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SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NA CONSTRUÇÃO DOS TERRITÓRIOS

4 PLANEJAMENTO URBANO E SUAS IMPLICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DO

4.3 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NA CONSTRUÇÃO DOS TERRITÓRIOS

O processo de industrialização e urbanização desencadeou a partir dos anos de 1950 a explosão das cidades, abrigando a classe trabalhadora em imensas periferias sem as condições necessárias para a garantia de sua subsistência, gerando um aprofundamento da desigualdade social. O modelo de industrialização dependente, com altas taxas de exploração do trabalho e grande número de desempregados, revela os conteúdos dos processos constitutivos das cidades. É a partir dessa configuração que o crescimento das cidades se dá de forma acelerada e desordenada, representando um dos processos de urbanização mais intensos ocorridos no mundo.

A produção do espaço e a urbanização, estão inseridos no amplo processo de reprodução das relações de produção capitalistas, na medida em que são guiados pelos ditames da propriedade privada e são regulados pelas necessidades do capital. O sucesso do modo de produção de mercadorias, com a precarização das relações de emprego no mundo do trabalho, com o avanço da tecnologia vem acirrar o processo da desigualdade socioespacial. Segundo Rodrigues (2007, p. 78),

[...] a desigualdade socioespacial e a precariedade para a reprodução da vida são produtos do modo de produção e, ao mesmo tempo, são condição de permanência nas mesmas condições precárias. O processo de expansão

capitalista produzindo „cidade‟, incorporando o espaço produzido pelos

trabalhadores faz prevalecer o valor de troca sobre o valor de uso.

Nesse ditame, observa-se que o processo de industrialização se utiliza de diversos mecanismos que favoreçem a iniciativa privada, com vistas a assegurar o processo de desenvolvimento. Esses moldes do capitalismo levam a uma permanente exclusão da classe trabalhadora e do usufruto da riqueza produzida, em vista da crescente desigualdade social que permeia as relações sociais entre as classes sociais, gerando o fenômeno da segregação socioespacial. Considera Mota (2008, p. 21) que “[...] as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores que vivem à margem da produção e usufruto da riqueza são reveladoras de que a desigualdade social é inerente ao desenvolvimento do capitalismo e das suas forças produtivas”.

Engels (2010), já no início dos seus estudos sobre a situação da classe operária inglesa, em meados do século XIX, deixou evidentes as condições de exploração e expropriação a que a classe trabalhadora estava submetida ao afirmar que “[...] a situação da classe operária é a base real e o ponto de partida de todos os movimentos sociais do nosso tempo porque ela é, simultaneamente, a expressão máxima e a mais visível manifestação de nossa miséria social” (ENGELS, 2010, p. 41).

Para Rousseau (1753), a origem da desigualdade se deu em decorrência da grande propriedade privada, separando a sociedade em possuídos e despossuídos, nascendo daí a primeira grande desigualdade. Portanto, a desigualdade é a origem de alienação entre os grupos e os problemas sociais resultante desses sentimentos que representam uma das contradições mais fundamentais do capitalismo contemporâneo. Aponta Paulo Netto (2012, p. 424) que

[...] o modo de produção capitalista experimentou transformações de monta, que se refrataram distintamente nas diversas formações econômico-sociais em que se concretiza e que exigem instrumentos analíticos e heurísticos mais refinados. Ainda que se registrem polêmicas acerca da natureza e das complexas implicações dessas transformações, bem como do ritmo em que levam o modo de produção capitalista a aproximar-se dos seus limites estruturais, duas inferências parecem-me inquestionáveis: 1ª) nenhuma dessas transformações modificou a essência exploradora da relação capital/trabalho; pelo contrário, tal essência, conclusivamente planetarizada e universalizada, exponencia-se a cada dia; 2ª) a ordem do capital esgotou completamente as suas potencialidades progressistas, constituindo-se, contemporaneamente, em vetor de travagem e reversão de todas as conquistas civilizatórias.

