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Sintomas de Morbidade Psiquiátrica

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ASPECTOS ÉTICOS / RISCOS E BENEFÍCIOS

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4 Sintomas de Morbidade Psiquiátrica

Sobre a saúde mental dos internautas universitários pesquisados, a mesma foi avaliada pelos sintomas de morbidade psiquiátrica através do QMPA. Considerando o score de corte 7, conforme estudo de Santana (1982), temos a divisão da amostra em dois grupos, os que apresentaram e os que não apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, conforme apresenta a Tabela 10.

Tabela 10- Scores do QMPA (n=150)

QMPA N %

Até 7 87 58%

Deste modo, é possível observar que 58% dos usuários de internet pesquisados não apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica e podem ser considerados psiquicamente saudáveis, enquanto que 42% dos usuários de internet apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica. O que propiciou o cálculo da prevalência de sintomas de morbidade psiquiátrica na amostra estuda. A prevalência calculada foi momentânea, sem período de acompanhamento (referiu-se aos meses de agosto e setembro de 2010).

Assim sendo, considerando a frequência absoluta, encontramos a prevalência de 42% de sintomas de morbidade psiquiátrica na amostra estudada; de modo que, calculando o coeficiente de prevalência, obtem-se o número de casos de morbidade psiquiátrica numa população de 1.000 pessoas:

Coeficiente de Prevalência .=

nº de casos conhecidos de

uma dada doença x 1.000 População Coeficiente de Prevalência .= 63 x 1.000 .= 420 150

Do cálculo acima mencionado, ou seja, considerando o coeficiente de prevalência, foram obtidos 420 casos de morbidade psiquiátrica em cada 1.000 internautas universitários.

Este resultado demonstrou conformidade com outros estudos sobre morbidade psiquiátrica, cuja prevalência tramita entre 25% (CERCHIARI et al., 2005) e 58% (NEVES; DALGALARRONDO, 2007) em pesquisas com estudantes universitários.

Os altos índices de prevalência de morbidade psiquiátrica encontrado nas pesquisas, evidenciam os dados que indicam que os transtornos mentais e do comportamento representam cinco das dez principais causas de morbidade do mundo, e 12% da incapacitação decorrente de doenças, sendo ainda mais acentuada nos países em desenvolvimento, como o Brasil, devido ao envelhecimento da população, a rápida urbanização, a violência e a globalização. (LOPEZ; MURRAY, 1998)

Discriminando os sintomas de morbidades psiquiátricas por fatores (ANDREOLI et al, 1994) podemos verificar aqueles mais evidenciados na amostra, conforme apresenta a Tabela 11.

Tabela 11 - Média e desvio padrão por fatores do QMPA (n=150)

Questões Média Desvio Padrão

1- Ansiedade e Somatização 0,23 0,20 2 - Irritabilidade e Depressão 0,26 0,23 3 - Deficiência Mental 0,02 0,08 4 - Alcoolismo 0,04 0,12 5 - Exaltação do Humor 0,35 0,32 6 - Transtorno de Percepção 0,06 0,14 7 - Tratamento 0,08 0,18

Dentre os 7 fatores de sintomas de morbidades psiquiátricas, o fator mais prevalente foi a Exaltação do Humor (média 0,35; DP = 0,32). Os participantes citaram falar coisas sem sentido ou bobagens, falar ou rir sozinhos, ficar períodos exageradamente alegres sem saber por que, e andar, cantar ou falar sem parar.

Outro fator elevado foi a Irritação e Depressão (média 0,26; DP = 0,23). Os participantes relataram ficar agressivo com facilidade, períodos triste e com desanimo, ter com frequência crises de irritação, às vezes ficar parado chorando muito, sentir-se descontrolado, fechar-se em um quarto sem querer ver ninguém e sofrer de nervosismo ou sempre estar intranquilo.

