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Parte II – Estudo Empírico

4. Interpretação dos dados

4.4. Significado de contextualização

Na leitura das entrevistas transcritas percebe-se que os futuros professores desconhecem o conceito de contextualização, não mobilizando referências teóricas que sustentem a argumentação relativa à contextualização do saber que ensinam. Alguns deles disseram que as aulas são monótonas e, por isso, procuraram levar novas estratégias para o contexto sala de aula em que estiveram a estagiar para melhora-las. Apesar de não apresentarem uma resposta em termo conceitual objetiva, todos os professores parecem entender a essência da contextualização, embora não consigam aplica-la na sua plenitude. Eles apresentam através de definições simples o esclarecimento desse conceito. Baseado nas suas conceções referiram, que fazem alterações ao programa, que o ajustam aos alunos, que mobilizam conhecimentos científicos e que têm em consideração a origem sociocultural/económica e as caraterísticas dos alunos quando preparam as aulas, como se pode constatar nos seguintes testemunhos:

“[…] Mas sim, faço alterações, faço… Não é alterações, faço adequações que é diferente, porque… […] Eu sinto mesmo essa necessidade, nem consigo fazer doutra maneira faz-me confusão. […] Sim, deviam ser chamados de orientações curriculares, em vez de programas. No fundo aquilo são orientações do nosso trabalho, não é?! Os professores têm muita tendência de só verem o programa à frente de só querem cumprir o programa, às vezes estão fechados um bocadinho à realidade e não abrem.” (E1)

“Eu acho que o que acontece hoje em dia… Quer dizer, o que acontece hoje em dia é que os professores fazem o que diz no manual e ponto final, não é?! Mas esquecendo essa parte. O que acontece é que muitas vezes nós olhamos para o programa e seguimos o programa à risca e acho que não é isso que é suposto. Aquilo é um documento orientador da nossa prática e temos de ver se conseguimos gerir o que é que o programa pede com aquilo que conseguimos com os nossos miúdos. […]” (E6)

“[…] Por exemplo, neste caso agora do 1º ano, nós tivemos que… O professor queria que trabalhássemos as plantas com eles, com os alunos, e então eu e a

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minha colega fomos olhar para o programa, vimos o que era esperado, mas como nós tínhamos uma horta na escola e que não estava a ser utilizada nós queríamos fazer… Sentimos necessidade de mobilizar conhecimentos, por exemplo, do 2º ano e do 3º ano para eles fazerem a horta e, portanto, poderem criar dentro da sala… Fazerem germinação para depois partirmos lá para fora e fizemos um trabalho… Estivemos três meses à volta das plantas. […]” (E1)

“[deve-se adaptar] As matérias aos alunos, por tudo o que já dissemos até agora. Devemos contextualizar o que estamos a fazer e não podemos… Lá está não são receitas, são orientações que devem ser adaptadas ao público com quem estamos a trabalhar.” (E2)

“Sim. [o programa curricular está bem estruturado] Quer dizer, é discutível, não é?! Eu acho que pode estar mal estruturado, mas o professor pode pegar naquilo e transformar à medida. […] Portanto, o professor deve adaptar o que vem no guia e criar as suas próprias receitas e que devem ser diferentes para cada grupo com quem está e isso é uma coisa muito importante a ter em conta.” (E2)

“Como estava a dizer há pouco, nós seguimos sim os programas. […] Como nós trabalhamos cada conteúdo isso já é com o professor. Acabe depois a ele adequar às turmas.” (E5)

“Sem dúvida, porque é muito diferente ensinar crianças de um meio social desfavorecido do que ao contrário. Eu se calhar tive mais a experiência de um meio social muito favorecido, que eu o ano passado estive a estagiar em TT e havia coisas que os meninos sabiam mais do que eu. Portanto, eu também tinha que estar preparada para tal e o mesmo acontece com o meio mais desfavorecido, que são crianças menos estimuladas, com pouco apoio em casa, com, pronto, as competências menos desenvolvidas, têm uma cultura geral muito mais pobre e eu não posso ir falar de coisas que para eles não fazem sentido, não é?! Acho que temos sempre de saber qual é o meio deles, estudar o meio deles e perceber qual é a forma que podemos chegar até eles. Porque as aprendizagens têm de ser significativas para os alunos, porque não faz sentido chegarmos lá e falar de uma horta se eles nunca viram uma horta na vida e

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compram os produtos no supermercado, não é?! Por exemplo. É falar sobre o abstrato que para eles ainda não faz muito sentido.” (E6)

“Sempre. [tenho em conta a especificidade da turma] Cada vez mais. Eu acho que cada vez mais vamos tendo a prova de que este exercício ou esta atividade ou este método serviu naquela turma, mas nesta não serve. Ou mesmo dentro da própria turma se calhar serviu naquele momento, mas neste não está a dar ou etc. Há sempre essa variantes que nós temos que ter em conta.” (E6)

Alguns dos entrevistados tomam a contextualização como metodologia de ensino, em que o ensino contextualizado é aquele em que o professor deve relacionar o conteúdo a ser trabalhado com algo da realidade quotidiana do aluno. Isso resulta num grande problema, pois quando utilizam qualquer outro tipo de contexto, eles não as entendem como formas de contextualizar, e assim o conceito erróneo de contextualização vai se propagando no meio educacional. Pelo que se observa dos discursos dos futuros professores, pode-se afirmar que a forma como os professores concebem e praticam a contextualização promove de alguma forma a contextualização do saber que ensinam, e por conseguinte uma aprendizagem significativa. Embora seja ainda de forma muito rudimentar

Durante a investigação percebeu-se, no discurso dos futuros professores sobre suas ações pedagógicas, que eles procuram que estas sejam contextualizadas, embora não revelassem ter conhecimento teórico que lhes possibilitassem dar sustentação às suas respostas, ou seja, o fato dos professores não conhecerem o conjunto de elementos fundamentais à construção de conceitos de forma contextualizada, interfere na proposição de uma ação pedagógica que valorize as situações problematizadas como principal ferramenta para uma aprendizagem significativa. O professor, ao relacionar a contextualização apenas à aplicabilidade, restringiu sua compreensão à realidade imediata dos alunos. Além disso, não associa “contextualização” à “problematização”, no sentido de propor uma discussão em torno de uma situação para encontrar soluções.

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