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CAPÍTULO II: Revisão de conceitos e teorias

2.2. Setor não lucrativo vs setor lucrativo

2.2. SETOR NÃO LUCRATIVO VS. SETOR LUCRATIVO

Portugal é um dos países da Europa que está a envelhecer mais depressa. As pessoas sofrem claras mudanças ao longo da vida, as alterações sociais, as transformações na estrutura da família e a modernização dos costumes e culturas, de certa maneira provocam alterações na convivência e no comportamento de cada um. A questão do envelhecimento tornou-se um tema crucial, gradualmente, têm surgido medidas públicas e de saúde para garantir segurança e direitos para os idosos na tentativa de obter melhor qualidade de vida e uma velhice com dignidade (Brizzi & Romera, 2015; Machado, Bianchi, Menegócio & Zago, 2014).

Assim, os sistemas de apoio de saúde e sociais, devem incentivar normas de cuidados que possam diminuir os impactos sociais, físicos e psicológicos vividos pelos idosos. Neste enquadramento de realização de cuidados, as práticas integrativas e complementares vêm ganhando grande destaque, não se limitando apenas em retardar o aparecimento de doenças, mas proporcionar uma maior valorização de um envelhecimento ativo e independente. (Saraiva, Macêdo, Silva, Silva, Dias, & Filha, 2015; Carvalho, Engstrom, & Alves, 2014).

As famílias estão cada vez menos dispostas a cuidar pelos mais diversos motivos, o que leva que a prestação de cuidados e a satisfação das necessidades os idosos esteja a cargo das instituições (Binelo, Mattjie, & Ilha, 2015; Faria, Oliveira, & Simões, 2012).

Segundo o relatório da Carta Social de 2014 as entidades de apoio a idosos são agrupadas em entidades lucrativas e entidades não lucrativas. Das entidades não lucrativas fazem parte as IPSS, outras entidades sem fins lucrativos (entidades equiparadas a IPSS e outras organizações particulares sem fins lucrativos), as Entidades Oficiais, que prosseguem fins de ação social, os Serviços Sociais de Empresas e a SCML. As entidades lucrativas englobam as instituições privadas com fim lucrativo. Estas últimas ainda são uma minoria em Portugal com apenas 30% das respostas sociais, ao contrario do setor não lucrativo que atinge os 70% (GEP & MSESS, 2014).

Tanto as organizações lucrativas como as não lucrativas têm vindo a aumentar cada vez mais, tal como podemos verificar na Figura 2.

16 Quando os idosos entram numa resposta social, já não trabalham à algum tempo e na maioria dos casos estão numa situação de fragilidade e dependência. O grande problema desta faixa etária está relacionado com a falta de recursos, o que pode influenciar a escolha entre um lar privado ou uma instituição sem fins lucrativos. Segundo dados do INE, em 2012, cerca 78% dos pensionistas da Segurança Social receberam menos do que o salário mínimo, em 2014 a percentagem subiu para 85%. Em 2011, os idosos que recebiam pensões até 200€ baixaram para os 34.259 comparativamente com o ano de 2001 que eram 35.749. Em contrapartida, os que recebiam entre 300€ e 500€ aumentou para os 40.303 (em 2001 eram 28.429) (INE, 2013; INE 2014).

Para fazer face aos baixos rendimentos e às situações de pobreza, foram adotadas algumas medidas de melhoria como o aumento do rendimento dos idosos (CSI- Complemento Solidário para Idosos, isenção de taxas moderadoras, investimento em serviços sociais, de saúde e outros cuidados) (Carvalho, Paoletti & Rego, 2014).

As instituições sem fins lucrativos têm um papel muito importante no combate à pobreza e à desigualdade social, isto porque “atendem principalmente às necessidades sociais produzindo bens e serviços públicos que não geram lucro, mas respondem a necessidades coletivas, lutando pela inclusão social” (Mañas, & de Medeiros, 2012, p. 18). Estas podem produzir alguns recursos autonomamente como por exemplo a venda de produtos e serviços, mas a sua grande fonte de receitas (Figura 3) que são as doações, contribuições e serviços, provenientes de várias origens como o governo (primeiro setor), clientes, empresas entre outras

Figura 2: Evolução das entidades lucrativas e não lucrativas

17 organizações, podem não ser suficientes para manter o bom funcionamento e sustentabilidade das organizações (Franco, 2015).

