• Nenhum resultado encontrado

As últimas 5 semanas do meu estágio com a WRU foram passadas no SORC, onde a organização tinha rangers destacados e era responsável pelo departamento veterinário. Assim, tive oportunidade de contactar com a rotina deste centro de reabilitação e ao mesmo tempo assistir e auxiliar em várias atividades médico-veterinárias.

Figura 16 - Localização do SORC em relação à Reserva Florestal (Retirado de Google Maps (Google Maps, 2015) )

O centro localiza-se no distrito de Sandakan, à margem da Reserva Florestal de Sepilok.

Os orangotangos pertencem à categoria dos grandes símios (Weston Murphy, 2015). Ao contrário da espécie nativa da ilha de Sumatra - Pongo abelii- a espécie de Bornéu – Pongo

pygmaeus – subdivide-se em três subespécies: Pongo pygmaeus morio, Pongo pygmaeus pygmaeus e Pongo pygmaeus wurmbii, cada uma com a sua distribuição caraterística (Ancrenaz

et al., 2008a; Groves, 2001; Weston Murphy, 2015). Na zona nordeste de Bornéu, na zona este de Kalimantan e no estado de Sabah, onde se localiza o SORC, a subespécie nativa é a Pongo

pygmaeus morio, que de acordo com o IUCN está classificada como “ameaçada” e com

tendência para a diminuição da população (Ancrenaz et al., 2008a; Weston Murphy, 2015). Em 2008, estimava-se que cerca de 11 000 indivíduos permanecessem ainda nas florestas do estado

54

de Sabah, 200 dos quais nos aproximadamente 40Km2 de floresta em Sepilok («Sepilok Orangutan Rehabilitation Centre: 50th Anniversary», 2014; Wich et al., 2008), sendo que naturalmente têm densidades populacionais de aproximadamente dois indivíduos por cada Km2 de floresta (Mitani, Grether, Rodman, & Priatna, 1991; Wolfheim, 1983).

À semelhança do caso dos elefantes, também aqui a perda de habitat pela desflorestação para fins agrícolas, principalmente plantações para óleo de palma, é uma das ameaças principais (Ancrenaz et al., 2008b; Holmes, 2000). Outras ameaças incluem fogos florestais, fragmentação do habitat, caça e comércio ilegal (Ancrenaz et al., 2008b; Marshall et al., 2006). Como resultado dos incêndios florestais de 1997-98, por exemplo, o IUCN estima que tenha a população de Pongo pygmaeus tenha diminuído em 33% no espaço de tempo de apenas um ano (Ancrenaz et al., 2008b). Já a fragmentação do habitat causa um problema não só em si, mas por também por deixar as populações mais suscetíveis a perda genética e consanguinidade, bem como a inundações, fogo e cheias, epidemias e caça (Ancrenaz et al., 2008b).

Com a estimativa de que mais de 60% da população de orangotangos no estado de Sabah ocupam áreas de floresta não protegida (Wich et al., 2008), torna-se óbvio que o futuro da conservação desta espécie passa não só pela atividade de centros como este mas também pelo desenvolvimento de práticas de exploração florestal que minimizem o seu impacto na conservação da espécie, principalmente porque orangotangos são capazes de se adaptar a florestas exploradas de uma forma sustentável (Husson, Wich, & Marshall, Dennis, Ancrenaz , Brassey, Gumal, Hearn, Meijaard , Simorangkir, 2009; Wich et al., 2012).

4.1- Funcionamento geral do Centro

O SORC é um centro onde geralmente orangotangos resgatados, pelas mais variadas razões, são alojados e reabilitados com a intenção de posteriormente os libertar quando para tal estejam preparados. Dependendo do seu estado de saúde, idade e das capacidades que têm quando dão entrada no centro, são encaminhados para o local mais indicado. Vários edifícios e áreas diferentes compõem o SORC, cada um dos quais com um ambiente adaptado à fase de reabilitação pretendida. Assim, poder-se-ia dividir o SORC em: quarentena, infantário interior, infantário exterior, plataforma 4, enfermaria e clínica veterinária, constituída esta pelo berçário, farmácia, laboratório e sala de cirurgia.

55

Geralmente, qualquer animal que dê entrada no SORC passa primeiro por um período de 3 meses na quarentena, feita exceção para animais muito jovens que precisem de cuidados permanentes nos quais já tenha sido feita a avaliação física e o despiste de doenças, situação na qual passam diretamente para o berçário. Durante o período de quarentena, os animais são mantidos em jaulas individuais e são alimentados duas vezes por dia, seguindo a dieta pré- estabelecida que inclui fruta, vegetais e leite.

