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Santa Lúcia: a verdadeira “Helen” das Índias Ocidentais

5. FASE 1: ANÁLISE DO CONTEXTO SOCIOHISTÓRICO

5.2 Uma breve história do Caribe: um povo dividido pela veia, pelo escravismo e colonialismo.

5.2.5 Santa Lúcia: a verdadeira “Helen” das Índias Ocidentais

A ilha de Santa Lúcia tem um papel crucial para a história e a literatura do Caribe. Por causa de seu belo porto em Castries, sua capital, e de sua proximidade com a Martinica42, Santa Lúcia sempre esteve no centro do conflito colonial. Antes de sua independência em 1979, a ilha mudou de mãos quatorze vezes e pertenceu tanto aos ingleses como aos franceses. Acabou passando definitivamente para os ingleses em 1814. A chefia do Estado, ainda hoje, cabe à rainha Elizabeth, representada por um governador-geral. Ainda hoje, a dominação colonial mantém suas marcas com a esmagadora maioria de seus habitantes negros e descendentes dos escravos africanos falando um patois43 francês chamado creole, bem como a língua inglesa. Portanto, Santa Lúcia estabelece uma conexão entre as ilhas maiores falantes de inglês como Trinidad e as ilhas francesas da Martinica e de Guadalupe.

Santa Lúcia, que faz parte do arquipélago das Pequenas Antilhas, foi supostamente descoberta por Colombo em 1502. A ilha apresenta um relevo muito acidentado com muitos montes e morros e é quase toda formada por rochas vulcânicas. O clima é tropical, com chuvas fortes e repentinas, momentos de calor e mormaço e também terríveis furacões.

Os Ameríndios chamaram a ilha de “Iounalao” que quer dizer “onde o iguana é encontrado”. No entanto, os europeus só vieram mesmo no meio do século XVI, em 1502, com o francês François Le Clerc44 que se estabeleceu na ilha Pigeon para tocaiar os navios espanhóis.

42 Cerca de 32 km ao norte de Santa Lúcia. 43

Qualquer língua diferente de sua forma padrão. Embora o termo não seja formalmente definido na Linguística, qualquer derivação de um idioma padronizado pode ser um patois como, por exemplo, o pidgin (língua de contato, mistura de outras línguas), o patois jamaicano, entre outros. Refere-se ainda às derivações do idioma francês utilizadas pelas colônias.

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Foi um pirata francês, da Normandia, considerado o primeiro a ter uma “perna de pau”. Ele e sua tripulação de 330 homens foram os primeiros europeus a povoar a ilha de Santa Lúcia.

Figura 1 – Mapa de Santa Lúcia

Muitos europeus visitaram ou residiram em Santa Lúcia e seus relatos de viagem são importantes para um estudo mais detalhado sobre a ilha. “A viagem de Olive Branch”45 é um material interessante que oferece uma visão muito particular sobre a ilha. Descreve a estória de aventureiros da Guiana que foram desviados de suas rotas por causa das tempestades e aportaram em Santa Lúcia. Os índios Caribes foram descritos nessa obra como “canibais cruéis, comedores de carne humana”. Outros relatos falam sobre a vegetação exuberante e a vida selvagem da ilha. São relatos dos primeiros contatos entre caribenhos e europeus que sugerem a ideia de outrização. Outros autores como Owen Rutter, Patrick Leigh Fermor e Sir Frederick Treves fazem uma descrição abrangente da ilha. Esses autores dão atenção especial à luta entre os franceses e os ingleses pela ocupação da ilha, sua expansão e práticas culturais.

O país também vivenciou, ao longo de sua evolução, vários ciclos econômicos. Primeiro, foi a exploração da madeira para o fornecimento de carvão. Com a devastação das florestas, o que restou da rica flora original só pode ser obtido nos pontos mais altos e mais frios da ilha. Em OMEROS encontramos uma passagem que ilustra esse fato logo no início do poema, quando os pescadores derrubavam uma árvore para fazer uma canoa. Vejamos:

Foi assim que, num amanhecer, nós talhamos aquelas canoas. Philoctete sorri para os turistas, que com suas máquinas fotográficas tentam tirar sua alma. “Logo que o vento traz a notícia

para os laurier-cannelles, suas folhas se põem a tremer

45

HULME, Peter; WHITEHEAD, Neil. L. Wild Majesty: Encounters with Caribs from Columbus to the Present Day. Oxford: Clarendon Press, 1992. p. 62

no instante em que o machado da luz do sol fere os cedros porque podiam ver os machados em seus próprios olhos.

