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A correlação entre delinquência e psicopatia constituiu-se distúrbio de conduta por meio de um padrão repetitivo de violação às normas. A ferramenta preconizadora sobre circunstâncias reais que o caracterizam é essencialmente a consciência da ilicitude e a indiferença ao sofrimento provocado no momento em que se pratica o ato criminoso.

Na esfera penal, examina-se a capacidade de entendimento e de determinação de acordo com o entendimento de um indivíduo que tenha cometido um ilícito penal. A capacidade de entendimento depende essencialmente da capacidade cognitiva, que se encontra, via de regra, preservada [...] no psicopata. Já em relação à capacidade de determinação, ela é avaliada no Brasil e depende da capacidade volitiva do indivíduo. Pode estar comprometida parcialmente [...] na psicopatia, o que pode gerar uma condição jurídica de semi-imputabilidade. Por outro lado, a capacidade de determinação pode estar preservada nos casos de transtorno de leve intensidade e que não guardam nexo causal com o ato cometido. Na legislação brasileira, a semi-imputabilidade faculta ao juiz diminuir a pena ou enviar o réu a um hospital para tratamento, caso haja recomendação médica de especial tratamento curativo. (MORANA; STONE; ABDALLA- FILHO, 2006, p. 77).

A imputabilidade é estabelecida através da análise conjunta das condições pessoais do agente delitivo, envolvendo-se, assim, a inteligência e a vontade que possibilitam ao agente conhecer o caráter ilícito do fato, posicionando-se de acordo com tal conhecimento (NUCCI, 2006). Alude-se, por esta razão, que as perturbações psíquicas psicopáticas reduzem o poder de autodeterminação e resistência interna à prática do crime, mas não excluem a potencialidade de entendimento volitivo do ilícito perpetrado.

A restrição psíquica, por conseguinte, não afasta a responsabilidade do delinquente. Logo, a capacidade de entendimento ético-moral alcançado aos indivíduos portadores de perturbações psíquicas ocasiona a redução de seu poder de se autocontrolar, predispondo o agente a ter sua resistência interior enfraquecida, mas não inexistente.

Não exclui a imputabilidade, de modo que o agente será condenado pelo fato típico e ilícito que cometeu. Constatada a redução da capacidade de compreensão ou vontade, o juiz terá duas opções: reduzir a pena 1/3 a 2/3, ou impor medida de segurança (mesmo aí a sentença continuará sendo condenatória). A escolha pela medida de segurança somente poderá ser feita se o laudo de insanidade mental indicá-la como recomendável, não sendo arbitrária essa opção. Se for aplicada a pena, o juiz estará obrigado a diminuí-la de 1/3 a 2/3, conforme o grau de perturbação, tratando-se de direito público subjetivo do agente, o qual não pode ser subtraído pelo julgador.

Segundo Capez (2002, p. 284), em virtude da semi-imputabilidade “o agente é [...] responsável por ter alguma noção do que faz, mas sua responsabilidade é reduzida em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída em consequências das suas condições pessoais.”

Assim, a integralidade estrutural da perturbação psíquica desenvolvida pelo portador de transtorno antissocial da personalidade, em face do proeminente risco proporcionado pela prática do delito, estabelece um padrão comportamental imperativo na busca pela maximização dos interesses, tornando os demais fatores subsidiários. Por serem indivíduos de conduta leviana e lógica,

[...] pensam muito e sentem pouco. Suas ações são racionais e a razão tende sempre a escolher, de forma objetiva, o que leva á sobrevivência e ao prazer. De forma primitiva a razão usa a “lei da vantagem” sempre. Essa forma de pensar privilegia o indivíduo e nunca outro ou o social. (SILVA, 2008, p. 164).

Evidencia-se, pois, que as causas do cometimento dos crimes psicopáticos são justificadas e compreendidas tão somente por seus executores. Seus traços e alterações de conduta são ativamente precursores de instabilidade, perversidade do caráter, explosividade, e suas variantes comportamentais tornam-se um padrão invasivo e nefasto.

Frente a esses elementos todos, qual a capacidade de imputação do examinado? Não será plena, por certo. Uma personalidade desarmônica, com graves desvios constitucionais de agressividade incontida e inconteste, reagindo frente a emoções primárias e tendo uma acentuada deficiência de crítica, não poderá ser completamente responsabilizada por seu ou seus delitos. Se a emoção sobrepuja a crítica – como já se fez sentir – se o impulso primário se efetiva sem a contenção dos valores éticos; se a impulsividade é evidente, como se falar em plena capacidade de imputação? Concluir-se-ia – por isso – ser ela inexistente? Se o paciente não praticou o delito em estado crepuscular; se ele tem do mesmo noção de memória de certo modo aceitáveis; se a privação dos sentidos não foi

integral, restará uma parcela de responsabilidade por parte do agente criminoso. Trata-se, então, de um delinquente semi-imputável e que oferece nítido risco à sociedade. É claro que os desvios de personalidade já preexistiam ao delito e prejudicavam o paciente em sua compreensão do ato delituoso [...] e, por isso, de se determinar quanto à infração penal. Portanto, do ponto de vista médico-legal, concluímos que ser o examinando uma personalidade psicopática semi-imputável pelo delito praticado. (MARANHÃO, 1995, p. 351-352).

Dessa maneira, embora seja o ato psicopático impulsivo e intencionado a inclinações polarizadas ponderadas pela não apreciação as consequências do processo volitivo ante a consumação dos propósitos, é inexistente o comprometimento significativo da qualidade de consciência. Havendo possibilidade de escolha diante do conjunto circunstancial, ainda que, destoada sua capacidade de autodeterminação, o agente será penalmente responsabilizado e submetido às consequências jurídico-penais pela prática criminosa.

A esse prejuízo cognitivo, materializado pela ausência de juízo valorativo ante ao comportamento praticado, encaminhou-se o infrator à tutela judicial a fim de condicionar seu comportamento à aplicação das sanções penais cabíveis.

A esta imputabilidade criminal intermediária, pugnou-se pela aplicação de duas possibilidades jurídicas sancionatórias. Trata-se de providências penais restritivas e privativas a liberdade do indivíduo portador de transtorno psicopático. São elas as medidas de segurança e a pena, as quais serão objeto de apreciação no item a seguir.

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