• Nenhum resultado encontrado

A outra palavra escolhida pelos jovens foi a responsabilidade, e a sua reflexão começou com a atividade “Escolhe o teu canto”. Esta atividade gerou um debate interessante, em que os jovens referiam diferentes aspetos, sustentando com exemplos. Vejamos, quando digo “Tenho maior liberdade quando as pessoas se apercebem que sou mais responsável”, os jovens concordaram e deram-me logo o exemplo de uma jovem cuja quem a equipa técnica deixa fazer mais coisas, dando-lhe mais liberdade e podendo sair mais facilmente. Isto acontece, porque entendem que esta é responsável e sabe-se comportar. Os jovens associaram a liberdade ao puder sair mais facilmente da APC, mas também a terem mais “margem de manobra”. Quando mencionei a afirmação “Deixar um filho de dois anos sozinho em casa é um exemplo de responsabilidade” todos discordaram, justificando «que não somos responsáveis quando deixamos sozinhas

pessoas que temos ao nosso cuidado e que precisam de nós» (NT 57), principalmente um bebé

que precisa de supervisão e depende dos adultos dado que não possuiu capacidades mentais, psicológicas e físicas para sobreviver sozinho numa casa. Chamaram também à atenção para o risco de existir algum acidente.

Relativamente ao próprio conceito de responsabilidade entendem que este se baseia «no cumprimento dos deveres, das tarefas e das obrigações que nós temos enquanto

cidadãos, filhos, estudantes, trabalhadores e amigos» (NT 57), das promessas que fazemos,

bem como o dever de lutarmos pelos nossos direitos, demonstrando responsabilidade social. Os jovens perspetivam igualmente a responsabilidade

«como uma obrigação, um dever, um cuidado em relação aos próprios actos ou em relação a actos praticados por terceiros, pelos quais se pode ser chamado a responder, a prestar contas» (Delgado, 2006: 27).

Esclareceram que somos responsáveis quando: respeitamos as promessas e temos em consideração as pessoas; respeitamos e cumprimos os nossos compromissos; não chegamos atrasados ao trabalho, pagamos as contas a tempo; somos cuidadosos com as nossas coisas e as dos outros; sabemos estar e comportar; somos capazes de fazer mais coisas e fazemos as coisas bem-feitas. Por outras palavras pode-se dizer que uma pessoa responsável é aquela «que tem aptidão para agir, aquele que já dispõe de competências que lhe permitem gerir a sua pessoa e os seus bens, de modo autónomo e livre,

sem depender da intervenção ou autorização de terceiros» (Delgado, 2006: 36). Os jovens

entendem que a responsabilidade implica autonomia, referindo «que uma pessoa é responsável porque tem mais autonomia, adquirindo consequentemente um maior poder sobre si

93

quando vai sozinha para a escola, dizendo que isso acontece porque a criança já tem mais autonomia e os pais sabem que o filho é responsável para ir sozinho.

Para os jovens ser responsável passar também por: saber cuidar de nós, saber o que é o bom e o mau, saber o que é socialmente aceite e o que não é, ter bom senso e não fazer tudo o que nos apetece, pois a responsabilidade implica agir conforme o que é correto, e não praticar comportamentos inaceitáveis que poderão causar problemas. Deste modo, quem é responsável não parte um vidro por vingança, porque sabe que não é correto e traz problemas desnecessários. Do mesmo modo afirmam, «não vou matar uma pessoa só porque me apetece (…) não só pelo próprio ato, mas também pelo risco de deixar a sua família sozinha. Conclui-se que tudo que leve a consequências negativas, de uma forma

geral, não traduz responsabilidade» (NT 68). Por sua vez, a responsabilidade implica

igualmente valores, princípios e raciocínio, tendo em atenção os limites de ação e cujo sujeito pondera «as prováveis consequências da sua acção e disponibiliza-se para responder pelos seus actos, pelos erros ou prejuízos que eventualmente provoque em outrem» (Delgado,

2006: 28).

