são consideradas essenciais para a consecução da atividade do empregador. O legislador evitou que o trabalhador tivesse que pagar para trabalhar.

Entretanto, a legislação não pode amparar somente o trabalhador, caso contrário inviabilizaria a contratação de empregados pelas empresas. Desse modo, visando não conter a evolução das empresas, o legislador abarcou rol de utilidades não salariais concedidas aos empregados.

percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. § 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado. § 3º - Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que fôr cobrada pela emprêsa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados”.

209 O ilustre jurista Sergio Pinto Martins considera que o salário deve ser pago em decorrência da

“contraprestação do trabalho, disponibilidade do trabalhador, das interrupções contratuais ou demais hipóteses previstas em lei” (cf. MARTINS, Sérgio Pinto. op. cit., p. 209).

210 O salário possui três vertentes, fixo, variável ou misto. Por salário fixo entende-se aquela retribuição

paga em quantia certa diretamente pelo empregador. Arnaldo Süssekind et. al. sugerem outra nomenclatura para salário fixo, para eles o salário fixo pode ser chamado de salário garantido (cf. SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do Trabalho. 10ª. ed. Vol. I. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987, p. 314). O salário variável são aqueles que variam em decorrência da produção do empregado (produção por peça, tarefa etc.). Entretanto, mesmo o salário sendo estipulado de maneira variável, o empregado possui a garantia de perceber o salário mínimo, caso a produção não atinja ou ultrapasse este valor. Este entendimento encontra respaldo na carta magna brasileira e dispõe: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável”. Por fim, existe o salário misto no qual compreende uma parte do salário a ser auferida de maneira fixa e a outra parte a ser auferida de forma variável.

211 Disposto no art. 458, in fine, da CLT. O cigarro concedido pela empresa não poderá ser considerado

salário in natura por ser considerado nocivo a saúde. Nessa esteira, confira a Súmula n. 367, II, do TST: “O cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde”.

Conforme dispositivo legal, serão considerados utilidades não salariais os vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; transporte212 destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; seguros de vida e de acidentes pessoais; previdência privada; e o valor correspondente ao vale-cultura213.

A lei permite as empresas fornecerem habitação214 e a alimentação como forma de utilidade não salarial, desde que observados os limites máximos de 25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento), respectivamente, do salário do empregado. Uma vez ultrapassado esses valores, essas utilidades passarão a integrar os salários dos empregados215.

Ademais, para fins legais, as indenizações216 não integram o salário, ou seja, as diárias e ajudas de custo217, benefícios previdenciários, recolhimentos sociais e outros pagamentos não considerados salário por lei e a vantagem percebida não integrará o salário do trabalhador.

Como gorjetas entendem-se as importâncias dadas, direta ou indiretamente, pelo cliente ao empregado, bem como os adicionais de contas cobrados pelas empresas

212 O veículo cedido pela empresa para o empregado não possuirá natureza salarial mesmo utilizado em

atividades particulares, entretanto para isto ocorrer o veículo deve ser indispensável para a realização do trabalho do empregado. Assim enuncia a Súmula n. 367, I, do TST: “(...) veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares”.

213 Vide art. 458, §2º, da CLT.

214 De acordo com o art. 458, §4º, da CLT, em se tratando de habitação coletiva, o valor do salário-utilidade

a ela correspondente será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo número de co- habitantes, vedada, em qualquer hipótese, a utilização da mesma unidade residencial por mais de uma família.

215 Vide art. 458, §3º, da CLT.

216 As indenizações não podem ser consideradas salários por conta da sua finalidade que visa à reparação

de danos ou ressarcimento de gastos dos trabalhadores. Dessa forma, aplica-se subsidiariamente o art. 927, parágrafo único, do CC, no qual prevê a obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

217 Só não integrarão o salário se a ajuda de custo e as diárias não ultrapassarem 50% do salário do

aos clientes, sendo destinados a distribuições aos empregados. Para todos os efeitos legais, as gorjetas integram a remuneração do empregado218.

Assim, conclui-se que as remunerações são gêneros dos quais derivam os salários e as gorjetas como espécies219.