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2.5 Métrica Vertebral

2.5.2 Segundo protótipo

O segundo protótipo do Métrica Vertebral está automatizado pelo que, a nível estrutural e operacional, é completamente diferente do protótipo anterior. No entanto, o processo de medição baseia-se nos mesmos princípios, que compreendem a identificação da projecção cutânea do vértice dos processos espinhosos, componente que já havia sido validada para o primeiro protótipo [122, 123].

Para medir distâncias, este protótipo aplica um método de triangulação, que tem como base uma câmara de vídeo, um díodo laser e algoritmos de processamento de imagem, que estão optimizados para reconhecer pontos azuis na pele. Estes pontos correspondem à projecção cutânea do vértice dos processos espinhosos [16, 122].

Em cada aquisição de dados, o sistema móvel desloca-se automaticamente com o objectivo de sobrepor, sequencialmente, a marca do díodo laser a cada um dos pontos marcados. Sempre que se verifica esta condição, o ponto é detectado e calcula-se, em tempo real, as suas coordenadas espaciais [27].

A nível de hardware, o protótipo é constituído por duas estruturas acopladas, uma vertical e outra horizontal, que permitem deslocar os componentes do sistema nestas direcções. As estruturas receberam o nome de posicionador vertical e posicionador hori- zontal, respectivamente, devido ao sistema de eixos coordenados que foi considerado e que é idêntico aos eixos anatómicos de referência (figura 2.1). O posicionador vertical é constituído por uma mesa linear e calhas com correias, que lhe conferem uma amplitude de movimento de 2000 mm, enquanto o posicionador horizontal tem uma mesa linear conjugada com um parafuso sem fim, que lhe permite uma amplitude de movimento de 300 mm [123].

Para obter um posicionamento rigoroso (inferior a 0.2 mm), cada posicionador tem um motor passo a passo híbrido, bipolar e com um passo de 0.9◦. No posicionador vertical,

o motor é o modelo 5709L-01P da Lin EngineeringTM, com um torque máximo de 1.86 Nm e uma velocidade máxima de 250 mm/s. O motor do posicionador horizontal é do mesmo fabricante mas o modelo 4209L-01P. O seu torque máximo é igual a 0.44 Nm e a

apresenta uma velocidade máxima de 100 mm/s [16, 123].

Nos limites de posicionamento de cada um dos posicionadores, localizam-se detecto- res de fim de curso que, como o próprio nome indica, reconhecem quando um posiciona- dor atinge este extremo [16].

O posicionador horizontal, que possui dimensões diminutas comparativamente com a estrutura vertical, tem acoplada a câmara de vídeo e, acima desta, o laser. A câmara de vídeo utilizada é o modelo UI-1440C da uEyeTM. De cada um dos lados da câmara de vídeo, situa-se uma lâmpada de halogéneo, de 20 Watts (W) e alimentada com 12 Volts (V) corrente directa (DC), que permite um maior número de planos de focagem e, consequentemente, a realização de aquisições mais rápidas. Na figura 2.16 apresenta-se a componente mecânica do segundo protótipo. O equipamento possui ainda um botão de emergência que, quando é accionado, faz parar de imediato o funcionamento dos motores [16, 122].

Figura 2.16: Estrutura móvel do segundo protótipo do Métrica Vertebral [27]. A distância entre o laser e a câmara está muito bem definida assim como o ângulo que o laser faz com o eixo vertical. Considerando as características dos dois componentes, o díodo laser foi colocado 90 mm acima da câmara e a 72° relativamente à vertical. Com esta configuração, verificaram que a resolução mínima do sistema é igual a 0.2 mm [122].

O movimento do sistema é coordenado por um microcontrolador (PIC16F877A) da MicrochipTM. Este componente é responsável por conduzir os motores, controlar a ori- entação dos posicionadores, monitorizar os sinais dos fins de curso e o interruptor de emergência, controlar o estado dos relés e gerir a comunicação série RS232 com o compu- tador [16, 123].

