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Tarefa 2 – Redação de um texto.

Para um conhecimento mais profundo sobre ideias, atitudes e comportamentos dos alu- nos face a questões que envolvem a EF foram realizadas, para além do questionário já apresen- tado, algumas tarefas.

Na sequência de uma leitura aos capítulos 7 e 8 da obra de Carlo Collodi, “As aventuras de Pinóquio”, surgiu o mote para a Tarefa 2 (T2). Este excerto da obra remete para a situação em que Pinóquio, enganado, enterrou o seu dinheiro na esperança de que germinasse uma ár- vore que desse dinheiro. Nestes capítulos está, assim, patente a noção da escassez do dinheiro

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e pretendeu-se colocar os alunos numa situação oposta, ou seja, na posse de uma grande quan- tia de dinheiro. Desta forma optou-se pelo pedido de elaboração de um pequeno texto em que disseram o que fariam caso tivessem todo o dinheiro do mundo.

A investigadora que era simultaneamente professora estagiária (PE) do grupo não permi- tiu conversas entre os alunos para evitar influências das ideias de uns para os outros.

Tratando-se de uma tarefa bastante clara e simples não se verificaram quaisquer dificul- dades na sua execução e todos os alunos se mostraram motivados. A envolvência demonstrada na realização desta tarefa está provavelmente relacionada com a ideia, imaginária, de estar pe- rante a posse de todo o dinheiro do mundo, em que quase todos os desejos podem ser facil- mente concretizados.

Verificou-se que 53% dos alunos (10) optavam por investir o dinheiro neles próprios, ad- quirindo bens para seu próprio usufruto, não esquecendo o outro. Todavia deste grupo de alu- nos, apenas 2 demonstraram uma visão “mais modesta”:

Usaria-o para fazer concursos de canto e de colinaria e em todos esses concursos os vencedores ganhavam dinheiro. Também o usaria para comprar coisas para os meus amigos e para a minha família. Por fim, se eu tivesse todo o dinheiro do mundo usaria-o para comprar uma piscina, um cão e coisas para mim. Mas na verdade gosto da minha vida tal como ela é! (Aluno CR)16

Logo no começo do seu pequeno texto infere-se que o aluno reconhece que ganhar di- nheiro é algo que todos desejam. O facto de salientar que o prémio para os vencedores dos concursos seria uma quantia pecuniária invoca este pensamento. O prémio final poderia ser uma viagem, uma formação, mas o aluno optou por dinheiro.

Para além dos concursos enfatizou que investiria o dinheiro para ajudar a família e os amigos o que revela uma certa maturidade, pois o mais comum é referirem que ajudavam os pobres, como adiante se verá. Apenas no fim, o que creio que se deve ter em consideração, a aluna refere o que compraria para si. Todavia aquilo que mais se valorizou nesta resposta foi o facto de a aluna referir que gosta da sua vida tal como é. Esta pequena frase parece demonstrar uma criança com alguma maturidade, compreendendo que há coisas que o dinheiro não pode comprar.

O outro aluno, por sua vez, manifesta opções distintas:

Eu comprava uma casa nova, um ferrari e ajudava os outros a comprarem comidas, as mobílias e também ajudava a minha familia. Ia de ferias para a Madeira e para os Açores visitar os meus primos. E o resto do dinheiro gastava-o nas comidas e no que for preciso comprar. Também jogava no eromilhões para ganhar o jequepote desta semana. Também inscreviame no jinásio do Hotel Axis. (Aluno TM)

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Constata-se que tem noção do que é essencial à vida referindo ajudar os outros em bens essenciais. Contudo, é certo que o aluno descreve claramente onde investiria o seu dinheiro, mas que revela falta de noção do seu valor. O que nos leva a inferir tal facto prende-se com a última informação proferida pelo aluno. Aparenta não ter grande noção do valor das coisas: comprava um Ferrari e inscrevia-se no ginásio. Há uma grande diferença monetária entre estas duas despesas e o aluno transparece não ter essa noção. Claramente que está ao alcance de muito poucos ter um Ferrari, não obstante a ida frequente ao ginásio é algo quase banal, atual- mente. Não seria de todo necessário ganhar um prémio monetário avultado para possibilitar uma inscrição num ginásio.

Deste grupo inicial de 10 alunos, os restantes 8 revelam uma grande imaginação o que consequentemente traduzimos como alguma falta de maturidade e noção da realidade. Toda- via, apesar de excêntricos, nunca esqueceram de refirir os outros.

Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo ajudava as pessoas mais pobres. Comprava-lhes muita roupa, uma casa, muita comida e arranjava-lhes um emprego. Também comprava um avião onde os animais poção voar. Nunca mais ninguém passava fome! Eu para mim comprava uma caravana para andar pelo mundo inteiro. Também comprava uma ilha e uma selva. Comprava um Ferrari para o meu pai. Para a milha mãe comprava uma piscina e uma praia. Para os meus tios comprava um circo. Para as minhas tias comprava uma penção. E para terminar comprava uma escola! Eu adorava ter esse dinheiro todo! (Aluno IC)

Também é interessante ressalvar que este aluno refere primeiramente ajudar os mais ne- cessitados seguindo-se o próprio e a família. Contrariamente ao aluno CR, o aluno IC confidencia que adoraria ter muito dinheiro tal como o aluno CA, que se segue.