Outro fator de sintomas de morbidades psiquiátricas notório entre os participantes foi o fator de Ansiedade e Somatização (média 0,23; DP = 0,20). Os participantes relataram sofrer de falta de apetite, ter dificuldade para dormir, queixar-se de zumbidos no ouvido, sentirem dores ou pontadas frequentes na cabeça, sentir fraqueza nas pernas ou dores nos nervos, sentir queimação ou empachamento no estomago, sentir tremor ou frieza nas mãos, ter dificuldade para aprender, lembrar ou entender as coisas, queixar-se de palpitações ou pontadas no coração, sofrer de nervosismo ou estar sempre intranquilo, preocupar-se muito com doenças e já ter utilizado algum remédio para dormir ou acalmar os nervos.

Dois dos fatores mencionados com alta prevalência neste estudo (fator 1 e 2) são compostos por sintomas de ansiedade, somatização, irritabilidade e depressão, sintomas estes comumente referidos como transtornos mentais comuns (GOLDBERG; HUXLEY, 1992) ou transtornos psiquiátricos menores (LIMA; SOARES; MARI, 1999; CERCHIARI; CAETANO; FACCENDA, 2005). Estes transtornos apresentam uma elevada prevalência na população adulta em geral (COUTINHO et al., 1999), assim como no presente estudo.

GENTIL; LAURENTI, 1999) mensurou a prevalência destes em uma área da cidade de São Paulo e apontou como os transtornos mais comuns, com exceção da dependência de tabaco, os transtornos depressivos, ansiosos e somatoformes. Que evidencia os altos índices de transtornos psiquiátricos menores, mencionados anteriormente, e condiz com os resultados apresentados nesta pesquisa.

Apenas 7% da amostra pesquisada (n = 10) mencionou fazer uso de medicação controlada, dentre estes 50% (n = 5) poderia representar indícios de diagnóstico e tratamento de alguma morbidade psiquiátrica pelo uso dos medicamentos citados (sertralina, fluoxetina e sibutramina), percentual esse não relevante, os demais pesquisados mencionaram o uso de medicamento controlado para pressão, lúpus, entre outro medicamentos que não se relacionam com tratamentos de morbidades psiquiátricas. A Tabela 12 apresenta a freqüência de sintomas de morbidade psiquiátrica conforme o uso de medicamentos controlados.

Tabela 12- Frequência de QMPA por uso de medicamento controlado (n=150)

Horas de Acesso n QMPA até 7 QMPA acima de 7

Não toma medicamento controlado 140 58% 42%

Toma medicamento controlado 10 60% 40%

A Tabela 12 mostra que dos 10 participantes que tomam medicação controlada 60% (N = 6) não apresentam sintomas de morbidade psiquiátrica, enquanto 40% (N = 4) apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica. Deste modo, esses dados não se mostram como relevantes na pesquisa.

Em busca de maior compreensão dos resultados do QMPA, a Tabela 13 apresenta os scores do QMPA discriminados conforme os dados demográficos e escolares.

Tabela 13 - Score de QMPA conforme dados demográficos e escolares (n=150)

Variáveis Níveis n QMPA

até 7 QMPA acima de 7 QMPA > 7 (N=63) n % Gênero Feminino 110 53% 47% 52 83% Masculino 40 73% 27% 11 17% Faixa Etária 17 a 19 anos 36 53% 47% 17 27% 20 a 25 anos 89 58% 42% 37 59% 26 a 30 anos 13 69% 31% 4 6% 31 a 40 anos 9 67% 33% 3 5% 41 a 53 anos 3 33% 67% 2 3% Estado Civil Solteiro 133 57% 43% 57 90% Casado 11 64% 36% 4 7% Divorciado 3 33% 67% 2 3% União Consensual 3 100% 0% 0 0% Atividade Laboral Estágio 47 55% 45% 21 33% Somente Estuda 45 67% 33% 15 24% Trabalho formal 38 50% 50% 19 30% Trabalho informal 20 60% 40% 8 13% Curso Biomedicina 28 50% 50% 14 22% Ciências Biológicas 16 81% 19% 3 5% Farmácia 7 57% 43% 3 5% Fonoaudiologia 3 67% 33% 1 1% Medicina veterinária 26 77% 23% 6 10% Psicologia 70 49% 51% 36 57% Ano 1º 31 58% 42% 13 21% 2º 34 59% 41% 14 22% 3º 34 47% 53% 18 29% 4º 36 67% 33% 12 19% 5º 15 60% 40% 6 24% Período Matutino 62 66% 34% 21 33% Noturno 88 52% 48% 42 67%

