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SU SA N A L. DE FERRER

Jorge reiniciou sua análise cinco anos depois da interrupção do primeiro trata­ mento. Sua analista anterior havia viajado ao exterior, razão pela qual me encarreguei de atendê-lo. Nesse meio tempo, entre o término de um tratamento e o início do outro, aconteceram fatos muito importantes na vida do menino. Por ter podido elaborar o luto pela morte do pai na forma descrita pela analista anterior, Jorge reiniciou sua atividade lúdica, voltou a frequentar o colégio e mostrou uma atividade mais desinibida.

Aos cinco anos de idade, Jorge começou a padecer de uma leve asma brôn- quica e acentuou-se sua alergia, já aparecida depois do primeiro ano de idade, rela­ cionada especialmente com a ingestão de produtos lácteos. Isso foi comentado na primeira exposição, através da qual podemos compreender que, pela interrupção prematura da análise, não foi possível a resolução desses transtornos. Ao mesmo

I I KLEIN, Melanie. "El duelo y su relación con los estados maníaco-depresivos” . Rev. de Psicoanálisis, tomo VII, n° 3, p. I45.

* Fragmento do trabalho apresentado na Sociedad de Psicologia Médica, Psicoanálisis y Medicina Psicosomátlca, no ano de 1958, sob o titulo "Reelaboración dei duelo en un nino de 10 afios".

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tempo, foi diagnosticada a existência de parasitas intestinais, que traziam sérios incômodos ao menino. A mãe não pensou que essa sintomatologia somática pudes­ se estar relacionada com os conflitos emocionais do filho, motivo pelo qual procu­ rou um pediatra, que, periodicamente, combatia com medicamentos as somatiza- ções de Jorge. E interessante assinalar que o pai tinha sido uma pessoa alérgica, que apresentara reiteradamente acessos asmáticos e que a identificação com o objeto perdido fazia apresentar esses sintomas. Tendo Jorge nove anos, a mãe casou outra vez. Isso permitiu ao nosso paciente substituir a figura do tio, que se ocupou muito dele depois da morte do pai e de quem se fala no primeiro relato, pela figura de um pai que podia encarregar-se de forma completa dele. Além de pai, ocuparia o lugar de companheiro da mãe, permitindo a Jorge renunciar à exigência superegoica que sentia de cumprir esse papel, para o qual, evidentemente, não estava em condições.

Estando a mãe no sexto mês de sua terceira gravidez, fruto de suas segundas núpcias, eclodiu no menino uma crise de mal asmático impossível de ser controla­ da. Depois do fracasso reiterado de medicação específica e depois de serem usados hormônios em doses excessivas, Jorge foi encaminhado a mim, sua segunda analis­ ta. Quero destacar aqui a diferença que existe entre asma brônquica e o mal asmá­ tico; o segundo refere-se a acessos bruscos e muito intensos de dispnéias, que colo­ cam em perigo a vida do paciente. Através deles, Jorge expressava a exigência que inconscientemente sentia de ter que seguir o destino do pai morto.

Já na primeira entrevista com a mãe, foi possível entender que o início da difí­ cil situação atual de Jorge coincidia com a época na qual, na gravidez anterior (seis meses), tinha falecido bruscamente o pai. Compreendemos que era a ansiedade frente à reminiscência de tão traumática situação, como o temor que voltasse a acontecer, o que levou o menino a apresentar a crise. Resolvemos um rápido e intensivo reinicio de seu tratamento psicanalítico, com quatro sessões semanais.

Jorge tinha dez anos e cursava o quarto ano do colégio primário. Era uma criança de altura média, com expressão um tanto triste, mas inteligente e de agra­ dável aparência. Já na primeira entrevista conhecia a finalidade do nosso encontro. Apesar disso, foi grande o seu assombro, embora o tivesse prevenido, quando se encontrou comigo e não com a sua anterior terapeuta, da mesma maneira como se encontrava atualmente com um pai que não era o mesmo que aquele que vivia durante a primeira parte da segunda gravidez da mãe. Compreendemos mais tarde, através de seu material, que essa contradição levara-o a inferir dois fatos contradi­ tórios em si. Por um lado que nessa nova gravidez e parto da mãe tudo seria dife­ rente do que foi na oportunidade anterior, ou seja, que nem o pai nem ele deveriam morrer. Ao mesmo tempo, a evidência da ausência da sua primeira analista o fazia identificar seu destino com o do pai morto, o que reavivava sua dor.