Comprava todos os prédios inormes do mundo, roupa chique, todos os livros da escola para apren- der, ía viajar pelo mundo de avião, de submarino e de barco. Também ajudava os mais pequeninos e os idosos. Dava uma vida melhore a eles e um pouco de dinheiro. Comprava comida para mim e ervas de cheiro para o meu quintal cheirar bem. Subia a Torre Eiffel e fazia lá um piquenique. Eu adorava esta vida! (Aluno CA)

Por sua vez, o aluno GP, manifesta uma ideia diferente dos anteriores. Exemplifica a quan- tia de dinheiro que dava a cada pobre (tomando as suas palavras). Claramente que esta resposta é influenciada pela sua maturidade associada à sua faixa etária. O aluno em questão manifesta consciência social, não obstante depreende-se que não tem noção do valor do dinheiro. Prova- velmente interpreta que 40€ vale muito mais do que na realidade vale.

Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo eu compraria abrigo para os pobres. Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo eu conquistava terreno, mandava construir um país e deijava viver lá toda a gente. Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo eu dava quarenta euros a cada pobre. Se eu tivesse

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todo o dinheiro do mundo eu mandava construir um parque com baloiço, com escorrega, e com culchões de ginástica. (Aluno GP)

Estas respostas não foram discutidas nem trabalhadas com os alunos de modo que res- ponderam livremente. Provavelmente se houvesse uma discussão posterior muitas das ideias contidas nas respostas eram desmistificadas – Se existirem 10 pobres quanto dinheiro no total darias? E se existirem 100? 1000? Será que há muita ou pouca gente com pouco dinheiro? O que podemos fazer com 40€? Será dinheiro suficiente para ajudar uma família a sair da pobreza? Será que era possível uma só pessoa ajudar todos os que têm pouco dinheiro? - Questões como estas poderiam ser debatidas.

O aluno CP manifesta na sua resposta um forte cariz imaginário, contudo quando se refere a ajudar os mais necessitados estabelece a prioridade dos bens essenciais.

Ia comprar uma montanha russa, uma casa com 1000 andares e um submarino onde podia ver os peixes, as baleias, os tubarões, as mantas, as raias e mais coisas. Também gostaria de ajudar os pobres a terem uma casa com comida e cama para dormirem. (Aluno CP)

Por outro lado, 26% dos alunos (5) referiram apenas gastar o dinheiro em satisfações pes- soais.

Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo comprava uma mansão, um carro com as rodas altisimas, um barco e um avião. Com o dinheiro que sobra comprava muitos mantimentos e compra-va a boshe e o meu trabalho seria arranjar carros. E também o meu trabalho iria pilotar helicópetros numa semana ia a boshe e na outra pilotar os helicópeteros. (Aluno GV)

Comprava uma casa com um jardim lindo para plantar muitos frutos. Também comprava um hotel de cinco estrelas com o meu nome e um spa chique. E comprava um cabeleireiro e uma descoteca das melhores! Comprava um choping e comprava todas as coisas que gosta-se nas lojas. E também queira comprar uma família de Barbados da Terceira. Comprava muitos cadernos e mais matriais. E também comprava uma saia com brilhantes coloridos. (Aluno SD)

Contrariamente a este grupo de alunos, 21% (4), nunca referem gastos com eles próprios. Um outro aluno (JB) refere outra quantia pecuniária que daria aos mais carenciados e é inferido o mesmo que anteriormente.

Ambas as respostas refletem um carácter mais altruísta, até com os animais. Todos, algum dia, já pensámos que poderíamos mudar o mundo, e é deste modo que as crianças pensam, neste momento. Claramente que nos parece que há uma noção muito pouco realista do valor do dinheiro, não obstante estas respostas refletiram algumas crenças e valores dos alunos sobre ele.

Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo comprava uma ilha para todas as pessoas que não tivessem casa e que não tivessem dinheiro. Também dava cinco euros a cada uma das pessoas, mandava

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construir um super mercado e um parque infantil. Para os meninos que não tinham brinquedos para brincar dava cinco brinquedos a cada um dos meninos e meninas. Contruia uma escola para os meninos e meninas aprenderem coisas novas. Comprava livros para os meninos aprenderem a escrever e comprava roupa para todas as crianças. (Aluno JB)

Se eu fosse rica ozava o dinheiro para ajudar as pessoas com mubilidade reduzida i usava para fazer um ospital para as pessoas que estava mal e uma escola para os meninos e as meninas aprende- rem. Eu também ajudava as pessoas mais pobres a aranjar um lugar para viver. E tinha uma quinta onde viviam muitos animais. I era assim que eu fazia se tivesse o dinheiro de todo o mundo. (Aluno MC)

Síntese

A grande maioria dos alunos (14) demonstrou uma preocupação em ajudar o outro, sejam membros da família, amigos ou pessoas mais carenciadas e é interessante constatar que alguns alunos evidenciam nas suas respostas que o dinheiro compra conhecimento na medida em que referem que “comprava livros para os meninos aprenderem”; “comprava uma escola para os meninos e meninas aprenderem coisas novas”; “usava para fazer uma escola para os meninos e meninas aprenderem”.

Em contrapartida verificam-se alguns casos com sugestões extremamente excêntricas e até irrealistas. Verifica-se uma clara correspondência entre as respostas dos alunos e o seu nível de compreensão do mundo coexistindo respostas mais realistas e sensatas e respostas mais ex- travagantes e com algum non sense.

Tarefa 2 – Redação de um texto

Padrões de resposta Frequência

Dinheiro gasto em satisfações pessoais e para ajudar os outros 10

Dinheiro gasto em satisfações pessoais 5

Dinheiro gasto para ajudar os outros 4

Quadro 20 - Padrões de resposta à T2

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