• Nenhum resultado encontrado

Izaura Bezerra Francini1*Maria Claudia Gross2 Klilton Barbosa da Costa3 Gislene Almeida Carvalho-Zilse4

1Programa de Pós-graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA), Manaus, Amazonas, Brasil.

2Programa de Pós-graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Laboratório de Genética Animal,Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática, Manaus, Amazonas, Brasil.

3Programa de Pós-graduação em Entomologia, Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia (INPA), Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA), Manaus, Amazonas, Brasil.

4Instituto Nacional e Pesquisas da Amazônia (INPA), Grupo de Pesquisas em Abelhas

(GPA), Manaus, Amazonas, Brasil.

*Corresponding author: ibfrancini@yahoo.com.br

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Grupo de Pesquisas em Abelhas, Manaus, AM, Brazil.

Resumo

A análise citogenética da abelha sem ferrão da Amazônia, Melipona seminigra

merrillae, por coloração com Giemsa convencional, revelou um número de

cromossomos novo para o gênero: 2n=22 para fêmeas e machos diplóides e n=11 para machos haploides. Este resultado contrasta com o obtido em estudos prévios, nos quais o número de cromossomos de 19 diferentes espécies de Melipona foi determinado como 2n=18 para fêmeas e n=9 para machos. Com base na

informação citogenética conhecida para outras espécies de Melipona, propomos que

M.seminigra merrillae representa um número diplóide derivado. Isto indica que o

número de cromossomos do gênero Melipona não é conservado como se pensava previamente. Além do mais, o conhecimento da biologia da reprodução das abelhas sem ferrão é fundamental para o desenvolvimento da Meliponicultura e para o manejo de populações de cativeiro e no ambiente natural, que é uma atividade importante para manter o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Abstract

Cytogenetic analysis of the Amazon stingless bee, Melipona seminigra merrillae, by conventional Giemsa staining reveals a new chromosome number for the genus: 2n=22 for females and diploid drones and n=11 for haploid drones. This result contrasts with that obtained in previous studies, in which the number of

chromosomes of 19 different Melipona species was determined as 2n=18 for females and n=9 for males. Based on cytogenetic information available for other Melipona species, we propose that M. seminigra merrillae represents a more derived diploid number. This indicates that the chromosome number of the Melipona genus is not as conserved as previously thought. Furthermore, the reproductive biology of stingless bees is fundamental to improving Meliponiculture and in dealing with captivity issues of natural bee populations, which is an important activity in maintaining sustainable development in the Amazon.

Introdução

A maioria das espécies da tribo Meliponini são abelhas sem ferrão do gênero

Melipona Illiger, 1806 (Moure et al. 2007). Estas abelhas têm ampla distribuição na

região Neotropical (Michener 2007), sendo encontradas em todos os estados brasileiros.A maioria das Melipona ocorre na região amazônica, onde muitas espécies permanecem sem descrição (Silveira et al. 2002). O papel chave das abelhas sem ferrão como polinizadores das Angiospermas nativas e de plantas cultivadas é largamente reconhecido (Kerr et al. 2001; Michener 2007). Portanto, são indispensáveis para manutenção da biodiversidade nas florestas tropicais (Carvalho 2001).

Em termos de citogenética, Melipona é o gênero de Meliponini melhor

estudado (Rocha et al. 2007). Informações sobre o número de cromossomos estão disponíveis para 19 espécies de Melipona, sendo n=9 para machos e 2n=18 para fêmeas, em todos os casos (Rocha et al. 2007): M. marginata, M. quadrifasciata (Kerr 1948), M. rufiventris, M. interrupta, M. schencki (Kerr 1952), M. bicolor (Kerr 1952; Rocha e Pompolo 1998), M. compressipes (Kerr 1969), M. subnitida (Kerr 1972), M. scutellaris (Almeida 1981), M. favosa (Hoshiba 1988), M. asilvae, M.

seminigra fuscopilosa, M. capixaba, M.captiosa (Rocha and Pompolo 1998), M. crinita (Rocha et al. 2002), M. mandacaia (Rocha et al. 2003), M. orbigny (Rocha cp

apud Rocha et al. 2007) e M. mandory (Lopes et al. 2008). Em M. quinquefasciata, o número de cromossomos pode variar de 2n=19 a 22 nas fêmeas e n=9 a 13 nos machos, mas esta variação foi atribuída à presença de cromssomos B (Rocha 2002; Rocha et al. 2007). Com base nestes resultados, o número de cromossomos de

Melipona (Michmelia) seminigra merrillae Cockerell, 1919 (Hymenoptera,

Apidae, Meliponini) é produtora de mel (Schwarz 1932; Moure et al. 2007; Kerr et al. 1994) e dispersora de sementes (Bacelar-Lima et al 2006). É uma das espécies mais criadas na Meliponicultura local (Carvalho-Zilse 2006) – o termo utilizado para designar a criação de Meliponini cunhado por Nogueira-Neto (Nogueira-Neto1997) – uma atividade significante para a conservação da biodiversidade e desenvolvimento econômico regional (Cortopassi-Laurino et al. 2006).

