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O objetivo da alienação em hasta pública é a satisfação do crédito, que pode ocorrer de duas formas, como estabelece o Código de Processo Civil: “Art. 904. A satisfação do crédito exequendo far-se-á: I - pela entrega do dinheiro; II - pela adjudicação dos bens penhorados” (BRASIL, 2015).

Dessa forma, entende-se que todo o movimento processual tem por objetivo promover a satisfação do crédito, que decorre da atuação do Estado em cobrar o devedor e entregar o resultado obtido ao credor, quer seja pela entrega do dinheiro que constitui meio normal ou ordinário de extinção das obrigações, quer seja pela entrega do bem em pagamento da dívida ou adjudicação que consiste na transferência do bem ao exequente, devendo o bem

ser transferido ao exequente pelo valor de sua avaliação judicial, não podendo ser por preço inferior, como acontece na praça de leilão (VENOSA, 2006).

Desse modo, cabe ao juiz autorizar o exequente a levantar, até satisfação integral de seu crédito, o valor depositado em dinheiro referente à venda do bem penhorado, ao faturamento ou a outros frutos e rendimentos de coisas ou empresas penhoradas, quando a execução for movida só a benefício do exequente singular, a quem, por força da penhora, cabe o direito de preferência sobre os bens penhorados e alienados. Entretanto, quando não houver sobre os bens alienados outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente à penhora, o magistrado não poderá conceder o pedido de levantamento de importância em dinheiro ou valores, ou de liberação de bens apreendidos, durante o plantão do judiciário, conforme o que preceitua o Código de Processo Civil (art. 905, incisos I e II e parágrafo único), como segue:

Art. 905. O juiz autorizará que o exequente levante, até a satisfação integral de seu crédito, o dinheiro depositado para segurar o juízo ou o produto dos bens alienados, bem como do faturamento de empresa ou de outros frutos e rendimentos de coisas ou empresas penhoradas, quando:

I - a execução for movida só a benefício do exequente singular, a quem, por força da penhora, cabe o direito de preferência sobre os bens penhorados e alienados;

II - não houver sobre os bens alienados outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente à penhora.

Parágrafo único. Durante o plantão judiciário, veda-se a concessão de pedidos de levantamento de importância em dinheiro ou valores ou de liberação de bens apreendidos (BRASIL, 2015).

Conforme o art. 906 do CPC, recebido o valor do crédito, o exequente deve dar quitação do valor pago ao executado nos próprios autos (BRASIL, 2015). Ademais, a expedição de mandado de levantamento pode ser substituída pela transferência eletrônica do valor depositado em conta vinculada ao juízo para outra indicada pelo exequente, fazendo-se prova de quitação, pois, por meio da movimentação bancária, é possível a identificação do pagamento. Ainda, o exequente tem direito a receber, além do valor principal, os juros, as custas e os honorários, que se tratam de valores que já se consolidaram pela demora e pelo movimento processual, sendo que a importância restante será devolvida para o executado (art. 907 do CPC) (BRASIL, 2015).

Desse modo, a ação do Estado por meio da cobrança judicial, visa ao recebimento do crédito, com base no princípio da menor onerosidade para o devedor, sendo, dessa forma, justa a devolução do excedente ao executado e a prática dos atos de expropriação dentro dos limites estabelecidos pela legislação, como, também, pertinente a avaliação e a venda do bem em hasta pública, o que possibilita oferta de maior valor possível pelo comprador. Entende-se que a força constritiva do Estado obriga o executado a pagar, pois, querendo ou não, seus bens

serão penhorados para a satisfação do crédito. Vale lembrar que o executado pode pagar o que deve até a hora do leilão, situação que possibilitará a suspensão do leilão e a extinção da execução. Entretanto, o executado deverá pagar a porcentagem a que faz jus o leiloeiro (BRASIL, 2015).

Destaca-se que, havendo pluralidade de credores ou exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue conforme ordem das respectivas preferências:

Art. 908. Havendo pluralidade de credores ou exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue consoante à ordem das respectivas preferências.

§ 1º No caso de adjudicação ou alienação, os créditos que recaem sobre o bem, inclusive os de natureza propter rem, sub-rogam-se sobre o respectivo preço, observada a ordem de preferência.

§ 2º Não havendo título legal à preferência, o dinheiro será distribuído entre os concorrentes, observando-se a anterioridade de cada penhora.

Art. 909. Os exequentes formularão as suas pretensões, que versarão unicamente sobre o direito de preferência e a anterioridade da penhora, e, apresentadas as razões, o juiz decidirá (BRASIL, 2015).

Nesse caso, Montenegro Filho (2018) entende que se configura o concurso de credores, instaurado para o exame da ordem de preferência, no gênero, com as espécies do concurso universal e do concurso singular ou particular. O concurso de credores é instaurado em ação de execução por quantia certa contra devedor insolvente e em ação falimentar; já o concurso singular ou particular configura-se quando: existem vários credores, que instauraram execuções contra um mesmo devedor; o patrimônio do devedor é suficiente para o pagamento de todos os credores; o mesmo bem foi penhorado mais de uma vez.

Destaca-se que a Lei n. 11.101/2005, Lei de Falência (LF), dispõe, em seu art. 83, incisos I a VIII, sobre a preferência dos créditos no concurso de credores, estabelecendo a seguinte ordem de preferência: a) crédito trabalhista e indenização por acidente do trabalho, até o limite de 150 (cento e cinquenta) salários mínimos (art. 83, inciso I, LF); b) crédito com garantia real (art. 83, inciso II, LF); c) crédito tributário (art. 83, inciso III, LF); d) crédito com privilégio especial (art. 83, inciso IV, LF e art. 964, CC); e) crédito com privilégio geral art. 83, inciso V, LF e art. 965, CC); f) créditos quirografários (art. 83, inciso VI, LF); g) créditos decorrentes da aplicação de multas contratuais e das penas por infração às leis penais ou administrativas (art. 83, VII, LF); e, h) créditos subordinados, assim considerados os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício e os previstos em lei ou em contrato (art. 83, inciso VIII, LF) (CAMPOS, 2007 apud MONTENEGRO FILHO, 2018).

Ademais, considerando-se o objetivo concurso de credores, a disputa que os envolve se limita à discussão da legitimidade de cada um dos interessados, o que possibilita a

determinação da ordem de preferência a partir dos critérios relacionados na legislação e anterioridade da penhora. A existência dos créditos e a discussão relacionada aos seus valores são matérias estranhas ao incidente (DINAMARCO, 2004). A decisão judicial, nesse caso, pode ser atacada por recurso de agravo de instrumento, no prazo geral de 15 (quinze) dias úteis, conforme art. 1.015, parágrafo único, CPC (BRASIL, 2015).

Cabe ressaltar que os créditos tributários não se sujeitam ao concurso de credores ou habilitação em falência, liquidação ou inventário, mas, tão somente, em relação às pessoas jurídicas de Direito Público, na seguinte ordem: União e suas autarquias; Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata; e, Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata – art. 29, parágrafo único, incisos I a III, Lei n. 6.830/1980 (BRASIL, 1980).

Sendo assim, as regras que normatizam a satisfação do crédito visam a garantir a segurança jurídica, satisfazendo o crédito do exequente e quitando o débito do executado.