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Serviços técnicos especializados

No documento KERUBINA MARIA DANTAS MOREIRA (páginas 58-61)

3.4 Casos de inexigibilidade

3.4.2 Serviços técnicos especializados

Essa é a hipótese de que cuida o inciso II, do Art. 25, que trata dos casos de inexigibilidade. Ao contrário do primeiro que trata apenas de compras, esse segundo inciso refere-se ao objeto da licitação e, consequentemente, do contrato, quando esse constitui-se em serviço somente.

Para a configuração da hipótese aqui tratada é preciso conjugar os dois requisitos: o que se refere ao objeto do contrato e o referente ao contratado.

O objeto do contrato será sempre um serviço, e esse terá que ter natureza técnica. Além do mais, o inciso em comento acrescenta que além da natureza, o serviço deve estar entre aqueles elencados pelo Art. 13, da Lei 8.666/93.

Esse artigo, por sua vez, arrola os serviços técnicos profissionais especializados, e são eles: estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos; pareceres, perícias e avaliações em geral; assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias; fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras e serviços; patrocínio ou defesa de causas judiciais e administrativas; treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; e restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

Esses serviços previstos envolvem, na sua realização, conhecimentos específicos e peculiares, ao contrário dos demais, exigindo do profissional maior especialização e aprofundamento na profissão para sua realização.

Contudo, além disso, para a sua caracterização como objeto dessa hipótese de inexigibilidade, é necessário que o serviço seja de natureza singular. Isto é, deve apresentar uma especialidade que inviabilize a competição entre os profissionais técnicos interessados.

Segundo o ensinamento de Justen Filho (2004, p.279):

[...], a fórmula “natureza singular” destina-se a evitar a generalização da contratação direta para todos os casos enquadráveis no art.13.

Cada espécie de atividade referida no art. 13 pode envolver situações-padrão e casos anômalos. Apenas esses últimos comportam contratação direta, como determinado no art. 25, inc. II.

Isso implica que o serviço, cuja execução vai ser realizada sem a necessidade de licitação, não pode ser singelo, corriqueiro, pois se assim fosse, não haveria necessidade de se afastar a licitação.

Logo, a singularidade do serviço de que fala o inciso diz respeito ao fator de distinção entre esse serviço e os demais prestados.

Dessa forma, o serviço para ser enquadrado em hipótese de inexigibilidade, precisa, além de está arrolado no Art. 13, consoante a dicção do inciso, ser singular, isto é, diferente dos demais, e a singularidade dele deve ser essencial para a satisfação do interesse a ser provido.

Ademais, considerando a peculiaridade da necessidade a ser satisfeita, a sua execução reclama a presença de um profissional com qualificação acima do padrão, pois se qualquer profissional comum poder efetuar o serviço, não seria caso de inexigibilidade.

É por isso que o mesmo inciso II, do Art. 25, da Lei de Licitações exige, ainda, para que se caracterize a inexigibilidade, que o cumprimento do contrato se dê por profissionais ou empresas de notória especialização.

Isso significa que o serviço deve ser executado por profissional com habilitação técnica e especialização no objeto pretendido pela Administração. A especialização consiste em possuir o contratado atributos que lhe confiram maior habilitação que a, normalmente, existente entre os profissionais do mesmo ramo, e essa deve ser evidente, manifestada na existência de fatos que ultrapassem a vontade do administrador.

Aliás, ordena o inciso em tela que essa especialização seja notória, isto é, que o sujeito tenha sua qualificação reconhecida pela comunidade dos profissionais do setor a que ele pertença.

Além disso, a interpretação desse inciso deve ser feita em consonância com o disposto no § 1º, do Art. 25, pois ele conceitua o que se entende por notória especialização e estabelece parâmetros para serem usados na aferição da notoriedade, com o fito de reduzir a margem de discricionariedade e subjetivismo. Quais sejam estes: desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica e outros (FERNANDES, 2004).

E, além do mais, conforme salienta Fernandes (2004, p.613): “Por oportuno, insta ressaltar que a notória especialização do futuro contratado deve estar associada ao objeto pretendido pela Administração e ser suficiente para atender à singularidade imposta pelo interesse público”.

Todavia, é importante ressaltar que a notória especialização não é causa de configuração da inexigibilidade de licitação. É, na verdade, requisito que deve possuir o profissional a ser contratado.

Pois, como diz Fernandes (2004, p. 588): “A singularidade, como textualmente estabelece a lei, é do objeto do contrato; é o serviço pretendido pela Administração que é singular, e não o executor do serviço”.

Assim, apesar da execução do contrato demandar pessoa que apresente qualificação incomum no seu desempenho, a singularidade a que se refere a lei diz respeito ao serviço do contrato.

Dessa forma, portanto, a contratação será direta nesse caso, dada a impossibilidade de critérios objetivos de julgamento para a seleção do eventual contratado, e pelo fato de que profissionais de alto nível não se prestarão à disputa, em certame licitatório, para a realização de determinado serviço para o Poder Público.

Contudo, o administrador tem como dever escolher para contratar particular que considere ter o trabalho, essencial e indiscutivelmente, mais adequado à satisfação do interesse público. O que importa na discricionariedade dele, para escolher entre os que se

encontrem em situação equivalente, o que não significa que possam ser feitas escolhas arbitrárias.

Observação relevante diz respeito à possibilidade de serviços técnicos não elencados no Art. 13, da Lei 8.666/93 poderem ser objetos de contratação direta.

A referência ao Art. 13 não implica em impossibilidade de serem enquadrados como hipóteses de inexigibilidade de licitação outros serviços técnicos que não os ali enumerados, aplicando-se a esses casos a regra do caput do Art. 25, da Lei de Licitações. O que não se admite é que a contração direta, nesses outros casos, seja fundamentada no inciso II, do mesmo artigo.

Por fim, a lei veda a inexigibilidade de licitação para os casos de serviço de publicidade e divulgação, como medida moralizadora imposta contra a prática contumaz de, por meio da inexigibilidade, contratar diretamente com aquele profissional que fez a publicidade do administrador da campanha eleitoral.

Logo, para caracterizar a hipóteses descrita no inciso II, precisam estar configurados os dois requisitos, isto é, o serviço técnico especializado constante do rol do Art. 13, que apresente singularidade; e que o profissional que vá executá-lo, além da habilitação profissional e especialização, destaque-se na área do serviço visado pelo Poder Público por sua notória especialização, estando esta relacionada com a singularidade pretendida pela Administração, e desde que o serviço não seja de publicidade ou divulgação.

No documento KERUBINA MARIA DANTAS MOREIRA (páginas 58-61)

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