A primeira hora de jogo, que foi ao mesmo tempo sua primeira sessão de aná­ lise, desenvolveu-se num solene silêncio que falava do conteúdo latente da mesma. Tomou posse da caixa de brinquedos que lhe foi destinada segundo a técnica habi­ tual de jogos. Esta continha os brinquedos que se costuma colocar para um menino de dez anos de idade, estando Incluído, além disso, uma pistola, uma espingarda,

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muitos lápis, aquarela e massa de modelar, por apontar a mãe esses elementos entre seus brinquedos preferidos.

Diante da caixa aberta por mim, Jorge mostrou grande desconfiança. Quero esclarecer aqui que habitualmente procedia de maneira diferente, abrindo a caixa e arrumando os brinquedos em cima da mesa do consultório, principalmente quando se tratava da primeira sessão de uma criança sem experiência psicanalítica. Inconscientemente deve ter atuado em mim, ao conhecer a história de Jorge, a con­ vicção da importância dessa atitude.

Jorge permaneceu sentado numa cadeira, com os cotovelos apoiados na mesa, olhando-me. Passado certo tempo, interpretei-lhe que os conteúdos da caixa, ao representarem seus próprios conteúdos internos (pensamentos, fantasias e sen­ timentos), despertavam nele muito temor pela possibilidade de reencontrar lem­ branças muito tristes e dolorosas. Sem responder-me, levantou-se e, dirigindo-se à caixa de brinquedos, agarrou da caixa a massa de modelar, sem levar em contra os demais elementos, reclinou-lhe a tampa, como quem não quer saber de nada mais do que está dentro, e começou a trabalhar com agilidade e decisão. Fez a cara de um homem, à qual acrescentou uma barba; paulatinamente foi acrescentando o dorso, os braços, as pernas, configurando aos poucos o corpo, de modo muito rígi­ do, ao utilizar os já pré-formados bastões de massa de modelar, tal como se apre­ sentava no desenho da caixa original.

Foi intensíssimo o impacto contratransferencial que essa atividade lúdica teve sobre mim, ao observar a criação de uma figura que sem dúvida representava o anterior e velho pai (a barba), para se referir não ao seu pai atual e vivo, senão àquele já morto, que vivia dentro dele nessas circunstâncias tão especiais de sua vida. Detive-me na interpretação por sentir que ainda não era o momento útil para formulá-la. Aproximando-se a hora em que devia terminar a sessão, disse-lhe que já estava finalizando. Jorge teve então o impulso de guardar os restos da massa de modelar dentro da caixa. Titubeou, contudo, diante da figura de massa. Com expressão dramática e comovedora, como se me perguntasse se teria que voltar ou não à caixa da qual ele o tinha tirado simbolicamente. Decidiu envolvê-lo num papel, que retirou da caixa, e colocou o boneco assim envolto dentro da mesma. Ao que­ rer fechar com chave, como é habitual, apoderou-se dele uma grande crise de pâni­ co, olhou-me com terror e os seus olhos se encheram de lágrimas. Disse-me: “ Vou levá-lo” . Antes que eu pudesse formular-lhe a interpretação correspondente, saiu correndo do consultório em direção à sala de espera, onde a mãe o aguardava. Tirou dessa compulsivamente a bolsa, abriu-a e colocou dentro o bonequinho, dizendo-lhe: “ Guarda ele para mim” e “ Vamos” .

