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Superação das barreiras à informação na web: orientação e ajuste

4.3. Construção da resiliência informacional em redes sociais virtuais

4.3.1 Resultados (Pergunta 09)

4.3.1.1.1 Superação das barreiras à informação na web: orientação e ajuste

Os sujeitos coletivos participantes da pesquisa demonstram que as práticas informacionais colaborativas em redes virtuais promovem a superação de algumas dificuldades encontradas no contexto individual da busca por informação na internet: a encontrabilidade e a validação da informação; a transliteração da informação científica; a adequação da informação à realidade; e a tomada de decisões sobre questões significativas e pessoais. Ambas as dificuldades são superadas paralelamente à superação de algumas barreiras à informação na web: barreiras emocionais, de tradução, diaspóricas, linguísticas e/ou de letramento, de interação e as de rede. Em decorrência disso, o mix de incertezas emergente, constituinte do “estado de incerteza informacional”, passa a ser experimentado e gerenciado de forma positiva por cada participante, uma vez que, agora, elas desenvolvem a resiliência informacional.

Levando em consideração que Lloyd (2014, p. 62) compreende a resiliência informacional associada à “capacidade de usar informação para orientar, ajustar e ressignificar em tempos de incerteza ou crise”, a presente investigação possibilitou a verificação do papel das práticas informacionais colaborativas mediadas pelas tecnologias móveis nos processos de orientação, ajuste e ressignificação das mulheres primíparas no contexto de incertezas. Com base no discurso do sujeito coletivo das participantes, apresentamos a ocorrência da orientação e do ajuste. Antes, porém, é pertinente mencionar que Lloyd (2014) também elenca outros três elementos fundamentais para a transição dos ambientes informacionais e construção de novos cenários de informação128, que fundamentam a orientação, o ajuste e a ressignificação. São eles: a construção do cenário129; informações sobre saúde em espaços cotidianos130; e agrupamento de informações131.

A orientação, no contexto das interações mediadas pelo dispositivo móvel, ocorre à medida que as participantes passam a se conectar (online) com os fragmentos de informações provenientes das fontes do ambiente informacional da internet que tratam do contexto específico e, ao mesmo tempo, com os fragmentos de informações provenientes das fontes formais ou das experiências pessoais das próprias participantes. A orientação consiste em uma experiência física e visual com as fontes de informação relevantes, que reduz o estresse da

128 Cenários de informação são vistos como ecologias informativas complexas, que enquadram discursos e

narrativas particulares e portanto entrelaçam pessoas no tempo e no espaço (LLOYD, 2014).

129 Conectar-se a fontes de informação e métodos de conhecimento relevantes à situação particular. 130 Locais para buscar informações e verificar ou confirmar a veracidade de informações recebidas.

131 Prática que envolve a reunião de pessoas para a divisão de partículas de informação visando criar um quadro

incerteza resultante da experimentação de uma mudança significativa do cenário de informação ou de uma sobrecarga de informação. Neste processo, os mediadores assumem o papel de introduzir as pessoas às informações das fontes relevantes de modo a orientá-las na navegação pelo novo ambiente informacional (LLOYD, 2014). No caso estudado, as participantes têm uma experiência virtual com as fontes de informação relevantes a partir do momento em que as outras participantes agem como mediadoras infocomunicacionais, isto é, compartilhando alguns links de websites, blogs, páginas de redes sociais, documentos, trechos de conteúdos informacionais, experiências pessoais e posicionamentos médicos. Esta experiência, além de introduzir as participantes ao novo ambiente informacional de gestação/maternidade, possibilita a confirmação ou validação das informações provenientes das diversas fontes utilizadas pelas participantes, bem como a transliteração da informação científica e a adequação das informações às realidades particulares.

Neste processo, é possível situar os três elementos elencados por Annemaree Lloyd (2014): 1. a construção do cenário, relacionada à conexão com fontes de informação relevantes por intermédio das outras mulheres primíparas (intermediárias contingentes); 2. as informações sobre saúde em espaços cotidianos, relacionadas com os espaços utilizados pelas participantes para a busca, intermediação e validação da informação, os quais, embora convirjam para o grupo Mamães de Plantão, se estendem, simultaneamente, às consultas com os médicos e aos encontros com outros grupos de mulheres; e 3. O agrupamento de informações, relacionado com a reunião das participantes de modo a compartilharem os fragmentos de informações obtidos.

O ajuste, por sua vez, ocorre quando as participantes modificam os seus hábitos de busca de informação a partir das suas experiências de encontrabilidade da informação mediadas pelo grupo. Para Lloyd (2014), o processo de ajustamento é catalisado pelas experiências de orientação e se dá quando as pessoas passam a desenvolver novos métodos de conhecimentos e novas habilidades informacionais. No caso estudado, a partir de um certo momento, as participantes passam a adotar o grupo no WhatsApp como método para buscar informações básicas sobre o contexto vivenciado e, ao mesmo tempo, validar informações provenientes tanto do grupo quanto de outras fontes a fim de construir conhecimentos práticos. Nesse sentido, o ajustamento permite a superação de algumas barreiras à informação na web que, anteriormente, geravam dificuldades e incertezas, como as barreiras de tradução, ao ter acesso às informações científicas por intermédio de outras participantes com habilidades de busca mais refinadas; as barreiras diaspóricas, ao passar a se identificar com informações ligadas a experiências reais ou próximas de suas realidades particulares, de modo a obter maior confiança; as barreiras

linguísticas e/ou de letramento, ao compreender as informações com linguagem técnico- científica de forma efetiva e eficiente; e as barreiras de rede, ao ampliar o escopo e a qualidade de suas conexões e, consequentemente, as possibilidades de obtenção de informações relevantes. Além dessas, é possível considerar a superação das barreiras de interação, circunscritas na busca de informação sobre saúde nos espaços cotidianos (off-line), a exemplo das consultas com o médico, quando as participantes passam a se sentir à vontade para explorar, juntamente com as outras participantes, questões significativas e pessoais que demandam decisões. A esse respeito, o grupo atua na discussão das possibilidades que envolvem a tomada de decisões de modo a otimizar a consulta com o médico a posteriori.

Nesse contexto, as práticas informacionais colaborativas em redes sociais virtuais, especificamente no âmbito das interações mediadas pelas tecnologias móveis, promovem os processos de orientação e ajuste necessários à construção da resiliência informacional. Diversamente do estudo de Lloyd (2014), que aborda os recursos virtuais da internet como fontes secundárias de informação sobre saúde para refugiados, aqui, o espaço virtual colaborativo é visto como uma fonte primária de informação, uma vez que reúne vários mediadores infocomunicacionais (contingentes) em um único espaço (de forma ágil e acessível), ao mesmo tempo em que viabiliza a conexão com fontes secundárias (websites, páginas de redes sociais, televisão etc.) e a discussão sobre os fragmentos das informações dessas fontes em tempo real. Nesse sentido, considerando que a orientação e o ajuste são catalisadores da ressignificação (LLOYD, 2014), resta-nos verificar se a estratégia informacional de enfrentamento coletivo na web também promove uma ressignificação do estado de incerteza informacional passível de influência no processo de tomada de decisões.