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4.4 Percurso Metodológico e Etapas da Pesquisa

4.4.2 Segunda Fase

Finalizada a primeira fase de coleta da dados, a pesquisadora aprimorou projeto e submeteu à banca de qualificação de tese, ocorrida em março de 2015. Este foi um momento muito importante para delinear os rumos da pesquisa. Após apresentação do projeto e dos resultados preliminares da primeira fase, os professores que compuseram a banca, fizeram diversos apontamentos e sugestões ao trabalho, o que levou a pesquisadora a redefinir os contornos da investigação, com base nas contribuições apresentadas.

Dentre os vários apontamentos da banca, explicita-se três, devido a influência que tiveram no aprimoramento dos rumos da investigação. Uma das sugestões, unânime entre os professores, foi que a pesquisa ganhasse em profundidade e não em extensão, portanto, sugeriu-se a realização de pesquisa qualitativa etnográfica em uma comunidade quilombola, ao invés de uma em cada região brasileira, como proposto no

90 delineamento anterior. Outra sugestão foi que a pesquisadora mostrasse com maior clareza as especificidades do sub-projeto apresentado em relação à pesquisa matriz, delimitando diferenças em relação aos objetivos e estratégias de coleta de dados. Uma terceira sugestão, foi que houvesse uma melhor delimitação dos objetivos da pesquisa, tendo em vista que os objetivos apresentados estavam muito amplos.

A partir das contribuições da banca de qualificação, foi realizado uma readequação na investigação, optando-se por centrar a coleta de dados em um único município, sendo escolhido o município do Pará, que fez parte da primeira fase. Nesta segunda fase, o objetivo maior era coletar os dados que respondessem ao problema investigado, por isso, optou-se por realizar pesquisa na comunidade quilombola. Além disso, buscando enriquecer e aprofundar a pesquisa, ampliou-se o escopo do campo de estudo abarcando as quatro áreas rurais com atuação do PMM e não somente a área de abrangência da comunidade quilombola. Nesse sentido, houve uma extensão da investigação abarcando as demais áreas e abrindo diálogo com profissionais e usuários destas localidades.

É importante esclarecer, no entanto, que houve um maior aprofundamento da investigação na comunidade quilombola, inclusive adotando a técnica de observação participante, juntamente com entrevistas semiestruturadas. Nas demais áreas, o estudo utilizou de abordagem qualitativa, com realização somente de entrevistas semiestruturadas. As visitas à comuindade bem como as demais áreas ocorreu nos meses de outubro e novembro.

A investigação, de caráter qualitativo, foi guiada por uma postura metodológica de triangulação de técnicas para a coleta de dados. Para Minayo (195) a abordagem qualitativa conduz a uma visão “triangulada” que pode ser exercida por meio de: combinação e cruzamento de múltiplos pontos de vista; análise de pesquisadores de diferentes formações; percepção de diversos informantes; adoção de uma diversidade de técnicas de coleta de dados que acompanha a investigação.

A intenção foi a apreensão do fenômeno estudado em sua complexidade, riqueza e profundidade. Desta forma, a pesquisa utilizou o estudo de caso, que de

91 acordo com Yin (196) “um estudo de caso é uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real; quando os limites entre fenômeno e contexto não são evidentes; e no qual muitos recursos ou evidência são usados” (1989:23). Já Denis e Champagne (197) afirma que o estudo de caso é “uma estratégia na qual o pesquisador decide trabalhar sobre uma quantidade muito pequena de unidades de análise. A observação é feita no interior de cada caso (...) A potência explicativa decorre, portanto, da profundidade da análise do caso e não do número de unidades” (1997:71).

Desta forma, o procedimento escolhido para esta investigação foi o estudo de caso onde buscou-se compreender a percepção dos diferentes atores sociais sobre a implantação e as repercussões do PMM na atenção à saúde. Para tal, foram adotadas como técnicas de pesquisa a entrevista semi-estruturada e a observação participante.

A entrevista pressupõe uma relação direta entre entrevistador e entrevistado e busca conseguir informações sobre atitudes, interesses, valores, crenças, experiências, sentimentos e opiniões do participante sobre o fenômeno pesquisado. A entrevista semi-estruturada se caracteriza por tratar de questões específicas num primeiro momento, para depois ser conduzida de acordo com o curso de pensamento do participante e das investigações do entrevistador (198).

