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A (in)eficácia da sanção penal aplicada ao deliquente psicopata no ordenamento jurídico brasileiro

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Academic year: 2021

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BÁRBARA LAZZARI CAVALHEIRO 5c

A (IN)EFICÁCIA DA SANÇÃO PENAL APLICADA AO DELIQUENTE PSICOPATA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

IJUÍ (RS) 2011

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BÁRBARA LAZZARI CAVALHEIRO

A (IN)EFICÁCIA DA SANÇÃO PENAL APLICADA AO DELIQUENTE PSICOPATA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Patrícia Marques Oliveski

IJUÍ (RS) 2011

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BÁRBARA LAZZARI CAVALHEIRO

A (IN)EFICÁCIA DA SANÇÃO PENAL APLICADA AO DELINQUENTE PSICOPATA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho final do Curso de Graduação em Direito aprovada pela Banca Examinadora abaixo subscrita, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito e a aprovação no componente curricular de Trabalho de Curso

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas

Ijuí, 05 de dezembro de 2011. ___________________________________________

(Patrícia Marques Oliveski – Mestre – UNIJUI) ___________________________________________ (Patrícia Borges Moura – Mestre - UNIJUÍ)

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Dedico este trabalho a todos aqueles que buscam no saber jurídico uma forma de demonstrar as necessidades de mudança no ordenamento jurídico pátrio e que se empenham em buscar sua efetivação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, força e coragem.

Aos meus pais, Antonio e Lenir, por tudo que me proporcionaram; pelas lições de amor, honestidade e dignidade; por estarem sempre ao meu lado, em todas as fases de minha vida. Amo vocês.

Ao meu querido irmão, Artur, pela companhia e amizade diária; pelos momentos alegres, descontraídos e saudáveis.

Ao meu namorado Vinicius, que mesmo longe, sempre esteve ao meu lado, apoiando-me nos moapoiando-mentos de dificuldades. Obrigada pela compreensão, paciência e incentivo.

A minha orientadora Patrícia Marques Oliveski por sua dedicação e disponibilidade.

Aos professores, colegas e amigos, que auxiliaram durante minha caminhada. Em especial aos colegas de jornada acadêmica Ângelo J. N. dos Santos, Diego Zimmermann, Ildiane Valentini, Gilberto Assmann, Jean Zardin, Marina Ferri e William Moreira pelas horas de estudo, descontração e apoio.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, muito obrigada!

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“O homem é o único ser capaz de fazer mal a seu semelhante pelo simples prazer de

fazê-lo.”

Arthur Schopenhauer

“Sua aparente normalidade, sua ‘máscara de sanidade', torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente, mais perigoso.”

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p 1,5 cm RESUMO

O presente trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar a sanção penal aplicada ao delinquente psicopata no ordenamento jurídico pátrio e, de forma específica, sua (in)eficácia em relação à efetivação da referida sanção na realidade penal brasileira. Para cumprir tal tarefa a pesquisa em questão caracteriza o portador de transtorno antissocial de personalidade, abordando as diferentes formas de manifestação do distúrbio psíquico, elencando características inerentes a sua personalidade e ao seu comportamento. A terapêutica atualmente utilizada, a classificação jurídica do delinquente em questão são temas abordados pela pesquisa que, ao final, evidencia a resposta obtida em relação à punição imposta aos atos criminosos cometidos por estes indivíduos.

Palavras-Chave: Psicopatia. Tratamento. Semi-imputabilidade. Sanção Penal. (In)eficácia.

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8 cm

ABSTRACT

This research work aims to analyze the criminal sanction applied to the psychopath delinquent in the national juridical order, and specifically, the (in) effectiveness in relation to its realization in criminal Brazilian reality. To complete this assignment, this research describes the possessor of anti-social disruption of personality, addressing the different forms of manifestation of mental disorder, listing the inherent characteristics of your personality and behavior. The therapy currently used, the juridical classification of the this delinquent are topics discussed in the survey that, at the end, shows the obtained response in relation to the punishment imposed on criminal acts committed by these individuals.

Keywords: Psychopathy. Treatment. Semi-liability. Criminal Sanction. (In) effectiveness

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...09

1 PSICOPATIA E DELINQUENCIA ...12

1.1 Psicopatia uma conceituação necessária ...12

1.2 Características apresentadas por um psicopata ...16

1.3 Tratamento médico destinado ao psicopata ...20

1.4 O delinquente psicopata ...24

2 A (IN)EFICÁCIA DA SANÇÃO PENAL PARA O DELIQUENTE PSICOPATA ..29

2.1 Classificação penal destinada ao psicopata ...29

2.2 Da culpabilidade ...32

2.3 Da semi-imputabilidade ...34

2.4 Tipos de sanções aplicáveis ...36

2.5 Da sanção e sua (in)eficácia ao psicopata ...41

CONCLUSÃO ...47

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INTRODUÇÃO

A criminologia contemporânea concebe o fenômeno criminal sob a atuação de múltiplos fatores, fazendo o panorama criminológico moderno voltar-se para a compreensão e dissecação das variáveis do processo da criminalidade, tornando indispensável a multidisciplinariedade por meio da integração da Criminologia, Psicologia, Psiquiatria e Sociologia. Nesta perspectiva, o presente trabalho situa-se nos campos de atuação da Psiquiatria e da Psicologia Forense e sua aplicabilidade ao Direito Penal.

O tema da presente pesquisa “A (in)eficácia da sanção penal aplicada ao delinquente psicopata no ordenamento jurídico brasileiro” apresenta como mola propulsora a seguinte problemática: A sanção penal aplicada ao delinquente psicopata propicia segurança ao conjunto social, considerando que sua semi-imputabilidade se traduz em penalidade reduzida, e que, por muitas vezes, é substituída por medida de segurança, submetendo-o a tratamento ambulatorial ou internação em hospital de custódia, os quais são exacerbadamente precários?

Nesse contexto, visa-se a analisar criticamente como objetivo geral se as hipóteses disponibilizadas pelo ordenamento jurídico brasileiro são propiciadoras de um adequado enquadramento do portador de transtorno antissocial da personalidade no ordenamento jurídico pátrio. Cumpre destacar a correlação entre psicopatia, delinquência e reincidência. Assim, especifica e objetivamente, busca-se analisar os critérios projetivos da classificação da delinquência psicopática do agente e os meios operantes utilizados na averiguação de sua periculosidade em relação ao

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conjunto social, determinando suas características fundamentais; indicar soluções ao caso concreto, diversas das prisões e enfermarias psiquiátricas empregadas nos atuais moldes jurídicos para tratamento e reabilitação psicossocial dos portadores de transtorno antissocial da personalidade; investigar métodos diligentes já aplicados, avaliando as condições padronizadoras do comportamento psicopático para a legislação brasileira e as possíveis mudanças que possam ser futuramente aplicadas, bem como, caracterizar o entendimento hodiernamente empregado à jurisprudência e à inteligência da medicina social aplicada à criminologia e sua visão em relação à periculosidade do agente delitivo.

A escolha do tema deve-se ao fato primordial de que o psicopata é projetado em sua periculosidade substancial, sendo tratado pela legislação brasileira pelo viés da perturbação psíquica, não integrando a sua conjuntura a doença mental. Assim, por ter o indivíduo consciência, mesmo que superficial, do ato praticado não há em alto grau, casos de submissão obrigatória à aplicação da medida de segurança, tendo por muitas vezes, na ausência de vaga em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, sua pena reduzida ou ainda é colocado em liberdade e propício ao cometimento de novas condutas antissociais.

