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será que todos os seres vivos evoluíram?

Por Gabriela Moreira dos Santos, 7º ano, Escola EB – 2,3 da Agrela

Existem várias espécies de animais, e até plantas, que não evoluíram e uma delas é o Limulus polyphemus, comummente conhecido como caranguejo-ferradura ou límulo. Este ser é um artrópode marinho, muito relacionado com os escorpiões que hoje podemos encontrar no Golfo do México. O límulo surgiu na era Mesozóica (mais ou menos há 400 milhões de anos (MA) - 300 MA) e manteve-se inalterado desde o primeiro registo fóssil, segundo estudos realizados. Por que será que esta espécie não evoluiu? Só há uma explicação - o límulo não teve motivos para evoluir!

O límulo não precisou de mudar de ambiente, nem de alterar o seu corpo, ou alterar as suas características para viver melhor. Ele sempre apresentou um excelente

“design”! Os cientistas dizem que este animal atingiu o seu máximo de evolução, estase. Veja-se, o límulo possui uma ampla carapaça que impedia e impede o ataque de vários predadores. O límulo suporta grandes variações de salinidade e de temperatura e pode sobreviver meses sem

alimento. Estes são sem dúvida aspectos que evidenciam as características adaptativas e excelentes deste ser vivo.

O límulo é assim um exemplo de um ser que não sofreu alterações ao longo dos tempos, contrariando a ideia de que todos os seres evoluíram. Ao límulo e a estes seres que permaneceram iguais ao longo dos tempos já ouvimos chamar “fósseis vivos” e até o grande senhor defensor da teoria da evolução das espécies falava neles: “Fósseis vivos...

formas anómalas. (que) têm vivido até os dias actuais, por terem habitado uma área limitada, e de, assim, ter sido exposto à concorrência menos grave…» (Darwin 1859).

Considerando os “fósseis vivos” como os organismos que sobreviveram por um considerável tempo sem sofrer mudanças morfológicas significativas, tendo chegando até nós tal como eram, há muitos cientistas que contestam essa expressão. Mas como podemos ou devemos nós chamar a estes seres que existem sob a forma fóssil e existem, hoje, tal e qual como eram, desde há milhões de anos? Não me parece que estejamos a cometer um grave erro ao designá--los de “fósseis vivos”! Darwin chamava-lhes “formas anómalas”. Hoje chamamos-lhes “fósseis vivos”. Ninguém se lembrou de os designar, por exemplo, de “seres evoluídos”?

Parece-me que esta expressão seria muito bem atribuída pois esses seres revelam um grau de evolução muito acentuado, daí a sua não necessidade de evoluir mais.

Por Rita Campos,

Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/InBIO), Universidade do Porto

Comecemos por rever sobre o que falamos quando falamos de evolução (biológica). Adap-tando a definição de Darwin, “descendência com modificação”, evolução é a alteração das características das populações ao longo das gerações. Os mecanismos que promovem essas alterações são a selecção natural, a selecção sexual e a deriva génica; a entrada de novos va-riantes na população deve-se essencialmente à mutação e à recombinação. Os mecanismos evolutivos actuam sobre a variação que existe na população, fazendo com que determinados variantes aumentem ou diminuam de frequência ou que sejam mesmo eliminados dessa po-pulação. Nesse caso, poderá uma população não evoluir? Sim, claro, desde que, ao longo das gerações (ou seja, ao longo de uma escala temporal), não se observe qualquer variação nas suas características! Então, para que isso aconteça, é preciso que não haja entrada de novos

variantes na população - não há mutação nem recombinação - ou, se houver, terão que ser ra-pidamente eliminados, nem que haja flutuações nas frequências dos variantes que já existem.

E, graças ao trabalho de alguns matemáticos, sabemos em que condições isso pode ocorrer;

por exemplo, se a população for muito (mas mesmo muito!) grande. Ou seja, em teoria sa-bemos em que condições as populações não evoluem mas a verdade é que essas condições dificilmente ocorrem na natureza.

A Gabriela refere um exemplo de uma espécie que não evoluiu, o límulo (Limulus polyphe-mus), chamando-a de “fóssil vivo”. Correctamente, atribui a designação a Darwin que, no entanto, não terá sido tão assertivo como parece, pelo breve excerto transcrito. O que Darwin efectivamente escreveu, no capítulo IV d’A origem das espécies (“Selecção natural ou a sobre-vivência do mais apto; Circunstâncias favoráveis à produção de novas formas por selecção natural”), foi: “… e em água doce encontramos algumas das formas mais anómalas agora conhecidas no mundo, como o Ornithorhynchus e Lepidosiren, que, tal como os fósseis, ligam, até certo ponto, ordens que actualmente se encontram muito separadas na escala natural.

