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Análise da evolução das reclamações 5.1 Enquadramento

5.4 Exemplos de reclamações e respetiva apreciação

5.4.2 Seguro automóvel

Exemplo 2

O reclamante pretende que a empresa de seguros celebra consigo um contrato de seguro para um veículo do qual não é proprietário, mas do qual será condutor habitual, não tendo a mesma aceite a contratação.

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Apreciação

O n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de agosto, que aprova o regime do sistema do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel, especifica os pressupostos para a obrigatoriedade da contratação. O mais relevante para este caso é o da pessoa poder “ser civilmente responsável pela reparação de danos corporais ou materiais causados a terceiros”.

Sobre quem pode ser responsabilizado, o n.º 1 do artigo 15.º do mesmo diploma esclarece que “o contrato garante a responsabilidade civil do tomador do seguro, dos sujeitos da obrigação de segurar previstos no artigo 4.º e dos legítimos detentores e condutores do veículo”.

O n.º 1 do artigo 503.º do Código Civil também dispõe no mesmo sentido ao referir que aquele que tiver a direção efetiva “de qualquer veículo de circulação terrestre e o utilizar no seu próprio interesse (…) responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação”.

Daqui resulta que também o condutor pode ser responsabilizado pelos danos que provoque, pelo que terá interesse em contratar um seguro para transferir essa responsabilidade, preenchendo dessa forma o previsto no artigo 43.º do regime jurídico do contrato de seguro (RJCS), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16 de abril, o qual prevê que o segurado deve ter um interesse digno de proteção legal relativamente ao risco coberto, sob pena de nulidade do contrato.

Embora, por regra, a obrigação de contratar o seguro pertença ao proprietário, o n.º 2 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de agosto, permite que qualquer outra pessoa o celebre, pelo que poderá o condutor que tenha um interesse digno de proteção legal contratar o seguro obrigatório.

No entanto, as empresas de seguros, dentro dos limites legais, são livres de estabelecer regras de subscrição, podendo dessa forma não aceitar contratar com quem não tenha a qualidade de proprietário ou em razão de outros fatores (por exemplo, tipo de veículo).

Exemplo 3

O reclamante alega que a empresa de seguros lhe agravou o prémio de seguro numa situação em que recebeu indemnização após ter acionado a sua apólice de seguro automóvel com coberturas de danos próprios em sinistro de responsabilidade de condutor cujo veículo não dispunha de seguro válido e eficaz.

Apreciação

Existindo responsabilidade do condutor cujo veículo que não tem seguro válido, poderá haver lugar à intervenção do Fundo de Garantia Automóvel (FGA) nos termos dos artigos 47.º a 49.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de agosto.

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No entanto, o n.º 2 do artigo 51.º deste diploma prevê uma limitação ao âmbito do pagamento da totalidade da indemnização pelo FGA. Dispõe este preceito que se o lesado por acidente beneficiar da cobertura de um contrato de seguro automóvel de danos próprios, a reparação dos danos do acidente que sejam subsumíveis nos respetivos contratos incumbe às empresas de seguros, ficando a responsabilidade do Fundo limitada ao pagamento do valor excedente.

Não obstante, o facto de a empresa de seguros pagar a indemnização não pode dar lugar ao agravamento do prémio, ainda que, por regra, o sinistro que tenha dado lugar a indemnização possibilite o agravamento, nos termos do artigo 143.º do regime jurídico do contrato de seguro (RJCS), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16 de abril.

Com efeito dispõe o n.º 6 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de agosto, que “o pagamento pela empresa de seguros da indemnização prevista no n.º 2 não dá, em si, lugar a alteração de prémio do respectivo seguro quando o dano reparado for da exclusiva responsabilidade do interveniente sem seguro”, o que constitui uma disposição especial que prevalece sobre disposições legais gerais ou sobre as condições que tenham sido contratadas.

Exemplo 4

O lesado de um sinistro automóvel reclama de a empresa de seguros não lhe reembolsar as despesas que teve com um veículo de substituição por o mesmo ter sido alugado por uma empresa que não está licenciada para esse fim.

Apreciação

O exercício da atividade de aluguer de veículos sem condutor carece de alvará próprio da entidade que tutela tal atividade.

Nesse sentido, a entidade prestadora do serviço deve estar habilitada a emitir faturas e a exercer a atividade de aluguer de veículos de passageiros sem condutor nos termos legalmente previstos, para efeitos de apresentação de despesas à empresa de seguros, conforme disposto no n.º 5 do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de agosto, o qual prevê que o lesado tem direito a ser indemnizado pelo excesso de despesas em que incorreu com transporte em consequência da imobilização do veículo durante o período em que não dispôs do veículo de substituição.

A empresa a que o lesado alugou um veículo automóvel estava obrigada a cumprir o Decreto-Lei n.º 181/2012, de 6 de agosto, o qual regula as condições de acesso e de exercício da atividade de aluguer de veículos de passageiros sem condutor, também designada por atividade de “rent-a-car”, por pessoas singulares ou coletivas estabelecidas em território nacional.

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Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 3.º daquele diploma legal, «O acesso e exercício da atividade de “rent-a-car” está sujeito a comunicação prévia com prazo ao IMT, I. P., a efetuar por via do balcão único eletrónico dos serviços a que se referem os artigos 5.º e 6.º do Decreto-Lei n.º 92/2010, de 26 de julho ou da plataforma eletrónica deste Instituto, conforme modelo a aprovar nos termos do n.º 2 do artigo 23.º». O exercício da atividade de “rent-a-car” sem cumprimento das regras previstas neste diploma legal estão sujeitos a contraordenação, razão pela qual é prática das empresas de seguros apenas aceitarem indemnizar despesas com aluguer de veículos desde que a entidade que emite o recibo esteja devidamente autorizada para exercer a atividade.