Creio que é importante assinalar a forma como a criança expressou sua dor latente durante essa primeira sessão, que adquiriu uma dramaticidade notória. Creio que poderia ter interpretado, já nesse primeiro momento da análise, a neces­ sidade da criança de dar outra vez vida a seu pai morto e de negar-se a colocá-lo num frio caixão de madeira, onde, em realidade, sabia que já estava alojado e não poder deixá-lo sozinho, pretendendo que sua mãe cuidasse dele, que devia colocá-

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lo na sua bolsa, assim como tinha colocado as suas crianças no seu ventre, preser­ vando-as de acontecimentos dramáticos e dolorosos. Na sessão seguinte, à qual chegou com toda pontualidade, trouxe o boneco, sempre enrolado em papel, mas, ao retirá-lo do seu bolso, desprendeu-se a cabeça. Olhou-me muito assustado. Disse-lhe então que parecia-me que ele tinha resolvido ver comigo o que acontecia com o seu pai morto, agora quando as circunstâncias se assemelhavam tanto à opor­ tunidade em que tinha acontecido aquela desgraça. E bom recordar que na primei­ ra sessão de sua primeira análise tinha simbolizado a morte do pai e o acúmulo de sentimentos que isso havia despertado nele através de um cisne com a cabeça que­ brada. Aqui comigo tinha usado uma expressão muito similar para traduzir a mesma situação e os afetos concomitantes. Deixou desarmado o boneco e tirou o papel, lápis e caneta e começou a desenhar (figura I).

Nesta figura mostrava, no lado direito, três hortas fechadas (A, B e C) e em aumento gradativo. No lado esquerdo aparecem três árvores (D, E e F), que se suce­ dem em tamanho decrescente. No fundo, aparece uma casa de frente, na qual se encontram os moinhos de água, um totalmente localizado na terra e o outro com a metade na terra e a metade no céu. Ao lado dessa casa, vemos outra menor, onde está atado um cachorro que dá as costas para a horta. O céu é uma estreita franja azul celeste que se distingue no horizonte. As hortas fechadas de tamanho crescen­ te representam as três gravidezes da mãe e também a atual gravidez, já que Jorge podia observar muito bem o paulatino crescimento do ventre dela. Reaviva-se nele a ansiedade da gravidez anterior, o que se manifesta através do céu muito estreito, que simboliza sua dificuldade respitarória; ela está representada pelo cachorro, que dá as costas à horta A (a gravidez menor ou atual de sua mãe), mas não podia deixar de ver as três árvores sem folhas (D, E e F), que representavam a mãe, ele e seu irmão, assim como tinha ficado depois da morte do pai. No fundo, a casa com dois moinhos de água representava a mãe com seus dois esposos, enquanto que ele, excluído, representando-se por um cachorrinho, via-se atado a uma casa muito pequena, iso­ lado dos demais. Observa-se que dos dois moinhos de água, um tem sua roda pró­ pria, ocupando todo o fundo verde, símbolo da vida, enquanto que o outro carece de roda (outra vez a decapitação evidenciada através da cabeça quebrada do cisne e do boneco quebrado de massa de modelar) e está situado metade na terra e meta­ de no céu, onde primitivamente se fez crer a Jorge que se encontrava seu pai morto. A insistência de Jorge em localizar o trauma na cabeça levou-nos a revisar os dados obtidos antes de iniciar o primeiro tratamento, como também os relatados antes de iniciar o segundo. A mãe tinha contado, em ambas as oportunidades, que o pai falecera bruscamente de uma síncope cardíaca. Foi possível comprovar que isso constituiu um modo de expressão para traduzir uma morte brusca, enquanto que na realidade tinha ocorrido uma hemorragia cerebral fulminante.12

12 É mais uma confirmação do quo ai criança» eitao atontas a tudo quanto acontece a sua volta. A rniie tinha falado do um ataque cardíaco, ma» no material a criança mostrava que a lesfto tinha sido na cabeça, o que foi posteriormente confirmado pelo médico.

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A resposta às interpretações formuladas durante essa sessão foi um desenho realizado na entrevista seguinte (figura 2). Nesta figura se representa um campo. No centro, uma figura masculina, que representa um ceifeiro com uma foice na mão direita; à direita do ceifeiro, uma parte de um monte de palha (A) cortada e atada; à esquerda, um monte de palha aparentemente não concluído e sem atar (B). O céu é muito mais amplo que na figura anterior.

Interpretamos a figura do pai dividido em duas partes: a direita com a foice, simbolizando a morte (pai morto), e a esquerda, muito mais débil que a primeira, representando seu pai atual. Ambas as figuras tinham se reforçado nele e podia ocu­ par-se delas colocando-as como estavam entre suas duas análises, representadas pelos dois montes de palha (A, interrompido, mas concluído e atado, e B, recém- iniciado). O céu se mostrava já muito mais amplo que no primeiro desenho, fato que coincidia com a realidade da diminuição de seus acessos de asma. Inclusive já fora suspensa toda medicação.