Em relação ao tópico anteriormente referido “somos cuidadosos com as nossas coisas e as dos outros” há jovens que defendem que quando perdemos alguma coisa não fomos responsáveis, porque tínhamos que ter cuidado, e outros jovens que dizem que isso pode ter sido apenas um acidente e não irresponsabilidade. Isto porque, «podemos guardar as coisas, mas acontecer perdê-las, porque a carteira estava rota e não tínhamos reparado ou caiu do bolso sem nos apercebermos. Aí, o Cz responde-lhe e diz que as pessoas

têm que ter atenção a essas coisas» (NT 62). Portanto, prestarmos atenção e sermos

cuidadosos simboliza responsabilidade.

Tendo em consideração a definição de responsabilidade anteriormente mencionada, «os jovens referiram que é importante sermos responsáveis, pois ao respeitar as nossas obrigações e compromissos evitamos consequências que poderão ser menos positivas»

(NT 57) e porque também possibilitará maior liberdade. Os jovens entendem também

«que quanto mais responsabilidade uma pessoa tem, mais poder, autonomia e liberdade essa

pessoa ganha, conquistando igualmente uma maior confiança nos outros» (NT 57). Explicaram

que quando uma pessoa é responsável mais facilmente confiamos nela, porque acreditamos nas suas capacidades, sabemos que ela vai cumprir com o que prometeu e fazer o que é preciso e o correto, não prejudicando ninguém de forma grave caso se chateie com alguém, porque tem a consciência que não é a atitude correta. Neste seguimento, uma jovem dá o exemplo de que se um amigo confia nela para «olhar pela

94 sua casa enquanto está de férias, é porque sabe que ela não iria desrespeitar o que lhe prometeu,

e não ia, por exemplo, fazer festas em sua casa» (NT 62). A pessoa ao confiar na outra «está

a dar-lhe poder para fazer as coisas por si e a pensar sobre elas» (NT 68).

Posteriormente, realizou-se a atividade “Palavras Cruzadas”, em que os jovens identificaram mais uma palavra que não estava prevista - leal. Considerei que poderiam recorrer a esta palavra, porque se enquadra

«perfeitamente na sessão de hoje, pois quando os jovens dizem que a responsabilidade passa por respeitar e cumprir os deveres, as tarefas, as obrigações e os compromissos, podemos também dizer que temos de ser leais às promessas e aos compromissos que fazemos» (NT 57).

Numa fase seguinte desenvolveram frases com as palavras encontradas na tarefa anterior. Escreveram por exemplo: “Para ser responsável tenho de saber cumprir os compromissos, os deveres e as obrigações”; “Eu para ser responsável preciso sensatez e respeitar os compromissos. Ao ser mais responsável tenho mais poder e autonomia”; “Eu tenho de ter autonomia para tomar conta de uma casa e tenho que ser responsável para pagar as contas. Para ter a minha liberdade devo cumprir com as minhas próprias obrigações e os meus próprios deveres”; “Eu tenho de ser responsável para ter a minha liberdade, tenho que cumprir os meus deveres e compromissos”; “Para ser responsável temos que ter autonomia para podermos ter e respeitar o compromisso para a sociedade”; “Devo ser responsável, demonstrando a minha autonomia e cumprindo os meus deveres. Devo sempre cumprir os meus compromissos com a sociedade”.

As ideias centrais mencionadas pelos jovens nestas frases referem que a responsabilidade passa pelo ato de respeitar e cumprir os compromissos, os deveres e as obrigações, o que por sua vez possibilitará ao indivíduo ter mais liberdade, autonomia e poder. No entanto, este tem de ter sensatez e ser leal com os outros e com os compromissos que estabelece, e assim as pessoas o verão como um indivíduo de confiança. Argumentam também que a sociedade depende da responsabilidade de todos.