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3.5 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

3.5.1 Sanções

Segundo Bandeira de Mello os parágrafos 4º e 5° do artigo 37º da Lei Maior, o agente ficará sujeito, sem prejuízo da ação penal cabível, à suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento do erário, na forma e gradação previstas em lei, “sendo imprescritível a ação de ressarcimento por ilícitos praticados por qualquer agente que cause prejuízo ao erário.”47

Note-se que o dispositivo constitucional, ao indicar as medidas cabíveis, não se refere a elas como sanções. E, na realidade, nem todas têm essa natureza. É o caso da indisponibilidade dos bens, que tem nítido caráter preventivo, já que tem por objetivo acautelar os interesses do erário durante a apuração dos fatos, evitando a dilapidação a transferência ou ocultação dos bens que tornariam impossível o ressarcimento do dano.48

A norma repete-se no artigo 186 do Novo Código Civil, com o acréscimo da menção expressa ao dano moral. Por isso mesmo, só é cabível o ressarcimento

44 MARTINS JUNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 185. 45 Ibid., p. 188.

46 PAZZAGLINI 2006, p. 58.

47 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20. ed. São Paulo:

Malheiros, 2006. p. 264.

se do ato de improbidade resultou prejuízo para o erário, ou para o patrimônio público (entendido em sentido amplo).Onde não existe prejuízo, não se pode falar em ressarcimento, sob pena de enriquecimento ilícito por parte do Poder Público.49

Essa conclusão decorre de norma expressa da lei, contida no artigo 5º da Lei de Improbidade Administrativa, segundo a qual “ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.”50

Dispõe Pazzaglini Filho, Rosa, Fazzio Júnior e Barbosa que “a constituição aplica a indisponibilidade do patrimônio do agente, constituindo medida para impedir que os bens sejam extraviados pelo agente ímprobo.”51

Segundo Di Pietro na lei nº 8.429/92, as sanções estão previstas especificamente no artigo 12, indo além da norma constitucional ao prever outras medidas, a saber, a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio para a hipótese de enriquecimento ilícito, a multa civil e a proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoas jurídicas da qual seja sócio majoritário.52

Também os artigos 5º e 6º da Lei de Improbidade tratam parcialmente da matéria, em normas que nada acrescentam em relação ao que já se contém no artigo 12 da mesma Lei. Com efeito, o artigo 5º estabelece que, ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.53

Na realidade teria sido melhor que o legislador tivesse se limitado a essas duas disposições, não repetindo a mesma coisa no artigo 12º, já que não se trata propriamente de medida punitiva, mas de simples reposição das coisas no status

quo ante.54

Segundo Di Pietro, verifica-se no artigo 12 da Lei 8.429/92, que:

o legislador estabeleceu uma gradação decrescente em termos de gravidade: em primeiro lugar, os atos que acarretam enriquecimento ilícito;

49 DI PIETRO, 2006, p. 786.

50 BRASIL. Lei de improbidade administrativa. Loc. cit.

51 PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Marcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo.

Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. 4. ed. São Paulo:

Atlas, 1999. p. 36.

52 DI PIETRO, op. cit., p. 787. 53 Ibid., p. 787.

segundo, os atos que causam prejuízo ao erário; e, em terceiro, os atos que atentam contra os princípios da administração.

Agradação foi estabelecida em relação a algumas penas, da seguinte forma:

a) a suspensão dos direitos políticos, que varia de 8 a 10 anos, no primeiro caso; de 5 a 8 anos, no segundo; e de 3 a 5 anos no terceiro caso;

b) o valor da multa civil, que pode ser de até 3 vezes o valor do acréscimo patrimonial, em caso de enriquecimento ilícito; de até 2 vezes o valor do dano, no caso de dano ao erário; e de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente, no caso de atentado aos princípios da administração;

c) a proibição de contratar com a administração ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios pode ser aplicada pelo prazo de 10, 5 e 3 anos respectivamente.55

Para o professor Moraes “a perda dos direitos políticos configura a privação definitiva dos mesmos e ocorre nos casos de perda da naturalização por sentença transita em julgado e recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5°, VIII, da constituição federal.”56

Por sua vez a suspensão dos direitos políticos esta prevista na Constituição Federal, e varia de acordo com o tipo do ato ímprobo, sendo mensurada e interposta pelo juiz.57

É plenamente possível que o mesmo ato ou omissão se enquadre nos três tipos de improbidade administrativa previstos em lei. Não se pode conceber um ato que acarrete enriquecimento ilícito ou prejuízo para o erário e que, ao mesmo tempo, não afete os princípios da administração, especialmente o da legalidade. Nesse caso, serão cabíveis as sanções previstas para a infração mais grave (enriquecimento ilícito).58

Outro aspecto das sanções diz respeito à possibilidade de aplicação cumulativa das penas previstas no artigo 12 da Lei de Improbidade. O ato de improbidade afeta , em grande parte, o patrimônio público econômico-financeiro; afeta o patrimônio público moral; afeta o interesse de toda a coletividade em que honestidade e a moralidade prevaleçam no trato da coisa pública; afeta a disciplina interna da Administração Pública. Ora, se valores de natureza diversa são atingidos, é perfeitamente aceitável que algumas ou todas as penalidades sejam aplicadas concomitantemente.59

55 DI PIETRO, 2006, p. 787.

56 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 256. 57 DI PIETRO, op. cit., p. 787.

58 Ibid., p. 787. 59 Ibid., p. 787.

No termos do parágrafo único do artigo 12 da Lei de Improbidade Administrativa “na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.”60

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