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5.1 FATORES DESFAVORÁVEIS EXTERNOS À UNIVERSIDADE

5.1.2 A Segunda Revolução Acadêmica

Os entrevistados foram indagados em relação à Segunda Revolução Acadêmica que trouxe à universidade a responsabilidade de contribuir com o sistema nacional de inovação e se isso teve alguma implicação quanto à questão do patenteamento. Conforme o roteiro da entrevista completo em ANEXO B o aspecto principal que deveria ser lembrado ao entrevistado, caso este não o comentasse, se refere à economia do conhecimento, empreendedorismo e a cultura da inovação (interação universidade-empresa) e o modo como a assimilação desta nova cultura está influenciando as universidades a patentearem suas invenções.

5.1.2.1 A economia do conhecimento, empreendedorismo e a cultura da inovação

(interação universidade-empresa)

A maioria dos entrevistados está consciente da importância da atuação da universidade em seu ambiente externo fazendo parcerias com empresas para a inovação (pesquisas em conjunto, transferências de tecnologias e prestação de serviços) além das tradicionais atividades de extensão universitária que ela já realiza.

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Mas, em consonância com o que está relatado na literatura, os entrevistados enfatizaram alguns problemas e contrapontos existentes nas interações. Conforme o entrevistado 4:

[...] O diálogo entre universidade-empresa é muito complexo [...] A atuação da universidade no desenvolvimento econômico é positiva, mas, existem limitações. As parcerias são positivas desde que não hajam imposições que possam atrapalhar as atividades acadêmicas.

Para o entrevistado 1 a Segunda Revolução Acadêmica é vista como uma tendência mundial incorporada à realidade nacional em caráter irreversível, mas que trouxe um acúmulo de funções, como afirmou:

[...] É uma mudança de paradigma. E de um paradigma que não tem jeito de voltar atrás. Já está mudando e quem não se adequar, vai perder o bonde da história. Não tem jeito não! [...] É inexorável isso. Isto é importante! Só que houve um acúmulo de deveres ainda maior.

O entrevistado 3 vivenciou o início dessa Segunda Revolução Acadêmica no Brasil e lembrou que houve muita resistência à interação universidade-indústria durante o regime militar:

[...] Esse é um movimento mundial. Aqui no Brasil, o interessante é que esse movimento não se deu naturalmente, porque a universidade tinha muita restrição (vamos ser puristas!). Na verdade, isso no Brasil, tem origem no militarismo. Porque [...] o pessoal não queria. Os comunistas do Brasil não queriam. Por que ajudar as multinacionais? No Brasil, tinha praticamente, só multinacionais. Eles não queriam. Eram contra as empresas. E aí teve aquela história toda. Governo brigando com o governo. Era uma guerra. Diga não às empresas atuando dentro das universidades.

Para ele, com a industrialização no Brasil e a exemplo do que se via no exterior, houve uma intensificação das parcerias universidade-empresa devido à globalização, mas mesmo assim, enfrentou-se muita resistência, segundo o entrevistado:

[...] É que o cientista brasileiro tem mania de copiar o que vem de fora. [...] Pra muitos colegas, o que é maravilhoso é o que é feito nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na Europa... É aquela coisa de colonizado mesmo! Aquela postura de colonizado. O que vem de lá é melhor! Deveria ser melhor mesmo! Então, eles perceberam [quando faziam seu pós - doc no exterior] que os próprios orientadores deles foram [...] se rendendo à aproximação da indústria nas universidades. Isto tudo tem haver com a globalização. Que é a questão de: ou você se junta e tenta ter tecnologia ou você sucumbe. Então, os colegas aqui de 1995 pra cá começaram a perceber que os orientadores deles começaram a receber dinheiro de indústrias e que aqui também não ia ser diferente, eles começaram a mudar de opinião. Mas, quando eu cheguei aqui na universidade, havia uma resistência enorme! Até pra este laboratório. A montagem dele. Um laboratório [...] cujo cliente é o

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próprio governo federal. [...] Então, nós somos uma universidade federal trabalhando pro governo. Nós fomos criticados por funcionários! A gente estava querendo vender a universidade! Que não podia! Que o dinheiro tinha que ser do governo! Nosso cliente é o governo. As pessoas têm uma visão fragmentada, segmentada, não enxergam o todo. Mas então, existe mesmo essa movimentação. Mas, essa movimentação da universidade em direção à indústria e da indústria em direção à universidade, isso é pra socorrer a indústria num processo de globalização.