A hipótese baseia-se no suposto insucesso da presente adequação adotada pela legislação brasileira em relação ao delinquente psicopata, uma vez que não surte efeito benéfico ao criminoso em questão, pois seu enfoque predominante está escalonado a princípios terapêuticos incapazes de reintegrá-lo à vida social. Isso por que sua personalidade é inconteste e imutável, sendo, portanto, meio utópico utilizado para objurgar de modo inadequado o indivíduo que não possui domínio próprio diante de seus anseios, visto que o caráter ressocializador da pena, idealizado pelo Direito Penal brasileiro, é inaplicável ao caso concreto, sendo utilizado apenas como ferramenta de prevenção e terapêutica.

A abordagem do tema se dá pelo método hipotético-dedutivo, o qual é utilizado quando os conhecimentos existentes mostram-se insuficientes para explicar determinado assunto, surgindo, então, um problema, ocasionado por novos entendimentos e conhecimentos. Logo, para explicar as dificuldades expressas no problema, formulam-se hipóteses, a partir das quais se verifica se as consequências

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deduzidas são verdadeiras ou falsas, através de estudo com livros, enciclopédias, artigos psiquiátricos e jurídicos, internet e revistas.

O trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro, a abordagem da temática é realizada no contexto da Psiquiatria e da Psicologia social, abordando o delinquente de personalidade psicopática a partir da relação entre psicopatia e delinquência, conceituando-o sob o viés psicossocial bem como os fatores desencadeadores de tal perturbação psíquica, expondo suas características principais, bem como o tratamento dispensado a este indivíduo. Ao final, descreve-se o psicopata propenso à transgressão e o dedescreve-senvolvimento de descreve-seu comportamento a partir da efetivação da delinquência.

No segundo capítulo, o psicopata tem sua abordagem delineada sob a ótica jurídica, entrelaçando Psiquiatria e Psicologia ao entendimento forense de modo a explanar a (in)eficácia da sanção penal para o delinquente psicopata, a classificação penal destinada ao detentor de personalidade antissocial, a sanção penal aplicada a sua conduta delitiva no ordenamento jurídico pátrio, sua culpabilidade e semi-imputabilidade. Por fim, destaca-se a sanção penal e analisa-se a sua (in)eficácia em relação ao psicopata.

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1 PSICOPATIA E DELIQUÊNCIA

Entendida como perturbação da personalidade, identificável pelo impacto negativo associado ao comportamento homogeneamente desenvolvido e estereotipado, a psicopatia desenvolveu-se ao longo dos séculos corroborando a conjuntura intermediária entre a loucura e a debilidade, em que a projeção psicopática entre realismo e idealismo entrelaçam-se formando inevitáveis objeções de atipicidade não só formal, mas estreitamente material. Acabam estas, de maneira inexorável, transpondo impiedosamente a racionalidade metodológica genuinamente moldada, através da intensificação da atividade argumentativa, visando produzir o resultado almejado como meio de satisfação subjetiva absolutamente desenvolvida através de uma visão restringida e desprendida de senso de culpabilidade.

1.1 Psicopatia uma conceituação necessária

Segundo Ballone (2005), na história da psiquiatria os precursores a conceituar psicopatia foram os teóricos Cardamo, Pinel, Prichard, Morel, Koch e Gross, Kraepelin, Schneider, Cleckley e Henry Ey. Suas contribuições teóricas fomentaram valiosos estudos acerca da personalidade intermediária, dos quais serão abordadas considerações e denominações produzidas por alguns dentre estes teóricos.

O vocábulo “psicopata” tem sua semântica originada na linguagem grega (psyché = alma; pathos = paixão, sofrimento), sendo utilizado pela literatura médica do século XIX para designar generalizadamente os portadores de doenças e distúrbios mentais, uma vez que não se ligava a psicopatia à personalidade antissocial (HENRIQUES, 2009).

A evolução dos conceitos sobre a personalidade psicopática transcorreu, durante séculos, oscilando adentre a bipolaridade orgânico-psicológica, transitando por tendências sociais, aportando, finalmente, na ideia bio-psico-social. Entre os

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conceitos apresentados como prenunciadores da psicopatia moderna, destacam-se a manie sans delire “loucura sem delírio” ou “loucura racional” de Pinel e a moral

insanity “loucura moral” de Prichard (BALLONE, 2005).

Pinel (apud BERCHERIE, 1989) descreveu a psicopatia, em 1809, como loucura sem delírio, introduzindo a essa perturbação de maneira mais específica o comportamento demonstrado através de ações atípicas e agressivas.

Na definição utilizada por Pinel (apud BERCHERIE, 1989, p. 36), “[...] as funções do entendimento permaneciam intactas e só subsistiam à alteração da afetividade e à excitação, amiúde furiosa.” A função intelectual e cognitiva conservava-se em sua integralidade, prejudicavam-se as funções afetivas, as quais se traduziam em instabilidade emocional e tendência dissocial.

Prichard em 1835, ao descrever a psicopatia como loucura moral, em referência aos sujeitos cuja moral e princípios de conduta eram fortemente

pervertidos e indicadores de comportamento antissocial, atribuiu a portabilidade da

perturbação à influência do meio. Para Prichard, a inteligência e a capacidade de

raciocínio não são lesionadas, pois a loucura moral consistiria em uma perturbação

isolada do senso moral e dos comportamentos sociais.

Morel (apud BERCHERIE, 1989), ao descrever clinicamente os psicopatas

os denominou de “maníacos instintivos”, pois apresentavam desde a infância sinais de depravação moral.

Suas tendências inatas para o mal fizeram-me designá-los do ponto de vista médico legal, pelo nome de maníacos instintivos. O incêndio, o roubo, a vagabundagem e as propensões precoces para toda sorte de desregramentos formam o triste balanço de sua existência moral, e esses infelizes [...] povoam em grandes proporções as instituições penitenciárias para a primeira infância e os presídios. (MOREL apud BERCHERIE, 1989, p. 116).

Tratava-se, dessa forma, a psicopatia para Morel de uma categoria de comportamentos degenerados, que concorrem para instalação e desenvolvimento de condutas com tendências morais desvirtuadas.

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Hungria (1942, p. 140), um dos mais importantes penalistas brasileiros, conceitua os psicopatas como:

Portadores de psicopatias a escala de transição entre psiquismo normal e as psicoses funcionais. Seus portadores são uma mistura de caracteres normais e caracteres patológicos. São os inferiorizados ou degenerados psíquicos. Não se trata propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é “ab initio”, formada de modo diverso da que corresponde ao “homo medius”.

Para Hare (1973), um dos maiores especialistas no assunto, criador da

Escala Hare (PCL-R)1, o termo psicopata direciona-se aos portadores que

desenvolvem comportamentos antissociais crônicos, pois tais indivíduos estão em constantes complicações psíquicas. Logo, não aprendem com a experiência e nem mesmo com a punição, visto que não mantêm ligação real alguma com qualquer pessoa, norma, grupo ou padrão.

Para Fonseca (2006, p. 201), a psicopatia se constitui em “alterações do comportamento resultantes de anomalias da personalidade ou de estados de desadaptação do indivíduo.”

A conceituação atual de psicopatia alude a transtornos antissociais contínuos, não se referindo ao contexto criminológico em primeiro plano. A análise desenvolvida vincula-se preliminarmente ao entendimento psicológico, formatado a

partir da desenvoltura crônica da inabilidade das contingênciasde seguir os padrões

sociais, embasando-se nas alterações dos moldes comportamentais regidos por meios inadequados e aversivos.

Atualmente, “psicopatia” [...] é sinônimo de “personalidade antissocial”, que denota uma disposição permanente do caráter no sentido da agressividade, da crueldade e da malignidade, determinando inexoravelmente o mal de outrem – trata-se do que outrora se designava por “perversidade”, caracterizando a perversão social. (HENRIQUES, 2009, p. 292).

