4. Sequˆ encias em R n
4.1. Sequˆ encias Convergentes Passemos agora ao nosso conceito mais fun-
damental.
Definic¸˜ao 3 (SEQU ˆENCIA CONVERGENTE). Dado a ∈ Rn, diz-se que uma sequˆencia (xk) em Rn converge para a ou, equivalentemente, que a ´e limite
4. SEQU ˆENCIAS EM Rn 25
Para todo ϵ > 0, existe k0∈ N, tal que k ≥ k0 ⇒ ∥xk− a∥ < ϵ.
No caso afirmativo, a sequˆencia (xk) ´e dita convergente, caso contr´ario, ela ´e dita
divergente.
Dados a ∈ Rn e r > 0, o conjunto dos pontos x ∈ Rn que cumprem a
desigualdade ∥x − a∥ < r, denotado por B(a, r), ´e chamado de bola (euclidiana) aberta de centro a e raio r. Desta forma, podemos dizer que uma sequˆencia (xk)
em Rn converge para a se, para toda bola aberta B(a, ϵ), a partir de um certo
k0 ∈ N, todos os seus termos pertencem a B(a, ϵ) (Fig. 3). Em geral, o qu˜ao grande deve ser k0 depende de qu˜ao pequeno ´e o ϵ dado.
x2 • xk0−1 • xk0+1 • x1 • • a ϵ xk0 • Figura 3
Observac¸˜ao 4 (UNICIDADE DO LIMITE). Toda sequˆencia convergente em Rn possui um ´unico limite. De fato, se (xk) fosse uma sequˆencia em Rn com dois
limites distintos, a e b, poder´ıamos tomar ϵ =∥b − a∥/2 > 0. Ent˜ao, a partir de um certo k0∈ N, todos os termos da sequˆencia (xk) estariam em ambas as bolas
abertas B(a, ϵ) e B(b, ϵ), o que ´e absurdo, uma vez que estas s˜ao disjuntas. Quando a∈ Rn ´e o limite de uma sequˆencia (x
k), escrevemos
xk → a ou a = lim xk ou ainda a = lim k→∞xk.
Proposic¸˜ao 4. Toda sequˆencia convergente ´e limitada.
Demonstrac¸˜ao. De fato, se (xk) ´e uma sequˆencia em Rn que converge para
a, temos que existe k0∈ N, tal que k ≥ k0 ⇒ ∥xk− a∥ < 1. Logo,
∥xk∥ = ∥(xk− a) + a∥ ≤ ∥xk− a∥ + ∥a∥ < 1 + ∥a∥ ∀k ≥ k0.
Fazendo-se µ = max{∥x1∥, . . . , ∥xk0−1∥, 1 + ∥a∥}, tem-se ∥xk∥ ≤ µ ∀k ∈ N.
Observac¸˜ao 5. Considerando-se em Rn uma sequˆencia (xk) e um ponto a,
´
e imediato, a partir da defini¸c˜ao de convergˆencia, que
isto ´e, a ´e limite de (xk) se, e somente se, a distˆancia entre xk e a converge para
zero. Al´em disso, uma vez que, para todo k∈ N, | ∥xk∥ − ∥a∥ | ≤ ∥xk− a∥, tem-se
(11) xk → a (em Rn) ⇒ ∥xk∥ → ∥a∥ (em R).
Deve-se observar tamb´em que, dada uma sequˆencia (xk) em Rn, se µ > 0 ´e
tal que, para todo ϵ > 0, existe k0∈ N satisfazendo k≥ k0 ⇒ ∥xk− a∥ < µϵ,
ent˜ao xk→ a. Com efeito, dado ϵ′ > 0, seja ϵ = ϵ′/µ. Por hip´otese, para este ϵ,
existe k0∈ N, tal que k ≥ k0 ⇒ ∥xk− a∥ < µϵ = ϵ′. Uma vez que ϵ′ foi tomado
arbitrariamente, conclui-se que xk→ a.
Observac¸˜ao 6 (CONVERG ˆENCIA RELATIVA). O conceito de sequˆencia conver- gente que introduzimos ´e relativo `a norma euclidiana. No entanto, como o fizemos quando discutimos sobre sequˆencias limitadas, pode-se consider´a-lo relativamente a outras normas. Neste sentido, ´e relevante mencionarmos que se ∥ ∥0 ´e uma norma
em Rn equivalente `a norma euclidiana, ent˜ao uma sequˆencia ´e convergente com rela¸c˜ao `a norma ∥ ∥0 se, e somente se, o ´e com rela¸c˜ao `a norma euclidiana. No
caso afirmativo, os limites de ambas estas sequˆencias coincidem.
