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PARTE I: INTRODUÇÃO, REFERENCIAL TEÓRICO, REFERENCIAL

4. MÉTODO EMPREGADO

4.3 ETAPA III – Avaliação da qualidade ambiental em edifícios de escritórios

4.3.2 Simulação Computacional

A segunda fase consistiu na análise do desempenho termo-energético de ambientes de escritórios com o uso de modelos simulados em computador. O objetivo foi a definição da orientação de fachada, do percentual de área de abertura na fachada (PAF) e do tipo de vidro mais adequados para assegurar melhores condições de conforto térmico e eficiência energética, estudo já iniciado por Ghisi e Tinker (2001) para algumas orientações.

O programa escolhido foi o Design Builder, por ser uma ferramenta criada para simulação do desempenho térmico e energético de edificações, que usa os algoritmos de cálculo do programa Energy Plus, apresentando uma interface mais amigável.

Para as simulações, foi modelado um edifício hipotético, cujas características foram definidas a partir das características relevantes encontradas no levantamento das tipologias de edifícios de escritórios em Brasília, descrito na Etapa II.

Dessa forma, foi modelado um edifício de escritórios de 10 pavimentos, situado na cidade de Brasília – DF, de planta retangular, com 36m de largura por 13m de profundidade, circulação central e salas posicionadas nas duas maiores fachadas. O ambiente escolhido para a análise está situado no quinto pavimento, posicionado no meio da fachada principal (Figura 4.5).

O pavimento tipo foi subdividido em três zonas, na qual a zona 2 foi o objeto de estudo. A figura 4.6 destaca o modelo do pavimento com a indicação das zonas de simulação.

Figura 4.6 – Zoneamento do edifício

O ambiente analisado possui largura de 3,42 m, profundidade de 5,13 m e pé-direito de 2,80 m, com uma única fachada voltada para o exterior. (Figura 4.7).

Figura 4.7 – Modelo do ambiente simulado – Zona 2

As paredes são de tijolos cerâmicos furados rebocados com 15 cm de espessura, piso e laje em concreto com 10 cm de espessura, a porta é em madeira com uma bandeira com venezianas e a janela com fechamento em vidro simples de 6 mm.

As propriedades dos materiais utilizados foram definidas de acordo com a norma NBR 15220 (ABNT, 2005a) e são descritas na tabela 4.2.

Janela Porta zona 1 zona 1 zona 2 zona 3 Zona 1 – 432,80 m2 Zona 2 – 17,60 m2 Zona 3 – 17,60 m2

Tabela 4.2 – Características dos materiais utilizados na simulação.

Material térmica [W/m.K] Condutividade Densidade [kg/m3] Calor específico [J/kg.K] Absortância

Tijolo cerâmico furado, com argamassa de

assentamento 0,62 1700 800 0,90

Argamassa reboco 0,88 2800 896 0,90

Concreto maciço 1,40 2100 840 0,90

Madeira para porta 0,19 700 2390 0,90

Na definição das propriedades de simulação, houve uma preocupação com a definição dos padrões de uso e das trocas de ar da edificação, pois, segundo Pereira & Ghisi (2008), esta definição é uma das principais dificuldades na modelagem, o que tem provocado a sua desconsideração em muitas simulações, apesar de exercerem grande influência sobre as trocas de calor do edifício.

Os padrões de uso foram definidos com os seguintes valores: ocupação das 8h às 12h e 14 às 18h; iluminação de 8h às 22h; e equipamentos de 8h às 18h. Os ganhos internos foram baseados nas definições para protótipos de simulação para grandes escritórios (CARLO & LAMBERTS, 2006), onde a densidade de potência de iluminação foi estipulada como sendo de 10 W/m2 e a densidade de potência dos equipamentos de 9,6 W/m2.

Dentre as características da envoltória, foram escolhidos o PAF, o tipo de vidro e a orientação de fachada para serem investigados, por se entender que tais variáveis influenciam diretamente no desempenho térmico e energético do edifício.

Os elementos de proteção solar não foram incluídos na etapa de simulação devido à dificuldade de modelar esses elementos no programa, sem fazer uma série de simplificações que poderiam influenciar nos resultados (SANTANA, 2006).

Orientação da fachada

Uma peculiaridade importante a ser destacada é que, devido ao projeto do Plano Piloto e à divisão em setores, a maioria dos grandes edifícios de escritórios, em Brasília, fica situada na zona central da cidade e no Eixo Monumental, possuindo orientações específicas que devem ser destacadas por serem representativas para qualquer análise de desempenho dos edifícios situados nessa área da cidade.

Dessa forma, as orientações simuladas foram 18º, 108º, 198º e 288º, que correspondem às orientações da maioria das edificações de escritórios, conforme constatado no levantamento das tipologias realizado.