À chegada, é feito um exame físico e colheita de sangue para despiste de Hepatite A,B e C, melioidose (Burkholderia pseudomallei) e malária (Plasmodium spp.). Adicionalmente, são realizados um teste de Mantoux, intradermicamente na pálpebra superior e uma radiografia torácica para despiste de tuberculose (Mycobacterium spp.).

Tendo encontrado bibliografia que reporta a existência de Hepatite A e B em orangotangos e outro primatas não-humanos, não encontrei porém nada na literatura acerca da infeção pelo vírus da hepatite C nesta espécie (Kilbourn et al., 2001; Makuwa et al., 2006; Sa-nguanmoo et al., 2008; Starkman, MacDonald, Lewis, Holmes, & Simmonds, 2003). No que diz respeito à melioidose, na altura foi me apresentada como uma doença relativamente comum nos orangotangos em reabilitação, por estarem tendencialmente mais vezes próximos do solo, visto que a bactéria ocorre naturalmente no solo e zonas lamacentas em zonas endémicas, como era o caso (Sprague & Neubauer, 2004). Na minha revisão bibliográfica, no entanto, apenas encontrei bibliografia já antiga referente a dois casos: um caso de um orangotango jovem em Brunei e um outro em cativeiro em Townsville, Australia, ambos fatais e com ocorrência de broncopneumonia (Smith & Damit, 1982; Tammemagi & Johnston, 1963). Tuberculose em orangotangos foi também reportada, tendo sido concluído que havia menos especificidade no teste de Mantoux nesta espécie quando comparado por exemplo com gorilas ou chimpanzés (Calle, Thoen, & Roskop, 1989; Kilbourn et al., 2001; Kilbourn et al., 2003).

Adicionalmente, ainda na quarentena são também feitas administrações preventivas de fármacos antiparasitários, suplementos vitamínicos e antibióticos a metade da dose terapêutica (como já mencionado no Capítulo 2). Na altura da minha estadia no SORC, as instalações da quarentena estavam, contudo, a ser utilizadas como isolamento de três indivíduos semi- selvagens que tinham testado positivo para Hepatite B. Assim, os animais que iam dando entrada, faziam a quarentena na enfermaria.

56

O berçário aloja orangotangos de idade inferior a um ano. Aqui, os animais são mantidos em jaulas individuais e têm seguimento muito mais intensivo, sendo alimentados a cada duas/três horas.

Figura 17 - a) cuidados do staff no berçário; b) ginásio do berçário (Imagem gentilmente autorizada pela WRU)

É organizada uma rotação entre os tratadores, para garantir que há sempre alguém responsável por tratar deles fora do horário de trabalho. Alguns escolhem levar estes animais para casa durante a noite, outros preferem ir ao SORC a cada duas horas para garantir que está tudo bem e alimentá-los. Há também um “ginásio” onde os bebés se podem exercitar e começar a ganhar força enquanto ainda estão nesta fase precoce de reabilitação. Nesta idade, a sua alimentação consiste em preparações de leite de cabra em pó que, de acordo com o staff tem composição mais semelhante com o de orangotanga que o de vaca, além de ter maior palatibilidade para eles. Embora já haja caracterização do leite de orangotanga quanto a alguns componentes (Milligan & Bazinet, 2008; Urashima et al., 2009), tratando-se de uma espécie ameaçada, seria interessante estudá-los e fazer essa comparação com o leite de cabra que, a confirmar-se, poderia assim servir de base a outros locais e situações onde seja necessária a alimentação artificial de crias. Para cada um é mantido um diário individual onde se registam frequências e volumes de leite ingeridos, temperatura retal e frequência e aspeto da urina e fezes.

O infantário interior é a fase que se segue ao berçário ou à quarentena, em orangotangos com idade superior a um ano. Dependendo do seu progresso individual, o tempo que aí permanecem varia mas geralmente ficam até atingirem os 5 anos de idade. Nesta fase da reabilitação, os

57

animais passam as noites num edifício fechado, nas suas jaulas individuais. Todas as manhãs, depois da primeira alimentação, são então conduzidos para o exterior, onde são mantidos numa jaula maior com enriquecimento ambiental, onde se podem exercitar e socializar uns com os outros.

