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O Secretário e a gestão educacional

No documento maurosilviopereira (páginas 109-112)

2 ANÁLISE DOS DESAFIOS DA INSPEÇÃO FRENTE AO PROCESSO DE

2.3 A DINÂMICA DE FUNCIONAMENTO DA SECRETARIA ESCOLAR

2.3.1 O Secretário e a gestão educacional

Em diversos momentos deste estudo de caso destacamos a centralidade da secretaria no contexto das escolas, para onde são convergidas as informações acadêmicas dos alunos e profissionais dos servidores. O fluxo ininterrupto de dados torna complexa as atividades de escrituração e a gestão organizada das informações se faz necessária, reforçando a necessidade da figura do gestor setorial. Não basta apenas processar os dados, organizando-os no sistema, é preciso um olhar cuidadoso com os arquivos escolares e seus impressos, que se avolumam a cada nova matrícula realizada e ano letivo concluído, e devem, por força da legislação educacional, manter-se atualizados nas pastas dos alunos.

Diante disso, buscamos identificar o gestor da secretaria escolar a partir da concepção dos servidores, que cargo ocupa nos quadros do serviço público municipal ou estadual. Consideramos importante essa informação para que saibamos a quem o funcionário se reportará nas situações que forem necessárias. As respostas foram obtidas por meio de digitação e não de forma optativa, excluindo assim a possibilidade de indução. Dessa forma, foi informado que para 16 ATB das escolas estaduais de Caraí o diretor é o gestor imediato de seu setor de trabalho, enquanto três ATB consideraram o inspetor e finalmente para dois ATB o secretário escolar é o responsável pela gestão da Secretaria. Na rede municipal, todos os seis secretários escolares indicaram o Dirigente Municipal de Educação como gestor do setor de trabalho.

Conquanto o Secretário seja oficialmente o gestor da secretaria escolar, as respostas dos ATB das escolas estaduais do município de Caraí não indicaram essa condição. Apenas dois ATB o referenciou como responsável imediato pela secretaria. Ainda que visite de forma programada a secretaria sem, no entanto, possuir presença efetiva no setor, o inspetor escolar foi indicado por três ATB. O diretor, sendo aquele que credencia o secretário, delegando funções associadas à gestão setorial, para que não seja sobrecarregado diante das muitas atribuições que estão sob sua responsabilidade, foi considerado por 16 ATB o gestor que comanda os serviços da secretaria.

Secretariar nas escolas estaduais de Minas Gerais é uma função gratificada, de indicação do diretor, sendo, portanto, um cargo de confiança. As competências do secretário foram relacionadas no primeiro capítulo deste trabalho e todas elas confirmam a natureza do cargo, voltada à gestão, à medida que supervisiona, analisa, confere, planeja, garante, delega, responde e monitora as atividades. Constitui uma importante atividade de suporte ao diretor no âmbito das escolas, o que está em consonância ao que aponta Gianini e Gerardin Junior (2010), quando destacam que esse profissional deverá ser um facilitador na execução dos serviços educacionais.

São amplas as atribuições do cargo de secretário e o servidor que assume a função será responsável por todo o processo administrativo-pedagógico da escola, conforme asseveram Gianini e Gerardin Junior (2010). Para Silva (2017, p. 97) o secretário “No contexto da comunidade interna, além de ser o gestor de dados e informações da instituição, é também o elemento executivo”. Como gestor, suas ações devem reforçar a necessidade de melhoria do processo educacional.

A atuação do profissional secretário nas Instituições de Ensino fortalece a imagem do profissional empreendedor que possui perfil para atuar como Gestor Escolar. Por conseguinte, com esta atuação é possível propor um novo modelo de gestão escolar, o qual aceita desafios e busca ideias para atender as necessidades da sociedade. (GIANINI; GERARDIN JUNIOR, 2010, p. 41).

