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Seleção e caracterização dos participantes

No documento MARIELE ANGÉLICA DE SOUZA FREITAS (páginas 63-66)

Inicialmente realizamos o contato com a Secretaria Municipal de Educação (SME) solicitando o levantamento do número de alunos com deficiência intelectual, regularmente matriculados na EJA.

Recebemos uma lista oficial referente às matrículas com os nomes de todos os alunos do município que frequentavam a referida modalidade de ensino, emitida pela responsável do setor. Foram totalizados 149 alunos nos diferentes termos relacionados aos ciclos do EJA. Em relação aos alunos com deficiência intelectual, recebemos uma outra lista da SME, entregue também pela pessoa responsável pelo setor e, nesta lista, constavam apenas seis alunos; destes alunos, apenas duas alunas possuíam o laudo de deficiência intelectual. Contudo, estas não possuíam cadastro na Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (PRODESP) e, portanto, elas foram consideradas pela SME como alunas ouvintes, e mesmo nesta condição, foi permitida a sua participação nas atividades da EJA.

Como critérios de seleção dos alunos para a participação na pesquisa na modalidade da EJA compreenderam: a) possuírem diagnóstico de deficiência intelectual, b) serem oriundas de instituição de ensino especial, e c) frequentarem a modalidade da EJA em escola municipal.

Foram participantes desta pesquisa duas alunas com deficiência intelectual, matriculadas na EJA da rede regular e municipal de ensino, no período noturno, uma professora responsável pela referida sala a qual as alunas frequentavam e duas mães, respectivas responsáveis pelas alunas. Após a identificação das alunas e da escola a qual frequentavam, foi agendado previamente pela pesquisadora um horário com a diretora da escola para apresentar o projeto de pesquisa e prestar esclarecimentos em relação aos objetivos.

A pesquisadora relatou de forma sucinta à professora no que consistia a pesquisa. Foi a professora que inicialmente apresentou a pesquisadora à classe. Nesta mesma

ocasião, a professora também apresentou a pesquisadora para as responsáveis pelas alunas, pois, estas acompanhavam as filhas à escola diariamente.

A pesquisadora também se apresentou e explicou brevemente para as responsáveis no que consistia a pesquisa e, foi esclarecida qualquer dúvida, a pesquisadora perguntou às mães se gostariam de participar da pesquisa e se autorizavam a participação de suas filhas. Após o aceite de todos os participantes e a assinatura do TCLE, foi iniciada a coleta de dados.

A seguir, no Quadro 1 encontra-se a síntese descritiva da caracterização dos participantes da pesquisa, a fim de situá-los do universo pesquisado.

Quadro 1 – Caracterização dos participantes. PARTICIPANTES DA PESQUISA

Idade Diagnóstico Escolaridade

20 anos

Deficiência

Intelectual associada ao espectro autístico

Primeiro segmento da EJA - Termo I do Ensino Fundamental equivalente ao 1º e 2º anos

28 anos Deficiência Intelectual

Segundo segmento da EJA - Termo II do Ensino Fundamental equivalente ao 3º e 4º anos

DEMAIS PARTICIPANTES

Identificação Idade Escolaridade

Raquel (mãe

de Nayara) 44 anos Formação no curso de Pedagogia Maria (mãe de

Luísa) 60 anos 8ª ano do Ensino Médio Professora

Lúcia

29 anos Formação no Magistério e curso de Pedagogia com Habilitação em Deficiência Visual

O Quadro 1 mostra as características das alunas participantes, suas respectivas mães, bem como a professora responsável pela sala da EJA. No que se refere às jovens, destacamos suas idades, o diagnóstico de deficiência e a sua escolaridade. Com as demais participantes, salientamos também a idade e escolaridade.

Os dados contidos no Quadro 1 revelam informações importantes que nos auxiliaram a compreender as participantes. Como descrito no quadro, ambas as jovens possuem deficiência intelectual, com exceção de Nayara que possui a referida deficiência associada ao espectro autístico.

De acordo com o relato de Maria, o diagnóstico de sua filha Luísa ocorreu mediante a realização de um “eletroencefalograma”. Segundo a mãe, [...] fizemos eletro,

três eletros pra ela, tudo certinho entendeu? [...] concluiu [o médico] que não tinha atividade [...] (MARIA).

Em relação ao diagnóstico de Nayara, sua mãe lembra que [...] foi muito difícil,

foi na Unicamp [...] fazer avaliação [...] (RAQUEL).

O impacto sentido pela família com a chegada de uma criança com algum tipo de deficiência é intenso. De acordo com Silva e Dessen (2001) esse momento é permeado por traumas que causam forte desestruturação na estabilidade familiar, fazendo com que seus membros se reorganizem, busquem novos papéis e rearranjos em sua organização frente à nova realidade.

Podemos observar nas falas das mães que cada uma, a sua maneira, se relacionou de forma distinta na compreensão do diagnóstico. Maria diz que o exame realizado para o diagnóstico de sua filha foi o eletroencefalograma, no entanto, em nenhum momento expôs que a sua filha tenha tido algum tipo de crise convulsiva, podendo evidenciar o seu pouco entendimento sobre o diagnóstico da deficiência intelectual. Contudo, os relatórios neurológicos realizados para a detecção da deficiência intelectual são pouco explicativos, assim como o é o seu diagnóstico.

A deficiência intelectual tem sido comumente entendida como uma condição em si mesma, como um estado patológico bem definido. Porém, de acordo com Ballone (2010) o diagnóstico de deficiência intelectual pode ser entendido como uma condição relativa, se comparada aos demais indivíduos de uma mesma cultura; neste caso, a presença de alguma limitação funcional, especialmente em graus mais leves, não seria conclusivo para diagnosticar a deficiência intelectual; seu diagnóstico sempre ocorre dentre outros fatores, por meio de um mecanismo social que atribui valores comparativos e normativos.

Em relação ao espectro autístico presente no diagnóstico de Nayara, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV-TR) (APA, 2002) trata-se de um transtorno que se enquadra nos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Caracterizado por comprometimentos no desenvolvimento e nos padrões de comportamento, envolvendo as áreas das relações sociais, da comunicação e um repertório limitado de interesses e atividades.

A respeito da formação e da atuação profissional das mães, podemos observar que Maria, mãe da jovem Luísa, não possui conclusão do segundo grau e no momento da realização da entrevista se dedicava apenas aos afazeres domésticos.

Raquel, mãe da jovem Nayara, possui nível superior no curso de Pedagogia e durante a faculdade, na década de 1990, iniciou sua experiência docente em uma escola municipal de Educação Infantil. Até a realização da entrevista, Raquel continuava lecionando na mesma escola e modalidade do início de sua carreira docente.

A professora Lúcia, como descrito no Quadro 1, possui formação no magistério e no curso de Pedagogia com habilitação em Deficiência Visual. Sua experiência como docente no Ensino Fundamental iniciou-se no ano de 2004 e no momento da realização da entrevista ela continuava a lecionar nesta modalidade de ensino; especificamente na EJA, sua experiência se deu em Abril de 2012.

No documento MARIELE ANGÉLICA DE SOUZA FREITAS (páginas 63-66)