Torna-se então importante a criar planos eficazes para obtenção de recursos, que sejam capazes de fazer face às necessidades de cada organização, bem como proporcionar os resultados esperados (Mañas, & de Medeiros, 2012; Marques, Rody, Campos & Reina, 2015). Segundo Camargo (2001, citado por Silva, Vasconcelos & Normanha, 2015), uma das estratégias para a angariação de recursos passa pelo marketing social promovendo a instituição através dos meios de comunicação (eventos informativos, noticias, etc.). Já para Franco (2015), um bom planeamento estratégico está relacionado com a partilha de instalações, captação de investimento Europeu, rigor na gestão financeira, e na captação de novos sócios (Silva, Vasconcelos & Normanha, 2015; Felício, Gonçalves & Gonçalves, 2013; Franco, 2015).

Para Silva, Costa & Gómez (2011), a sustentabilidade de uma Organização Sem Fim Lucrativo (OSFL) é adquirida através da “qualificação do trabalho na organização, o aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão e a promoção de uma cultura estratégica no processo de monitoramento e avaliação das atividades”. Já para Alves Junior (2008, citado pelo mesmo autor), para uma organização ser sustentável, precisa de ser economicamente lucrativa, ambientalmente correta e socialmente responsável no contexto em que atua. Sustentabilidade essa que pode ser alcançada através de quatro pilares básicos:

¾ Tomar decisões sobre investimentos para a preservação ambiental; ¾ Envolver-se com o desenvolvimento da comunidade onde atua;

¾ Realizar o planeamento estratégico de suas atividades, papel esse de seus gestores; ¾ Ampliar e diversificar as fontes de recursos na implantação de suas estratégias

(Silva, Costa & Gómez, 2011, p. 80).

As OSFL estão inseridas no setor não lucrativo. Este pode ser caraterizado de diferentes modos, nomeadamente: Terceiro Setor, Setor Voluntário, Setor não lucrativo, Economia Social

Figura 3: Fontes de receitas das Organizações sem fins Lucrativos em Portugal

18 e Economia Solidária. Embora os seus conceitos e organizações tenham o mesmo propósito, é importante frisar que são termos distintos. As principais diferenças estão relacionadas com os respetivos contextos sociais e políticos em que surgiram, mas também segundo o papel e funções que desempenham na sociedade em relação ao estado (primeiro setor) e mercado (segundo setor) (Burcea, 2014).

A expressão Terceiro Setor, foi utilizada pela primeira vez na década de 70 por investigadores americanos, referindo-se, a organizações do estado para satisfazer as necessidades públicas. Em Portugal, teve origem na década de 80 devido à necessidade de intervir junto da população com problemas sociais cujo o estado não conseguia suportar. Esta expressão tem vindo a sofrer algumas modificações ao longo dos anos e surge como uma alternativa para as desvantagens (elevados custos) do mercado (setor privado ou segundo setor) e do governo (setor público ou primeiro setor) (Felício, Gonçalves & Gonçalves, 2013).

De acordo com Modesto (1998, citado por Marques, Rody, Campos, & Reina, 2015): O terceiro setor pode ser definido como o conjunto de pessoas jurídicas privadas de fins públicos e sem finalidade lucrativa, constituídas voluntariamente, auxiliares do Estado na execução de atividades de conteúdo social” (Marques, Rody, Campos, & Reina, 2015, p. 73). Merege e Barbosa (1998, citados por pelo mesmo autor) acrescentam que estas entidades “têm por objetivo a realização de atividades sociais, pondo em prática aquelas ainda não atendidas ou deixadas sob a responsabilidade do primeiro setor (Marques, Rody, Campos, & Reina, 2015, p. 74).

A Economia Social é um termo que tem vindo a desenvolver-se e a crescer desde o séc. XIX. O seu objetivo é o combate à pobreza e abordar questões de necessidades sociais através da economia e oferecer soluções para a exclusão social (Marques, 2014).

Segundo Jacques Defourny (citado pelo OBSEP, 2011)

A Economia Social designa um conjunto de atividades económicas exercidas por empresas, principalmente as cooperativas, mutualidades e associações (produção de bens e serviços mercantis e não mercantis) com base nos valores de autonomia, solidariedade e cidadania. (OBSEP, 2011, p. 8).

