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Topologia ⇔ ´ Algebra ( ∗)

No documento Topologia e Análise no Rn.pdf (páginas 77-81)

O Espa¸ co Topol´ ogico R n

7. Topologia ⇔ ´ Algebra ( ∗)

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A intui¸c˜ao geom´etrica nos diz que, em Rn, abertos relativos de curvas ou su-

perf´ıcies s˜ao invariantes por deforma¸c˜oes (Fig. 15). Sendo assim, enquanto espa¸cos topol´ogicos, duas curvas ou superf´ıcies de Rn que s˜ao obtidas uma da outra atrav´es

de uma deforma¸c˜ao s˜ao homeomorfas, como, por exemplo, uma reta e uma par´abola de R2 ou uma esfera e um elipsoide de R3 (vide Exerc´ıcio 30). Conforme men- cionamos `a introdu¸c˜ao deste cap´ıtulo, este fato remete `as origens da Topologia e justifica a sua designa¸c˜ao de geometria da folha de borracha.

7. Topologia ⇔ ´Algebra (∗)

A fim de ilustrar a riqueza e generalidade da Topologia, bem como da ´Algebra, faremos um interessante intercˆambio entre estas teorias apresentando uma demons- tra¸c˜ao topol´ogica de um teorema alg´ebrico e uma demonstra¸c˜ao alg´ebrica de um teorema topol´ogico.

7.1. Topologia e a Infinitude dos N´umeros Primos. Iniciemos, pois, exi-

bindo uma bela demonstra¸c˜ao da infinitude dos n´umeros primos usando argumentos topol´ogicos. Ela ´e devida ao matem´atico israelense Harry Furstenberg (1935– ), que a publicou em 1955 (vide [10]).

Designemos por P ⊂ N o conjunto dos n´umeros primos, isto ´e, aqueles que possuem dois, e somente dois, divisores em N.

Teorema 11. P ´e um conjunto infinito. Demonstrac¸˜ao. Dados a ∈ Z e r ∈ N, defina

B(a, r) ={x ∈ Z; x = a + kr, k ∈ Z} e note que, para quaisquer a∈ Z e r, s ∈ N, B(a, sr) ⊂ B(a, r).

Diremos, ent˜ao, que um conjunto A⊂ Z ´e aberto se, para todo a ∈ A, existe r ∈ N, tal que B(a, r) ⊂ A. Vejamos que, com esta defini¸c˜ao, o conjunto τ, formado pelos abertos de Z, definem neste uma topologia.

Com efeito, ´e imediato que Z e o conjunto vazio (por vacuidade) s˜ao abertos. Segue-se tamb´em diretamente da defini¸c˜ao que a uni˜ao arbitr´aria de conjuntos abertos ´e aberta. Agora, se A1, A2 s˜ao abertos n˜ao-disjuntos e a∈ A1∩ A2, ent˜ao

existem r1, r2 ∈ N, tais que B(a, r1)⊂ A1 e B(a, r2)⊂ A2. Logo, B(a, r1r2) A1∩ A2, implicando que A1∩ A2 ´e aberto. Por indu¸c˜ao, conclui-se facilmente que a interse¸c˜ao finita de abertos ´e aberta, donde τ ´e uma topologia em Z.

Destaquemos duas propriedades especiais desta topologia. Primeiro, cada con- junto aberto e n˜ao-vazio ´e infinito, pois cont´em algum conjunto B(a, r), que, por sua vez, ´e infinito. Segundo, para quaisquer a∈ Z e r ∈ N, B(a, r) ´e, eviden- temente, aberto. Por´em, ´e tamb´em fechado. Para vermos isto, basta notarmos que

Z − B(a, r) =

r−1 i=1

B(a + i, r).

Assim, o complementar de B(a, r) em Z ´e aberto (pois ´e dado por uma uni˜ao de abertos). Logo, B(a, r) ´e fechado.

Agora, exceto 1 e −1, cada inteiro a admite um divisor primo p, isto ´e, a∈ B(0, p) para algum primo p ∈ P. Desta forma, podemos escrever

Z − {−1, 1} =

p∈P

B(0, p),

donde se infere que P deve ser infinito. Caso contr´ario, o conjunto Z − {−1, 1} seria fechado (por ser uma uni˜ao finita de fechados) e {−1, 1} seria, ent˜ao, aberto. Isto, por´em, contradiria o fato de os abertos de τ serem todos infinitos. 