Os impactos das transformações na ordem do capital com vistas a recuperar sua capacidade de acumulação rebate negativamente nas condições de vida da classe trabalhadora, desconstruindo as conquistas advindas das lutas por direitos. Os impactos dessas transformações e do desmonte das conquistas, também estão desigualmente distribuídos. Portanto, o crescimento da desigualdade social e da pobreza urbana tem agravado o fenômeno da segregação socioespacial na atualidade, fazendo emergir um novo padrão desse fenômeno, o que para Yazbek (2012), “[...] a pobreza decorre de um quadro de extrema desigualdade, marcado por profunda concentração de renda”.

Nesse sentido, a complexidade das relações sociais presentes na sociedade contemporânea decorre, sobretudo, da forma como o trabalho se organiza sob os imperativos dos interesses do capital/trabalho e, enquanto atividade humana vital,

alimenta em si uma contradição: por um lado é capaz de modelar a própria sociabilidade humana por meio da criação de bens materiais e simbólicos vitais e necessários; mas, por outro lado, traz a marca do sofrimento, da servidão e da sujeição.

Caldeira (2000), ao tratar das contradições do espaço urbano, afirma que é preciso entender que o mesmo é permeado por “[...] desigualdades sociais e segregação espacial, e seus espaços são apropriados de maneiras bastante diferentes por diversos grupos, dependendo de sua posição social e poder [...]” (CALDEIRA, 2000, p. 303). Ressalta, ainda, que nas cidades contemporâneas os processos de mudança social têm gerando novas formas de segregação socioespacial que requerem novos modos de enfrentamento pelo Estado e sociedade.

Ao longo do processo de constituição dos territórios, a urbanização traz consigo características marcadas pela concentração de terra, renda e poder, pelo exercício do coronelismo e pela aplicação arbitrária da lei. Para Lojkine (1981, p. 153), “[...] o modo de produção capitalista promovia a modernização das condições de vida e a formação das cidades, porém, enfrentava limites quanto à organização racional do espaço urbano”. Esses limites dizem respeito à propriedade privada do solo urbano, que passa a assumir importância fundamental nos circuitos de valorização do capital, tornando elemento estratégico para a acumulação a partir da reprodução das relações sociais de produção, onde os interesses da classe hegemônica se sobrepõem aos interesses da população em geral.

Desde a sua origem, a cidade teve seus espaços incorporados à dinâmica espacial da acumulação decorrente das relações sociais entre as classes sociais e, portanto, se constituindo como circuito central para a reprodução do capital e do trabalho. O acentuado crescimento das cidades reflete o retrato das desigualdades sociais que tem sua origem na dificuldade de acesso a terra e da ocupação formal do solo urbano e essa dificuldade à terra legal e urbanizada alimenta muitas vezes o círculo vicioso da pobreza. Neste processo, a classe que vive do trabalho não dispõe das condições necessárias para se apropriar da riqueza que ajudara a construir.

A cidade pode ser entendida como o produto das relações sociais que marcam o capitalismo, onde a atuação dos diferentes sujeitos (públicos e privados) se intercruzam e se polarizam gerando o fenômeno da segregação socioespacial, que hoje se reconfigura e se expressa na violência urbana, no surgimento dos

lugares autosegregados, como ressalta Caldeira (2000), no isolamento social dos pobres, dentre outros. Essas questões repõem a questão do seu enfrentamento pelo Estado no que se refere às políticas urbanas.

O planejamento das políticas urbanas, embora estruturado com vistas ao enfrentamento das desigualdades sociais na perspectiva da garantia dos direitos de cidadania, não tem conseguido dar respostas ao processo de segregação socioespacial que se evidencia na cidade, decorrente, sobretudo, da desigual apropriação dos bens e serviços econômicos/sociais/culturais produzidos pelas diferentes classes sociais.

Portanto, segregação urbana se constitui assim, em uma das faces mais importantes da desigualdade social e parte promotora da mesma. O processo de segregação socioespacial tem sido objeto de diferentes abordagens, registrando o uso de metodologias qualitativas e quantitativas para apreensão do objeto de estudo. Parece consensual a relação da segregação socioespacial às condições sociais e políticas, trazendo à discussão da relação entre intervenção estatal e a variação do fenômeno. As dificuldades de acesso da classe trabalhadora, especificamente ao trabalho formal, gerou problemas de acesso aos serviços e infraestrutura urbanos, somando-se menos oportunidades de profissionalização e maior exposição à violência, o que para Netto (2015, p. 6), “[...] no modo de produção capitalista, a produção da riqueza social implica, necessariamente, a reprodução contínua da pobreza, relativa ou absoluta [...]”.

