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Em uma sinergia, todos os parceiros têm que se influenciar de forma positiva, aumentando os benefícios do relacionamento. Uma sinergia é muitas vezes descrita simbolicamente com a soma 1 + 1 = 3, o que significa que as práticas combinadas geram resultados maiores do que a soma dos desempenhos separados. Assim, em uma sinergia de práticas Lean e Green Manufacturing, Lean tem que estar avançando e aprimorando as práticas Green, enquanto ao mesmo tempo Green tem que ser sinérgico para Lean (CARVALHO; DUARTE; MACHADO, 2011; DÜES; TAN; LIM, 2013).

A principal sinergia entre Lean e Green pode ser encontrada no objetivo de eliminação de resíduos de ambas as práticas, mostrando que o conceito de eficiência pode estar envolvido em ambas as visões. Embora o desperdício seja definido de maneira diferente por cada vertente, em geral, ambos visam a eliminação de resíduos excessivos em sua forma mais ampla. Lean considera as sete perdas de fabricação, ou seja, todas as atividades que não geram valor agregado (MOLLENKOPF et al., 2010; VONDEREMBSE et al., 2006). Enquanto o Green almeja eliminar os resíduos ambientais sob a forma de uso ineficiente de recursos ou produção de sucata (CARVALHO; DUARTE; MACHADO, 2011; MOLLENKOPF et al., 2010).

Para Dües, Tan e Lim (2013), embora os dois paradigmas tenham objetivos distintos para a eliminação de resíduos, eles visam os mesmos tipos de perdas. O inventário, o transporte, a produção de subprodutos ou a produção não produtiva, por exemplo, são resíduos que dizem respeito tanto às práticas Lean quanto ao Green. As técnicas de redução de resíduos de ambos são muitas vezes semelhantes, com foco nas práticas comerciais e de processos de produção. Ainda, para empregar as práticas e ferramentas, tanto Lean como Green exigem um alto nível de envolvimento dos funcionários, com poucos níveis hierárquicos e responsabilidades destinadas aos colaboradores das organizações (BERGMILLER; MCCRIGHT, 2009; MOLLENKOPF et al., 2010; VONDEREMBSE et al., 2006).

Muitos dos resíduos de processo de manufatura Green, podem ficar escondidos atrás dos resíduos Lean. Por exemplo, alguns resíduos de Green que podem ser considerados são lixo, uso excessivo de recursos, uso excessivo de energia, emissões diretas para o ar, solo ou água e falta de saúde e segurança. A utilização excessiva de energia, por exemplo, é a perda Green que mais impacta em um processo, porque é potencialmente afetado por todas as perdas Lean, reforçando a sinergia entre ambos. Ainda, é fundamental dentro de uma organização, o papel importante das pessoas e as preocupações sociais, enfatizando que saúde e segurança precárias podem influenciar diretamente na perda de potencial de colaboradores (VERRIER; ROSE; CAILLAUD, 2016).

Apesar da importância do relacionamento sinérgico das práticas Lean e Green, existem áreas nas quais os dois paradigmas não podem ser combinados. A única diferença real entre Lean e Green reside nas diferentes visões que essas práticas têm da natureza e do meio ambiente. Considerando que as práticas Green consideram o meio ambiente como um recurso valioso, as práticas Lean consideram o meio ambiente como um constrangimento para projetar e produzir produtos e serviços. Isso mostra a existência de um potencial conflito entre princípios Lean e os objetivos de práticas ambientalmente amigáveis (FATEMI; FRANCHETTI, 2016).

Dirigido pelas discussões atuais sobre mudanças climáticas, muitas empresas se veem confrontadas com uma maior pressão dos clientes para fazer negócios de forma ambientalmente responsável (SIMONS; MASON, 2003). Por exemplo, o fabricante japonês de impressoras Kyocera cria impressoras que custam menos e têm menos peças para substituir, a Boeing reduz a quantidade de papelão protetor e

embalagem de bolha usada para armazenamento e manuseio de materiais de suas asas 747, a Compaq projeta sua sede em Houston, Texas com claraboias para reduzir o uso de eletricidade, a Sony Corporation recicla o lodo para fazer cimento e a fabricante Walkers UK coloca uma política em que a empresa se dedica a reutilizar e a reciclar refugos para que, em última instância, o desperdício seja enviado para o aterro sanitário (FRANCHETTI et al., 2009; GORDON, 2001).

Esses casos são apenas alguns exemplos de iniciativas Green em todo o mundo. A hesitação para a implementação dessas práticas é alimentada pelo fato de que há confusão sobre o que Green é realmente e que existem apenas poucos modelos, regulamentos ou melhores práticas independentes em vigor, que apoiem a implementação (BERGMILLER; MCCRIGHT, 2009). A Figura 3 mostra a sobreposição entre as metodologias Lean e Green, denotando os focos de cada metodologia e onde são sinérgicos.

Figura 3 - Overlap dos focos das metodologias Lean e Green Fonte: Dües, Tan e Lim (2013)

Entre os dois paradigmas, algumas ferramentas são compartilhadas. Simons e Mason (2003) introduzem o mapeamento de fluxo de valor sustentável (SVSM) como uma extensão do VSM tradicional, usado para mapear todos processos de uma cadeia de suprimentos. Com tal abordagem, as emissões de CO2 como fonte adicional de resíduos podem ser adicionadas. A análise de Dües, Tan e Lim (2013), aponta que práticas Lean servem como um catalisador para Green, o que significa facilitar a transformação de uma empresa rumo à sustentabilidade. Implementar atividades Green adicionais para práticas de Lean existentes é um passo relativamente fácil, sem exigir investimento elevado de tempo ou recursos financeiros.

Percebe-se, conforme a Figura 2, que as técnicas de redução de resíduos de ambos os paradigmas são muitas vezes semelhantes, com foco nas práticas comerciais e de processos de produção (BERGMILLER; MCCRIGHT, 2009). Tanto o paradigma Lean quanto o Green analisam como integrar o redesenho do produto e do processo para prolongar o uso do produto, ou permitir a reciclagem fácil de produtos, bem como tornar os processos mais eficientes, ou seja, com menos desperdício (BERGMILLER; MCCRIGHT, 2009; SARKIS, 2003).

Dentro da ótica de eficiência, a utilização dos recursos energéticos abrange ambos os paradigmas, visto que impacta tanto no custo dos processos quanto nos recursos ambientais. Desta forma, uma das missões das organizações é maximizar a produtividade de bens de consumo com as menores taxas possíveis de utilização de recursos naturais, promovendo a eficiência energética e por consequência, a sustentabilidade.