Neste contexto, o secretário é entendido como gestor e deverá promover a qualidade do serviço público, preservando a regularidade dos atos escolares e a eficiência no atendimento às solicitações da comunidade. Pelas respostas obtidas por meio do questionário, constata-se que o desafio comum a todos eles será o reconhecimento de sua condição de gestor diante do quadro de servidores que está sob seus cuidados. A possível anulação do secretário enquanto gestor leva-nos a refletir sobre o conceito de liderança que para Lück (2012) não é uma prerrogativa exclusiva. A autora entende liderança como sendo

[...] o processo de influência, realizado no âmbito da gestão de pessoas e de processos sociais, no sentido de mobilização de seu talento e esforços, orientado por uma visão clara e abrangente da organização em que se situa e de objetivos que deva realizar, com a

perspectiva da melhoria contínua da própria organização, de seus processos e das pessoas envolvidas. (LÜCK, 2012, p. 35).

Observamos que, por ocupar-se com questões específicas, os secretários das escolas analisadas passam a ter visão compartimentada das atividades desenvolvidas no setor. Constatamos que dos quatro secretários das escolas estaduais do município, um ocupa-se exclusivamente com o SIMADE e três com vida funcional do servidor (pagamento e contagem de tempo). Com isto, não interagem com os ATB enquanto gestores e sim como pares, e essa condição poderá comprometer a afirmação diante do grupo. E, como enfatizado, a gerência dos serviços de secretaria é fundamental para a promoção da qualidade, bem como para suprimir as pendências e intempestividades.

Os ATB, ao indicarem o diretor e não o secretário como gestor, deixam transparecer que não há um responsável imediato pelos serviços de secretaria, quem os coordene diretamente. De acordo com Lück (2012), a liderança é uma característica imprescindível ao gestor escolar. Segundo a autora, muitos profissionais que estão em cargos de comando não possuem perfil de líderes e, quando possuem, deparam com problemas de afirmação no ambiente de trabalho.

Percebemos que o secretário não fixa uma agenda organizada de atividades a serem executadas por ele como gestor e nem aos ATB enquanto subordinados, cobrando eficiência, tendo como referência os prazos previstos pela legislação e isto pode estar repercutindo no tempo gasto na expedição dos documentos escolares e na própria atualização dos arquivos, especificamente na ausência dos históricos na composição das pastas dos alunos em situação de nova matrícula, já que esse tipo de tarefa é feita geralmente pelo ATB por meio de atribuição.

Na outra rede de ensino, apesar de todos os secretários escolares terem indicado o Dirigente Municipal de Educação como gestor do setor de trabalho, é sentida a ausência de uma chefia imediata nas atividades de escrituração, quem coordene efetivamente os serviços.

O Dirigente Municipal de Educação é um agente político, indicado pelo executivo municipal de Caraí e que, por força das circunstâncias, acaba sendo quase sempre alguém não vinculado à rede de ensino. Um elemento externo. Considerando os últimos cinco gestores da pasta, nenhum pertence ao quadro de servidores do município. Por ocupar-se geralmente com questões administrativas da educação, a atenção dada pelo gestor da pasta à escrituração limita-se à assinatura

do histórico escolar. O fato de não conhecer as atividades relacionadas à escrituração dificulta a sua intervenção com vistas à otimização do setor.

Como inspetor escolar que acompanha as atividades da Secretaria, não consegui constatar alguma forma de intervenção do gestor cobrando tempestividade na expedição do histórico ou estabelecendo um plano de trabalho objetivando a resolução das pendências da escrituração. Chiavenato (1999) considera importante que o gestor se aproxime do lócus de produção, porquanto “os subordinados requerem atenção e acompanhamento, pois enfrentam várias contingências internas e externas e estão sujeitos a problemas pessoais”. As vicissitudes são próprias do ser humano e elas podem alterar a condução dos trabalhos, sendo necessário a figura mediadora do gestor.

Para que o Dirigente Municipal de Educação consiga dinamizar os serviços da Secretaria é necessário, segundo Romão (1992), capacidade de planejar, gerenciar e administrar. Um olhar que seja extensivo ao processo como um todo e não simplesmente às demandas específicas. Os problemas na escrituração escolar constituem o presente estudo de caso e tornam-se ainda mais evidentes nas situações em que o aluno muda de rede de ensino. Monitorar esse processo é competência do gestor, seja ele vinculado à rede municipal ou estadual.

No documento maurosilviopereira (páginas 109-112)