O vento levanta as samabaias. Soam como o mar que alimenta a nós pescadores durante a vida inteira; e as samambaias se curvaram: ‘Sim, as árvores têm que morrer! Assim, punhos premidos nos paletós – porque estava frio nas alturas – e a respiração fazendo plumas

como a névoa, passamos o rum. Quando voltou, a bebida deu ânimo para a gente se tornar assassinos.

Eu ergo o machado e rezo por força nas mãos,

para ferir o primeiro cedro. O orvalho me enchia os olhos, mas atiro mais um rum branco. Então avançamos.” (WALCOTT, 1994, Livro Primeiro, cap. I- I pag. 31)

Depois, veio o ciclo da cana-de-açúcar com uma grande produção de açúcar e de rum da melhor qualidade, mas esse período foi rápido e terminou com as usinas desativadas. O solo da ilha não era rico em pedras preciosas e só se pôde extrair dele o enxofre que não rendeu bons resultados. Hoje, a ilha tem uma economia pobre, com renda extraída de seus bananais, coqueiros, a pesca e a pecuária e, recentemente, o turismo com a presença de grandes transatlânticos atracados em seu porto.

Santa Lúcia também possui uma literatura bastante rica. É importante mencionar “literatura”, em vez de “escritores”, pois a tradição de história oral dos caribenhos teve uma grande influência nos documentos escritos. Ainda hoje, muitos escritores nativos não são publicados, pois produzem uma literatura essencialmente oral. Considerando o tamanho da ilha e sua população46, podemos afirmar que ela possui uma tradição literária exemplar. A literatura escrita começou no período pós-guerra e Derek Walcott é parte dessa primeira geração de escritores. A projeção do autor como um poeta maior certamente elevou Santa Lúcia como parte do cenário literário mundial. Em OMEROS, a maior parte da ação não se passa em Castries, mas sim em Gros Îlet situada na costa ocidental de Santa Lúcia. É lá que quase todos os personagens do poema vivem, numa pequena aldeia de pescadores com ligações importantes para a história local. Foi de lá que o Almirante Rodney zarpou com sua frota para a histórica Batalha das Santas47. A tabela abaixo fornece alguns dados sobre a ilha de Santa Lúcia.

46 Território de 616,42 quilometros quadrados. População de 168.000 habitantes.

47 Batalha das Santas foi o episódio no qual a frota inglesa, sob o comando do almirante Rodney, impôs grande

derrota à esquadra francesa, em 1782, fazendo com que Santa Lúcia passasse definitivamente para o domínio inglês, em 1814, após mudar de ‘dono’ catorze vezes.

Tabela 3-Informações gerais sobre a Ilha de Santa Lúcia

Localização Caribe

Capital Castries

Área 239.38 mi

620.00 km (3.5 vezes o tamanho de Washington, DC)

População Grupos Étnicos População estimada em 2050 Independência do Reino Unido 168, 312 (estimativa de 2007) 90,5% de Afro-americanos, 5,5% de euroafricanos, 3,2 % de indianos, 0,8% de europeus meridionais.

235,420

22 de fevereiro de 1979

Língua Inglês (oficial), francês e espanhol; kwéyòl (patoá francês, dialetal)

Índice de

Alfabetização

67.0% total, 65.0% homens, 69% mulheres

Religiões Católicos 79%, Protestantes 15,5%, outras 5,5%

Expectativa de Vida 69.0 homens, 76.39 mulheres

Tipo de Governo Democracia parlamentar conforme o modelo britânico

Moeda Dólar Caribenho Oriental

GDP (per capita) $4,500 (estimativa de 2000)

Indústria roupas, montagem de componentes eletrônicos, bebidas, caixas de papelão, turismo, fabricação de cal

Agricultura bananas, coco, vegetais, frutas cítricas, raízes, cacau