Para Garcia (1958, p. 176), personalidades psicopáticas são:

1 PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised) – Trata-se de um instrumento utilizado para computar o

grau de risco de reincidência criminal, através da avaliação do grau de periculosidade e de readaptabilidade à vida comunitária de condenados (MORANA, 2003).

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[...] certos indivíduos que, embora apresentem um certo padrão intelectual, algumas vezes até elevado, exibem através de sua vida, distúrbios da conduta, de natureza anti-social ou que colidem com as normas éticas, e que não são influenciáveis pelas medidas médicas e educacionais ou insignificantemente modificáveis pelos meios curativos ou corretivos.

O conceito, direcionado ao contexto forense, foi inicialmente proposto por Cleckley, em 1988 e posteriormente desenvolvido por Hare em 1991, relacionando a previsibilidade na identificação do comportamento e a reincidência, a contextualização da psicopatia como a condição mais grave de desarmonia na integração da personalidade (MORANA, 2003).

A psicopatia é entendida atualmente no meio forense como um grupo de traços ou alterações de conduta em sujeitos com tendência ativa do comportamento, tais como avidez por estímulos, delinquência juvenil, descontroles comportamentais, reincidência criminal, entre outros. (AMBIEL, 2006, p. 265).

Encontra-se, destarte, a psicopatia introjetada na conduta atípica moldada a interferir na conjuntura social, de sobremaneira a descrever o conceito de transtorno antissocial da personalidade através do comportamento leviano e lógico, a partir do entendimento parcial da ilicitude dos atos cometidos e do iminente risco do sujeito praticar conduta reiterada.

A psicopatia contempla a conduta desviada, expressada através de transtornos patológicos da personalidade, demonstrados através de modelos de conduta variáveis desencadeados por fatores diversos do comportamento humano oriundos de manifestações comportamentais resultantes de fatores biológicos, sociais e da personalidade. De tal modo, a associação deste conjunto de fatores passa a caracterizar o portador de transtorno antissocial da personalidade, demonstrando seus traços psíquicos constituidores da personalidade psicopática, o que se analisa no próximo ponto.

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1.2 Características apresentadas por um psicopata

A medicina social aplicada à criminologia e sua visão em relação à periculosidade do agente delitivo, através de diversos estudos, tem demonstrado uma associação entre distúrbios mentais e o comportamento violento, evidenciando que a classificação da delinquência psicopática ampara-se em critérios projetivos, e que os meios operantes utilizados na averiguação de sua periculosidade em relação ao conjunto social determinam suas características fundamentais.

[...] a CID-102 incluiu características psicológicas (traços de personalidade: “indiferença insensível aos sentimentos alheios”; aspectos relacionais do indivíduo: “propensão marcante para culpar os outros”; características afetivo-emocionais: “baixa tolerância à frustração”, “baixo limiar para descarga de agressão”) como critérios válidos para a diagnose, cujos aspectos subjetivos não podem prescindir da escuta clínica do sujeito. (HENRIQUES, 2009, p.297).

De acordo com o CID – 10 (F60.2)3, o Transtorno da Personalidade

Dissocial caracteriza-se por:

[...] um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito coma sociedade. (SILVA, 2008, p. 201).

A caracterização psicopática demonstra-se, sobretudo, na imperiosa indiferença aos sentimentos alheios, desencadeando, em alto grau, a adoção de comportamento cruel, desprezo a normas e obrigações, ignóbil tolerância à frustração e execrado limiar para descarga de atos violentos, perpetrando, sobremaneira o comportamento antissocial.

Quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afetiva, ele pode adotar um

2 CID 10 - Codificação Internacional de Doenças (Versão 10).

3 F60.2 - Código descrito no DSM-IV TR – (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders -

Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais) para classificação do Transtorno de Personalidade Dissocial.

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comportamento criminal recorrente e o quadro clínico de transtorno de personalidade assume o feitio de psicopatia. (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006, p. 75).

Hare (apud SABBATINI, 2011, p. 1) caracteriza os psicopatas como,

[...] predadores intra-espécies que usam charme, manipulação, intimidação e violência para controlar os outros e para satisfazer suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência e de sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem, violando as normas sociais sem o menor senso de culpa ou arrependimento.

Segundo Henriques (2009), o psicopata possui características de profunda deficiência de compreensão interna que acarretam um grave comprometimento em seu senso de avaliação da realidade.

[...] ele é incapaz de estabelecer uma relação de empatia com outra pessoa. Esta deficiência é de difícil compreensão, já que ele utiliza todas as palavras, como se as compreendesse, mas, ao mesmo tempo, é alheio aos seus significados mais profundos. O psicopata não responde de forma convencional às manifestações de afeto e carinho. (HENRIQUES, 2009, p. 290).

Esses transtornos submergem a discrepância da afetividade e da excitabilidade com integração deficitária dos impulsos, das atitudes e das condutas, manifestando-se no relacionamento interpessoal, caracterizado por uma incapacidade de ajustamento a normas sociais, formando um padrão invasivo de violação dos direitos das outras pessoas.

São improdutivos quando considerado o histórico de suas vidas e acabam por não conseguir se estabelecer. O comportamento é muitas vezes turbulento, as atitudes incoerentes e pautadas por um imediatismo de satisfação [...] Os transtornos de personalidade se traduzem por atritos relevantes no relacionamento interpessoal [...] Esse tipo de transtorno específico de personalidade é marcado por uma insensibilidade aos sentimentos alheios. (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006, p. 75).

Tipicamente, o psicopata não exprime constrangimento ao mentir, agindo, por vezes, de maneira mais convincente do que uma pessoa que fala a verdade. Se desmascarado, não sente remorso, apenas passa a se defender com o intuito de se desvencilhar de problemas reais ou para atingir determinado alvo, porém nunca com o fim de reparar sua reputação (HENRIQUES, 2009).

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O agente possuidor de distúrbio de personalidade de natureza crônica, como é o caso do psicopata, traça estratégica e minuciosamente seus atos. É, portanto, potencialmente capacitado para desempenhar qualquer atitude premeditada seja ela de caráter delituoso ou não. Seu traço característico se estabelece na personalidade desarmônica, desviada que reage instantaneamente desde as reações mais primárias a atos complexos de maneira extremamente inconstante. A ausência de culpabilidade eleva-o a patamares indeterminados de crueldade e frieza, capazes de causar danos psicológicos e/ou físicos graves e duradouros, ante a sua insuficiência permanente do caráter (MORANA, 2000).

A impulsividade é frequentemente observada nesses indivíduos e pode ser definida, basicamente, como uma predisposição para reações rápidas e não planejadas a estímulos externos ou internos, sem que sejam avaliadas as possíveis consequências de tais comportamentos. (ROCHA; LAGE; SOUZA, 2009, p. 291).

Sua impérvia mente teatral adorna-se amplamente diante de situações circunstanciais em que seu controle eletivo e predatório, em detrimento da ruptura com a realidade, oportuniza a efetivação de atitudes agressivas, capazes de provocar excitação, diante da superficial sensação de poder e domínio irrestrito. Seus traços emocionais e comportamentais são variáveis e excedem os limites de diferenciação do caráter de qualquer indivíduo, tornando-se inflexível e desnudo de sentimentos éticos e morais, traduzindo-se em alteração de conduta e comportamento social (GARRIDO, 2005).

