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SELEÇÃO DE CORPUS

No documento 2012Giovana Reis Lunardi (páginas 91-95)

3 GÊNERO TEXTUAL, METÁFORA E COMPREENSÃO LEITORA

4.1 SELEÇÃO DE CORPUS

O corpus de análise desta pesquisa constitui-se de uma reportagem jornalística139 com título metafórico: A competição é uma droga (EXAME, 2010, p. 120-121),encontrada em revista de circulação nacional. A temática é atual e refere-se ao referendo de legalização da maconha ocorrido no estado da Califórnia, em novembro de 2010, no qual o “não à legalização” venceu.

A coleta de dados da pesquisa ocorreu em diferentes bibliotecas (UPF, Unoesc / Xanxerê), nas quais foi possível ter acesso a diversos exemplares de revistas nacionais; entre eles, foi selecionada a reportagem jornalística na revista Exame por revelar o movimento argumentativo através do título metafórico e respectiva relação com o texto dessa reportagem escolhida para ser o corpus de pesquisa.

O primeiro critério de seleção da reportagem foi apresentar uma metáfora no enunciado do título para verificar a hipótese prevista de remissão/retomada das palavras plenas que caracterizam o sentido do título com o texto. O segundo critério de seleção diz respeito à atualidade do assunto da reportagem, ou seja, revistas de outubro de 2010 até agosto de 2011.

A reportagem escolhida tem extensão total de 112 linhas, divididas em três colunas; a primeira tem vinte e sete linhas, a segunda tem trinta e duas linhas e a terceira coluna com cinquenta e três linhas. Selecionamos cinco trechos discursivos, por considerá-los mais representativos para a análise proposta. Há também um gráfico que reflete o consumo de maconha medicinal e seu custo (1 bilhão de dólares) diante da maconha ilegal (14 bilhões de dólares, demonstrando também que o preço da grama cairia com a legalização proposta pelo referendo. Com isso, pode-se concluir que economicamente não seria viável a legalização, o que será demonstrado pelas análises dos trechos discursivos. A reportagem também apresenta um lide (parte abaixo do título), que manifesta parte do sentido gerado pelos blocos semânticos do discurso analisado.

Justifica-se a escolha da teoria-base (TBS) e do corpus de pesquisa pela importância de serem propostas novas práticas de leitura/análise que possam revelar, através da compreensão leitora, o sentido argumentativo do texto e sua estreita relação com o título

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expresso pela metáfora. Verificamos que muitos estudos têm sido realizados com a aplicação da ADL/TBS na análise de enunciados de nível elementar na realização linguística; dessa maneira, entendemos como pertinente expandir análises da realização linguística para o nível complexo dessa realização: o discurso.

Visto que o corpus selecionado é composto por uma reportagem jornalística, presente em uma revista que é lida por várias pessoas, há a necessidade de investigar e explicar a metáfora como fenômeno linguístico que implica um recurso à argumentação e que o conteúdo textual deve ser lido como blocos de sentido encadeados entre si. Embora a reportagem jornalística seja classificada como gênero de tipologia predominantemente expositiva (MARCUSCHI, 2002), as análises do título e texto evidenciam que “a argumentação está na língua” e que esse gênero também é persuasivo e nele há argumentação.

A aplicação da ADL/TBS dá-se como uma possibilidade de leitura mais apurada do texto/reportagem ao comprovar a tese ducrotiana de que a argumentação está na língua, através da descrição semântica que implica a compreensão leitora. A análise realizada pela perspectiva da ADL/TBS140 demonstra o potencial metodológico de aplicação dessa teoria, na versão dos Blocos Semânticos, no que se refere à compreensão leitora e à identificação do sentido polifônico do discurso relacionado ao sentido do título metafórico.

São utilizados na análise os conceitos definidos sobre discurso141 como a realização linguística e o texto como uma entidade abstrata, de nível complexo, formado por uma sequência de frases (nível elementar). As frases são realizadas pelos enunciados, estes como entidades concretas são produzidas pelo locutor através da enunciação. O discurso é uma entidade concreta, de nível complexo, realizada pelo texto. Conforme Freitas (2007, p. 62),

Se um discurso é uma sucessão de enunciados e um enunciado é uma sequência de dois segmentos (argumento/conclusão), então parece que no discurso alguns enunciados exerçam a função de argumentos e outros enunciados a de conclusão, sendo talvez essa grande estrutura que confere sentido ao discurso.

Para fins de subsidiar este estudo à luz da Semântica Argumentativa (ADL/TBS), organizamos o seguinte dispositivo de análise informando as categorias teóricas: conectores, aspectos expressos e evocados, operadores e modificadores, encadeamento e aspecto argumentativo normativo/transgressivo; interdependência semântica; argumentação

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Atualmente a ADL/TBS é vista como um conjunto teórico.

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externa/interna, estrutural/contextual; polifonia; bloco semântico e quadrado argumentativo. Com essas definições e já estabelecidas as categorias de análise142, após etapa empírica de estudo e coleta do corpus, o linguista precisa criar mecanismos para proceder referida análise. Desse modo, realizamos a leitura e seleção da reportagem jornalística e a escolha dos procedimentos da ADL/TBS com os quais pudéssemos descrever o sentido global do discurso e informar possíveis hipóteses (H). São elas:

(H1) “O texto é um Bloco Semântico Global” e o sentido do discurso pode ser descrito a partir da interdependência entre os encadeamentos argumentativos e suas argumentações internas que originam os blocos semânticos presentes no texto.

(H2) O aspecto argumentativo evocado do bloco semântico expresso no título metafórico (BST) tem relação143 com os demais aspectos evocados pelos blocos semânticos expressos na reportagem jornalística analisada, os quais se verificam na orientação argumentativa que resulta um bloco de sentido global do discurso (BSG).