7.2. O Teorema do Fecho-Complemento de Kuratowski. Dado um es-

pa¸co topol´ogico (X, τ ), designemos por M o conjunto formado por todos os ope- radores (fun¸c˜oes) f : P (X)→ P (X), em que P (X) ´e o conjunto das partes de X, isto ´e, aquele formado por todos os subconjuntos de X.

O curioso resultado que apresentaremos a seguir, estabelecido em 1922 pelo matem´atico polonˆes Kazimierz Kuratowski (1896–1980) (vide [16]), envolve espe- cialmente dois desses operadores, o complemento e o fecho, dados respectivamente por

A7→ X − A e A 7→ A, A ∈ P (X).

Teorema do Fecho-Complemento (Kuratowski). Sejam (X, τ ) um es- pa¸co topol´ogico e A⊂ X um subconjunto arbitr´ario de X. Ent˜ao, aplicando-se a A sucess˜oes aleat´orias de fechos e complementos, ´e poss´ıvel obter no m´aximo 14 subconjuntos de X que sejam distintos entre si. Al´em disso, existem um espa¸co to- pol´ogico X e um subconjunto A deste, em que o limite m´aximo de 14 subconjuntos distintos ´e atingido.

Para uma devida demonstra¸c˜ao do Teorema do Fecho-Complemento e conse- quente clarifica¸c˜ao do misterioso n´umero 14 que aparece em seu enunciado, faz-se natural uma abordagem alg´ebrica. Isto se d´a a partir da observa¸c˜ao de que o par (M,◦), em que ◦ denota a composi¸c˜ao em M, comp˜oe um monoide(vi) cujo elemento neutro ´e o operador identidade de P (X), o qual denotaremos por e.

Mais especificamente, dados f, g∈ M, definindo-se o produto fg = f ◦ g ∈ M, tem-se, para quaisquer f, g, h∈ M,

(vi)Um monoide ´e uma estrutura alg´ebrica que consiste de um conjunto n˜ao-vazio e uma

opera¸c˜ao bin´aria associativa, neste definida, que possui um elemento neutro. Deve-se observar que a estrutura de monoide ´e mais fraca que a de grupo, pois prescinde da propriedade de existˆencia do elemento inverso.

7. TOPOLOGIA⇔ ´ALGEBRA 71 • (fg)h = f(gh) (associatividade);

• fe = ef = f (existˆencia de elemento neutro).

Neste contexto, adotam-se as nota¸c˜oes fk, para a composta f ◦ f ◦ · · · ◦ f

(k vezes), e f0= e.

Denotemos por a e b, respectivamente, os operadores complemento e fecho, isto ´e, dado A⊂ X, tem-se

a(A) = X− A e b(A) = A, e observemos que estes tˆem as seguintes propriedades:

i) a2= e; ii) b2= b; iii) i = aba;

em que i ´e o operador interior : A7→ int A, A ⊂ X.

As propriedades (i) e (ii) s˜ao evidentes. Quanto a (iii), basta observarmos que (vide Proposi¸c˜ao 12-(ii)) i(A) = X− X − A = a(X − A) = a(b(a(A)), donde i = aba.

´

E imediato que o conjunto K⊂ M, de todos os produtos cujos fatores s˜ao a ou b, ´e tamb´em um monoide (dito, de Kuratowski ), pois a2= e∈ K. A demonstra¸c˜ao do Teorema do Fecho-Complemento reduz-se, desta forma, a mostrar que K possui, precisamente, 14 elementos.

Com isto em mente, definimos uma rela¸c˜ao de ordem parcial em K da seguinte forma: Dadas f, g∈ K, dizemos que f ≤ g se, para todo A ⊂ X, f(A) ⊂ g(A). Tem-se, por exemplo, que i≤ e ≤ b, pois, para todo A ⊂ X,

i(A) = int A⊂ A = e(A) ⊂ A = b(A). Dados f, g∈ K, verificam-se, ent˜ao, as seguintes propriedades:

iv) f≤ g e g ≤ f ⇒ f = g ; v) f ≤ g ⇒ bf ≤ bg ;

vi) f≤ g ⇒ ag ≤ af .