Os psicopatas são, pois, indivíduos [...] desprovidos do senso de certo e errado comum as demais pessoas, e que, embora tenham conhecimento deste senso pelos demais, não agem da mesma forma, por alimentar-se dos seus próprios atos, os quais são regidos por seus instintos sádicos. São dissimuladores e com habilidades tais [...] são notavelmente inteligentes, principalmente se considerar seus conhecimentos culturais e sua eloquência. (MACIEL, 2011, p. 4).

Para Ballone (apud ROCHA, 2009, p. 204), “o psicopata usa a mentira como ferramenta. De tão habituado a mentir, é difícil a detecção de suas falsidades, [...] ele mente neutra e relaxadamente.” Desenvolve, dessa forma, o psicopata pseudoidentidades, sob a égide da compilação das necessidades imediatas à execução do ato. Sua verdadeira face dissocia-se, adotando as características que

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entender indispensáveis ao desenvolvimento de uma personalidade capaz de ocultar seus verdadeiros desígnios.

Garcia (apud GRAÇA; REIS, 2011, p. 5) caracteriza a psicopatia como:

[...] imaturidade ou anomalia dos instintos, de que derivam as reações emocionais e estéticas da personalidade, as quais se mostram inadequadas aos estímulos e as exigências sociais. O seu sintoma nuclear é esta incapacidade de aprender pela experiência as normas da sociabilidade e bom senso, ou ainda de ajustar-se pela assimilação e pela correção às modificações ou inovações ocorrentes no grupo comunal ou histórico em que deve atuar.

Por ser sua capacidade associativa de baixa produção, o psicopata apresenta falta de flexibilidade, criatividade, e espontaneidade no contato com o meio social. Sua capacidade de elaboração de dados da realidade é superior, seu potencial de inteligência é médio ou elevado, demonstrando nas situações convencionais a percepção da realidade imediata e superficialmente. Já em situações de envolvimento afetivo sua percepção está ligada a elementos exatos através da disposição impositiva. Em relação à realidade objetiva, os fatos são julgados valorativamente através de insuficiente assimilação das regras sociais.

Nas condições afetivo-emocionais, prevalece o subjetivismo como fator determinante da personalidade. Há, também, a predominância de reações imaturas e egocêntricas. Os psicopatas são carecedores de autocontrole e desprovidos de consciência de si mesmos em relação ao meio social, demonstrando baixa sensibilidade emocional a se qual adaptam de maneira concreta. Desempenham baixo e superficial contato afetivo, caracterizando a impessoalidade de forma elevada e suscetível a impulsos de individualidade, apatia e autocentrismo (MORANA, 2000).

Os psicopatas parecem possuir uma incapacidade flagrante para sentir de modo profundo a categoria completa das emoções humanas. Ás vezes, ao lado de uma aparência fria e distante, manifestam episódios dramáticos de afetividade que nada mais que pequenas exibições de falsa emotividade. (GARRIDO, 2005, p. 42).

Logo, suas propensões, sentimentos e faculdades são refratários. Evoca para si o espelho de uma ilusória sensação de superação de sua própria dimensão

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natural, condicionando o conjunto de relações sociais a uma visão alienada, baseada em carências, faltas e desejos desprezíveis aos demais indivíduos,

estendendo-se, muitas vezes, para além da depredação mental sofisticada

passando à prática de crimes violentos.

De fato, o psicopata está livre de delírios e alucinações que constituem os sintomas mais espetaculares da esquizofrenia. Sua aparente normalidade, sua “máscara de sanidade”, torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente mais perigoso. (GARRIDO, 2005, p. 99).

Conecta-se, portanto, a psicopatia à faceta dialógica concreta e dinâmica

desempenhada sintomaticamente como valor dissimulador, incessante,

monocraticamente detrator e pretorianamente reducionista através de realidades superficiais abruptamente auscultadoras constituindo ao cérebro psicopático a ideia de lídimos anseios individuais.

Em virtude do impacto negativo gerado pelo forte desenvolvimento e cometimento de comportamentos criminais, exteriorizados por meio de agressões sistemáticas, evidenciou-se a necessidade de soluções clínicas para o estado próprio desses indivíduos. A manifestação psiquiátrica a tal problemática desenvolveu-se, conferindo ao saber médico a determinação e efetivação de paradigmas concretizadores de tratamento terapêutico em razão do potencial de periculosidade. Dada a relevância do tema, no próximo tópico discute-se a clínica aplicada contemporaneamente ao dissocial.

1.3 Tratamento médico destinado ao psicopata

A classificação internacional de transtornos mentais e de comportamento elaborada pela Organização Mundial de Saúde (CID-10) qualifica o transtorno antissocial da personalidade como grave perturbação da constituição caracterológica e das tendências comportamentais do indivíduo. Tais perturbações não são propriamente doenças, lesões ou outra afecção cerebral, mas anomalias do desenvolvimento psíquico.

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Segundo Garrido (2005, p. 9), o transtorno antissocial da personalidade é

[...] uma patologia grave e de difícil diagnóstico, pois para a psicopatia não existe, ainda, nenhum tratamento, psicoterápico ou medicamentoso, motivo pelo qual esse transtorno provoca sérios prejuízos à sociedade no que tange a custos financeiros e, também, muitos danos psicológicos aos que estão envolvidos diretamente com os portadores do distúrbio. Os indivíduos com traços psicopáticos são pessoas que agem somente em benefício próprio, não importando os meios utilizados para alcançar o seu objetivo. Além disso, são desprovidos do sentimento de culpa e dificilmente estabelecem laços afetivos com alguma pessoa – quando o fazem, é simplesmente por puro interesse.

Para Ambiel (2006, p. 265), a psicopatia é considerada

[...] a mais grave alteração de personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia são responsáveis pela maioria dos crimes violentos, cometem vários tipos de crime com maior freqüência do que os não-psicopatas e, ainda, têm os maiores índices de reincidência apresentados.

Morana (2000), ao analisar os critérios projetivos da classificação da delinquência psicopática do agente e os meios operantes utilizados na averiguação de sua periculosidade em relação ao conjunto social, considera os portadores de transtorno antissocial da personalidade em quatro subtipos, escalonados a partir de diferenças significativas da estrutura mental, apresentando características peculiares ligadas às condições cognitivas, afetivo-emocionais e ao controle de impulsos. São instáveis aqueles que apresentam como aspecto principal a perturbação da capacidade da manutenção de propósitos e intenções. Nos indivíduos explosivos, a característica primordial é estabelecida pelo descontrole impulsivo intenso, com liberação de violência. Em sujeitos astênicos, traça-se a deficiente espontaneidade vital. Já os indivíduos caracterizados pela perversidade do caráter desenvolvem instabilidade afetiva em relação aos demais e sentimentos deficitários relativos à alteridade.

Esclarece ainda Morana (2000) que os métodos já aplicados na avaliação das condições padronizadoras do comportamento psicopático são ineficazes ao caso concreto nos atuais moldes jurídicos para tratamento e reabilitação psicossocial dos portadores de transtorno antissocial da personalidade.

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[...] tanto as prisões comuns quantos as enfermarias psiquiátricas, no modelo atual existente, não são apropriadas para o tratamento e a reabilitação psicossocial destes transtornos [...] o ambiente terapêutico deve oferecer diferentes modalidades, em função não apenas da periculosidade manifestada, mas também dos recursos de personalidade que propiciem o convívio e a participação comunitária, sem que seja oferecido risco relevante aos demais. Por este motivo a destinação institucional de casos [...] não deve ser pautada exclusivamente no diagnostico psiquiátrico ou no comportamento apreendido através do exame imediato. Para que sejam conseguidos melhores resultados, precisamos considerar todos os aspectos relativos a personalidade e às condições de vida pregressa das pessoas que foram consideradas portadoras do transtorno de personalidade. (MORANA, 2000, p. 42).