Para constatarmos isto, consideremos uma sequˆencia (xk) em Rn que converge
para a∈ Rn com rela¸c˜ao `a norma ∥ ∥
0. Neste caso, dado ϵ > 0, existe k0 ∈ N, tal que k ≥ k0 implica ∥xk− a∥0< ϵ. Al´em disso, pela equivalˆencia das normas
dadas, existe µ > 0 satisfazendo ∥x∥ ≤ µ∥x∥0∀x ∈ Rn. Logo, para todo k≥ k0, ∥xk− a∥ ≤ µ∥xk− a∥0 < µϵ,
isto ´e, (xk) ´e convergente (com mesmo limite) com respeito `a norma euclidiana. A
rec´ıproca segue-se diretamente da simetria da equivalˆencia de normas.
Proposic¸˜ao 5 (CONVERG ˆENCIA DAS COORDENADAS). Uma sequˆencia (xk)k∈N em Rn, x
k = (xk1, xk2, . . . , xkn), converge para a = (a1, . . . , an) ∈ Rn se, e
somente se, para cada i = 1, 2, . . . , n, a sequˆencia-coordenada (xki)k∈N converge
para ai.
Demonstrac¸˜ao. Suponhamos, inicialmente, que xk → a. Ent˜ao, dado ϵ > 0,
existe k0∈ N, tal que k ≥ k0 ⇒ ∥xk− a∥ < ϵ. Por´em, para todo i ∈ {1, . . . , n}
e todo k ∈ N, tem-se |xki − ai| ≤ ∥xk − a∥. Assim, para todo k ≥ k0, vale |xki− ai| < ϵ, isto ´e, xki→ ai qualquer que seja i∈ {1, . . . , n}.
Reciprocamente, suponhamos que xki → ai para todo i∈ {1, . . . , n}. Ent˜ao,
dado ϵ > 0, para cada i ∈ {1, . . . , n}, existe ki ∈ N, tal que k ≥ ki ⇒
|xki− ai| < ϵ. Tomando-se, ent˜ao, k0 = max{k1, . . . , kn}, tem-se, para todo
k ≥ k0, ∥xk − a∥max = max{ |xk1− a1|, . . . , |xkn− an| } < ϵ, donde xk → a
(vide Observa¸c˜ao 6).
Observac¸˜ao 7. Dado p ∈ N, o conceito de sequˆencia-coordenada, bem como o resultado da Proposi¸c˜ao 5, generalizam-se facilmente para sequˆencias definidas em Rp quando se decomp˜oe este espa¸co como Rp =Rj1×Rj2×· · ·×Rjn, em que, para
cada i∈ {1, . . . , n}, ji∈ N e j1+· · ·+jn= p. Mais especificamente, se (xk) ´e uma
sequˆencia em Rp, cada um dos seus termos se escreve como xk = (x1k, . . . , xnk), em
que xik ∈ Rji∀i ∈ {1, . . . , n}. Assim, para cada tal i, (xik)k∈N ´e uma sequˆencia
em Rji. Dado, ent˜ao, a = (a
1, . . . , an)∈ Rp, tem-se que xk → a se, e somente se,
4. SEQU ˆENCIAS EM Rn 27 Vejamos, na proposi¸c˜ao seguinte, o comportamento das sequˆencias convergentes de Rn com respeito `as suas opera¸c˜oes.
Proposic¸˜ao 6 (PROPRIEDADES OPERAT ´ORIAS). Sejam (xk), (yk) sequˆencias
em Rn e (λk) uma sequˆencia em R, tais que xk → a, yk → b e λk→ λ. Ent˜ao,
(xk+ yk)→ a + b e (λkxk)→ λa.
Demonstrac¸˜ao. Dado ϵ > 0, existem k1, k2, k3∈ N, tais que
k≥ k1 ⇒ ∥xk− a∥ < ϵ, k ≥ k2 ⇒ ∥yk− b∥ < ϵ e k ≥ k3 ⇒ ∥λk− λ∥ < ϵ.
Ent˜ao, para todo k≥ k0= max{k1, k2, k3}, tem-se
∥(xk+ yk)− (a + b)∥ ≤ ∥xk− a∥ + ∥yk− b∥ < 2ϵ,
ou seja, (xk+ yk)→ a + b.
Temos tamb´em que a sequˆencia (xk), por ser convergente, ´e limitada. Assim,
existe µ > 0, tal que ∥xk∥ < µ ∀k ∈ N. Desta forma, para todo k ≥ k0,
∥λkxk−λa∥ = ∥(λk−λ)xk+ λ(xk−a)∥ ≤ |λk−λ| ∥xk∥ + |λ| ∥xk−a∥ < (µ+|λ|)ϵ,
donde se infere que (λkxk)→ λa.
Consideremos, agora, subsequˆencias de sequˆencias em Rn. Como sabemos,
toda subsequˆencia ´e uma sequˆencia e, portanto, cabe-nos falar sobre subsequˆencias convergentes e indagar sobre as rela¸c˜oes de convergˆencia entre uma sequˆencia e as suas subsequˆencias. Neste contexto, ´e f´acil constatar que toda subsequˆencia de uma sequˆencia convergente ´e convergente e tem o mesmo limite que a sequˆencia. ´E f´acil, tamb´em, obter exemplos de sequˆencias divergentes que possuem subsequˆencias convergentes.