Figura 18 - Jaula grande d o infantário interior a) vista de fora; b) vista de dentro (Imagem gentilmente autorizada pela WRU)

Complementarmente à jaula grande no exterior, os orangotangos têm dois momentos diários de treino - um de manhã e um durante a tarde - durante os quais são levados para uma zona com cordas, troncos, etc. que conduzem às árvores. Aí, podem exercitar-se fisicamente e também praticar algumas capacidades, tais como construção de ninhos, ganhar confiança a trepar às árvores e a explorar a zona de treino (os mais inseguros mantinham-se na zona mais próxima dos edifícios, afastando-se progressivamente mais e mais para a floresta à medida que iam ganhando confiança) e aprender como usar os ramos para passar de uma árvore para a outra, o que mais tarde vai ser importante para exibição do comportamento de foraging. Estes momentos de treino ocupam cerca de uma hora e meia a duas horas por dia, dependendo das condições meteorológicas (em momentos de muita chuva não eram postos no exterior porque não gostam de água e em alturas de muito calor, tendencialmente escondem-se à sombra ou tentam voltar para dentro, sem treinar grande coisa).

Estes treinos são supervisionados pelo staff do SORC de modo a evitar que os animais desçam para o chão em demasia e para os encorajar a ficar nas cordas e nas árvores. No entanto, além deste contacto com os tratadores, nesta fase de reabilitação, os animais são encorajados a aprender e a ir buscar conforto aos seus companheiros, em vez de o fazerem com humanos, como muitas vezes tentam. São utilizadas ameaças de punição como reforço negativo, para

58

prevenir que figuras humanas sejam associadas a recompensas positivas (o que iria definitivamente comprometer o sucesso do processo de reabilitação).

Figura 19 - Zona de treino no infantário interior (Image m gentilmente autorizada pela W RU)

Nesta fase, são alimentados de manhã, depois do treino matinal, e por volta das quatro da tarde, quando são de novo postos no interior, nas suas jaulas individuais. Se algum deles tiver episódios de diarreia (que são comuns nesta fase no SORC e geralmente causados por

Balantidium coli), fica dentro da jaula individual até à sua resolução, para evitar contaminações

cruzadas.

A fase seguinte é a do infantário exterior, que ao contrário do interior, se localiza já mesmo na orla da reserva florestal. Os orangotangos podem dar entrada nesta fase vindos da quarentena ou do infantário interior, dependendo da sua história, mas geralmente fazem-no quando já têm mais que cinco anos de idade. Aqui, o treino dura todo o dia e tem já lugar em floresta densa, a qual começam a explorar. Ainda têm supervisão, mas apenas na área junto ao edifício de apoio ao infantário exterior, onde o staff os encoraja a entrarem na floresta. São alimentados duas vezes por dia, em grupo, na zona de treino junto do infantário. Esta prática é importante para avaliar se todos conseguem ter alimento suficiente, se se sabem defender contra outros orangotangos e avaliar o seu comportamento em geral. Neste estádio, o objetivo é ter o mínimo

59

contacto possível com humanos. Há um edifício com jaulas individuais no interior, mas os animais têm a opção de não regressar à noite para dormir, se assim o quiserem.

Uma vez tomado o passo de não regressar ao infantário exterior, passam por uma fase intermédia antes de serem considerados “libertados” e portanto semi-selvagens. Na plataforma 4, ainda são alimentados todos os dias, mas sempre pelos mesmos tratadores e dentro da floresta profunda de forma a não terem contacto com humanos a não ser com quem lhes leva a comida. Também aqui têm jaulas, sem supervisão, mas onde podem passar a noite se quiserem. Nesta fase não há exames médicos de rotina, só se realizando se houver motivos para tal, desta forma reduzindo ao mínimo o contacto desnecessário com humanos, fator essencial à sua reabilitação.

Uma vez ultrapassadas com sucesso todas as fases de reabilitação (ou se quando deram entrada eram selvagens e estão saudáveis), os animais estão prontos a serem libertados. Geralmente, a partir deste centro, os orangotangos são libertados diretamente na Reserva Florestal de Sepilok ou então transportados para a Reserva de Fauna Selvagem de Tabin. O local de libertação está geralmente dependente de autorizações governamentais relacionadas com as densidades populacionais das reservas, embora ponha a hipótese de que fatores como a possibilidade de transferência de determinadas doenças para zonas por elas não afetadas talvez fossem pertinentes na tomada da decisão (Kilbourn et al., 2003).