Investigamos os cromossomos mitóticos de M. seminigra merrillae, em população de meliponário urbano, para entender melhor o mecanismo de

determinação do sexo, informação importante para o manejo destas abelhas, em cativeiro e no ambiente natural.

Material e métodos

Analisamos 36 indivíduos (20 fêmeas, 11 machos haplóides e 5 machos diplóides) de M. seminigra merrillae oriundos de seis colônias do Meliponário do Grupo de Pesquisas em Abelhas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia– GPA/INPA (3º05.838’S 059º 59.103’W), Manaus, Amazônia, Brasil.

Obtivemos metáfases de cromossomos mitóticos usando gânglios cerebrais de pupas de olho rosa, dissecadas sob estereomicroscópio (40X), com base na técnica descrita por Imai et al. (1988). Utilizamos colchicina a 0,005% como solução hipotônica, por uma hora, e coramos todas as preparações cromossômicas com Giemsa (solução a 5%) por 20 minutos. Observamos as Metáfases cromossômicas com microscópio (100X) e fotografamos com câmera digital (Sony DSC – W150).

Resultados e Discussão

Todas as fêmeas e machos diplóides de Melipona seminigra merrillae que analisamos mostraram um número diplóide 2n=22 e os machos haplóides

apresentaram n = 11 (Figura 1 a, b, c), sem evidência de dimorfismo sexual cromossômico. Este número diplóide contrasta com o que foi obtido em estudos prévios, nos quais o número de cromossomos determinado para 19 diferentes espécies de Melipona foi 2n=18 para fêmeas e n=9 para machos (Rocha et al. 2007). Uma espécie, M. quinquefasciata, exibiu variação do número de

cromossomos de 2n=19 a 22 (fêmeas) e n=9 a 13 (machos). Esta variação foi atribuída à presença de cromossomos B (Rocha 2002), mas, não encontramos evidência de cromossomo B em M. seminigra merrillae. Portanto, a visão corrente, que o número de cromossomos é conservado em Melipona (Rocha et al. 2007) não foi corroborada por nossos resultados. O aumento do número de cromossomos em

M. seminigra merrillae pode refletir um status derivado em relação às outras

espécies de Melipona para as quais existe informação citogenética.

M. seminigra merrillae é considerada uma das sete raças geográficas de Melipona seminigra Friese, 1903, é uma abelha endêmica do estado do Amazonas,

Brasil (Camargo e Pedro, 2008). Até o presente, o número de cromossomos era conhecido para apenas uma destas subespécies Melipona seminigra fuscopilosa, a qual apresenta o mesmo número de cromossomos conhecido para outras espécies de Melipona: 2n=18 para fêmeas n=9 para machos haplóides (Rocha et al. 2002). Nossos estudos citogenéticos podem indicar que M. seminigra merrillae não é uma raça geográfica de M. seminigra, mas, outra espécie ou uma espécie nova.

Análise citogenética adicional de espécies de Melipona contribuirá para esclarecer as relações evolutivas entre as espécies e levará a um melhor

entendimento das modificações do cariótipo nos Meliponini. Além do mais,

contribuirá para a identificação de espécies de Melipona, o que certamente será uma informação útil para a Meliponicultura local, para programas de polinização de

plantas cultivadas e para a conservação na Amazônia Central.

Agradecimentos

Agradecemos à Dra. Eliana Feldberg por ter fornecido a estrutura essencial no laboratório de citogenética e ao Dr. G.A.R Melo pela identificação taxonômica. Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Amazônia (FAPEAM), pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e pelo Banco Real.

Legenda de figuras

Figura 1 Cromossomos mitóticos de Melipona seminigra merrillae: a. Fêmea (2n=22); b. Macho haplóide (n=11); c. Macho diplóide (2n=22). (Barra: 5μm).

Referências Bibliográficas

Levan A, Fredga K, Sandberg AA 1964. Nomenclature for centromerik position on chromosomes. Hereditas 52: 201–220.

Almeida MG (1981). Estudo sobre o número de cromossomos e contagem de espermatozóides na abelha Melipona scutellaris Latreille, 1811. Ciência e

Cultura, 33: 539-542.

Bacelar-Lima, C.G., Freire, D.C.B., Colleto-Silva, A., Costa, K.B., Laray, J.P.B., Vilas- Boas, H.C., Carvalho-Zilse, G.A. (2006). Melitocoria de Zygia racemosa

(Ducke) Barneby & Grimes por Melipona seminigra merrillae Cockerell, 1919 e

Melipona compressipes manaosensis Schwarz, 1932 (Hymenoptera,

Meliponina) en la Amazonía Central, Brasil. Acta Amazonica, 36(3): 343 – 348.