Segundo Corrêa (2005, p. 145), “[...] a segregação é um processo que origina a tendência a uma organização espacial em áreas de forte homogeneidade social interna e de forte disparidade social entre elas”. Já Villaça (1998, p. 142), define a segregação como “[...] um processo segundo o qual, diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole [...] e é fruto das relações sociais”. A segregação socioespacial é característica elementar da cidade e evidencia os padrões de diferenciação social e de separação que organizam o espaço urbano, onde esses padrões revelam os princípios que norteiam a organização da vida pública, indicando a forma como os diferentes grupos sociais se relacionam no espaço da cidade.

No dizer de Lojkine (1981, p. 167) a segregação pode ser distinguida como “[...] uma separação crescente entre as zonas e moradia reservadas às camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular”. Assim, a segregação

socioespacial pode ser visualizada pelo preço do solo urbano, diferenciado conforme sua localização; desigualdades no acesso aos equipamentos públicos de lazer ou administrativos (parques ou áreas verdes, praças, hospitais, escolas, creches, etc) e aos serviços públicos e privados e de uma forma geral na distribuição desigual dos equipamentos urbanos.

Para Caldeira (2000) a segregação socioespacial é uma característica elementar da cidade e evidencia os padrões de diferenciação social e de separação que organizam o espaço urbano. Esses padrões variam cultural e historicamente, revelando os princípios que norteiam a organização da vida pública, indicando a forma como os diferentes grupos sociais se relacionam no espaço da cidade. Cristaliza-se no campo urbano as contradições presentes nas relações sociais capitalistas que se expressa na modernização excludente das cidades, que tem como base a concentração e mercantilização dos produtos socialmente produzidos pelas classes sociais.

As transformações no modo de produção capitalista nas suas formas contemporâneas, com os rebatimentos que provocam na vida social da classe trabalhadora, tanto no que se refere ao acesso à terra urbana quanto aos bens e serviços coletivos necessários a garantia de condições dignas de vida, problematiza a questão urbana na perspectiva do direito à cidade. A configuração de áreas próprias aos ricos, com alto padrão de luxo e segurança, e de áreas destinadas aos pobres, com baixíssimos investimentos públicos em saneamento básico são expressões claras da questão social.

Os processos de valorização do espaço passam, necessariamente, pela mercantilização do próprio espaço, mais concretamente pela mercantilização dos lugares. Os bens de produção concentrados induz um grande número de famílias a viver em condições de vulnerabilidade social, e à medida que a cidade se torna um grande negócio para o capital, as leis de mercado passam a ditar as regras do ordenamento da configuração socioespacial urbana, com efeitos devastadores para a boa parte de sua população.

Os grandes empreendimentos urbanos, voltados para as camadas de rendimentos mais altos da população, acentuam o caráter de fragmentação e hierarquização do espaço urbano, ao concentrarem seus investimentos em áreas já valorizadas da metrópole, aumentado à distância socioeconômica que separa essas áreas do restante da cidade. Geralmente, são áreas que contam com o melhor nível

de infraestrutura e de equipamentos urbanos disponíveis, e que são alvo privilegiado das atenções de investimento do setor público.

A constituição de um mercado imobiliário unido ao capital financeiro atua no sentido de aprofundar as distâncias existentes entre as distintas classes e frações de classe sociais. A distância socioeconômica impede o convívio entre ricos e pobres, excluindo dos shoppings centers, condomínios fechados e fortificados, áreas de lazer exclusivas para um determinado grupo social. Tal distanciamento é acentuado pela atual política habitacional que se destina a população mais pobre às áreas menos valorizadas e mais distantes, precarizando as áreas próprias de lazer e equipamentos de consumo coletivo. Assim, os conjuntos construídos para a classe trabalhadora, num mercado financiado com recursos públicos, mas que acentua a desigualdade social e espacial.

