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Valorização da interação universidade/empresa;

5.3 FATORES FACILITADORES OU FAVORÁVEIS EXTERNOS À

5.3.4 Valorização da interação universidade/empresa;

Os entrevistados foram indagados sobre a valorização da interação universidade empresa e como ela funciona enquanto facilitadora da política de patentes. Um dos entrevistados chamou a atenção para um aspecto interessante na interação UE: “As empresas querem e precisam de produtos comercializáveis. O pesquisador quer produzir. Esta interação pode agradar a ambos, desde que as competências possam ser respeitadas.”

O entrevistado 2 chamou a atenção para as novas formas de interação e comercialização do conhecimento entre universidades e empresas no mercado globalizado. Agora existe um mercado global do conhecimento:

[...] Tem uma coisa hoje que eu acho interessante que é a Open Inovation! Que é uma coisa que eu acho que vai ser importantíssima nos próximos anos. Você já ouviu falar disto? Inovação aberta? A empresa tem um problema e eles jogam este problema em vários lugares do mundo pra tentar resolver! [...] E o pesquisador que tem competência na área e que quer fazer uma proposta faz! De repente a empresa lá do outro lado do mundo dá o dinheiro pra você fazer a pesquisa. Open Inovation! [...] Agora o que nós estamos comercializando é o conhecimento, de uma maneira bem mais abrangente! Então globalização é isso! Ela está criando mecanismos novos de interação universidade-empresa.

Para o entrevistado 1, tem prevalecido a prestação de serviços de pesquisa. Normalmente, após o patenteamento e se ele tiver um grande impacto é que aparecem empresas interessadas:

[...] Não, na verdade o que às vezes acontece, são as empresas procurando prestação de serviços de pesquisa. Mas, numa parte das vezes o que acontece é que depois que você fez o patenteamento e que tem um grande impacto, aí é que pode aparecer o interesse de uma empresa. Mas, normalmente, até por uma questão histórica, não há este nível de contato comumente entre a universidade-empresa. Não é uma coisa ainda comum no Brasil.

Segundo o entrevistado 1, graças às políticas públicas como as chamadas da FINEP que são destinadas às empresas para que invistam em P&D, elas estão contratando pesquisadores vindos das universidades. Então isso está mudando:

[...] Está mudando. As empresas brasileiras estão começando a ver importância que é você aplicar dinheiro em pesquisa e desenvolvimento. E nesse ponto o governo tem feito o trabalho porque tem essas chamadas onde eles dão dinheiro da FINEP e de outros órgãos para desenvolvimento de pesquisa dentro das empresas. Então, as empresas estão começando a ter este tipo de informação, porque também elas estão começando a

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contratar pessoas que são pesquisadores que vieram das universidades. Então, isto está começando a mudar.

Este mesmo entrevistado teve algumas experiências de parcerias com empresas em que desenvolveram pesquisas em conjunto, compartilhou conhecimentos e até transferiu patentes no DQ:

[...] Eu tenho desde a experiência de uma empresa que me procurou porque ela queria desenvolver um projeto de pesquisa para a produção de um insumo até prestação de serviço, já aconteceu. Daquela deles verem nossas pesquisas no site da universidade e chamarem pra conhecer até que ponto nossos resultados chegaram. Até também ter uma patente e comercializar uma patente. Eu tenho vários tipos de experiência nisso.

O coordenador da CT&IT enfatizou que com as políticas públicas atuais tem tido muito recurso para pesquisas em conjunto e parcerias entre universidade e empresa. No estado de Minas Gerais está ocorrendo uma feliz coincidência entre as políticas públicas federais e estaduais para C,T&I. A institucionalização ocorrida por meio da Rede Mineira de Propriedade Intelectual, dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e do Fórum de Gestores da Inovação (FORTEC) tem facilitado a divulgação da cultura da PI e inovação no país:

[...] Uma questão que é extremamente importante também nos facilitadores é que hoje nós temos políticas públicas. Nunca nós tivemos tanto dinheiro pra fazer este tipo de coisas. Nunca foi tão importante, ou seja, na economia do conhecimento é que esse conhecimento tem valor. Então, aos poucos essa percepção de que conhecimento é poder está mudando no país. Felizmente o governo federal entendeu isso muito bem! E hoje pra você ver, no Estado de Minas Gerais uma feliz coincidência dessas políticas. Tanto estaduais, mesmo sendo de partidas de formas diferentes conseguimos na essência, na verdade da forma do Estado Brasileiro e do Estado de Minas Gerais e o governo federal - conseguiram uma consonância dessas políticas Ciência Tecnologia e Inovação (C,T&I). Então, eu sinto hoje que nós somos resultado disso. Aos poucos, nós temos alguma institucionalização, como eu estava te falando que é extremamente importante, nós temos o fundo estadual, a Rede Mineira de Propriedade Intelectual que eu sou o coordenador. [...] Isso tem permitido a gente poder divulgar a cultura e prática da gestão da Propriedade Intelectual e da transferência de tecnologia a partir da experiência nova dos núcleos relativamente mais consolidados pra outros que estão iniciando. Hoje tem 21 Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) no Estado de Minas Gerais que a gente dá suporte pra eles. Funciona como uma rede onde a gente capilariza, por exemplo, boas práticas de gestão e compartilha. Nós temos... Hoje, eu sou presidente nacional do FORTEC - Fórum de Gestores da Inovação. É uma instância esse fórum onde reúnem todos os diretores dos NITs do país. Então eu estou na qualidade agora de presidente. E como presidente, então, a gente vai tentando consolidar também esse processo, que é relativamente novo. Essa institucionalização só tem quatro anos. Tem quatro anos o FORTEC. Então, nós temos um grande desafio para que essa institucionalização se torne um fórum pra que a gente possa discutir de forma mais ampla e de forma nacional, por exemplo, políticas nacionais de

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inovação para o país. É possível essa discussão de problemas mais graves, centrais, por exemplo, com grandes empresas como a Petrobras, Embraer, Anel. Empresas que ainda precisam que a gente trabalhe e chegue mais perto sobre a valorização, inclusive do tipo de parceria universidade/empresa (UE).