Sua análise prosseguiu com a elaboração da morte de seu pai real e na medi­ da em que fazia consciente a ansiedade que nele despertava a gravidez da mãe e o reviver da situação dramática, a sintomatologia asmática desaparecia totalmente.

Dez dias antes da data anunciada para o parto da mãe, ou seja, quase três meses depois de iniciar o tratamento comigo, Jorge fez o seguinte desenho (figura 3): um edifício de seis andares que está em chamas (A); à direita, outro edifício de seis andares apenas insinuado (B) e do outro lado uma loja de sombrinhas, que têm duas vitrines e uma imagem feminina no centro (C). Um sol bastante luminoso ilu­ mina esta parte do desenho. Na rua (D ) vê-se uma ambulância (E) e um caminhão de bombeiros (F), que vão em socorro do edifício que está em chamas. Através deste desenho pode-se compreender que o edifício de seis andares representa os seis meses de gravidez da mãe, momento em que se produz a fixação da situação traumática, a morte do pai. O edifício estava em chamas, anunciando-nos a proxi­ midade do parto, que, em realidade, aconteceu no dia seguinte, dez dias antes do esperado. Frente a esta circunstância alarmante, Jorge faz com que a ambulância da cruz vermelha e o caminhão de bombeiros aparecessem em socorro. A escada deste coincidia também com a escada que Jorge tentava obter no seu tratamento anterior, quando, colocando cadeiras sobre a mesa, tentando tocar o teto, expres­ sando seu desejo de chegar até o céu, onde acreditava estar seu pai. Na parte do desenho onde arde o edifício, o céu é novamente estreito, manifestando sua ansie­ dade respiratória; não é assim na outra metade ocupada pela casa das sombrinhas (o tratamento analítico). Frequentemente os chapéus ou uma casa de chapéus, como também o cabeleireiro ou a cabeleireira simbolizam, nos sonhos e jogos, o psicanalista, já que este também se ocupa da cabeça. As vitrinas, assim como os montes de palha da figura 2, representam seus dois tratamentos psicanalíticos; o da direita cortado e o da esquerda relacionado à sua situação atual, a iminência do parto. Ambos realizados por analistas mulheres, como coloca manifestamente a figura feminina no centro, olhando no passado (seu tratamento anterior). O céu nesta parte do desenho, ainda <|iir> sombrio, lom um grande sol, que representa o

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calor transferencial que nestes momentos sente em relação a mim, que, ao analisar suas ansiedades de morte, o estou ajudando a obter um espaço de ar mais amplo, ou seja, uma maior capacidade respiratória, assim como ocorreu no seu tratamen­ to anterior.

Um dia depois da realização desse desenho, a mãe deu à luz. Nasceu uma menina que foi bem recebida por Jorge, que não respondeu com nenhum sintoma orgânico a este transcendental acontecimento. Como comentou a analista anterior, Jorge continuava, entretanto, suscetível ao leite, reagindo com alergia, de tal forma que sua ingestão era-lhe totalmente proibida. Reforçada pela lactância da irmã, esta situação começou a mobilizar-se quando, pouco tempo depois do nascimento desta, fez o desenho da figura 4: vemos uma sucessão de montanhas verdes em seus vales e com picos áridos e nus; o céu sombrio e novamente bastante estreito alberga um sol triste e apagado. Através das associações de Jorge, enquanto desenhava, contan- do-me como chorava e mamava a sua irmã, da forma como o fazia, do modo como a mãe a segurava e as suposições que ele fazia em relação a sua própria lactância (segundo ele, não teria podido succionar o peito, mas que teria tomado leite com a colher e a taça), pude compreender que as montanhas representavam os peitos da mãe, os mesmos que agora eram oferecidos a sua irmã. Ele revivia sua própria lac­ tância como uma vivência muito frustrante, representada através dos cumes áridos. Jorge tinha mamado somente três meses e o tinha feito mal, já que não podia satis­ fazer sua fome por ter a mãe muito pouco leite. Além disso, a cor desses cumes demonstrava que em sua fantasia inconsciente os peitos estavam cheios de cocô e por isso eram tão tóxicos para ele. Isso explicava sua persistente alergia ao leite. O sol, ainda que pálido e sombrio, demonstrava esperança de que a análise modificas­ se essa vivência íntima.