No entender de Stout (2010, p. 25), “eles só procuram a terapia por ordem judicial ou quando isso pode lhes trazer algum lucro.”

[...] o fato é que ainda não se conhece a cura desse transtorno. Nenhum método aplicado até hoje nos criminosos sociopatas, terapias, drogas, eletrochoque e até lobotomia, - a extração cirúrgica de uma parte frontal do cérebro – deu certo. Muito pelo contrário, para complicar, os sociopatas são imunes à terapia. Eles se recusam a admitir que existe algo de errado em si mesmos, e os mais inteligentes, quando obrigados a fazer o tratamento, assimilam rapidamente o jargão psicológico e enganam os terapeutas fingindo que estão curados. (RAMOS, 2002, p. 49).

A psicopatia é incurável. Trata-se de um transtorno de personalidade e não de fases momentâneas de alteração comportamental, apenas apresentam graus e formas de manifestação diversas (SILVA, 2008).

É impossível curar um psicopata. O melhor é mantê-lo afastado da sociedade. O erro mais comum é condenar um criminoso com esse diagnóstico a penas corporais, como a detenção. O mais sensato é a medida de segurança, que permite tratamento e estabilização do quadro diagnosticado. (PALOMBA, 2010, p. 1).

Sadock (2007) também corrobora de mesmo juízo ao relatar o histórico de um aprisionado, que por diversas vezes apresentou indícios patológicos de personalidade, e foi transferido para unidade psiquiátrica,

[...] no início, parece relaxar e logo melhorar, cooperando com a equipe de tratamento e os pacientes. A seguir, contudo, começa a criar problemas na unidade, liderando outros pacientes em revoltas relativas a privilégios de fumar, licenças e necessidade de medicamentos. Uma vez, durante a hospitalização mais recente, foi pego tentando intercurso sexual com uma paciente de 60 anos de idade. (SADOCK, 2007, p. 861).

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Carl Panzram, também intitulado de o nascido para o crime, nascido para matar, ao descrever seu impulso criminoso:

Não tenho desejo algum de me reformar. Meu único desejo é de reformar as pessoas que tentam me reformar, e eu acredito que o único meio de reformar as pessoas é matando-as. Minha máxima é: roube todos, estupre todos e mate todos. (CASOY, 2008, p. 343).

O debate sobre a viabilidade e a abrangência do tratamento dos diversos transtornos de personalidade, sobretudo do tipo antissocial, representa um desafio

terapêutico. Adshead (apud MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006, p. 77),

indica um modelo formado de fatores específicos para averiguar a possível aplicação do tratamento através da

[...] natureza e a gravidade da patologia; o grau de invasão do transtorno em outras esferas psicológicas e sociais, bem como o seu impacto no funcionamento de diferentes setores de sua vida; a saúde prévia do paciente e a existência de comorbidade e fatores de risco; o momento da intervenção diagnóstica e terapêutica; a experiência e a disponibilidade da equipe terapêutica; disponibilidade de unidades especializadas no atendimento de condições especiais e conhecimento científico sobre esse transtorno, bem como atitudes culturais em relação à concepção do tratamento.

Os portadores de transtornos de personalidade, seja esta psicopática ou não, exigem excessiva cautela no compulsar do tratamento, pois se evidencia ainda que o preenchimento dos critérios plenos para psicopatia não são tratáveis por qualquer forma de terapia disponível na atualidade. Sugere-se que a associação entre a resposta terapêutica negativa, os antecedentes prisionais predominando sobre os hospitalares e a não aceitação prévia em realizar tratamento são desencadeadores da situação assomada de complexidade e transcendência pela aplicação terapêutica centrada estritamente a métodos permeáveis a exaustividade (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006).

Os princípios clínicos utilizados são os mesmos de qualquer condição crônica, fazendo das condições básicas imutáveis. Busca-se apenas o abrandamento da sintomatologia. Os melhores resultados têm sido apontados ao tratamento de sintomas específicos. A terapia comportamental dialética vem recebendo reconhecimento internacional por sua eficácia em transtornos de personalidade, todavia estudos apontam que tanto tratamentos morais, psicológicos,

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medicamentosos e até mesmo cirúrgicos não produziram efeito positivo ao psicopata. Empregou-se então a terapia cognitivo-comportamental. Demonstrou-se, entretanto, ineficaz para o tratamento da personalidade psicopática, pois serviu a tais indivíduos como método de manipulação das vulnerabilidades e inseguranças humanas (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006).

A partir dos estudos clínicos, verifica-se que a psicopatia além de gerar significativo prejuízo social ao indivíduo portador da tal constrição psíquica em consequência da acentuada inflexibilidade na conduta restringindo sua vivência social, desencadeia, não raras vezes, comportamento propenso ao cometimento de atos danosos. A estes atos, em sua maioria criminais e de grande relevância, dá-se destaque na próxima temática.

1.4 O delinquente psicopata

A ligação entre a prática criminosa e a psicopatologia, especificadamente a psicopática, está associada a uma perturbação da personalidade que age como força impulsionadora para a prática do crime, em virtude da sensação de grandiosidade e da elevada impulsividade. Trata-se, portanto, de fenômeno anômalo, desencadeado pela instintiva morbidade e o risco proporcionado na execução dos atos criminosos.

Em preliminares, é cogente elucidar que nem todo delinquente é psicopata e que nem todo psicopata é delinquente. Assim, antes da aplicação efetiva da sanção penal, é análise imprescindível a se fazer que o delinquente psicopata é dotado de entendimento e de capacidade de determinação, embora investido de patologia psíquica.

Muitas pessoas são psicopatas e não se dedicam ao crime. Podem viver em nosso prédio, ser nosso marido, esposa ou amante, nosso filho, nosso colega de trabalho, um político [...] É vital compreender isso, enxergar a magnitude do problema. (GARRIDO, 2005, p. 17).

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A personalidade psicopática vincula-se fortemente a perturbações caracterológicas e comportamentais associadas, frequentemente, à ruptura de natureza dúplice: pessoal e social. Dessa forma, os transtornos de personalidade se traduzem por atritos relevantes no relacionamento interpessoal, que ocorrem devido à desarmonia da organização e da integração da vida afetivo-emocional.

O infrator, via de regra, é oriundo de ambientes altamente coercitivos, nos quais a violência física e o abandono são constantes. Desta forma, acabam por reproduzir em sua relação com o mundo um padrão de comportamento conhecido como anti-social. (ROCHA, 2009, p. 195).

Enquadra-se, pois, a psicopatia como perturbação psíquica multifatorial. Dentre suas causas, para além de fatores genéticos e de fatores de ordem social, estão presentes os fatores constituidores do caráter. Sua carga emocional escalona-se às causas psíquicas negativas mais elevadas, os traumas vivenciados desde a infância desencadeiam em determinado momento um quadro patológico grave, a personalidade psicopática. Trata-se, portanto, de defeitos de base potencializados pelas experiências emocionais e sociais desenvolvidas pelo indivíduo.

Stout (2010, p. 21, grifo do autor) leciona que:

Cerca de um em cada 25 indivíduos é psicopata [...] A diferença intelectual entre certo e errado não soa um alarme emocional [...] Sem o menor sinal de culpa ou remorso, uma em cada 25 pessoas pode fazer absolutamente qualquer coisa.

Para Garrido (2005), existe uma predisposição à psicopatia, uma vez que o meio social que é construído pela vivência em grupo pode ser de vital importância para inibir de maneira relevante esse fenômeno ou para fomentá-lo e gerar o que se pode chamar de “sociedade psicopática”.