Demonstrac¸˜ao do Teorema do Fecho-Complemento. Adotemos a no- ta¸c˜ao introduzida acima e observemos que, pelas propriedades (i) e (ii), todo ele- mento de K se exprime de uma das seguintes formas:

(13) e, a, b, (ab)k, (ba)k, (ab)ka, (ba)kb, em que k∈ N.

Suponhamos, ent˜ao, que valha a igualdade

(14) bab = (ba)3b.

Multiplicando-se ambos os seus membros(vii)por a `a esquerda ou `a direita, obt´em- se, em cada caso, as respectivas igualdades

(ab)2= (ab)4 e (ba)2= (ba)4.

(vii)Aqui, estamos usando a seguinte propriedade: f, g∈ M e f = g ⇒ hf = hg e fh = gh∀h ∈ M.

Da´ı, segue-se que existem 3, e somente 3, elementos distintos de K que se escrevem como (ab)k, quais sejam, ab, (ab)2 e (ab)3. Analogamente, existem apenas trˆes elementos distintos de K que se escrevem como (ba)k e o mesmo ocorre com os produtos da forma (ab)ka. Finalmente, devido `a igualdade (14), os produtos da

forma (ba)kb produzem apenas dois elementos distintos de K, bab e (ba)2b. Considerando-se, desta forma, a lista (13), vˆe-se que, uma vez verificada a igualdade (14), pode-se concluir que K tem 14 elementos. Especificamente,

K ={e, a, b, ab, (ab)2, (ab)3, ba, (ba)2, (ba)3, aba, (ab)2a, (ab)3a, bab, (ba)2b}. Provemos, ent˜ao, a validez de (14). Para tanto, observemos que, pela proprie- dade (iii), acima, tem-se

(ab)3= (aba)(bab) = i(bab),

donde (ab)3≤ bab, j´a que i ≤ e. Agora, partindo-se da desigualdade i ≤ b, obt´em- se, de (ii) e (v), ib≤ b2= b. Da´ı e de (vi), tem-se ba≤ iba. Desta desigualdade e de (v), obt´em-se, finalmente, bab≤ i(bab) = (ab)3. Portanto, pela propriedade (iv), vale a igualdade (ab)3 = bab, da qual se obt´em (14) por multiplica¸c˜ao `a esquerda por b.

Para concluirmos a demonstra¸c˜ao, tomemos como espa¸co topol´ogico (X, τ ) o conjunto dos n´umeros reais R munido de sua topologia usual e consideremos o conjunto

A = (0, 1)∪ (1, 2) ∪ {3} ∪ (Q ∩ [4, 5]) ⊂ R.

Aplicando-se a A cada um dos 14 operadores do monoide de Kuratowski K, obt´em-se 14 conjuntos distintos entre si, conforme ilustrado na Tabela 1.

OPERADOR f CONJUNTO f (A)

e (0, 1)∪ (1, 2) ∪ {3} ∪ (Q ∩ [4, 5]) a (−∞, 0] ∪ {1} ∪ [2, 3) ∪ (3, 4) ∪ ((R − Q) ∩ [4, 5]) ∪ (5, +∞) b [0, 1]∪ [1, 2] ∪ {3} ∪ [4, 5] ab (−∞, 0) ∪ (2, 3) ∪ (3, 4) ∪ (5, +∞) (ab)2 (0, 2)∪ (4, 5) (ab)3 (−∞, 0) ∪ (2, 4) ∪ (5, +∞) ba (−∞, 0] ∪ {1} ∪ [2, +∞) (ba)2 [0, 2] (ba)3 (−∞, 0] ∪ [2, +∞) aba (0, 1)∪ (1, 2) (ab)2a (−∞, 0) ∪ (2, +∞) (ab)3a (0, 2) bab (−∞, 0] ∪ [2, 4] ∪ [5, +∞) (ba)2b [0, 2]∪ [4, 5] Tabela 1 

8. EXERC´ICIOS 73

8. Exerc´ıcios

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