Interpretada a situação nos termos mencionados, modificou a atividade lúdi­ ca, sendo o desenho substituído por brinquedos com água e outros elementos líqui­ dos e pegajosos.

A análise de Jorge continuou de forma muito satisfatória e viu-se que lenta­ mente os significados de seus jogos, que tendiam a representar o leite materno, expressavam também a ansiedade frente a suas próprias modificações corporais, como a masturbação, seu pênis e suas fantasias genitais. A fantasia de que poderia fluir leite de seu próprio corpo e de seu pênis, dessa maneira substituindo a vivên­ cia frustrante de sua mais remota infância em relação à lactância, parecia tranquili­ zá-lo.

Ao completar um ano de tratamento, livre de asma e alergia, tendo aumen­ tado mais de seis quilos com uma dieta sem restrição, Jorge começou a desenhar da forma como ilustram as figuras 5, 6, 7 e 8. Nelas aparecem claramente elementos que representam as características genitais. Na figura 5, os paus (A), o peixe (típico símbolo fálico, B), cruzado com riscos, que também aparecem no círculo (C) e em todo desenho. Na figura 6, há serpentes (A e B), símbolos do pênis, com sua língua para fora, ou seja, com a glande descoberta, como também um caracol (C), com suas duas casinhas, simbolizando os dois testículos, e o corpo emergindo com um

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pênis capaz de modificar seu tamanho. Também o pássaro (D ) tem idêntico signifi­ cado. Aparecem riscos entrecruzados em diferentes partes do desenho, represen­ tando a fantasia dos incipientes pelos que constituem sua barba e seu pêlo pubiano. Nessas figuras pode-se ver claramente a preocupação de Jorge pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários: modificação da voz, crescimento do pênis, apa­ recimento do esperma, a barba, o pelo das axilas, o pelo pubiano. Jorge tinha onze anos.

Na figura 7, repetem-se (nos setores A e B) os pontos e os riscos, com igual simbolismo, mas acrescenta-se o uso de aquarelas, elemento líquido que represen­ tava seu tão desejado e ao mesmo tempo temido leite. No setor (C) expressa a ambivalência frente à permissibilidade dessas modificações através das palavras mal

e bem, expressando a dúvida de que se está certo ou errado que ele tivesse essas

modificações. Ao mesmo tempo perguntava-nos se lhe era permitido elaborar sua dor de não poder ter recebido bastante leite através do fato de tê-lo agora no seu próprio organismo.

A figura 8 mostra, como as anteriores, elementos que poderiam muito bem representar uma condensação dos peitos da mãe (A e B) com a imagem do seu pró­ prio pênis emergindo dos pelos pubianos (C); é uma magnífica ilustração dos vestí­ gios da fase genital prévia.

As dúvidas com respeito à permissibilidade do ser homem culminaram, em sua expressão gráfica, com a figura 9. Nesta representa um soldado (A) com seu uni­ forme e enfeites (B), tendo este também uma espada (C), que está pendurada na sua cintura. Esta figura está cruzada na parte inferior do corpo com o cabo de uma pis­ tola (D), cuja ponta não chegou a entrar na margem do papel (pênis circuncisado). A criança designou o personagem desenhado, verbalmente, com o nome de Napoleão Bonaparte, apesar de indicar, com uma longa flecha (E), o nome de Napoleão Malaparte, mostrando através deste lapso que censurava esta parte do desenho como a má parte; e a parte esquerda, com manifesto conteúdo fálico (espada, pistola e flecha).

No dorso desta folha (figura IO), desenhou rostos sem barba (A), com barba (B), pássaros grandes (C ) e pássaros pequenos (D), formas que expressavam sua ansiedade frente às fantasias de modificação no esquema corporal. Este material foi explicitamente interpretado, sendo a figura 11 o resultado do efeito das interpreta­ ções e sua concomitante elaboração dos conflitos. Nela vemos uma casa (A) muito