[...] as pessoas biologicamente predispostas à psicopatia exibem uma conduta extremamente cruel e criminosa quando o ambiente delas é marginal e parco em estímulos socializantes. Nesses ambientes, a psicopatia de fato nem precisa de uma grande predisposição biológica para se desenvolver, já que muitos dos comportamentos violentos anti-sociais podem aí serem aprendidos: ainda que o sujeito não seja um psicopata no sentido clínico, em ambientes assim ele poderá adquirir traços de caráter e comportamentos psicopáticos. (GARRIDO, 2005, p. 11).

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O crime psicopático pode ser caracterizado como um monólogo, a apatia. O agente ativo utiliza-se somente de sua envergadura dessecativa para causar repercussão relevante no meio social com o intuito de interferir na capacidade de assimilação humana, visto que a atipicidade é viés sintomático de todo psicopata, cujo diálogo possui apenas uma personagem, a perversão.

Os psicopatas criminais são muito perigosos. Constituem os delinquentes mais violentos e estão presentes em muitos casos de agressões de mulheres e crianças, assassinatos em série, violações multirreincidentes. [...] Os psicopatas que não são delinquentes habituais adaptam-se a muitas circunstâncias, se camuflam, manipulam [...] Mas há psicopatas que não se camuflam. [...] crescem desde pequenos em um ambiente marginal; compartilham com delinquentes comuns algumas circunstâncias que [...] propiciam um estilo de vida anti-social [...] São duros, egocêntricos e violentos [...] São polivalentes no crime, não tem nenhum vínculo real [...] buscam apenas o prazer mais intenso e imediato. (GARRIDO, 2005, p. 18-23).

Para Garcia (1958, p. 176), psicopatas são

[...] certos indivíduos que, embora apresentem um certo padrão intelectual, algumas vezes até elevado, exibem através de sua vida, distúrbios da conduta, de natureza antissocial ou que colidem com as normas éticas, e que não são influenciáveis pelas medidas médicas e educacionais ou insignificantemente modificáveis pelos meios curativos ou corretivos.

O diagnóstico do transtorno de personalidade4 abrange dois níveis de

psicopatia: o transtorno de personalidade global e o transtorno parcial, os quais se caracterizam pela variação de seus graus de intensidade. O primeiro refere-se à alteração de personalidade mais extensa, caracterizada pela insubordinação da individualidade aos sentimentos sociais. Já o segundo nível vincula-se à atenuação das formas desviantes da personalidade. São tratadas como transtornos anormais do caráter, pois apresentam alterações menos graves (MORANA, 2005).

Szklarz (2010, p. 1) esclarece que “os crimes praticados dependem do grau de psicopatia desenvolvida [...] muitos cometem fraudes e estelionatos. Já outros

optam pela violência, homicídios, estupros, sequestros e torturas.”

4 O transtorno de personalidade (TP), quando diagnosticado em indivíduos menores de 18 anos,

recebe, por uma questão de nomenclatura, a denominação de Transtorno de Conduta (TC). Trata-se de transtorno de abrangência parcial ou crônica, iniciado desde a infância, que passa tomar forma na adolescência e se consolida na vida adulta (BALLONE, 2005).

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Os portadores de distúrbio de personalidade antissocial desenvolvem doses de fluidez e volatilidade monumentais, por meio dos quais a faceta discursiva tende a se robustecer. Se lhes faltam verdades essenciais, a revalorização da argumentação é técnica de sedução diante da racionalidade inexorável. Com maestria, utilizam linhas metodológicas que fomentam uma função ímpar, a capacidade de envolvimento instrumental aos outros indivíduos, sem ligação afetiva e consciente de elo. Concentram-se na aplicação de elementos audaciosos, tornando o crime palco privilegiado para o incremento de técnicas estupendas e estratégias exclusivas em detrimento da tão almejada magnitude impetuosa do risco, o qual é extremo nos assassinos seriais, pois é visto como meio de aperfeiçoamento.

Organizado, o psicopata prepara minuciosamente sua ação e só a comete quando e onde julga ideal. É impulsivo, mas não passional. Consegue administrar a tensão e o estresse, canalizando-os para a hora do crime. (SZKLARZ, 2010, p. 1).

Casoy (2009, p. 24-25), descreve os elementos que conectam os crimes em série: modus operandi, ritual e assinatura.

O modus operandi assegura o sucesso do criminoso em sua empreitada, protege sua identidade e garante fuga. Mas encontrar o mesmo modus operandi em diversos delitos não é o suficiente para conectá-los. O modo de agir é dinâmico. E vai se sofisticando conforme o aprendizado do criminoso. E a experiência adquirida com os crimes anteriores.

O ritual é comportamento que excede o necessário para a execução do crime e é baseado nas necessidades psicossexuais do criminoso, imprescindível para sua satisfação emocional. Rituais são enraizados na fantasia e frequentemente envolvem parafilias, além de cativeiro, escravidão, posicionamento do corpo e overkill [...] Pode ser constante ou não.

A assinatura é a combinação de comportamentos, identificada pelo modus operandi e pelo ritual. Não se trata apenas de forma de agir inusitada. Muitas vezes o assassino se expõe a um alto risco para satisfazer todos os seus desejos, como permanecer muito tempo no local do crime. Pode também usar de amarração específica ou roteiro de ações executadas pela vítima, como no caso de estupradores em série. Ferimentos específicos também são uma forma de assinar um crime.

Não busca o psicopata ser absoluto e invencível, apenas urge a seu ego a satisfação. Seu prisma criminoso visa puramente ao qualitativo (as características de suas vítimas são sempre semelhantes e seu procedimento da mesma forma). Ao quantitativo, liga-se a incessante necessidade de conduta reiterada, pois

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procrastinação é conceito impraticável, uma vez que preconiza o instinto assíduo em impingir a suas vítimas a confiança com o desígnio de chegar ao clímax de sua impulsionadora e insaciável conduta delitiva.

O psicopata, em virtude de seu condicionamento mental esboçado em uma perturbação mental mórbida capacitada de entendimento ético-jurídico, permite ao agente delitivo analisar as principais consequências ocasionadas por sua perversidade criminosa, revelando sua crueldade comportamental. Sob tal prisma, fixou-se uma latente e fragilizada legislação destinada à saúde mental do delinquente psicopata, incapaz de minimizar os efeitos ocasionados pela transgressão delitiva contumaz. Nessa perspectiva, propõe-se, no segundo capítulo, demonstrar o crescente retrocesso e a consequente falência jurídica a aplicação pratica da lei no que diz respeito ao portador da perturbação psíquica psicopática.

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2 A (IN)EFICÁCIA DA SANÇÃO PENAL PARA O DELIQUENTE PSICOPATA

O psicopata é indivíduo fronteiriço, uma vez que vive entre o limítrofe da loucura e da sanidade. Reúne características afetivas, emocionais, auto-referenciais e comportamentais propiciadoras de comportamentos violentos, antissociais e impetuosos, as quais o tornam propenso à reincidência. A psicopatia surge, então, precipuamente associada ao sistema criminal, à justiça e ao campo de atuação penalístico, evidenciando, a partir da evolução do estudo da criminalidade, do crime e do criminoso, a preocupação social perante a predisposição dos indivíduos em delinquir, diante do desenvolvimento e da continuidade dos estados comportamentais obsessivos, demonstrando através dos desvios de personalidade os profundos reflexos e consequências na esfera jurídica.

2.1 Classificação penal destinada ao psicopata

Em função da portabilidade de uma disfunção em relação ao processamento emocional, determinante no desenvolvimento da capacidade de imputação, a capacidade de autodeterminação do delinquente psicopata é afetada, convertendo-se no comprometimento parcial de sua capacidade de determinar-convertendo-se por si mesmo. Trata-se, deste modo, de uma imputabilidade restrita.

