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4.2 S UGESTÃO DE ALTERNATIVAS PARA APLICAÇÃO DA INSIGNIFICÂNCIA AO BEM DE USO

4.2.1 Sanção administrativa de perdimento do bem

A prática de contrabando comporta três esferas de responsabilidades: administrativa, fiscal e penal, sendo suas jurisdições distintas e autônomas, devido a diferença na natureza das infrações.

Para o Direito Penal, resta configurado o contrabando quando há o elemento subjetivo dolo – vontade de concorrer para o cometimento do ilícito (introduzir artigos proibidos em solo nacional) –, enquanto para a caracterização da infração fiscal, por seu caráter formal, suficiente o resultado de prejuízo ao Fisco.

Assim, não obstante defendermos a aplicação da insignificância ao contrabando, obstando condenações desproporcionais, não há isenção de

responsabilidade administrativa e fiscal, mantendo-se conservadas as sanções de apreensão e perdimento do bem.

O Estado, objetivando satisfazer incessantemente os interesses da coletividade, a partir da proteção à segurança, higiene, saúde, entre outros, estabelece limitações ao exercício de liberdades individuais e ao direito de propriedade dos particulares em detrimento do interesse público.

Assim, conforme Carvalho (2017, p. 132), na busca do bem estar da sociedade, nasce o Poder de Polícia, no qual o Estado define parâmetros ao exercício do direito de propriedade, criando-lhes restrições e adequações.

Marinela (2012), por seu turno, aduz que o Poder de Polícia trata-se de uma atividade estatal que se expressa através de atos normativos, com base na supremacia geral e na lei, regulando a propriedade privada mediante ações fiscalizadoras, preventivas e repressivas.

Finalmente, o Código Tributário Nacional, em seu artigo 78, in verbis: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Concerne, pois, à Polícia Administrativa lotada em zonas de Aduana zelar, mediante fiscalização sobre a entrada de produtos de origem estrangeira, pelos bens jurídicos tutelados (segurança, saúde pública, indústria nacional, etc.). Reza o artigo 237 da Constituição Federal que “A fiscalização e o controle sobre o comércio exterior, essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais, serão exercidos pelo Ministério da Fazenda.” Por delegação, incumbe à Receita Federal do Brasil controlar o comércio exterior e a valoração de tributos devidos na importação, garantindo os interesses do Tesouro Nacional.

Especificamente ao contrabando faz parte do elemento normativo do tipo o fato da importação ser proibida. Esta proibição decorre de regulamentos administrativos, frutos do tradicional exercício do poder de polícia. Revela-se uma norma penal em branco, obrigatoriamente complementada por outra de mesma ou diferente hierarquia jurídica. No caso, só é possível conhecer a conduta proibida se conhecermos os regulamentos administrativos de importação.

As principais normas orientadoras de importação de produtos proibidos são o Regulamento Aduaneiro (Decreto-Lei 6.759/2009) e instruções normativas e técnicas da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Agência Nacional de Vigilância Sanitárias (Anvisa), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), entre outras. Já o Decreto-Lei 1455/1976, instrumento que disciplina o procedimento de âmbito administrativo, também alberga as sanções cabíveis sobre bens malquistos pela legislação aduaneira. As mais violentas sanções tratam-se da apreensão e perdimento do bem.

Nessa senda, expõe Mazur

As sanções administrativas são aplicadas por meio do processo fiscal respectivo [...] Tem início com o “Auto de Infração”, acompanhado do “Termo de Apreensão”, cuja finalidade é a pena de perdimento, em favor da União, das mercadorias e dos veículos transportadores. É ele de competência do Ministério da Fazenda, sob a responsabilidade da Secretaria da Receita Federal, a qual detém o papel principal na repressão ao contrabando. (MAZUR, 2005, p. 124)

Harmoniza o Regimento Interno da Receita Federal, ao apontar como um de seus objetivos “planejar, coordenar e realizar as atividades de repressão ao contrabando”. Uma das formas de repressão ao delito em análise, senão a mais

cominada em sede administrativa, aduz Ferreira sobre a sanção de apreensão e perdimento do bem

Tendo em mente que a aplicação do perdimento de bens tem como pressuposto o dano ao erário, sua não aplicação àqueles que causem esse tipo de dano implica permitir-lhes locupletarem-se às custas do tesouro público, [...] em evidente prejuízo à sociedade como um todo. (FERREIRA, 2004, p. 173)

Para além, a pena de perdimento oferece resultados positivos, ainda que insatisfatórios, como meio de combate ao comportamento contrabandista indesejado. A RFB, ao longo de sua atuação durante o ano de 2017, divulgou dados sobre os recordes alcançados ao conseguir realizar o maior número de operações e apreensões voltadas ao combate ao contrabando:

Fonte: Jornal Folha de São Paulo (matéria com abordagem sobre o contrabando no Brasil)

Assim, uma vez perdido o bem, sua destinação ocorrerá em uma das modalidades elencadas no artigo 29 do Decreto-Lei 1455, quais sejam (a) alienação para pessoas físicas ou jurídicas mediante licitação na modalidade leilão; (b) doação a Organizações da Sociedade Civil; (c) incorporação a órgãos da Administração Pública em âmbito municipal, estadual ou federal; (d) destruição ou (e) inutilização.

Especificamente quanto aos bens relativos ao contrabando, quando possível serão incorporados em benefício do patrimônio público. Armas, munições e explosivos destinam-se ao Exército. Medicamentos e equipamentos hospitalares são repassados a hospitais universitários de instituições públicas de ensino superior, Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde.

Vale dizer, a escolha entre as opções conferidas pela lei sobre a destinação dos objetos é avaliada casuisticamente pela autoridade competente, com o objetivo de alcançar benefícios administrativos, econômicos e sociais, respeitados os aspectos da mercadoria disponível e a necessidade de esvaziamento dos depósitos.

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