De acordo com o manual para a elaboração das contas satélite das empresas da economia social (cooperativas e mutualidades): Comissão Europeia (citado pelo mesmo autor) refere que: A economia social é o conjunto de empresas privadas organizadas formalmente, com autonomia de decisão e liberdade de filiação, criadas para servir as necessidades dos seus associados através do mercado, fornecendo bens e serviços, incluindo seguros e financiamento, e em que a distribuição pelos sócios de eventuais lucros ou excedentes realizados, assim como a tomada de decisões, não estão diretamente ligadas ao capital ou às quotizações dos seus associados, correspondendo um voto a cada um deles. A economia social também inclui empresas privadas organizadas formalmente, com autonomia de decisão e liberdade de filiação, que prestam serviços de “não mercado” a agregados familiares e cujos eventuais excedentes

19 realizados não podem ser apropriados pelos agentes económicos que as criam, controlam ou financiam (OBSEP, 2011, p. 8).

O termo Terceiro Setor, definido anteriormente está ligado a um contexto norte- americano. Já a Economia Social, integra-se num contexto europeu. Em função de cada país, existe uma definição própria para cada elemento, que nem sempre coincide com a que outros países defendem (Marques, 2014).

Tanto o Terceiro Setor, como a Economia Social, abrangem um conjunto de valores e de práticas em comum, nomeadamente valores ao próximo, solidariedade, produção de bens e prestação de serviços, o combate ao individualismo, defesa dos direitos humanos, da justiça social, práticas baseadas na confiança, na proximidade, na ajuda mútua, na cidadania e caridade. Em qualquer um deles, a economia é utilizada como um meio auxiliar e não como um fim (missão). Daí alguns autores mencionem que são sinónimos. Por outro lado, Marques, 2014, refere que há diferenças significativas, nomeadamente no que diz respeito à distribuição de benefícios por sócios em algumas cooperativas e mutualidades da Economia Social (Marques, 2014).

Na perspetiva política, estas organizações surgem como uma estratégia prioritária, visto que podem contribuir para ampliar, qualificar e reproduzir boas práticas para o desenvolvimento sustentável do país. Assim sendo, estas mostram-se essenciais nas reduções das desigualdades sociais, na medida em que se associam com os restantes setores económicos na procura de um desenvolvimento local, nas áreas de atuação (Silva, Costa & Gómez, 2011).

Segundo INE, 2013, e de acordo com o Artigo 4º do Decreto nº 130/XII da Lei de Bases da Economia Social, aprovado pela Assembleia da República, em 15 de março de 2013, integram o Terceiro Setor as seguintes organizações:

¾ Cooperativas;

¾ Associações Mutualistas; ¾ Misericórdias;

¾ Fundações;

¾ Instituições Particulares de Solidariedade Social não abrangidas pelas alíneas anteriores;

¾ As associações com fins altruísticos que atuem no âmbito cultural, recreativo, do desporto e do desenvolvimento local;

20 ¾ As entidades abrangidas pelos subsetores comunitário e autogestionário, integrados

nos termos da Constituição no setor cooperativo e social;

¾ Outras entidades dotadas de personalidade jurídica, que respeitem os princípios orientadores da Economia Social.

Em Portugal em 2012, eram mais de 48 000 organizações como podemos verificar na Figura 4:

Para uma melhor compreensão ao longo do trabalho académico, as organizações acima referidas foram agrupadas em cinco categorias:

¾ Cooperativas:

Segundo o Código Cooperativo Lei no 51/96, de 7 de setembro, artigo 2o: as

Cooperativas são pessoas coletivas autónomas, de livre constituição, de capital e composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles (Instituto Nacional de Estatística, 2013, p. 22).

¾ Mutualidades:

Segundo o Código das Associações Mutualistas- Decreto-Lei no 72/90, de 3 de março: as associações mutualistas ou mutualidades são instituições particulares de solidariedade social com um número ilimitado de associados, capital indeterminado e duração indefinida que, essencialmente através da quotização dos seus associados praticam, no interesse destes e de suas famílias, fins de auxílio recíproco ... podem prosseguir, cumulativamente, outros fins de proteção social e de promoção da qualidade de vida, através da organização e gestão de equipamentos e serviços de apoio social, de outras obras sociais e de atividades que visem especialmente o desenvolvimento moral, intelectual, cultural e físico dos associados e suas famílias (Instituto Nacional de Estatística, 2013, p. 25).