Para Trivinos (199) a entrevista semi-estruturada é uma técnica qualitativa que “valoriza a presença do investigador ao mesmo tempo que oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessária, enriquecendo a investigação” (1998:146). O mais interessante da entrevista semi-estruturada é que permite o desvelamento da singularidade e do sentido presente no vivido dos participantes em relação ao objeto investigado. É uma técnica que busca apreender experiências, atitudes, crenças e pensamentos a partir de narrativas abertas sem determinar previamente as possíveis respostas, como no questionário.

Considerando a heterogeneidade e complexidade do PMM, percebeu-se a importância de considerar distintos pontos de vista e interpretações na avaliação desta iniciativa governamental. Assim, a investigação abarcou entrevistas com um conjunto

92 de atores sociais, com inserção e envolvimento com o PMM, permitindo a compreensão do fenômeno a partir de vários ângulos, além da apreensão de semelhanças e diferenças entre as narrativas.

Neste sentido, foram entrevistados as seguintes categorias de atores chaves: - Gestores da Secretaria Municipal de Saúde

- Médicos participantes do PMM

- Profissionais da Equipe de Saúde da Família - Representante do conselho de saúde no município - Usuários

Em relação à observação participante, Minayo (183) a define como sendo “o processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação cientifica” (2011:70). Assim, a técnica exige a participação do pesquisador na vida cotidiana do grupo estudado, observando a maneira como as pessoas se comportam. Dialoga buscando descobrir as interpretações dos sujeitos sobre o contexto relacionado com o objeto investigado. Portanto, permite a comparação de respostas em diferentes situações, observadas ao longo do tempo.

Uma das características da observação participante é que a quantidade é substituída pela intensidade dos fenômenos, a partir da imersão profunda na realidade estudada (200). A proximidade com os atores e a convivência com o grupo auxilia no desvelamento dos significados das práticas vivenciadas no cotidiano. O diário de campo, se configura em um instrumento fundamental para o registro das observações realizadas.

No estudo, a observação participante foi realizada na comunidade quilombola e permitiu, a partir da interação com os usuários quilombolas, compreender alguns elementos considerados pelos sujeitos como importantes na análise da atenção à saúde e as mudanças ocorridas após implantação do PMM, sendo parte das observações, sintetizadas a partir de alguns relatos de entrada em campo (Apêndice A). A riqueza do contexto auxiliou na apreensão de como os temas estudados influenciam

93 na vivência cotidiana da população e nas suas experiências de aproximação com o serviço de saúde do município.

A observação na comunidade permitiu captar a realidade de forma mais intensa, enriquecendo a descrição de acontecimentos em campo, colaborando para entender como e porque ocorrem determinados fatos. A observação do contexto mostrou-se relevante uma vez que auxiliou na reunião dos dados básicos que foram complementados com entrevistas semiestruturadas.

De forma resumida, as principais atividades realizadas durante a pesquisa foram: visitas às 4 UBS rurais, visitas à comunidade quilombola, acompanhamento de visitas domiciliares da equipe da ESF à comunidade quilombola, participação no comando médico4 realizado na comunidade quilombola, acompanhamento de ações de educação em saúde em 2 escolas rurais, participação em 2 reuniões de equipe e visita a alguns equipamentos de saúde do município como hospital, Centro de Regulação, Centro de Testagem e Aconselhamento e Secretaria de Saúde.

Buscando sintetizar o percurso metodológico, abaixo quadro de atividades realizadas:

Quadro 2: Síntese do Percurso Metodológico

4 O comando médico consiste na visita da Equipe da Estratégia da Saúde a uma determinada sub-área rural, neste caso, a comunidade quilombola com o intuito de prestar atendimento à população. Desta forma, são realizadas atividades de educação em saúde bem como consultas.

1a. Fase 2a. Fase

Abordagem Quali-Quantitativa Qualitativa (Estudo de caso em áreas rurais e comunidade quilombola do Pará) Triangulação de

Técnicas - Grupo Focal - Entrevistas semiestruturadas - Análise cartográfica de provimento de médicos

- Entrevistas semiestruturadas - Observação participante - Diário de campo

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