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3 QUALIDADE E SEGURANÇA DOS PRÉ-FABRICADOS NA CONSTRUÇÃO

3.2 SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS PRÉ MOLDADAS EM CONCRETO

A utilização do sistema pré-fabricado em concreto traz duas vantagens inerentes ao processo construtivo em relação à segurança do trabalho:

a) O uso de máquinas e equipamentos reduz o número de operários envolvidos na produção, e consequentemente expostos aos acidentes em potencial;

b) O prazo de execução mais rápido proporciona um menor tempo de exposição ao risco de acidentes.

Apesar de essas vantagens colocarem as construções pré-fabricadas como industrializadas e à frente das construções tradicionais em nível de segurança e saúde do trabalho, pode-se afirmar que vários acidentes poderiam ser evitados se houvesse normas especificas de SST para os pré- fabricados. A respeito disso, Sabbatini (1989) já mencionava a importância da visão sistêmica do processo de produção, a saber:

“O conceito de industrialização da construção deve ser visto como um processo evolutivo que, através de ações organizacionais e implementação de inovações tecnológicas, métodos de trabalho e técnicas de planejamento e controle, que objetiva incrementar a produtividade e o nível de produção e aprimorar o desempenho da atividade construtiva”.

Os procedimentos gerais para a operação de montagem dos pré-moldados foi estudado pela ABCIC em parceria com o grupo NETPRE (Núcleo de Estudos e Tecnologia em pré moldados de concreto) que desenvolveu em 2008, um texto orientativo (NETPRE, 2008), ainda não publicado. O objetivo dos procedimentos é descrever um conjunto satisfatório de procedimentos gerais e organizar as informações, sucintamente, para a operação segura de montagem de concreto pré-moldado, conforme descrição no Quadro 4. Em especial, esta preocupação acontece porque grande parte dos serviços de montagem é terceirizada pelas empresas fabricantes dos pré-fabricados. Assim, a responsabilidade do serviço passa a ser compartilhada entre os agentes fabricantes e montador, por isso a necessidade da instrução clara e detalhada sobre os procedimentos.

Quadro 4 - Procedimentos gerais para a operação de montagem de concreto pré-moldado

PROCEDIMENTOS FATORES CONSIDERAÇÕES

Planejamento da Montagem

1 Determinação de acessos Firmes, nivelados e adequadamente compactados 2 Identificação de obstáculos e riscos potenciais Edificações muito antigas vizinhas ao local da obra ou hospitais;

remoção de obstáculos

3 Avaliação de limitações pelo tamanho e peso dos elementos Disponibilizar informações sobre as características das estruturas a serem içadas

4 Definição dos equipamentos Conhecer as disponibilidades no mercado 5 Elaboração de um Plano de Montagem Considerar os aspectos contratuais incluindo requisitos específicos do

cliente

6 Armazenagem de peças no canteiro Utilizar apoios para regularizar o solo e/ou para manter um afastamento da peça com o solo

Planejamento da Montagem

1 Considerações a respeito de Segurança

-Verificar no projeto de montagem aspectos relevantes com relação à estabilidade da estrutura, ligações provisórias e orientações do projetista da estrutura. -Verificar o PCMAT e /ou as normas regulamentares aplicáveis NR -18; NR-7.

-Considerar as interfaces da sequência de montagem estabelecida com a segurança. -Considerar o dimensionamento dos equipamentos e plano de

manutenção preventiva e corretiva. 2

Verificação da Locação e/ou condições de estruturas “in loco” que possam em sua interface impactar na montagem dos elementos pré-fabricados

-Cravação das estacas e execução dos blocos pela empresa fornece- dora dos elementos da estrutura - Cravação das estacas e execução dos blocos por terceiros

3 Obras mistas Recomendável a verificação da estrutura existente anterior a montagem

4 Sequência de Montagem

Locação do guindaste na obra, as formas de construção e a localização das paredes para estabilidade

5 Descarregamento Esquema com a localização e o desenho de montagem das peças Fonte: NETPRE (2008)

Quadro 4 - Procedimentos gerais para a operação de montagem de concreto pré-moldado (continuação)

PROCEDIMENTOS FATORES CONSIDERAÇÕES

Controle de Qualidade

1 Identificação

-Checar se a quantidade de peças é condizente com Nota Fiscal -Verificar a existência do selo de qualidade ABCIC.