O direito à cidade tem como principal pressuposto lutar contra todas as causas e manifestações de exclusão sejam elas econômicas, sociais, territoriais, culturais e etc. A luta pelo direito à cidade é uma demonstração de que para alterar a desigualdade socioespacial é preciso utilizar instrumentais de análises que permitam compreender as contradições e conflitos da produção e reprodução ampliada do capital no espaço urbano. É entender a cidade como um espaço coletivo culturalmente rico e diversificado que pertence a todos os seus habitantes, partindo da vida cotidiana marcada pela segregação e polarização da ocupação territorial para pensar formas de ultrapassar as barreiras e as formas de opressão e de desigualdade.

Todas as questões acima problematizadas sinalizam a relação entre processo de urbanização e segregação socioespacial, cujas mudanças decorrentes vão impactar diretamente nas dinâmicas, formas e relações sociais presentes nas cidades contemporâneas sob a orientação da lógica do desenvolvimento capitalista, com repercussão nos variados aspectos da vida da população – espaciais, sociais, políticos, econômicos.

Enfim, se manifesta em nível da precariedade das condições de habitação, de acesso aos equipamentos coletivos e, ainda, dos meios de transporte e, especialmente, das condições de trabalho e de moradia nas periferias. Essas condições se desdobram nas manifestações de insegurança e violência, na baixa qualidade e difícil acesso aos equipamentos e serviços de consumo coletivos, na

precarização das relações no mundo do trabalho, potencializando áreas de conflitos no espaço urbano e, consequentemente, o agravamento das desigualdades sociais.

O Estado, embora subordinado ao capital, se obriga a fazer concessões às diferentes frações de classe através das políticas sociais. No entanto, mesmo realizando concessões, esse Estado atua condicionado as relações que se estabelecem entre as classes. É relevante a discussão sobre desigualdades sociais e segregação socioespacial, entendendo que tal análise permite o desvelamento da dinâmica das cidades, favorecendo a viabilização de ações capazes de garantir o acesso da população às políticas públicas.

A segregação socioespacial, portanto, expressa a valorização de certos espaços, apropriados pelos empreendedores capitalistas, em detrimento de outros, que ainda sem valorização, são ocupados pelas frações da classe trabalhadora, tornando a cidade o grande centro articulador da acumulação do capital. O espaço urbano passa a ser dividido de acordo com o nível de renda, onde a segregação desse espaço fica diretamente ligada ao capital e ao mesmo tempo à exclusão social.

Considerando a segregação socioespacial em Picos (PI), configurando a sua formação urbana, podemos considerar o seu elevado crescimento em consequência de sua localização estratégica como entroncamento rodoviário e grande polo comercial, transformando-se em um “[...] entroncamento rodoviário e em pólo comercial [...]” (DUARTE, 2002, p. 22), sendo ponto de entrecruzamento de rodovias e pelo acentuado contingente de pessoas que todos os dias trafegam dos municípios circunvizinhos até o centro comercial, em busca de produtos comerciais, educação e centros de saúde. Segundo Beserra (2016, p. 65),

[...] considerar-se-á: 1) as metamorfoses urbanas provocadas pelo processo de urbanização e pela transformação da cidade em um grande polo comercial na região e no Estado; 2) particularmente, discutir-se-á as determinações e contradições que levaram o município. A partir daí, 3) busca-se o entendimento do processo de produção do espaço urbano: os diferentes sujeitos; os interesses em conflitos; a renda fundiária, que se caracteriza pelos altos preços do solo urbano, dentre outros, nessa atual fase de crise sistêmica da sociedade capitalista.

O processso de segregação socioespacial nas cidades contemporâneas, especificamente as de porte médio como Picos, requer uma redefinição das relações entre Estado-sociedade civil tomando por base o cotidiano concreto vivenciado pela classe trabalhadora, que busca permanentemente reproduzir sua vida sob novas

condições. O planejamento urbano dessas cidades implica não apenas a discussão do desenvolvimento econômica, mas uma reflexão sobre as problemáticas urbanas e as oportunidades que a cidade oferece.

É preciso atentar para o fato de que a gestão das cidades nas sociedades capitalistas tende a considerar o planejamento urbano com vistas a minimizar os conflitos presentes na dinâmica dessa sociedade. Assevera Beserra (2016, p. 70) que o processo de segregação socioespacial existente em Picos no que se refere “[...] à ocupação dos melhores espaços para os interesses do capital, tende se originado no início do seu processo de expansão e que, no momento atual, o bom do mercado imobiliário encontra-se em consolidação”.

