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2.3 Responsabilidade Social na Cadeia de Suprimentos

2.3.1 Seleção de Fornecedores

Para Veloso e Primo (2006), a importância da seleção de fornecedores decorre do fato de recursos serem comprometidos em atividades simultâneas, como na administração de estoques, produção, fluxo de caixa e controle de qualidade dos produtos. Critérios utilizados para seleção e avaliação de fornecedores podem ser classificados nas perspectivas financeira, qualitativa, operacional, relacional, tecnológica e estratégica.

As empresas compradoras buscam parceiros que possam contribuir continuamente para o relacionamento e ajudá-las a competir mais efetivamente em seus mercados (VELOSO; PRIMO, 2006). Ao usar critérios de seleção que são compatíveis com a estratégia competitiva da empresa, é possível realizar um alinhamento entre os dois em termos de metas e objetivos (JABBOUR; JABBOUR, 2009).

Braga (2008) afirma que no processo de análise de mercado, para seleção de fornecedores ―é preciso ter uma visão da cadeia de suprimentos, procurando entender quem são os fornecedores dos seus fornecedores, fazendo uma análise das capacidades relativas de cada um‖.

A seleção de fornecedores passa a ser uma atividade mais complexa e desafiadora, em função dos fatores que devem ser observados para garantir que os relacionamentos estreitos serão cultivados e mantidos numa perspectiva de longo prazo (BRAGA, 2009).

Ainda na visão do autor, uma das principais etapas na seleção de fornecedores consiste na identificação do mercado fornecedor, a partir do monitoramento do conjunto de fornecedores através de alguns fatores, que podem ser vistos na Figura 8.

Como apresenta a Figura 8, as organizações estão cada vez mais preocupadas com fatores que envolvem o desempenho da empresa como um todo, não ficando restritas apenas a aspectos econômicos e legais, volume de produção e desempenho no mercado.

Análise de fatores ambientais e considerações éticas demonstram a preocupação das organizações em relação ao comportamento de seus fornecedores, a sua postura em relação à

responsabilidade social. O aumento da consciência ambiental e do compromisso de empresas, governos e indivíduos inspira o desenvolvimento dos contratos e as políticas de compra incorporadas às exigências ambientais (OFORI, 2000).

Figura 8 - Fatores de Análise do Mercado Fornecedor

Fonte: Adaptado de Braga (2009).

Para Ofori (2000), embora critérios ambientais e pressupostos para a seleção de fornecedores, com base em desempenho ambiental, sejam encorajadores, tendem a ser mais um argumento teórico do que uma prática organizacional inserida na dinâmica da cadeia de suprimentos. Na prática, as empresas, na seleção de seus fornecedores, optam por critérios ambientais que possibilitam uma análise simplificada, deixando de lado os critérios mais sofisticados (HANDFIELD et al, 2002)

Jabbour e Jabbour (2009) realizaram um estudo com o objetivo de verificar se as empresas brasileiras consideram critérios ambientais no processo de seleção de seus fornecedores. Para tal, foram estudadas cinco empresas de grande porte, localizadas em São Paulo. Ao utilizar uma classificação que identifica as empresas enquanto reativas, preventivas ou pró-ativas, sendo a última mais desenvolvida em relação à adoção de critérios ambientais na seleção de fornecedores, o estudo verifica que apenas uma das empresas pode ser classificada como pró-ativa, tendo em vista que possui ampla gama de critérios ambientais para selecionar seus fornecedores, banco de dados sobre o desempenho ambiental de seus fornecedores e análise qualitativa de impacto ambiental. Das empresas restantes, duas são classificadas como preventivas e duas como reativas.

Os autores concluem que aspectos como o estágio em que se encontra a gestão ambiental de uma empresa, o desempenho ambiental de seus produtos e a disponibilidade de informações ambientais acerca dos fornecedores são fatores que se relacionam positivamente com a inserção de critérios ambientais no processo de seleção de fornecedores (JABBOUR; JABBOUR, 2009).

Ao se relacionar com uma empresa que possui um alto nível de gestão ambiental, o fornecedor sente-se pressionado a melhorar seu desempenho ambiental. Walton et al (1998) sugere que as empresas devem integrar outros membros da cadeia de suprimentos em seus processos de gestão ambiental.

Na perspectiva de desenvolver a RSC ao longo de sua cadeia de suprimentos, a organização pode exigir de seus fornecedores alguns comportamentos, dentre eles práticas de responsabilidade social corporativa e melhoria de seu comportamento socioambiental (NASCIMENTO et al, 2008). Essas exigências, que podem ser repassadas a partir de critérios de seleção de fornecedores, estabelecem uma padronização do comportamento das empresas fornecedoras da CS.

No entanto, a adoção desses critérios nem sempre é realizada pelos fornecedores pelo motivo de que estes entendem que as práticas contribuirão para o aumento de sua vantagem competitiva.

Um estudo realizado por Choi e Eboch (1998) em Ohio – Estados Unidos, com 339 empresas dos setores elétrico e automotivo, buscou examinar as relações entre a adoção da (1) TQM, a (2) performance organizacional e a (3) satisfação do consumidor. O estudo concluiu que as empresas investigadas optaram pela reprodução das práticas de TQM devido às exigências dos clientes. De acordo com a pesquisa, a relação entre as práticas de TQM e a satisfação do consumidor é significativa, ao contrário da relação entre a adoção da TQM e o desempenho da planta fabril.

Os autores associam o resultado a uma perspectiva institucional de que a empresa busca legitimidade perante seus clientes, atendendo, desta forma, recomendações que os deixarão mais satisfeitos. ―A fim de assegurar o fluxo contínuo dos recursos necessários, as organizações estão em conformidade com os desejos do seu público externo‖ (CHOI; EBOCH, 1998, p. 70). Os autores ponderam que essa visão é totalmente coerente com a literatura de GCS, que aponta os clientes como condutores da divulgação da qualidade da empresa ao longo da cadeia.

Contudo, não se pode afirmar que a adoção de novas práticas pelas empresas não trazem benefícios à organização. ―O gerente da fábrica poderá eventualmente ver os benefícios de práticas de qualidade para o desempenho da planta, mas continuará a perceber que o principal objetivo da implementação [...] foi para satisfazer o cliente‖, pois as mudanças não foram impulsionadas pelas necessidades internas da empresa (CHOI; EBOCH, 1998, p. 70).

Dessa forma, a partir da busca pela legitimação no ambiente institucional e por meio de um processo isomórfico, as empresas desenvolvem práticas homogêneas, que são ―promovidas por poderosos atores institucionais, que têm suas ações sancionadas e reforçadas pelas sociedades de profissionais, universidades e unidades governamentais‖ (CHOI; EBOCH, 1998, p. 71). Essas práticas homogêneas podem ser estabelecidas a partir de critérios previamente estabelecidos pela empresa para selecionar seus fornecedores, como no caso da Petrobrás, que faz uso de cinco critérios específicos ao processo de seleção de seus fornecedores.