Estas formas anómalas quase podem ser designadas fósseis vivos; elas terão resistido até ao presente pelo facto de terem habitado áreas confinadas e por terem estado expostas a uma competição menos variada, e por isso menos severa.” Darwin faz apenas uma referência breve a tal designação, que acabou por se popularizar e passou a ser usada para identificar organis-mos que pertenceram a um grupo muito diversificado no passado mas que no presente são o único representante desse grupo e que são praticamente idênticos a fósseis desses grupos, ou seja, passaram longos períodos evolutivos sem sofrer alterações, sem “evoluir”. No entanto, esta semelhança entre fósseis e “fósseis vivos” é apenas aparente.

Na verdade, ao contrário do que a Gabriela afirma, não é nada fácil encontrar na literatura científica exemplos de animais ou plantas que não evoluíram. Pelo contrário! O que se tem vindo a verificar é que organismos tidos como “fósseis vivos” não só são diferentes dos seus ancestrais fósseis como muitos são mesmo classificados noutra espécie ou género, tendo uma origem mais recente do que inicialmente se pensava. Um exemplo clássico do erro que é classificar organismos como “fósseis vivos” é o celacanto, um magnífico peixe que durante muito tempo foi apenas conhecido no registo fóssil; quando se encontraram os primeiros exemplares, verificou-se que eram quase iguais às formas fósseis, passando o celacanto a ser conhecido como um exemplo de “fóssil vivo”. Acontece que hoje sabemos que existem de facto diferenças entre os exemplares actuais e os do passado e que as populações actuais apresentam diferenças que nos permitem classificá-las como pertencentes a duas espécies diferentes: Lati-meria chalumnae e LatiLati-meria menadoensis. Quanto ao límulo, a história não é muito diferente.

Vários estudos demonstram que há diferenças morfológicas entre as populações actuais e os achados fósseis e que as populações actuais apresentam também diferenças, nomeadamente na sua morfologia e composição genética. Na verdade, as populações actuais apresentam ní-veis de diferenciação genética muito elevados. O que quer dizer que não só as populações actuais divergiram dos seus ancestrais como continuam a divergir umas das outras. São di-ferentes! Claro que para um olho mais destreinado parecem morfologicamente iguais. Mas talvez o mesmo olho destreinado não fosse capaz de distinguir um esqueleto de Homo erectus do de um Homo sapiens; ou o de um papa-formigas do de um porco-formigueiro. Por vezes,

a evolução ocorre através de mudanças pequenas num determinado plano corporal ou pela convergência de determinadas características quando as espécies, apesar de evolutivamente distantes, exploram nichos ecológicos muito idênticos.

Aos exemplos do límulo e do celacanto juntam-se muitos outros exemplos de organismos que foram erradamente designados de “fósseis vivos” mas que, tal como o límulo ou os ce-lacantos, apresentam diferenças entre as populações actuais e entre as actuais e as espécies encontradas no registo fóssil. Alguns desses organismos são, por exemplo, o ginkgo (Ginkgo biloba), crustáceos do género Triops ou a tuatara (Sphenodon punctatus).

Por fim, resta corrigir o argumento final da Gabriela: se a designação “fóssil vivo” induz em erro e deveria ser evitada (ou mesmo banida), chamar a estes organismos “seres evoluídos” é mesmo errado. Porque a evolução não se mede em graus, não há “mais” nem “menos” evo-luído ou evolução mais ou menos “acentuada”. Poderá haver populações ou espécies melhor adaptadas ao seu ambiente - e talvez o límulo e os seus ancestrais fósseis sejam um exemplo disso - mas nunca podemos medir a evolução como algo progressivo. Como vimos no início do texto, as populações evoluem porque há alterações nas suas características hereditárias e essas alterações não dependem da “necessidade” mas sim da existência de mutação e recom-binação e dos efeitos dos mecanismos evolutivos.

capÍTulo 19: relaÇões evoluTIvas enTre humanos e chImpanzés

porque é que os homens são tão parecidos com