Por último, a enfermaria é uma área interior, adjacente ao infantário interior. Têm jaulas individuais e tem o propósito de manter animais (de diferentes fases de reabilitação) que por um ou outro motivo precisem de atenção médica, monitorização ou tratamento. Nesta zona, os animais são alimentados de manhã e ao fim da tarde. Como já mencionado, na altura da minha estadia no SORC, além de animais doentes, esta área também alojava quatro orangotangos e um macaco (Macaca fascicularis) que estavam em quarentena.

Normalmente tanto os animais no infantário interior e exterior têm exames físicos de rotina semanais. A cada quatro semanas, são colhidas amostras de sangue tanto para hemogramas como para despiste de Hepatite A,B e C, melioidose e malária. Todos os animais (infantário interior, infantário exterior e, se possível, semi-selvagens) são desparasitados uma vez por mês. É feita uma rotação entre os fármacos utilizados para esse fim, alternando entre ivermectina, albedazole e pirantel. Não há nenhum protocolo de imunizações, não sendo portanto

60

administradas quaisquer vacinas. Todos os trabalhadores e auxiliares com acesso direto aos orangotangos passavam também obrigatoriamente por despiste de tuberculose, Hepatite A,B e C e herpes vírus, que também já foi documentado em orangotangos (Kik, Bos, Groen, & Dorrestein, 2005).

Globalmente, considero o SORC um exemplo de sucesso. Além de ativamente participar na reabilitação de uma espécie ameaçada, fá-lo de uma forma integrada com as populações locais, que constituem a maioria esmagadora dos trabalhadores do centro. Mais, uma porção do centro é visitável, permitindo não só a visualização de orangotangos à distância como também a educação do público através de uma série de painéis informativos acerca de orangotangos e do funcionamento do SORC em geral. Adicionalmente, através das entradas do público, da loja de

souvenirs, de programas de adoção e de voluntariados pagos ao centro, o SORC é também

responsável pela angariação de fundos para a conservação da espécie. Complementarmente, o SORC contribui ainda com assistência a investigação científica sobre a espécie. Havia ainda assim alguns aspetos que considero terem espaço para melhorar.

Embora a dieta providenciada pelo centro fosse relativamente próxima ao naturalmente ingerido por eles (Mackinnon, 1974; Morrogh-Bernard et al., 2009), muitas vezes o fornecimento da cozinha não era feito com a frequência adequada e os animais acabavam por ter de comer o que sobrava, muitas vezes simplesmente apenas bananas, o que me leva a ponderar a possibilidade de que este poderá ser um dos fatores contributivos para a ocasional ocorrência de diarreias que se verificava.

Referi também que durante os treinos eram utilizadas ameaças de punição para evitar que os animais viessem ter com os tratadores em busca de conforto e passassem a associar humanos a experiências positivas, o que sabotaria o objetivo da reabilitação dos animais. Porém, presenciei situações nas quais os tratadores, sem a situação tal o requerer, utilizavam as mesmas ameaças quando os animais estavam já recolhidos nas suas jaulas ao fim da tarde, por exemplo. O que me faz conjeturar acerca da possibilidade de este estímulo negativo, apresentado para condicionar um determinado comportamento prejudicial à reabilitação dos animais,

eventualmente poder deixar de ser associado apenas a ele. Embora tenha noção da impossibilidade de controlar todas as atividades de todos os trabalhadores individuais do centro, acredito que talvez fosse importante investir mais na formação dos mesmos, de forma a evitar

61

situações semelhantes, que muitas vezes têm lugar inadvertidamente por desconhecimento das suas potenciais consequências.

Outro dos aspetos funcionais do SORC que penso não ser a melhor opção diz respeito a potenciais contaminações cruzadas. Como referido, novas entradas no centro faziam despiste apenas no início do período de quarentena (ou no início da entrada no berçário se fosse esse o caso) e nunca antes de serem misturados com o resto da população geral do centro. O mesmo acontecia na passagem de umas fases de reabilitação para as outras. Este é, no entanto, um método que ignora todas as potenciais infeções que possam ocorrer durante esse período. Acontece que considero que da maneira como o centro funcionava, esta é uma possibilidade que merecia não ser ignorada. Em primeiro lugar as jaulas individuais em todas as áreas (quer no berçário, infantários ou quarentena) estavam próximas o suficiente para por vezes haver contacto quer com excreções quer contacto direto entre animais. Em segundo lugar a enfermaria é um espaço contíguo ao infantário interior e com ele partilha a cozinha e respetivos utensílios, deixando margem para a potencial ocorrência de contaminações cruzadas entre os animais doentes e os animais jovens ali alojados. Como agravante, a enfermaria tinha na altura os animais em quarentena, em jaulas adjacentes através das quais conseguiam ter contacto direto com animais internados e presumivelmente imunodeprimidos.