Os impactos de dimensão social que os novos projetos de crescimento econômico e urbanização tem provocado nas condições de vida de seus habitantes, vem afetando sua qualidade de vida, especialmente no que se refere ao espaço urbano, criando espaços de segregação social, o que vem provocar impactos socioeconômicos e ambientais como: adensamento urbano, aumento da periferização, concentração das ações públicas e privadas no centro da cidade e em áreas onde os grupos de melhor renda estão situados, dificultando a vida das populações de menor poder aquisitivo. São características que veem provocar o crescimento das desigualdades, evidentemente a socioespacial, o que para Beserra (2016, p. 63), “[...] as precárias condições de vida da maioria da população, o crescimento do setor informal da economia, o desemprego, a crescente pauperização vem provocar o aumento da violência” na maioria desses setores.

4.4 A CIDADE COMO CRIAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO

O debate sobre as cidades sugere considerar os limites que alguns teóricos colocam para essa nomenclatura, afirmando que as particularidades e singularidades das cidades médias e pequenas estão diretamente vinculadas às transformações e impactos da modernização tecnológica no mundo, impactando também sobre o trabalho, a cultura e a política, e, consequentemente, sobre as relações sociais entre os homens. De acordo com texto base da 6ª Conferência Nacional das Cidades (CNC - 2016),

De acordo com o último Censo, o Brasil tinha mais de 190 milhões de habitantes em 2010, 84 de cada 100 habitantes moravam em área urbana e,

de acordo com os estudos da ONU, este percentual deve subir para 90% em 2020. Por isso, discutir a qualidade de vida nas cidades é tão importante. Quando pensamos nas nossas cidades, no entanto, é preciso lembrar que, num país continental como o Brasil, com 5.570 municípios, muito diferentes entre si, variando sob diversos aspectos. De cidades com pouca população (a menor tem 822 habitantes), à cidade de São Paulo, 6ª cidade mais populosa do mundo, com 11.895.893 habitantes, passando por cidades médias, que funcionam como polos regionais e atraem população em busca de oportunidades e de qualidade de vida.

Maricato (2013, p. 44), situa a “cidade” como valor de uso e valor de troca. “Como locus da reprodução ampliada da força de trabalho-consumo coletivo crescentemente socializado e dependente do Estado”. Os serviços públicos devem garantir a reprodução da força de trabalho, já que corresponde a um conjunto de atividades prestadas à cidade, como trabalho, saúde, educação, esporte, lazer, cultura, e que contribuem para a qualidade de vida da população.

A cidade deve ser compreendida pelos seus habitantes e por aqueles que dela usufruem, como um sistema complexo, como o ambiente urbano que reúne todos os aspectos ambientais: o natural, o artificial, o cultural e o do trabalho, de modo que as suas relações se desenvolvam de forma equilibrada ou desordenada, conforme haja ou não o devido planejamento e a participação popular em busca da melhor direção (CRUZ, 2013).

Embora o direito a cidade seja reconhecido internacionalmente como um direito humano, ele não se concretiza como tal. Vivemos uma realidade de desigualdades na distribuição de renda, no uso e ocupação do solo e do espaço urbano, de segregação espacial, e crescente precariedade das condições de vida da população. Segundo Rolnik (2002), vivemos hoje nas cidades “[...] um expoente de privilégios e desigualdades”.

São manifestos os conflitos que o capitalismo produz para impedir a classe trabalhadora de ter garantido o direito à cidade, conforme determinam as legislações pertinentes como a Constituição e o próprio Estatuto das Cidades. A produção do espaço urbano termina sendo articulada por capitais de proprietários de terra, de incorporação imobiliária e mercado financeiro, onde a articulação desses capitais acaba assumindo o comando da cidade.

As normas urbanísticas aplicadas nos bairros e terrenos onde atuam os promotores do mercado formal são produzidas de modo a atender os seus interesses. Assim, a maior parte da cidade não atende nem as regras, nem ao bom senso, mas a necessidade de aproveitar os terreno. O setor imobiliário procura

flexibilizar regras para rentabilizar seus investimentos e essa flexibilização desligada de uma proposta mais adequada ao uso e ocupação do espaço da cidade, deixa de baseando essa valorização imobiliária muito mais no interesse coletivo.