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Os investimentos necessários para cada região brasileira estão dispos- tos no Quadro 45. Note-se que a soma dos investimentos necessários para todas as regiões é superior ao total previsto para o Brasil, obtido a partir das metas nacionais do Planares. Isso decorre do fato de as metas nacionais do Planares não terem sido calculadas através da média ponderada das metas regionais pela quantidade de resíduos sólidos gerada em cada região.

NORTE NORDESTE SUL SUDESTE CENTRO-OESTE Com tratamento térmico 1,091 3,770 0,771 5,618 1,158 Sem tratamento térmico 1,091 3,770 0,771 5,226 1,158

QUADRO 45 – INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA (CAPEX) NECESSÁRIOS PARA CADA REGIÃO DO BRASIL (EM R$ BILHÕES)

QUADRO 46 – DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM RESÍDUOS SÓLIDOS POR REGIÃO Elaboração: GO Associados.

Elaboração: GO Associados.

A partir dos custos estimados por região brasileira, tem-se que a dis- tribuição dos investimentos necessários varia pelo país. A participação dos investimentos regionais no total nacional é mostrada no Quadro 46.

Nota-se que as regiões Sudeste e Nordeste são aquelas que neces- sitam de mais investimentos. Uma possível explicação para esse fato é a alta densidade demográfica e consequente alta geração de resíduos em ambas as regiões. Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte Sul

30%

45%

9%

9%

7%

Uma análise comparando PIB per capita estadual e os investimen- tos per capita necessários para adequação da destinação de resíduos (Quadro 47) demonstra a baixa correlação entre riqueza da população e valor necessário para adequar os serviços de destinação. No Brasil, há locais mais bem favorecidos economicamente, mas que apresentam o setor de resíduos sólidos pouco desenvolvido, ao mesmo tempo em que há locais com PIB mais baixo, mas que não necessitam de investi- mentos tão elevados no setor.

R$ 60.000,00 R$ 50.000,00 R$ 40.000,00 R$ 30.000,00 R$ 20.000,00 R$ 10.000,00

Investimento per capita R$ -

R$ 70.000,00

R$ 20,00R$ 30,00R$ 40,00R$ 50,00R$ 60,00R$ 70,00R$ 80,00R$ 90,00R$ 100,00

QUADRO 47 - RELAÇÃO ENTRE PIB PER CAPITA E INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS PARA ADEQUAÇÃO DA DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NAS UNIDADES FEDERATIVAS

Fonte: GO Associados; IBGE, 2010. Elaboração GO Associados.

Como se observa no Quadro 47, no canto superior direito do gráfico está o Distrito Federal, o qual, apesar de possuir PIB per capita elevado, apresenta o setor de resíduos sólidos bastante atrasado, devendo in- vestir altos valores para atingir a adequação. Em Brasília, ainda não foi elaborado o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) e o principal destino dos RSU continua sendo um lixão.

No canto inferior direito, temos estados que apresentam baixo PIB per capita, mas que necessitam de altos investimentos para adequar os serviços de destinação de resíduos sólidos. Nesses estados, é indispen- sável a formação de consórcios ou agrupamentos entre os municípios, para reduzir os custos e aumentar a eficiência dos sistemas de trata- mento de resíduos sólidos.

Um exemplo de estado nessa situação é Alagoas, que apesar de apresentar um dos mais baixos índices de geração de resíduos sólidos por habitante, ainda utiliza lixões como a principal destinação final de resíduos sólidos. No Estado, findo o prazo da PNRS para eliminação de lixões apenas a capital, Maceió, cumpriu a lei.

No canto inferior à esquerda, encontram-se os estados que apre- sentam baixo PIB per capita, mas, por outro lado, necessitam de me- nores investimentos no setor de resíduos sólidos. Muitos dos estados localizados neste quadrante do gráfico apresentam baixa população estadual, menor urbanização e, consequentemente, menor geração de resíduos sólidos, havendo menor necessidade de investimentos.

