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Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016.

Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016.

A sojicultura no Brasil consiste uma representação do modelo conservador da modernização da agricultura, que desde a década de 1970 esteve ancorado em políticas públicas e incentivos privados (GRAZIANO DA SILVA, 1999a; TONNEAU, AQUINO, TEIXEIRA, 2005).

Enquanto isso, à elaboração das rações a base de milho é realizada com o uso de máquinas ceifadeiras de forragem, que trituram o cereal juntamente com o caule e a folhagem da planta. Após o processamento, o produto é empilhado em uma valeta construída no solo e, posteriormente, isolado com lonas plásticas para impedir o contato com o ambiente externo e com a água da chuva. Quando bem armazenada, a ração pode ser utilizada por mais de um ano. A diferença entre o silo e o rolão consiste no fato do primeiro ser produzido com o milharal verde, “vivo”, enquanto o segundo é elaborado com a planta e o grão secos.

A palha, o farelo e o xerém de milho ou mesmo o grão in natura sempre estiveram inseridos na composição alimentar dos bovinos, mas a elaboração do silo e do rolão constituíam técnicas até recentemente desconhecidas pelos agricultores. O procedimento é uma alternativa que reduz os entraves dos agricultores diante da escassa disponibilidade de alimento para os bovinos durante as constantes estiagens. A produção das rações foi incentivada inicialmente por técnicos agropecuários provenientes de órgãos públicos e instituições bancárias (Banco do Brasil e Banco do Nordeste do Brasil) junto a associações de pequenos produtores rurais e médios e grandes proprietários de terra, que aderiram a financiamentos agropecuários (MENEZES, 2009; 2015). Posteriormente, a técnica foi transferida aos demais agricultores a partir das redes de sociabilidade.

As técnicas e atividades da pecuária no território resultam de experiências e aprendizados adquiridos, reformulados e compartilhados com diversos atores ao longo de diferentes temporalidades. Dentre as atividades agropecuárias, a bovinocultura apresenta a maior complexidade referente à coexistência de antigas e novas práticas.

As modificações na cadeia produtiva evidenciadas na adesão de novas práticas e técnicas pecuaristas são, predominantemente, condizentes com a tendência à modernização das atividades exigidas pelo modelo econômico capitalista pautado na especialização, na produtividade e no lucro. Em contrapartida, a manutenção de antigas práticas constitui uma forma de assegurar a perpetuação de técnicas e saberes que, arraigados culturalmente ao território, garante-lhes autonomia e seguridade frente aos novos processos produtivos e de trabalho, não raro, intermediado por agentes financeiros externos.

No quadro 4, estão elencadas as principais práticas e técnicas associadas à pecuária bovina do município. Conforme ilustrado, constata-se a permanência de atividades

tradicionais e a emergência de outras recentemente incorporadas nos estabelecimentos agropecuários.

Quadro 4 – Porto da Folha/SE, Atividades da Pecuária Bovina, 2015-2016 Práticas e Técnicas Tradicionais Novas Práticas e Técnicas Predominante Existente em

pequena dimensão Predominante

Existente em pequena dimensão Pecuária extensiva em pastagem nativa; Ordenha manual; Armazenamento do leite em recipientes de plástico e ferro; Uso de animais de montaria nas atividades da pecuária; Território de domínio do gênero masculino. Criação do gado “pé duro”; Pecuária extensiva em mata nativa; Uso dos bovinos no transporte de carga; Alimentação à base de plantas da caatinga; Realização de uma ordenha diária. Inserção de matrizes de gado zebu e holandês; Alimentação semiconfinada a partir

de soja, rações à base de milho e novas espécies de capim e palma; Uso de motocicleta nas atividades da pecuária; Realização de duas ordenhas diárias; Inspeção e certificação sanitária. Armazenamento do leite em tanque de resfriamento; Ordenha mecânica; Inseminação artificial.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015-2016. Org. GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016.

A coexistência de atividades modernas com antigas práticas consolidadas em temporalidades remotas resulta ainda da incompletude da modernização produtiva de segmentos da agricultura familiar no Brasil, que, conforme Tonneau, Aquino e Teixeira (2005) e Vieira Filho (2013), no Nordeste brasileiro é dificultada pela desarticulação entre os produtores, baixa inserção social e desigualdade na distribuição de recursos provenientes de políticas públicas de fomento ao desenvolvimento das unidades de produção familiar.

Conforme as informações contidas no quadro 4 e nas fotos 8 e 9, constatam-se exemplos de especialização produtiva retratada, respectivamente, na ordenha mecânica e alimentação confinada. Em contrapartida, nas fotos 10 e 11, observa-se a persistência de atividades tradicionais, como a ordenha manual e a pecuária extensiva.

Identificou-se nas pesquisas de campo o predomínio da ordenha manual: somente quatro estabelecimentos agropecuários dos 70 pesquisados fazem uso da ordenha mecânica. Na ordenha realizada manualmente, o instinto biológico no fornecimento do leite (apojar) é estimulado pela presença do bezerro (filhote) próximo à vaca, enquanto na ordenha mecânica, o bovino apoja a partir de estimulantes artificiais injetáveis. Ainda no tocante à ordenha manual, nota-se que é efetivada, majoritariamente, duas vezes ao dia, uma no início da manhã, e outra no final da tarde. Outrora, quando o leite possuía apenas valor de uso, e a carne consistia o produto de troca, a ordenha das reses era realizada apenas durante a manhã. Para Menezes (2009; 2015), a miscigenação do rebanho com matrizes de raça holandesa, que produzem mais leite, contribuiu para modificações no processo de ordenha dos bovinos.

Prevalece o armazenamento da matéria-prima em recipientes de plástico e ferro, depositados nas porteiras dos estabelecimentos antes de serem recolhidos e transportados para as fabriquetas de derivados de leite e laticínios situados no Sertão e Agreste de Sergipe. Algumas comunidades e estabelecimentos rurais com elevada produtividade armazenam o leite em tanques de resfriamento cedidos pelas agroindústrias, que demandam o produto.

Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016. Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016. Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016. Autor: GONÇALVES DA SILVA, J. N. 2016.

Foto 8 – Ordenha mecânica, comunidade