Assim o sendo, as personalidades psicopáticas se enquadram no rol das perturbações da saúde mental, uma vez que se trata de anomalia psíquica que se manifesta em procedimento violento, regulando-se conforme o disposto no parágrafo único do art. 26, do Código Penal. Dá-se, portanto, pela semi-imputabilidade a classificação penal do delinquente portador do transtorno antissocial da personalidade à luz da legislação brasileira.

Art. 26 [...]

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o

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caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (VADE MECUM, 2011, p. 501, grifo nosso).

Tais indivíduos não apresentam dano na capacidade de entendimento do caráter ilícito de seus atos, mas sim um sério prejuízo em sua capacidade de autodeterminação. Trata-se de um defeito constitucional do caráter, comprometendo diretamente a integração de valores morais e éticos que impedem que sua personalidade seja moldada pela experiência. Agem pela pura e simples razão, utilizada como método propulsor de aprendizagem de estratégias antissociais com vista ao alcance de seus objetivos.

Do ponto de vista psiquiátrico e psicológico, estes indivíduos não se enquadram como doentes mentais [...] eles apresentam um mau funcionamento da sua personalidade no tocante ao caráter que envolve os traços moldados ao longo do desenvolvimento, resultantes das experiências de aprendizagem propiciadas por diferentes influências ambientais. (CASOY, 2009, p. 343).

O crime psicopático não é consequência de doença mental, mas sim condicionado à incapacidade de aceitação pelo indivíduo das normas morais necessárias a sua adaptação social (COHEN, 1999). Não se olvida, portanto, descrever que se trata tal portabilidade de uma deficiência e não uma incapacidade cerebral.

[...] as personalidades psicopáticas não formam uma entidade nosológica. Mas podem ser agrupadas pelas características comuns que apresentam. Resultam de imaturidade ou anomalia dos instintos e não são capazes de assimilar, pela experiência, as regras da convivência social. (HERCULES, 2005, p. 666).

Hare (apud GARRIDO, 2005) descreve os psicopatas como indivíduos amplamente racionais, e em virtude disso os difere dos portadores de psicoses, pois possuem plena consciência de suas atitudes e motivação ao praticá-las. Seu comportamento é resultante de escolhas realizadas livremente. Destarte, os comportamentos associados a essa perturbação demonstram que

[...] esses sujeitos não apresentam a noção do real alterada, ao contrário do que ocorre nos quadros psicóticos ou deficitários. Nos psicopatas, as noções são mais indiferenciadas e ambíguas, consideradas do ponto de vista puramente cognitivo intelectual, mas não há prejuízo significativo do entendimento das situações. (MORANA, 2003, p. 114).

(32)

Na esfera psiquiátrico-forense, o diagnóstico legal utilizado para o transtorno comportamental psicopático, ao descrever a anomalia psíquica, classifica os psicopatas como:

[...] enfermos mentais, com capacidade de entender o caráter ilícito do fato [...] a personalidade psicopática não se inclui na categoria das moléstias mentais, mas no elenco das perturbações da saúde mental pelas perturbações da conduta, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento violento [...] (MIRABETE, 2007, p. 211).

Assim, o psicopata, ainda que portador de perturbação psíquica multifatorial, tem sua capacidade intelectiva e volitiva preservada. Por mais restrições que existam, sua capacidade de assimilação proporciona ao transgressor conhecer e entender a ilicitude do ato praticado. Seu estreitamento psíquico, em virtude de perturbação da saúde mental, desencadeia a incapacidade de controlar seus atos, entretanto não o exime da responsabilização penal.

Trata-se, desse modo, a imputabilidade criminal de elemento integrante da responsabilização penal do agente delitivo, fundada na capacidade de compreensão da ilicitude do fato e da capacidade de determinação da vontade, segundo essa compreensão. Logo, o reconhecimento da semi-imputabilidade funda-se na menor capacidade de controle dos impulsos acerca do agir delituoso do acusado.

O código penal em seu artigo 26 divide a imputabilidade (entendimento da ação, suas conseqüências e expiação da culpa) em três categorias, como imputáveis os que compreendem a conduta antijurídica agindo de maneira consciente [...] inimputáveis os que não sabem da gravidade e das conseqüências do ato cometido [...] e os semi-imputáveis que são os inimputáveis que cometeram o ato no chamado “intervalo lúcido” [...] (TILIO, 2007, p. 202, grifo nosso).

A esta classificação legal, embasa-se como fundamento limitador a imputação penal, a culpabilidade. É, pois, esta considerada ponto impulsionador imprescindível de delimitação à aplicação de sanções penais, ao currículo criminal do transgressor. Essa questão pontual trata-se no item subsequente.

(33)

2.2 Da culpabilidade

Ante a fragilização apontada pela convicção monolítica de que a pena retributiva era suficiente ao êxito sancionatório aos casos multirreincidentes e aos criminosos habituais, surge, em voga, como remédio à insensibilidade demonstrada pelo agente à pena ordinária, a necessidade do emprego da culpabilidade como requisito na aplicação da sanção penal.

Nessa acepção, a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como limite desta, impedindo que a pena seja imposta aquém ou além da medida prevista pela própria idéia de culpabilidade, aliada, é claro, a outros critérios, como importância do bem jurídico, fins preventivos, etc. (BITENCOURT, 2006, p. 700).

Para Noronha (1997, p. 97, grifo nosso), considera-se delito a “ação típica, antijurídica e culpável.” É, desse modo, a culpabilidade o terceiro elemento integrante do crime, atuando como elo subjetivo entre autor e resultado, constituindo-se o requisito balizador máximo da sanção aplicável.

Culpabilidade diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta levada a efeito pelo agente, que nas condições se encontrava, podia agir de outro modo. (GRECO, 2010, p. 85).

Na seara penal, na imputação de desregularidades e desvio, a sanção converge aos coeficientes de eficácia obtidos em relação ao sujeito transgressor, em que seu instrumento primeiro encontra-se alicerçado aos níveis de culpabilidade delitiva. Assim, a culpabilidade como atribuição personalíssima funciona como elemento de determinação da pena, sendo vislumbrada através da tolerância do sujeito ao resultado, seu consentimento e aprovação, bem como o risco assumido ao produzi-lo.

Torna-se assim indispensável, para falar em culpa, verificar se no momento do fato estavam presentes à vontade e a previsibilidade necessárias para a consciência do resultado da ação, buscando-se, através do dolo e da culpa, formas da culpabilidade, compor em seu aspecto subjetivo, fundamental para reconhecer a causalidade da ação do agente com o fato ilícito. (MIRABETE, 2010, p. 181).

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Entrelaçam-se, pois, potencialidade volitiva e resultado, de modo a comprovar que causa e efeito, ante a oposição ao conhecimento da potencial consciência da ilicitude do ato praticado e exigibilidade de conduta diversa, derivam do desejo perpetrado em aprovar o resultado alcançado, ou seja, o de querê-lo.

Para Fragoso (1993, p. 196) culpabilidade consiste na:

[...] reprovabilidade da conduta ilícita (típica e antijurídica) de quem tem capacidade genérica de entender e querer (imputabilidade) e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorre, conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito [...]

Perante tais características, surge o sistema hibrido, ou biopsicológico, para

determinar, através da compleição da capacidade de entendimento e vontade delitiva do agente, seu grau de imputabilidade sob o aspecto criminoso do fato e a aptidão do agente delitivo de se orientar de acordo com esse entendimento. Exige-se, em sua essência delitiva causa, momento e consequência.