Conforme constataremos, em An´alise, muitos resultados importantes s˜ao obti- dos quando se assegura que uma determinada sequˆencia possui, pelo menos, uma subsequˆencia convergente, n˜ao se fazendo necess´ario, portanto, que a sequˆencia, em si, seja convergente. Por esta raz˜ao, o Teorema de Bolzano-Weierstrass, que apresentamos a seguir, constitui um dos resultados mais importantes da An´alise no espa¸co Rn.
Teorema de Bolzano -Weierstrass. Toda sequˆencia limitada em Rn pos- sui uma subsequˆencia convergente.
Demonstrac¸˜ao. Uma vez que, no cap´ıtulo anterior, provamos o teorema no caso em que n = 1, podemos supor que n > 1.
Tomemos, ent˜ao, uma sequˆencia limitada (xk), em Rn, e escrevamos, para
cada k ∈ N, xk = (xk1, . . . , xkn). Pela Proposi¸c˜ao 3, cada sequˆencia-coordenada
(xki)k∈N ´e limitada em R. Da´ı, temos que existe um subconjunto infinito N1, de N, tal que a subsequˆencia (xk1)k∈N1, de (xk1)k∈N, converge para um real a1.
Analogamente, existe N2 ⊂ N1, infinito, tal que a subsequˆencia (xk2)k∈N2,
de (xk2)k∈N1, converge para um real a2. Note que a subsequˆencia (xk1)k∈N2, de
(xk1)k∈N1, tamb´em converge para a1.
Repetindo-se este procedimento, ap´os n passos, obteremos um subconjunto infinito Nn, de N, tal que, para cada i = 1, 2, . . . , n, a subsequˆencia (xki)k∈Nn,
de (xki)k∈N, converge para um real ai. Logo, pela Proposi¸c˜ao 5, a subsequˆencia
(xk)k∈Nn, de (xk)k∈N, converge para a = (a1, a2, . . . , an)∈ R
Observac¸˜ao 8. Segue-se da demonstra¸c˜ao acima e das considera¸c˜oes da Ob- serva¸c˜ao 3 que o Teorema de Bolzano-Weierstrass ´e v´alido para qualquer norma de Rn que seja equivalente `a norma euclidiana, isto ´e, se ∥ ∥
0 ´e uma tal norma, ent˜ao
toda sequˆencia limitada relativamente `a norma ∥ ∥0 possui uma subsequˆencia que
´
e convergente relativamente `a norma ∥ ∥0.
Aplicaremos agora o Teorema de Bolzano-Weierstrass para estabelecer o resul- tado seguinte, mencionado no fim da Se¸c˜ao 1.
Proposic¸˜ao 7. Duas normas quaisquer em Rn s˜ao equivalentes.
Demonstrac¸˜ao. Seja ∥ ∥0 uma norma arbitr´aria em Rn. Provaremos que
esta ´e equivalente `a norma da soma ∥ ∥s. O resultado, ent˜ao, se seguir´a por transitividade.
Seja λ = max{∥e1∥0, . . . ,∥en∥0}. Assim, para todo x = (x1, . . . , xn) ∈ Rn,
tem-se,
∥x∥0 = ∥x1e1+· · · + xnen∥0 ≤ |x1| ∥e1∥0+· · · + |xn| ∥en∥0 ≤ λ∥x∥s. Resta-nos, pois, mostrar que existe µ > 0, tal que ∥x∥s ≤ µ∥x∥0∀x ∈ Rn.
Suponhamos, por absurdo, que um tal µ n˜ao exista. Ent˜ao, para todo k ∈ N, existe xk ∈ Rn satisfazendo ∥xk∥s> k∥xk∥0. Fazendo-se uk= xk/∥xk∥s, tem-se
∥uk∥s= 1 e ∥uk∥0=
∥xk∥0
∥xk∥s < 1
k·
Em particular, a sequˆencia (uk) ´e limitada relativamente `a norma da soma. Uma
vez que esta ´e equivalente `a norma euclidiana, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass (vide Observa¸c˜ao 8), existe uma subsequˆencia (uki) que converge (relativamente `a
norma da soma) para u∈ Rn. Neste caso, devemos ter(viii) ∥u∥s= 1 e, portanto, u̸= 0. Por outro lado, para todo i ∈ N,
∥u∥0 ≤ ∥u − uki∥0+∥uki∥0 < λ∥u − uki∥s+
1 ki· Logo, ∥u∥0 ≤ lim i→∞ ( λ∥u − uki∥s+ 1 ki ) = 0,
donde ∥u∥0= 0, o que contradiz o fato de u ser n˜ao-nulo.
Observac¸˜ao 9. Segue-se da Proposi¸c˜ao 7, da Observa¸c˜ao 3 e da Observa¸c˜ao 6 que, em Rn, os conceitos de sequˆencia limitada e sequˆencia convergente independem da norma adotada.
4.2. Sequˆencias de Cauchy. Introduziremos agora uma condi¸c˜ao sobre se-