Camargo JMF e Pedro SRM (2008). Meliponini Lepeletier, 1836. In: Moure JS, Urban D & Melo GAR (Orgs). Catalogue of Bees (Hymenoptera, Apoidea) in the Neotropical Region-online version. Available at

http://www.moure.cria.org.br/catalogue. Accessed Nov/16/2008.

Carvalho GA (2001). The Number of Sex Alleles (CSD) in a Bee Population and its Pratical Importance (Hymenoptera: Apidae). Journal of Hymenoptera

Research, 10(1): 10-15.

Carvalho-Zilse GA (2006). Meliponicultura na Amazônia. Anais do VII Encontro sobre

Abelhas (Ribeirão Preto-SP): em CD ROM.

Cortopassi-Laurino M, Imperatriz-Fonseca VL, Roubik DW, Dollin A, Heard T, Aguilar I, Venturieri GC, Eardley C, Nogueira-Neto P (2006). Global meliponiculture: challenges and opportunities. Apidologie, 37: 275-292.

Hoshiba H (1988). Karyological analysis of a stingless bee, Melipona favosa (Apidae, Hymenoptera). Cytologia 53153-156.

Imai HT, Taylor RW, Crosland MWJ, Crozier RH (1988). Modes of spontaneous chromosomal mutation and karyotype evolution in ants with reference to the minimum interaction hypothesis. Japanese Journal of Genetics, 63(2): 159- 185.

Kerr WE (1948). Estudos Sobre o Gênero Melipona. Anais da Escola Superior de

Kerr WE (1952). A variação do número de cromosomas na evolução dos Hymenoptera. Sociedade de Genetica, 4: 182–190.

Kerr WE (1969). Some aspects of the evolution of the social bees. Evolution Biology, 3: 119-175.

Kerr WE (1972). Numbers of chromosomes in some species of bees. Journal of

Kansas Entomology Society, 45: 11–122.

Kerr WE (1987). Sex determination in bees. XXI. Number of XO-heteroalleles in a natural population of Melipona compressipes fasciculata. Insects Sociaux, 34: 274–279.

Kerr WE, Nascimento VA, Carvalho GA (1994). Há Salvação para os Meliponíneos?

Anais do 1º Encontro Sobre Abelhas, Ribeirão Preto, 1: 60-65.

Kerr WE, Carvalho GA, Silva AC, Assis MGP (2001). Aspectos pouco mencionados da biodiversidade amazônica. Parcerias Estratégicas, 12:20-41.

Lopes DM, (2008). Cytogenetic characterization of Melipona rufiventris Lepeletier 1836 and Melipona mondury Smith 1863 (Hymenoptera, Apidae) by C

banding and fluorochromes staining. Genetics and Molecular Biology, 31 (1): 49-52.

Michener CD (2007). The Bees of the World. The Johns Hopkins University Press, Baltimore, 953 pp.

Moure JS, Urban D, Melo GAR (org.) (2007). Catalogue of Bees (Hymenoptera, Apoidea) in the Neotropical Region. Sociedade Brasileira de Entomologia, Curitiba, XIV, 1058 pp.

Nogueira-Neto P (1997). Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. Editora Nogueirapis, São Paulo, SP, 446 pp.

Rocha MP (2002). Análises citogenéticas em abelhas do gênero Melipona (Hymenoptera, Meliponinae). Tese de Doutorado em Biologia Celular e Estrutural – Curso de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil, 84 pp. Rocha MP, Pompolo SG (1998). Karyotypes and heterochromatin variation (C-

bands) in Melipona species (Hymenoptera, Apidae, Meliponini) chromosomes.

Genetics and Molecular Biology, V21: 41-45.

Rocha MP, Pompolo SG, Dergam JA, Fernandes A, Campos LAO (2002). DNA characterization and karyotypic evolution in the bee genus Melipona (Hymenoptera, Meliponini). Hereditas 136: 19-27.

Rocha MP, Cruz MP, Fernandes A; Waldschmidt AM, Silva-Junior JC; Pompolo SG (2003). Longitudinal differentiation in Melipona mandacaia (Hymenoptera, Meliponini) chromosomes. Hereditas, 138: 133-137.

Rocha MP, Pompolo SG, Fernandes A, Campos LAO (2007). Melipona – SEIS DÉCADAS DE CITOGENÉTICA. Bioscience Journal, Supplement 1: 111-117. Schwarz HF (1932). The Genus Melipona: type Genus of the Meliponinae or

Stingless Bees. Bulletin of American Museum of Natural History, LXIII (IV): 231-460.

Silveira FA, Melo GAR, Almeida EAB (2002). Abelhas brasileiras: sistemática e

Capítulo 5 (Artigo IV)

(Normas: European Journal of Entomology) Francini, IB 2009

Documentos relacionados