Esse mesmo entrevistado levantou outra dificuldade relatada na literatura no contexto de interação universidade-empresa para a inovação. Para ele, as patentes são fundamentais para equacionar a questão dos conflitos de interesse existente entre as partes:

[...] Elas são fundamentais! Porque a universidade tem um objetivo e a indústria tem outro. A indústria objetiva lucro e universidade gerar conhecimento. Gerar e divulgar! Então, a gente aqui tem que preparar os alunos em termos de pesquisa tecnológica, mas tem que publicar! Tem que ir para as palestras. Quanto mais publicar melhor! E tem que ser em revistas de alto impacto, alto índice de impacto. Eles têm que ler e me citar. Quanto mais eu alarmar, quanto mais o mundo inteiro falar de mim, melhor. Só que isso é totalmente contrário ao que deseja uma empresa. Porque a empresa, ela quer lucro e segredo. Porque se eu fiz um relógio, só eu tenho que saber fazer. Se eu fiz uma Coca-Cola maravilhosa, eu não posso espalhar a fórmula. Só eu tenho que ter a marca da Coca-cola no mundo inteiro. Pra isso ser possível tem que ter sigilo. Como trabalhar junto um que tem que alarmar tudo que sabe e o outro que tem que esconder? Então isso é a grande barreira. E aí só tem um jeito: através das patentes. Porque com as patentes você consegue definir bem o que é propriedade de um e de outro, você protege o produto, você pode publicar alguma coisa também. Então, eu acho que é a única solução para viabilizar as parcerias. Isso pra mim está muito claro.

O coordenador da CT&IT fez uma colocação importante sobre a missão e o papel da universidade como formadora de recursos humanos de alto nível para atuarem nas empresas como promotoras da inovação:

[...] E se você olhar a missão central da universidade, ela continua sendo a de levar à formação de recursos humanos de altíssimo nível. Em todos os níveis de graduação. Pós-doutorado... Essa missão da universidade, claro, é um compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Não é missão da universidade processos e produtos! Gerar processos e novos produtos para a sociedade é uma missão da empresa! Ou seja, dentro do papel que cada um joga na sociedade. Isso nos coloca numa situação na verdade de compromisso, por um lado, ou seja, esse conhecimento está concentrado nas universidades e nos pede o compromisso de que esse conhecimento possa chegar de uma forma dinâmica para a sociedade. Esse papel veio como um papel extremamente importante para a universidade brasileira.

O entrevistado 2 reconhece que existem ainda situações que geram conflito, como a resistência cultural da comunidade científica e problemas administrativo-burocráticos

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que atrapalham as interações. As pessoas não vêm a interação universidade-empresa e a geração de riqueza a partir do conhecimento como uma atividade de extensão universitária. A relação universidade-empresa sempre foi conflituosa, mas ele se mostra otimista:

[...] Estamos caminhando! Estamos bem! Há dez anos atrás, a situação era muito diferente! Estou falando há dez anos, porque foi quando eu entrei na universidade. Hoje esta coisa eu diria que já está muito mais... Eu não diria que está tranqüilo agora, mas, é uma coisa que está ficando comum! Mas, ainda, a gente tem situações que geram conflito! Eu acho que ainda, a maior parte dos pesquisadores, não vê com naturalidade a interação com as empresas! E a gente não sabe direito ainda, os caminhos de interagir, os direitos, as obrigações... A gente está criando esta cultura, agora. Mas, eu acho que a gente está num ritmo acelerado! As coisas estão acontecendo muito rápido, agora! Só que lidar com a estrutura da universidade, é complexo! Uma mudança cultural, as pessoas têm que começar a entender isso, e é uma questão também, administrativo-burocrática! Então, nós estamos caminhando bem! Eu vejo isto com muito otimismo! A universidade está começando a entender esta segunda revolução, mas, ela não entendeu ainda! Ela não caiu em si ainda! E muita gente está resistente! A gente fala em extensão e o tripé: ensino, pesquisa e extensão. As pessoas não vêm ainda esta interação com a empresa e geração de riqueza a partir do conhecimento, como sendo extensão. A relação da universidade com o setor privado, com as empresas sempre foi conflituosa! Na cabeça dos pesquisadores e na cabeça das empresas. [...] Nós vamos avançar nisso! Tem que entender que a gente está [...] no mesmo barco!

Ele acredita que já estamos entrando numa terceira revolução onde o desenvolvimento sustentável é o foco principal:

[...] É isso aí! A segunda revolução. Vai cair a ficha! Mas a gente vai começar a terceira revolução! Eu estava pensando qual que seria a terceira revolução, mas, eu acho que ela tem haver com o ambiente! A gente vai ter que ter um papel maior! [...] Sustentabilidade! Melhor do que ambiente é sustentabilidade! Porque aí envolve tudo! Envolve ensino, pesquisa, extensão, empresa, universidade e agricultura. Nós vamos entrar na era da sustentabilidade! Já estamos!