O software do Métrica Vertebral foi desenvolvido em MATLAB® e, para além das

funções utilizadas para comunicar com o microcontrolador, compreende os algoritmos de processamento de imagem, os algoritmos que efectuam o cálculo das coordenadas es- paciais de cada processo espinhoso e a interface gráfica para o utilizador (que se encontra representada na figura 2.17) [27, 122].

Figura 2.17: Interface gráfica para o utilizador do segundo protótipo do Métrica Vertebral [122].

Os algoritmos de processamento de imagem estão ajustados para um marcador azul específico, pelo que é crucial efectuar as marcações com este marcador, caso contrário, os pontos não são detectados. O marcador em questão é um produto corrente de maquilha- gem que se designa porSephora Eyeliner 13TM [27].

Sempre que um ponto é identificado, o software procede ao cálculo das suas coordena- das espaciais. As coordenadas que representam a distância lateral e a altura do processo espinhoso são identificadas a partir da distância que cada posicionador se moveu relati- vamente à posição de repouso. Por sua vez, o cálculo da profundidade faz-se com base em princípios de medição de distâncias que envolvem conceitos de óptica geométrica e relações trigonométricas [16, 122].

A interface gráfica do utilizador possui os seguintes elementos [122]:

a) quatro setas direccionais (esquerda, direita, cima e baixo), com as quais o utilizador movimenta a estrutura, e um botãoStart / Stop, para iniciar ou parar, respectivamente,

o movimento da estrutura;

b) três botões de velocidade (baixa, normal e rápida);

c) uma janela de visualização, onde se apresenta, em tempo real, a imagem captada pela câmara;

d) um botãoPower, que deve ser selecionado quando se pretende iniciar a aquisição de

De forma geral, a metodologia de aplicação deste protótipo compreende as seguintes etapas [27]:

1. Marcação da projecção cutânea do vértice dos processos espinhosos;

2. Posicionamento do paciente, em frente ao sistema móvel e com a face posterior do tronco voltada para o mesmo;

3. Indicação do número de pontos que devem ser detectados, numa janela interactiva que surge sempre a interface gráfica do utilizador é iniciada;

4. Ajuste da estrutura móvel, através da interface gráfica, de forma a que a marca do laser esteja um pouco abaixo do ponto que identifica a primeira vértebra sagrada e para que ambas as marcas fiquem compreendidas entre as duas linhas brancas verticais que podem ser observadas na janela de visualização da interface gráfica (figura 2.17);

5. Recolha automática de dados. Durante este processo, o sistema móvel desloca-se para cima e para os lados, com o objectivo de sobrepor a marca do laser à marca de cada ponto.

6. Ao terminar a recolha automática, o utilizador pode repetir a aquisição ou guardar os dados, se assim desejar.

O processo automático de aquisição de dados demora, aproximadamente, três mi- nutos. Mesmo assim, verifica-se a presença de artefactos nas medições, resultantes da incapacidade dos índivíduos se manterem numa posição estática durante este período. Outra desvantagem do segundo protótipo é o facto do marcador azul utilizado apresentar pouco contraste em relação à pele, o que origina artefactos nas imagens e, consequente- mente, uma menor eficácia de detecção. Isto sucede especialmente em peles mais claras porque a sua pigmentação tem componentes que se assemelham ao marcador. Para além disso, o instrumento não permite identificar as primeiras vértebras cervicais devido à presença de cabelo. O marcador não adere convenientemente pelo que os pontos ficam completamente desfigurados, não sendo detectados pelos algoritmos [27, 28].

Os dados adquiridos com o Métrica Vertebral podem ser inseridos num software com- plementar, que foi desenvolvido para representar tridimensionalmente a coluna vertebral e estimar a amplitude dos ângulos de Cobb no plano sagital. Esse software foi desenvol- vido de raíz no âmbito de uma tese do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica (MIEB) da FCT/UNL, assim como o modelo matemático da coluna vertebral que está na sua base [125].

Tal como será descrito no próximo capítulo, entre os sistemas conhecidos para mode- lação tridimensional da coluna vertebral, este é o único que desempenha essa função a partir apenas da posição espacial do vértice dos processos espinhosos [45, 126–128].