Pertinente a esses elementos, a amplitude da culpabilidade estreita-se à maturidade mental para compreensão do caráter criminoso do fato, através do conjunto de condições pessoais que proporcionam ao agente a plenitude de capacidade intelectiva. Logo, maturidade e sanidade mental são fatores determinantes na aferição dos níveis de culpabilidade penal.

Somente pode ser atribuída a responsabilidade penal de um fato ao autor quando tinha ele condição pessoal de maturidade e sanidade mental que lhe conferia a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de se determinar segundo esse entendimento. (MIRABETE, 2000, p. 248).

Desses fatores determinantes do grau de culpabilidade a ser cominada ao agente decorre a classificação penal do autor do ilícito, por meio da verificação da capacidade de imputação. Tendo o agente plenas condições pessoais para conhecer da proibição auferida a ação praticada facultando-lhe o agir de acordo com a lei, afere-se a imputabilidade penal. Já sendo este possuidor de delimitações psíquicas que impeçam seu completo livre-arbítrio, parte-se do grau intermediário de responsabilização penal, ou seja, a semi-imputabilidade, matéria a ser tratada no próximo tópico.

(35)

2.3 Da semi-imputabilidade

A correlação entre delinquência e psicopatia constituiu-se distúrbio de conduta por meio de um padrão repetitivo de violação às normas. A ferramenta preconizadora sobre circunstâncias reais que o caracterizam é essencialmente a consciência da ilicitude e a indiferença ao sofrimento provocado no momento em que se pratica o ato criminoso.

Na esfera penal, examina-se a capacidade de entendimento e de determinação de acordo com o entendimento de um indivíduo que tenha cometido um ilícito penal. A capacidade de entendimento depende essencialmente da capacidade cognitiva, que se encontra, via de regra, preservada [...] no psicopata. Já em relação à capacidade de determinação, ela é avaliada no Brasil e depende da capacidade volitiva do indivíduo. Pode estar comprometida parcialmente [...] na psicopatia, o que pode gerar uma condição jurídica de semi-imputabilidade. Por outro lado, a capacidade de determinação pode estar preservada nos casos de transtorno de leve intensidade e que não guardam nexo causal com o ato cometido. Na legislação brasileira, a semi-imputabilidade faculta ao juiz diminuir a pena ou enviar o réu a um hospital para tratamento, caso haja recomendação médica de especial tratamento curativo. (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006, p. 77).

A imputabilidade é estabelecida através da análise conjunta das condições pessoais do agente delitivo, envolvendo-se, assim, a inteligência e a vontade que possibilitam ao agente conhecer o caráter ilícito do fato, posicionando-se de acordo com tal conhecimento (NUCCI, 2006). Alude-se, por esta razão, que as perturbações psíquicas psicopáticas reduzem o poder de autodeterminação e resistência interna à prática do crime, mas não excluem a potencialidade de entendimento volitivo do ilícito perpetrado.

A restrição psíquica, por conseguinte, não afasta a responsabilidade do delinquente. Logo, a capacidade de entendimento ético-moral alcançado aos indivíduos portadores de perturbações psíquicas ocasiona a redução de seu poder de se autocontrolar, predispondo o agente a ter sua resistência interior enfraquecida, mas não inexistente.

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Não exclui a imputabilidade, de modo que o agente será condenado pelo fato típico e ilícito que cometeu. Constatada a redução da capacidade de compreensão ou vontade, o juiz terá duas opções: reduzir a pena 1/3 a 2/3, ou impor medida de segurança (mesmo aí a sentença continuará sendo condenatória). A escolha pela medida de segurança somente poderá ser feita se o laudo de insanidade mental indicá-la como recomendável, não sendo arbitrária essa opção. Se for aplicada a pena, o juiz estará obrigado a diminuí-la de 1/3 a 2/3, conforme o grau de perturbação, tratando-se de direito público subjetivo do agente, o qual não pode ser subtraído pelo julgador.

Segundo Capez (2002, p. 284), em virtude da semi-imputabilidade “o agente é [...] responsável por ter alguma noção do que faz, mas sua responsabilidade é reduzida em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída em consequências das suas condições pessoais.”

Assim, a integralidade estrutural da perturbação psíquica desenvolvida pelo portador de transtorno antissocial da personalidade, em face do proeminente risco proporcionado pela prática do delito, estabelece um padrão comportamental imperativo na busca pela maximização dos interesses, tornando os demais fatores subsidiários. Por serem indivíduos de conduta leviana e lógica,

[...] pensam muito e sentem pouco. Suas ações são racionais e a razão tende sempre a escolher, de forma objetiva, o que leva á sobrevivência e ao prazer. De forma primitiva a razão usa a “lei da vantagem” sempre. Essa forma de pensar privilegia o indivíduo e nunca outro ou o social. (SILVA, 2008, p. 164).

Evidencia-se, pois, que as causas do cometimento dos crimes psicopáticos são justificadas e compreendidas tão somente por seus executores. Seus traços e alterações de conduta são ativamente precursores de instabilidade, perversidade do caráter, explosividade, e suas variantes comportamentais tornam-se um padrão invasivo e nefasto.

Frente a esses elementos todos, qual a capacidade de imputação do examinado? Não será plena, por certo. Uma personalidade desarmônica, com graves desvios constitucionais de agressividade incontida e inconteste, reagindo frente a emoções primárias e tendo uma acentuada deficiência de crítica, não poderá ser completamente responsabilizada por seu ou seus delitos. Se a emoção sobrepuja a crítica – como já se fez sentir – se o impulso primário se efetiva sem a contenção dos valores éticos; se a impulsividade é evidente, como se falar em plena capacidade de imputação? Concluir-se-ia – por isso – ser ela inexistente? Se o paciente não praticou o delito em estado crepuscular; se ele tem do mesmo noção de memória de certo modo aceitáveis; se a privação dos sentidos não foi

(37)

integral, restará uma parcela de responsabilidade por parte do agente criminoso. Trata-se, então, de um delinquente semi-imputável e que oferece nítido risco à sociedade. É claro que os desvios de personalidade já preexistiam ao delito e prejudicavam o paciente em sua compreensão do ato delituoso [...] e, por isso, de se determinar quanto à infração penal. Portanto, do ponto de vista médico-legal, concluímos que ser o examinando uma personalidade psicopática semi-imputável pelo delito praticado. (MARANHÃO, 1995, p. 351-352).

Dessa maneira, embora seja o ato psicopático impulsivo e intencionado a inclinações polarizadas ponderadas pela não apreciação as consequências do processo volitivo ante a consumação dos propósitos, é inexistente o comprometimento significativo da qualidade de consciência. Havendo possibilidade de escolha diante do conjunto circunstancial, ainda que, destoada sua capacidade de autodeterminação, o agente será penalmente responsabilizado e submetido às consequências jurídico-penais pela prática criminosa.

A esse prejuízo cognitivo, materializado pela ausência de juízo valorativo ante ao comportamento praticado, encaminhou-se o infrator à tutela judicial a fim de condicionar seu comportamento à aplicação das sanções penais cabíveis.

A esta imputabilidade criminal intermediária, pugnou-se pela aplicação de duas possibilidades jurídicas sancionatórias. Trata-se de providências penais restritivas e privativas a liberdade do indivíduo portador de transtorno psicopático. São elas as medidas de segurança e a pena, as quais serão objeto de apreciação no item a seguir.

2.4 Tipos de sanções aplicáveis

O Código Penal de 1940 trouxe duas inovações em relação aos semi-imputáveis e insemi-imputáveis. A primeira se deu pela utilização do critério periculosidade para aplicação da pena; e a segunda pela inclusão da medida de segurança ao rol de sanções aplicáveis aos transgressores.

Referências

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