Figura 4: Número de Organizações Sociais em Portugal e países Europeus comparáveis

21 ¾ Misericórdias:

Segundo o Artigo 68º do Decreto-Lei n.o 119/83, de 25 de fevereiro, que constitui o Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS): as Irmandades da Misericórdia ou Santas Casas da Misericórdia são associações constituídas na ordem jurídica canónica com o objetivo de satisfazer carências sociais e de praticar atos de culto católico, de harmonia com o seu espírito tradicional, informado pelos princípios de doutrina e moral cristãs. Neste âmbito legal, a esta família da Economia Social pertencem todas as Santas Casas da Misericórdia, as Irmandades das Santas Casas das Misericórdias e Misericórdias existentes em Portugal. Excetua-se a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que, detendo um Estatuto especial e pertencendo ao Setor Institucional das Administrações Públicas, não foi incluída no universo da Economia Social. (Instituto Nacional de Estatística, 2013, p. 29).

¾ Fundações:

Segundo a Lei-Quadro das Fundações publicada em anexo à Lei no 24/2012 de 9 de Julho: uma Fundação é uma pessoa coletiva, sem fim lucrativo, dotada de um património suficiente e irrevogavelmente afeto à prossecução de um fim de interesse social, sendo considerados fins de interesse social aqueles que se traduzem no benefício de uma ou mais categorias de pessoas distintas do fundador, seus parentes e afins, ou de pessoas ou entidades a ele ligadas por relações de amizade ou de negócios (Instituto Nacional de Estatística, 2013, p. 32).

¾ Associações e outras Organizações:

Foram consideradas nesta categoria da todas as organizações não contempladas nos grupos anteriores (ex.: associações juvenis, estudantis, de defesa do consumidor, do ambiente, Casas do Povo, Bombeiros Voluntários, etc.) (Instituto Nacional de Estatística, 2013, p.35).

O terceiro setor é sem dúvida uma área em crescimento, que atua com distintas populações alvo, mas como podemos verificar na Figura 5, são os idosos que mais usufruem destes serviços (54,7%).

Figura 5: Distribuição percentual das respostas sociais por população-alvo, em 2014

22 É principalmente no lucro que as OSFL diferem das lucrativas. Ambas têm como objetivo da sua obtenção, mas as primeiras usam os valores monetários como um meio para ultrapassar problemas sociais, ajudar os mais carenciados e na manutenção das instituições.

A finalidade das organizações privadas é atingir o lucro como um fim (Martins & Guimarães, 2014). Drucker (1999, citado por Marques, Rody, Campos, & Reina, 2015) acrescenta que as organizações do Terceiro Setor não visam a distribuição de lucros para os proprietários ou investidores o que é frequente nas organizações com fins lucrativos (Marques, Rody, Campos, & Reina, 2015; Martins & Guimarães, 2014; Wellens & Jegers, 2014).

Van, Caers, Bois & Jegers (2015) referem que as OSFL como não podem distribuir os lucros, são menos propensas em se comportar de forma oportunista e assim garantir uma maior qualidade do serviço (Van, Caers, Bois & Jegers, 2015).

Tenório (1997, citado por Silva, Costa & Gómez, 2011) refere que tanto as organizações não lucrativas como as lucrativas evidenciam alguns problemas responsáveis pela gestão organizacional: a centralização de informações, sistema de informações inadequados, escassez de recursos humanos, falta de feedback e a inexistência de um planeamento estratégico adequado. (Silva, Costa & Gómez, 2011).

Ainda o mesmo autor refere que a principal dificuldade das OSFL tem a ver com dependência de financiamento externo, pondo em causa a sua própria autonomia e a insuficiência de trabalhadores em certas áreas de atuação. As organizações privadas embora sejam conhecidas como entidades que fornecem serviços com maior eficiência na gestão dos recursos, essa eficiência e muitas vezes conseguida a custa dos trabalhadores que recebem salários baixos (Brekke, Siciliani, & Straume, 2012; Silva, Costa & Gómez, 2011).

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