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4.1 Estado de incerteza informacional

4.2.4 Resultados (Pergunta 06)

4.2.4.1.1 Sentimentos de solidariedade e energia emocional

Os sujeitos coletivos participantes da pesquisa demonstram que as práticas de intermediação da informação no contexto da estratégia informacional de enfrentamento coletivo na web são influenciadas e/ou motivadas ao tempo em que alguns mecanismos são

estabelecidos, como a percepção de que a outra pessoa precisa de informação ou ajuda; e o compromisso criado com as outras a partir da troca de experiências reais. Ambos são capazes de revelar dois planos de solidariedade que, por sua vez, caracterizam os laços do grupo.

O primeiro tem a ver com aqueles sentimentos de solidariedade que são próprios do contexto de gestação/maternidade vivenciado pelas mulheres primíparas, os quais, independentemente do grau de aproximação, tendem a ser despertados no decorrer dos encontros sociais não só entre as mulheres primíparas, mas, eventualmente, por agentes terceiros que se deparam com situações propícias para oferecer ajuda. No caso do grupo de WhatsApp, a estratégia informacional de enfrentamento coletivo possibilita o fortalecimento dos laços fracos relativos à centralização e dinamização dos encontros informacionais entre as participantes de modo a gerar, de acordo com Johnson e Case (2013), perspectivas únicas de informação. Por outro lado, não equivale à transformação destes laços fracos em laços fortes, uma vez que a solidariedade entre os sujeitos pode se apresentar de forma reduzida, “como mero compartilhamento de um fundo comum” (SODRÉ, 2013, p. 223) enquanto perdura os interesses e/ou as dificuldades individuais inerentes ao estado de incerteza informacional.

No que diz respeito às práticas de intermediação da informação no grupo, portanto, é possível dizer que as participantes se sentem motivadas especialmente nas situações em que se conectam e percebem que outras pessoas buscam informações e/ou ajuda. Ou seja, as participantes não demonstram o comprometimento permanente com as outras para além dos estímulos online que, como um vínculo social (SODRÉ, 2013), seria capaz de motivar a intermediação da informação sem que fosse necessário um acionamento eventual nas interações ou, conforme Collins (2004), uma “recarga” de símbolos prévios – intrínsecos ao próprio contexto da gestação/maternidade.

O segundo mecanismo corresponde aos sentimentos de solidariedade de longo prazo (COLLINS, 2004) que são construídos no decorrer das interações mediadas pelas tecnologias móveis (LING, 2008). Estes sentimentos são decorrentes dos efeitos da “efervescência coletiva”, envolvendo o arrastamento de atenções e emoções entre algumas participantes – certamente as mais engajadas com os fluxos de interação – transformando as emoções transitórias (medo, tristezas, alegrias etc.) inerentes ao “estado de incerteza informacional” em Energia Emocional que, ao ser armazenada em símbolos, prolonga o sentido de identificação com o grupo e orienta as ações individuais/coletivas nas próximas interações (COLLINS, 2004). Levando em consideração que as participantes evidenciam em seus depoimentos a construção de um vínculo no grupo (um compromisso e uma necessidade de ajudar) capaz de transcender quaisquer estímulos episódicos nas interações, constatamos então a transformação

dos laços fracos em laços fortes. Estes laços sociais, construídos sobre os pilares das práticas colaborativas, são carregados de alta Energia Emocional, que compreende sentimentos de autoconfiança, entusiasmo e iniciativa, importantes para as interações e, no caso específico, para as práticas de intermediação da informação. O oposto disso, segundo Collins (2004), seria a baixa Energia Emocional atrelada aos sentimentos de depressão e falta de iniciativa, os quais enfraquecem as práticas de intermediação da informação no grupo, tendo em vista a ausência de motivação.

Nesse contexto, tanto os sentimentos de solidariedade situacionais quanto os sentimentos de solidariedade de longo prazo motivam as práticas de intermediação da informação. No entanto, os que pertencem ao segundo plano tendem a ser mais favoráveis ao processo de resiliência informacional em redes sociais virtuais, por quatro motivos – 1. o compromisso prolongado com os problemas alheios em contextos remotos, possibilitando as trocas contínuas entre pessoas pouco conhecidas ou até mesmo desconhecidas no plano biossocial; 2. a possibilidade de acesso ou de intermediação de informações de fontes relevantes, mesmo quando não há um estímulo específico/eventual nas situações de interação; 3. o direcionamento ético para as práticas, quando se prioriza a veracidade ou credibilidade das informações em prol de um bem comum; e 4. os próprios efeitos individuais da alta Energia Emocional, os quais podem despertar os sentimentos necessários para o processo de superação do estado de incerteza informacional.

No caso específico do WhatsApp, estes sentimentos de solidariedade de longo prazo e de Energia Emocional no grupo podem ser cristalizados em símbolos de pertencimento diversos, a exemplo da imagem de abertura ou título do grupo, de alguma frase ou palavra específica, dos nomes ou números das participantes, de emoticons, entre outros, que, ao serem reinvocados pelas participantes, reforçam os sentimentos de associação com o grupo. Collins (2004) relaciona os símbolos de pertencimento construídos nas situações de interação em copresença com os “objetos sagrados de Durkheim”. No âmbito das interações tecnomediadas, Ling (2008) estende as suas possibilidades de construção para os elementos linguísticos e paralinguísticos digitais. Em nossa investigação, estes símbolos de pertencimento presentes na perspectiva de Ling (2008) não são possíveis de serem descritos com precisão tendo em vista as limitações do método adotado, uma vez que se faz necessário uma observação direta nas situações de interação. Em outras palavras, seria ingênuo ou confuso tentar descrever os símbolos através de perguntas do tipo: “Quais são os símbolos construídos no grupo que geram elevados níveis de associação? Quais são os símbolos que reinvocam a Energia Emocional?” Nesse sentido, como estratégia inicial de clarear os sentimentos de associação e desvelar a

Energia Emocional, optamos por apreender as representações simbólicas do grupo de modo genérico e, assim, relacioná-las às práticas informacionais colaborativas.