(H3) As metáforas são recursos argumentativos e nelas a argumentação se circunscreve, está na língua, de modo que há relação de sentido entre o título metafórico e o texto porque se verificam desdobramentos da metáfora no decorrer do discurso e no movimento argumentativo desse mesmo discurso.

(H4) O quadrado argumentativo como recurso ilustrativo mostra que o sentido do título metafórico e do discurso global é argumentativo e polifônico.

(H5) A aplicação da TBS para compreensão leitora permite entender o discurso na reportagem jornalística como argumentativo-polifônico, através do ponto de vista assumido/posto pelo locutor.

A hipótese (H1) “O texto é um Bloco Semântico Global” (BSG) será explicitada a partir da interdependência (em donc/pourtant) entre os vários blocos semânticos, presentes nos trechos do texto que constituem o sentido global do discurso.

Serão analisados os trechos discursivos selecionados da reportagem, por meio da descrição linguística do potencial argumentativo dos operadores e modificadores (MR e MD) e da identificação de encadeamentos argumentativos e das respectivas argumentações internas que originam blocos de sentido no discurso. As hipóteses serão verificadas pela aplicação dos procedimentos metodológicos, os quais são mencionados na seção 4.2. Será descrito o movimento argumentativo, conforme intenciona a hipótese (H2), que relaciona o aspecto

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Os conceitos que utilizaremos na análise foram apresentados na fundamentação teórica.

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evocado do bloco semântico expresso pelo título metafórico com o aspecto argumentativo evocado no texto, para identificar o sentido do discurso da reportagem jornalística analisada.

Ao descrever semanticamente as palavras plenas que constituem a metáfora, demonstramos seu caráter argumentativo e a relação de sentido entre o título metafórico e o texto, porque se verificam desdobramentos da metáfora no decorrer do discurso, conforme (H3). O quadrado argumentativo mostrará, através da polifonia, as possibilidades de escolha do locutor, uma vez o discurso metafórico é argumentativo e polifônico (H4), observamos os aspectos expressos do bloco semântico144 construído após a identificação dos encadeamentos argumentativos oriundos do tópico145 e veículo146 da metáfora. E, por fim, analisaremos quais escolhas discursivas são manifestadas pela compreensão leitora (H5), entendida na perspectiva da TBS.

Diante desse panorama teórico-metodológico, acreditamos que o corpus de pesquisa é produtivo e suficiente para realizar a análise, pois possibilita desenvolver este estudo com o propósito de afirmar as hipóteses estabelecidas. Nesse sentido, torna-se necessário estabelecer um modelo conceitual e operativo.

Em relação aos procedimentos de pesquisa, quanto aos objetivos este estudo caracteriza-se como descritivo, consoante Prodanov e Freitas (2009, p. 63), pois “envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados”. Registramos e classificamos a reportagem como manifestadora de fatos observados e expositora dos fenômenos inerentes às estruturas discursivas e argumentativas analisadas. As estruturas, através das quais fizemos a descrição semântica, são: as palavras plenas dos títulos e os discursos manifestados pelos textos da reportagem jornalística, corpus de pesquisa, cujos enunciados foram organizados em trechos discursivos para identificar os encadeamentos argumentativos e aspectos argumentativos evocados, todas as categorias analíticas como responsáveis pela construção do sentido. Tomamos por critério de seleção dos trechos discursivos a ocorrência das entidades lexicais competição e droga. A descrição semântica operacionalizada na pesquisa apropriou-se de conceitos da TBS para identificar a construção do sentido na reportagem analisada.

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Lembrando que pertencer ao mesmo bloco significa existir a mesma interdependência semântica entre A e B, conforme Ducrot e Carel (2005, p. 45).

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Moura (2007, 2010) teoriza que a metáfora é composta por dois elementos, aquele ao qual se quer definir e o elemento que o caracteriza, este último pode ser de diferentes classes gramaticais. O veículo na metáfora possui dupla referência, uma literal e outra metafórica; a interpretação depende da relação entre o tópico e o veículo. Segundo Moura (2007, p. 419-420), “a metáfora é uma asserção de categorização, ou seja, ela afirma a inclusão de uma entidade (o tópico da metáfora) numa categoria ou classe (o veículo da metáfora)”.

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Quanto aos procedimentos técnicos, utilizamos a pesquisa bibliográfica, que abrange toda significativa bibliografia já publicada sobre as teorias-base, em língua portuguesa e língua espanhola, no caso a ADL/TBS, “em livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses...” (PRODANOV; FREITAS, 2009, p. 68). Ainda consoante Prodanov e Freitas (2009, p. 28), é fundamental para a pesquisa científica, a assimilação de que “fazer ciência é saber argumentar, não só como técnica de domínio lógico, mas, sobretudo, como arte reconstrutiva”.

A abordagem da questão norteadora147 ocorreu de maneira qualitativa, isso porque a pesquisa qualitativa considera que existe relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito; este analisa aspectos que o circundam conforme uma teoria. A leitura de reportagem jornalística é, geralmente, vista como a exposição de um assunto e não a argumentação sobre ele, o que dificulta a depreensão dos sentidos manifestados no texto. Diante disso, o dispositivo de análise de uma pesquisa qualitativa permite uma nova leitura através da ADL/TBS, sobretudo “[...] a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa [...]. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é instrumento-chave” (PRODANOV; FREITAS, 2009, p. 81). Para explicar como se operacionalizou essa abordagem qualitativa e qual o dispositivo de análise, apresentamos a seguir (4.2) os procedimentos metodológicos aplicados para atender aos objetivos estabelecidos, bem como verificar as hipóteses previstas neste estudo.

No documento 2012Giovana Reis Lunardi (páginas 91-95)