O DQ é destaque em número de patentes na UFMG hoje devido à prática da cultura da PI ter sido iniciada em 1999 quando o atual coordenador da CT&IT começou a dar cursos e treinar os seus colegas de departamento. É preciso estender esta prática para toda a UFMG. Hoje ele coordena o Curso de Mestrado Profissional de Inovação Biofarmacêutica que é aberto aos profissionais de todas as áreas do conhecimento:

[...] Eu te digo [...] com relação ao Departamento de Química (DQ), o que eu conheço, nós iniciamos o processo na Química. Hoje é natural que o DQ tenha um dos maiores números de patentes, ou seja, quando a gente olha o DQ ele tem um número de patente igual ao do ICB e da Faculdade de Engenharia. Nós temos no DQ. Isso é uma conseqüência de uma cultura e prática da proteção e da importância da gestão da PI no departamento! Quando eu voltei, desde 1999 oferecendo este curso de patentes e transferência de tecnologia no departamento. Muito antes de vir pra CT&IT. Eu só vinha prestar um serviço e já estou voltando! Eu não sou só diretor. Eu sou professor! Eu voltarei. Sou professor titular desta casa e ajudei um pouco a aumentar esta cultura da PI no DQ treinando colegas, treinando grupos de pesquisa. Alguns colegas inclusive o Rochel e a Lucinha fizeram o curso quando eu ofereci na graduação. Aqui um curso que eu ofereci em um semestre na graduação e na pós-graduação e algum curso aberto. Ele evoluiu, na verdade, para uma outra questão que é o Curso de Mestrado Profissional de Inovação Biofarmacêutica. Sempre essa área de concentração. Esse é um fator interno bastante forte também que favorece este tipo de iniciativa que é a formação de recursos humanos. Nós precisamos reforçar isto pra toda a universidade. Eu sou vice-coordenador deste curso, o Mestrado Profissional de Inovação Biofarmacêutica. É multidisciplinaridade, é um curso multidisciplinar por essência que envolve o Departamento de Química, o Instituto de Ciências Biológicas, o Cedeplar. A Faculdade de Direito, a Faculdade de Odontologia e a Faculdade de Farmácia, parcialmente! Dentro dessa área de concentração, uma de Nanobiotecnologia, a segunda é de Testes Clínicos e a terceira de Propriedade Intelectual e Inovação. Ele é aberto pra todos os tipos de profissionais que tenham e queiram, por exemplo, se treinar e formar em uma área dessas. Que seria de inovação biofarmacêutica, seja do ponto de vista da gestão da PI, seja do ponto de vista do desenvolvimento de novas ferramentas, de testes pré-clínicos, por exemplo, visando boas prática e os mais altos padrões nacionais e internacionais, por exemplo, o desenvolvimento de novas formulações, por exemplo, novas formulações até de conhecimento de fármacos e coisas deste tipo. Tanto de fármacos sintéticos quanto da área de biotecnologia. Então é uma área em nós temos duas turmas e temos profissionais de todas as áreas, advogados, farmacêuticos, químicos... O curso é aberto pra todos os profissionais. Profissionais da área de Ciências Contábeis. [...]

Para o entrevistado 3, os editais do CNPq são extremamente importantes, pois representaram a institucionalização da parceria UE na UFMG:

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[...] A patente é a única forma de viabilizar a interação universidade- empresa. [...] Mas de certa forma, existe sim um estímulo, por parte dos editais. Que os editais é que dão o tom da conversa. Na hora que ele coloca uma empresa dentro de um edital, o professor percebe que aquilo é politicamente correto, eticamente correto. Que ele não vai vender a UFMG! Porque o edital do CNPq fala que pode ter este parceiro. Então, com certeza, isso ajuda!

5.3.5 Outras situações

O entrevistado 2 chamou a atenção para um aspecto novo em relação ao processo de avaliação da CAPES em que já se diferencia e é melhor avaliado quem já tem a carta patente concedida. Para ele, no dia em que a patente valer mais do que o artigo para a CAPES, essa será uma grande motivação para os pesquisadores:

[...] Porque a patente tem um depósito dela que pode levar até oito anos até ser avaliada e sair a carta patente são 7, 8, 9 anos! Então, isso complica toda a avaliação, porque depositar uma patente é mais fácil do que ter o artigo aceito, em geral! Só corre o risco de muito pesquisador fazer um monte de patente só pra ganhar pontos no CNPq, na CAPES! Ter a carta patente é outra história, porque leva muito tempo! Então, eu acho que o CNPq e a CAPES hoje, já avaliam diferente o que é o depósito e o que é uma carta patente concedida! Isso é diferenciado! [...]

O dia em que a patente for valorizada, eu acho que isso já está tendendo a acontecer. O dia em que a patente valer mais do que artigo, aí eu acho que isso vai ser uma grande motivação pros pesquisadores!