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Figura 10 Ciclo de Vida Financeira do Brasileiro

2.11 Seleção de Investimentos

A seleção de investimentos não se resume à seleção de ativos de forma individualizada, mas no contexto de uma carteira de ativos (portfolio). A razão para isso é que para uma mesma importância a ser aplicada e um dado conjunto de ativos podemos formar uma infinidade de carteiras com características distintas. Por outro lado, existem diferentes perfis de investidores em relação aos riscos que estão dispostos a correr, os quais são classificados pelo autor da seguinte forma:

Hedgers – desejam eliminar o risco;

Especuladores – estão dispostos a correr riscos; Arbitradores – ganham sem riscos.

Embora tal classificação seja conceitualmente mais precisa, no mercado financeiro é comum qualificar os investidores em relação à propensão a assumir riscos como conservadores ou arrojados/agressivos.

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Desde o tempo de nossos avós, é comum considerar-se que um bom investimento é aquele que conjuga Liquidez, Rentabilidade e Segurança - LRS. Esta tríade, que até o indivíduo desprovido de maiores conhecimentos em finanças é capaz de perceber de forma intuitiva, tem sido tratada pelos estudiosos de economia e finanças de forma científica.

A primeira consideração a fazer reside na interdependência entre os três atributos: Como o mercado financeiro nasce do encontro entre múltiplos compradores e vendedores de recursos financeiros, é natural que a efetivação das trocas se dê a partir do ponto de equilíbrio nas condições em que o ativo financeiro será transacionado. Isto significa que, em condições normais, um investimento que apresenta elevadas taxas de retorno certamente não será igualmente vantajoso em termos de segurança e liquidez.

Pereira de Souza (1996, p. 60) apresenta a seguinte situação hipotética, com o intuito de ilustrar a abordagem do assunto:

Suponha que você entregou a mesma quantia para investimento em ações, para dois administradores. Um deles obteve uma rentabilidade de 50%, enquanto o outro apenas 10%. Quem se saiu melhor?

O que obteve rentabilidade maior pode, para isto, ter exposto os recursos a um risco grande o suficiente para comprometer todo o investimento feito. A questão a ser levantada é a estabilidade dos resultados ao longo do tempo, bem como a facilidade de conversão imediata do investimento realizado.

Aqui cabe ressaltar mais uma diferenciação dos investimentos financeiros em relação aos demais bens e serviços. O processo de precificação não envolve apenas a fixação de um preço (taxa de remuneração, no caso de investimentos) em função de condições de oferta e procura. Assim, um investimento favorável ao investidor em termos de rentabilidade tenderá a ser menos vantajoso em termos de risco e/ou liquidez. Embora intuitivamente clara, a abordagem acima requer aprofundamento, particularmente no que tange à mensuração e avaliação de cada um dos atributos.

Em primeiro lugar deve-se considerar que o desempenho de um produto financeiro somente pode ser comprovado em momento futuro, podendo variar a cada momento. No caso do mercado acionário, o valor de uma ação varia várias vezes, para cima ou para baixo, ao longo de um dia.

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Quando um consumidor compra um par de sapatos ou uma camisa que foi previamente experimentada, dificilmente o seu desempenho o surpreenderá. O mesmo pode-se afirmar sobre os serviços prestados por uma barbearia que o consumidor freqüenta uma vez ao mês.

Conforme mencionado em referências bibliográficas apresentadas anteriormente, contrariamente ao que ocorre com os bens e boa parte dos serviços, os fatores que influenciam o desempenho de produtos financeiros, são muito mais complexos e variáveis. Por essa razão, estudiosos do assunto e profissionais da área de administração de recursos de terceiros valem-se de ferramentas apoiadas em princípios de estatística para tratar o caráter probabilístico do comportamento dos produtos e do mercado financeiro de forma geral.

Nos meios acadêmicos, o desempenho de investimentos financeiros, que tradicionalmente é associado com os atributos liquidez, rentabilidade e segurança é tratado sob as designações Liquidez, Retorno e Risco.

2.11.1 Liquidez

Alguns autores associam o conceito de liquidez com a facilidade de vender um ativo, ou seja, de convertê-lo em dinheiro ou em outro bem desejado. A forma de mensurar tal atributo, segundo Pereira de Souza (1996, p.48), é a “variação necessária do preço para haver a venda”. Sendo assim, um ativo pode ser considerado líquido quando é possível vendê-lo sem deságio substancial sobre o preço praticado pelo mercado. Vender rápido com perda de preço não representa liquidez. A liquidez de um investimento deve ser continuamente monitorada, sob pena de comprometer a solvência de uma empresa ou de um indivíduo.

Halfeld, (2001, p.75) ilustra a problemática com a seguinte passagem:

Tenho testemunhado a triste experiência de algumas famílias que, diante da dor de vender alguns de seus bens imóveis, deixam os juros bancários de empréstimos se acumularem. Em poucos meses, a dívida atinge valores muito superiores aos dos imóveis. A ruína, ao menos material, da família, passa a ser inevitável.

Muitos outros exemplos tristes são conhecidos. Diante de uma doença ou de um acidente, famílias percebem que todas as suas reservas estão sob forma de bens pouco líquidos. Só restam duas

104 alternativas: aceitar pagar juros altíssimos em empréstimos ou conceder descontos substanciais aos possíveis compradores que detenham dinheiro em mãos.

Você já deve ter ouvido a expressão “galinha morta” ou “vender uma propriedade na bacia das almas”. Elas retratam exatamente o risco da falta de liquidez. Alguém é forçado a conceder descontos exagerados para transformar um bem em dinheiro vivo. Isso é sempre um péssimo negócio para quem vende e uma excelente oportunidade para quem compra. Nada mais justo...

O mesmo autor apresenta a hierarquia de liquidez de ativos da forma abaixo:

Figura 22: Hierarquia de Liquidez de Ativos. Fonte: Halfeld (2001, p. 75)

Apesar de os estudos em teoria de finanças indicarem, de forma inequívoca, as vantagens dos investimentos líquidos em relação aos menos líquidos, é comum encontrarmos pessoas que se impõem investimentos menos líquidos sob o argumento de que esta característica lhes obriga a realizar a chamada “poupança forçada”.

Na moderna administração financeira, a administração de liquidez tem ocupado papel de destaque particularmente em empresas cuja alavancagem de ativos sobre o patrimônio líquido é elevada, como é o caso dos bancos.

Promover o casamento entre prazos de exigibilidade é tarefa fundamental na administração financeira. Um dos principais indicadores de prazos de ativos e passivos

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