Por fim, o canto superior à esquerda inclui os estados que apresen- tam maior PIB per capita e menor necessidade de investimentos. São aqueles que apresentam situação mais favorável. Entretanto, vale des- tacar que há ainda muito que ser feito e que os esforços não devem parar; afinal, a tendência ainda é de aumento da geração de resíduos em todo o país.

Os estados da Região Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Gran- de do Sul) são os que mais se aproximam dessa condição. Nesses esta- dos, mais de 70% dos resíduos sólidos já são encaminhados para ater- ros sanitários, sendo necessário principalmente o incremento de outros tipos de tratamento de resíduos sólidos, visando à redução de RSU des- tinados à disposição final ambientalmente adequada.

6 - CONCLUSÕES

A gestão de resíduos sólidos no Brasil é heterogênea, devendo ha- ver uma expansão do atendimento dos serviços de manejo, para que se atinjam de maneira uniforme as diversas regiões brasileiras. Além disso, com o ritmo atual de investimentos no Brasil, a universalização da des- tinação adequada de resíduos é algo muito distante.

A PNRS surgiu como um marco regulatório para o setor no país, mas, com base no grande volume de investimentos necessários, observa-se que ainda devem ser somados muitos esforços para garantir seu suces- so.

A partir dos dados apresentados, conclui-se que ainda são necessá- rios grandes investimentos para se atingir a universalização da destina- ção adequada dos resíduos sólidos no Brasil, nos próximos anos. Con- siderando que essa adequação deve ser atingida até 2031, estimou-se a necessidade de um investimento anual médio de cerca de R$ 700 milhões para sistemas de gestão dos resíduos sólidos, atendendo ao previsto no Planares.

Os custos de operação do sistema de destinação de resíduos só- lidos apresentados no presente Estudo desconsideram a coleta porta a porta, cujo serviço regular já se encontra praticamente universaliza- do no país, bem como da logística reversa, da instalação e operação de centrais mecanizadas de triagem e do uso de unidades de digestão anaeróbia. Assim, ressalta-se que os valores encontrados no presente Estudo são os mínimos necessários para adequação da destinação dos resíduos sólidos no país, podendo aumentar se outros sistemas estrutu- rantes ou formas de tratamentos dos RSU entrarem no cálculo.

O Brasil é um país que investe pouco em infraestrutura e sanea- mento. Segundo dados da GO Associados, o país investiu nos últimos 20 anos, em média, 2,2% de seu PIB ao ano. Esse valor é inferior ao investido por diversos países em desenvolvimento, como Índia e China. É também inferior ao da média mundial de investimentos no setor, que é de 3,8% do PIB das nações ao ano.

Assim, deve-se quebrar um paradigma de baixo investimento nacio- nal em infraestrutura (e principalmente em saneamento) e realizar altos esforços em conscientização e mudança cultural. Os investimentos fi- nanceiros necessários são robustos, mas, conforme apresentado no pre- sente Estudo, os custos para implantação da infraestrutura necessária para a universalização dos serviços relacionados ao gerenciamento de resíduos sólidos representam menos do que a média mundial de inves- timentos em infraestrutura e saneamento.

Os altos custos também são amenizados pela possibilidade de re- sultarem em grande retorno, caso sejam consideradas as receitas ge- radas de diversas formas, a partir dos tratamentos de resíduos sólidos. Gera-se receita através da comercialização de materiais recicláveis, dos fertilizantes provenientes do processo de compostagem, da energia no processo de tratamento térmico e de captação do biogás em aterros sanitários. Além disso, uma gestão eficiente de resíduos sólidos é capaz de criar um grande número de empregos e, portanto, retirar trabalha- dores da informalidade, gerando ganhos econômicos para a sociedade. Vale ainda considerar as externalidades positivas relacionadas aos investimentos na destinação correta dos resíduos sólidos. Além de uma possível e importante redução nos gastos com saúde, advindos da me- lhoria das condições ambientais, há a preservação de recursos naturais que seriam extraídos/explorados pela demanda industrial e energética, geração de empregos e inclusão social, bem como a redução das emis- sões de metano, um gás de efeito estufa (GEE).