2 Fissuras Verificar a existência de fissuras em toda a superfície da peça 3 Flecha

-Produtos protendidos possuem certa flecha, facilmente notado -Verificar possíveis flechas negativas e ou anormais. 4 Lascas

Atentar para possível existência de elementos quebrados que podem ocorrer no momento do

carregamento

5 Riscos Inspecionar a ocorrência de riscos nas estruturas arquitetônicas 6 Etiqueta vermelhas Elementos que possuem esse tipo de etiqueta requerem reparos que

ainda não foram executados 7 Içamento com alças e inserção Assegurar-se que o plano onde será efetuado o içamento está em boas

condições

Montagem de Elementos

1 Montagem de Pilares

Colocação no bloco de fundação, de modo que ele fique no prumo, alinhado e convenientemente chumbado

2 Montagem de Vigas

Montadas sempre sobre aparelhos de apoio com base em neoprene nas duas extremidades, com

especificação e dimensões definidas em projeto

3 Montagem de Lajes

Somente após posicionamento da peça, aliviar os cabos e proceder ao desengate do conjunto

4 Montagem de Painéis

As vigas e os pilares onde os painéis serão apoiados deverão estar liberados para que a montagem possa se iniciar 5 Montagem de Telhas Realizar o isolamento de todas as áreas sob as quais se realizará o

trabalho de montagem

6 Montagem de escadas Verificar a disponibilidade do projeto com cotas de montagem dos patamares da escada

Fonte: NETPRE (2008)

Observa-se que no Quadro 4 são contemplados três itens: Planejamento da Montagem, Controle de Qualidade e Montagem dos Elementos, sendo que em todos os itens devem ser frisadas as considerações a respeito da Segurança do Trabalho.

Este planejamento da montagem também é conhecido como “Plano de Rigging”, que envolve projetistas de estruturas, montadores, operadores de equipamentos, sinaleiros, entre outros. Para Cunha (2011), o “Plano de Rigging” deve ser elaborado por um profissional capacitado, incluindo a memória de cálculo, os projetos de dispositivos, os desenhos demonstrativos de todas as fases de içamento, as posições mais críticas e as folgas previstas em relação às interferências de operação.

Sabendo da necessidade de organização do setor de pré-fabricados em assuntos de interesse comum, em maio de 2009, a ABCIC, instalou o Comitê de Segurança do Trabalho com a finalidade principal de propor a inclusão de um capítulo específico na NR-18 sobre a segurança na montagem de pré-fabricados de concreto, embasada no fato da referida norma se destinar às obras convencionais.

Participaram do Comitê: representantes das empresas associadas, membros de empresas convidadas, representantes da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP), representante do Núcleo de Estudos e Tecnologia em Pré-Moldados de Concreto (NETPRE) e representante do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE). Pode-se ressaltar o desenvolvimento colaborativo do trabalho de discussão, principalmente por não se tratar de uma ação isolada.

Foram discutidas questões desde a produção das peças na fábrica (protensão, movimentação das peças no pátio, estocagem e carregamento das peças) até a montagem das estruturas no canteiro. Os principais pontos levantados apontaram que:

• A produção é um processo mais rápido e que haveria a necessidade de verificar se o praticado no chão de fábrica enquadra-se dentro das normas existentes;

• Na parte da montagem das peças há mais fiscalização;

• Muitas vezes, pelo fato de haver mistura entre os sistemas convencionais com os pré- fabricados existem dificuldades em se identificar quem são os responsáveis pela elaboração dos PCMAT e pelo treinamento do pessoal durante a fase de execução;

• Existe mais perigo na montagem pelo fato de se trabalhar nas alturas.

Assim, ficou entendido pelo Comitê que as questões a serem observadas seriam apresentadas em um documento que estabeleceria os requisitos mínimos de segurança de trabalhadores que

interajam em canteiros de obras, entendendo-se as fases de movimentação, carregamento, descarregamento, armazenamento e montagem dos componentes. A proposta do texto em relação aos requisitos mínimos de segurança dos trabalhadores encontra-se no Anexo.

Dessa forma, verificou-se realmente a lacuna de conhecimento e a importância de se estudar a relação entre os aspectos de segurança e saúde do trabalho nas construções pré-fabricadas, em especial com enfoque da Engenharia de Resiliência, principalmente na fábrica de produção dos elementos em concreto.