Percentual de área de abertura na fachada - PAF

Para o percentual de área de abertura na fachada foram escolhidas as variações de 10%, 30%, 50%, 70% e 90%, que seriam representativas para a maioria das situações encontradas nos edifícios de escritórios. A tabela 4.3 mostra as dimensões das aberturas em cada percentual de área de janela especificado para a simulação.

Tabela 4.3 - Dimensões das aberturas simuladas.

PAF (%) Largura (m) Altura (m)

10 3,42 0,28 30 3,42 0,84 50 3,42 1,40 70 3,42 1,96 90 3,42 2,52 Tipo de vidro

Com relação aos vidros, foram escolhidos os tipos incolor, azul, cinza, verde, bronze e refletivo, já existentes no banco de dados do programa Design Builder, por caracterizarem as cores predominantes nas edificações existentes em Brasília (LIMA & AMORIM, 2007).

Para todos os vidros foram utilizados modelos genéricos, com espessura de 6mm, dimensões variando de acordo com o PAF especificado para cada modelo analisado e características fotométricas, próprias de cada tipo de vidro, especificadas conforme a tabela 4.4.

Tabela 4.4 – Características dos vidros utilizados na simulação48.

Características do Vidro Vidro

Refletivo Vidro Azul Incolor Vidro Bronze Vidro Verde Vidro Vidro Cinza

Fator Solar (%) 29,5 60,2 81,5 60,2 60,6 58,3 Transmissão Solar Direta (%) 16,0 48,0 77,5 48,2 48,7 45,5 Transmissão Luminosa (%) 20,1 57,0 88,1 53,4 74,9 43,1 Transmitância Térmica

(W/m²K)

5,379 6,144 6,144 6,144 6,144 6,144

Casos simulados

As simulações foram divididas em dois tipos segundo as características relacionadas às estratégias de condicionamento da edificação que foram: o ambiente sem ventilação e o ambiente condicionado artificialmente.

Para o ambiente sem ventilação, foi desconsiderado o uso de qualquer tipo de resfriamento (passivo ou ativo) na melhoria do desempenho térmico do ambiente, sendo considerada apenas a taxa de infiltração de ar constante de 0,1 renovações de ar/hora.

Para a simulação com uso do ar condicionado, foi especificado um aparelho do tipo

split, que permaneceria ligado segundo a rotina estabelecida para os equipamentos, no período de segunda a sexta-feira, das 8 horas às 18 horas. Foi estabelecida a temperatura de set-point do ar condicionado para 24 C, o valor de 1,83 para o Chiller

CoP e 5% para a distribuição de perdas de refrigeração49.

Para cada uma dessas situações, foram configuradas as variações dos parâmetros de orientação, tipo de vidro e PAF (Figura 4.8), resultando em um total de 360 simulações, calculadas para todo o ano, com dados horários. Foi utilizado para isso o arquivo climático da cidade de Brasília, disponível no próprio site do Energy Plus.

48 Fonte: Banco de dados do software Design Builder

49 Os dados técnicos para especificação do sistema de condicionamento foram retirados de modelos padrões de utilização de ar condicionado para a cidade de Brasília.

Figura 4.8 – Esquema das simulações realizadas no Design Builder

Os resultados no programa Design Builder são disponibilizados em gráficos, tabelas ou grids com informações tais como: temperatura do ar, temperatura de bulbo seco externa, temperatura radiante, umidade relativa, taxa de renovação de ar, ganhos internos e dados do local.

Para a análise foram considerados os valores horários de temperatura do ar e umidade relativa, para um ano (8760 horas), tabulados em planilhas, que foram convertidas em arquivos TRY, para serem inseridos no programa Analysis Bio, conforme metodologia utilizada por Pereira (2010).

O Analysis Bio é um programa que foi desenvolvido no LABEEE e permite obter as estratégias de projeto adequadas para melhor adaptar a edificação ao clima local, através da avaliação de dados climáticos plotados sobre a Carta Bioclimática de Givoni (1992), além de calcular a porcentagem de horas do ano em que cada estratégia bioclimática é mais apropriada (LABEEE, 2009).

No programa, os dados de temperatura e umidade foram plotados na carta psicrométrica, indicando as estratégias bioclimáticas e as porcentagens de horas de conforto e desconforto para cada caso simulado.

Essas porcentagens de horas de conforto são baseadas na incidência dos dados de temperatura e umidade do ar na zona de conforto, definida por Givoni como a zona, no diagrama psicrométrico, delimitada pelas temperaturas entre 18 C e 29 C e umidades relativas entre 20% e 80% (LAMBERTS et al., 2004)

Foram feitas também análises das temperaturas médias mensais para cada situação de modo a verificar se estavam dentro da faixa de conforto, definida por Givoni.