Para fins de estimação de custos, considerou-se a implantação de unidades de recuperação energética em municípios com produção diá- ria suficiente para destinar, após a aplicação dos processos anteriores, a quantidade mínima de 500 toneladas por dia de resíduos sólidos con- siderados como “outros”. Dessa forma, determinou-se que atualmente apenas os maiores centros urbanos do país, como São Paulo e Rio de Ja- neiro, estão aptos a receber esse tipo de tratamento de RSU. que, apesar de bastante criticado, traz diversas vantagens ao sistema.

Os cenários que consideram o uso de tratamento térmico apresen- tam valores de investimentos mais elevados, o que, no entanto, é com- pensado pelo fato de gerar menor quantidade de rejeitos, aumentando a vida útil dos aterros sanitários, considerados como a forma ambien- talmente adequada de disposição final dos resíduos sólidos. Adicional- mente, a comercialização da energia elétrica e térmica pode ser uma fonte de receita acessória que auxiliará na mitigação dos custos com investimento e operação da planta.

No caso da disposição final em aterros sanitários, pode haver retor- no do capital aplicado por meio da comercialização de energia gerada pelo biogás captado, assim como se pode considerar também a nego- ciação de créditos de carbono, apesar de atualmente este possuir baixo valor de mercado.

Os investimentos necessários para o tratamento de resíduos só- lidos também serão gradativamente reduzidos à medida que houver uma diminuição da geração desses, conforme preconizado pela PNRS. Segundo estimativa da ABRELPE, baseada na experiência com outros países, estima-se que serão necessários de 15 a 20 anos para reduzir significativamente a geração dos resíduos sólidos no Brasil.

A logística reversa, que não teve seus custos e receitas considera- dos no levantamento de investimentos deste Estudo, também é essen-

cial para reduzir a quantidade de resíduos sólidos que dependem do sistema público de coleta e destinação final. Os resíduos que devem ter a logística reversa obrigatoriamente implantada comporão cadeias independentes, de responsabilidade de empresas particulares, o que significa que não farão parte do sistema público de limpeza.

Contribuirão também para a otimização dos investimentos necessá- rios, a formação de consórcios intermunicipais e de parcerias público- -privadas (PPPs). O primeiro elevaria os ganhos de escala e propiciaria o atendimento às metas propostas com maior facilidade, principalmente no que se refere à erradicação de lixões e à disposição final ambiental- mente adequada. O segundo permitiria a participação de entes priva- dos, que apresentam interesse e capacidade de investir no setor, po- dendo otimizar os investimentos necessários em projetos com maior eficiência e assim acelerar a adequação da situação de RSU ao estabe- lecido pela PNRS.

Percebe-se, através dos dados levantados neste Estudo que há espaço para aumentar a participação privada no desenvolvimento do setor. Desta forma, instrumentos contratuais entre o Poder Público e o Poder Privado serão de grande valia para o incremento dos investimen- tos, de forma que possam ser realizados de modo mais rápido (exclusos processos burocráticos), contribuindo para o ganho de bem estar social e principalmente de proteção do meio ambiente e da saúde pública.

O nível de desenvolvimento no setor de resíduos sólidos, assim como os investimentos necessários para universalizar os serviços, varia conforme cada unidade federativa. Ao mesmo tempo em que há locais com alto PIB per capita, mas que precisam de muito investimento, há lo- cais menos favorecidos economicamente, mas que apresentam melhor desempenho no setor. Assim, as medidas que visam à universalização do tratamento de resíduos sólidos devem sempre levar em considera- ção a realidade de cada região.

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