4.2- Casos clínicos

Além de ter acompanhado o funcionamento geral do SORC, tive também oportunidade de lidar com casos clínicos que foram aparecendo durante o período em que lá estive. Assim, selecionei alguns, que passarei agora a descrever e discutir.

4.2.1-“IK”, adulto, ≈ 26 anos

O IK era um macho adulto que foi encontrado no chão de uma plantação na orla da floresta, não trepando às árvores. No momento da sua entrada no SORC, foi feito exame físico e colheita de sangue. No exame físico observaram-se várias lesões cutâneas; múltiplas lesões eram visíveis na cavidade oral desde cortes superficiais a dentes partidos; era evidente que o animal tinha défices de visão – tinha algum grau de perceção de movimento – e tinha ainda as mucosas pálidas, que mais tarde vieram a ser justificadas pelos resultados do hemograma, compatível com uma situação de anemia. A hipótese formulada na altura foi a de que provavelmente teria sido alvo de agressão humana.

62

Estava desde então a tomar dois comprimidos PO SID de um suplemento vitamínico do complexo B e um comprimido PO SID de Iberet folic 500 (multivitamínico com ferro), ambos com a intenção de aumentar o hematócrito, estimulado a eritropoiese (Koury & Ponka, 2004). Por causa das lesões orais, a sua dieta consistia em fruta triturada e suplementação com leite em pó. Quando cheguei ao SORC, estando em quarentena, o animal encontrava-se alojado na enfermaria, pelos motivos já referidos e por na altura assim se ter optado, feita a análise de risco.

Para poder avaliar melhor a sua condição corporal foi mudado para uma jaula maior, onde se pudesse exercitar mais Para esta mudança de jaula o animal teve que ser sedado e utilizou-se um dardo IM com 0,5mL de Zoletil 100 (25 mg de zolazepam e 25 mg de tiletamina- embora a bibliografia encontrada recomende uma dose de 2 a 6,9 mg/Kg (Weston Murphy, 2015), a dose real utilizada foi de 1,15mg/Kg, tendo servido o seu propósito de forma eficaz). Uma vez sedado, aproveitou-se para fazer um exame físico mais pormenorizado onde se observou um abcesso na cavidade oral. Em concordância com os resultados obtidos por Warnke et al. (2008), que evidenciaram que moxifloxacina e amoxicilina com ácido clavulânico eram as escolhas mais eficazes contra patogénicos geralmente isolados em abcessos odontogénicos foi decidido que iam iniciar uma terapia com 600mg de amoxicilina e ácido clavulânico (Moxiclav forte) PO BID durante 5 dias. No entanto, na tarde do segundo dia de tratamento, o SORC ficou sem

stock e a terapia não foi concluída.

A determinada altura o animal começou a aceitar fruta mole como bananas maduras e fatias de melancia, sem ser necessário triturá-la, mas a sua visão permaneceu debilitada, orientando-se sempre quase exclusivamente por sons e pelo tato para se movimentar.

Numa segunda ocasião, tiveram que fazer reparações na jaula exterior onde se encontrava e, portanto, tiveram que o mudar de novo para a enfermaria. De novo usaram um dardo IM com uma dose pretendida de 3mg /Kg. Esta ocasião foi no entanto um tanto ou quanto atribulada, tendo no total sido necessários 4 dardos - uns porque não estavam corretamente pressurizados e, como tal não injetaram o conteúdo, outros porque falharam o alvo. Contrariamente ao aconselhado para estas situações, o ambiente envolvente era extremamente barulhento e estimulante, o que potencialmente contribuiu para o aumento do tempo necessário até que fizesse efeito (Sleeman, 2007). Nesta altura o abcesso já não estava visível, mas a mucosa oral

63

apresentava-se seca, sugerindo um certo grau de desidratação, o que não seria muito anormal dado que o animal estava exposto ao sol e só bebia o leite, não tendo água à disposição na jaula,

Documentos relacionados