A Tabela 13 demonstra diferença pouco significativa dos scores de QMPA para o sexo feminino, sendo que 53% das mulheres foram consideradas psiquicamente saudáveis e 47% apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas. Os homens em sua maioria (73%) apresentaram-se saudáveis mentalmente, contra 27% que apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas. Comparando os gêneros, 83% dos pesquisados que apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas são mulheres ante 17% homens, deste modo, mesmo considerando que o gênero feminino representa 73% da amostra, é possível notar que os

homens apresentaram mais saúde mental que as mulheres nesta pesquisa. Dados esses compatíveis com os demais estudos sobre morbidades psiquiátricas que indicam maior prevalência no gênero feminino (COUTINHO et al.,1999; MARAGNO et al., 2006; LIMA et al., 1999).

Verificando a estratificação por faixa etária foi possível identificar que houve predomínio de saúde mental (QMPA até 7) na maioria, com exceção dos pesquisados entre 41 e 53 anos, pois 67% apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica. A maior parte da amostra (59%) concentra-se na faixa etária de 20 a 25 anos e esta faixa foi a que obteve o segundo maior percentual de sintomas de morbidade psiquiátrica (59%). Seguida pela faixa de 17 a 19 anos que representa 27% dos participantes que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, mas que também representa 24% da amostra. Muitos estudos sobre morbidade psiquiátrica, assim como Coutinho et al. (1999) e Lima et al. (1999) indicam que a prevalência dessas morbidades aumenta com a idade. Nos resultados desta pesquisa a prevalência de morbidade psiquiátrica não aumentou com a idade, porém a maior prevalência foi em pessoas acima de 40 anos.

Quanto ao estado civil houve prevalência de saúde mental, exceto para os divorciados que apresentaram 67% de sintomas de morbidade psiquiátrica. Entre os demais estados civis se destacou a união consensual com 100% de saúde mental. Considerando apenas as pessoas que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, os solteiros apresentaram o maior índice de sintomas (90%). Estes resultados condizem com a pesquisa de Coutinho et al. (1999) quando menciona que entre pessoas com escolaridade mais elevada, as pessoas casadas apresentaram menor risco de transtornos mentais.

Quando discriminado pelo tipo de atividade laboral, também houve predomínio de saúde mental (QMPA até 7) em todas as atividades. E quando comparada as atividades laborais, o maior índice de sintomas de morbidades psiquiátricas (33%) foi dos estágios, porém o estágio também representa o maior índice de atividade laboral da amostra (31%). Já a atividade de somente estudar que representa o segundo percentual de atividades exercidas pela amostra (30%), obteve o terceiro índice (24%) de morbidade psiquiátrica entre as demais atividades laborais, e dentre os pesquisados que somente estudam 67% apresentam saúde mental, maior índice entre as atividades laborais, assim os pesquisados que somente estudam apresentam uma pequena diferença favorável em termos de saúde mental, dos demais participantes que realizam outras atividades laborais.

Referente ao curso realizado, houve predomínio de saúde mental na maioria dos cursos, destacando-se os cursos de Ciências Biológicas (81%) e Medicina Veterinária (77%)

que apresentaram os maiores índices de saúde mental. O curso de Psicologia apresentou o maior índice de sintomas de morbidade psiquiátrica, 51% dos estudantes deste curso obtiveram score de QMPA maior que 7.

Em relação ao ano do curso que os estudantes estavam também houve prevalência de saúde mental na maioria dos anos, com exceção do 3º ano, onde 53% dos alunos apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas.

Sobre o período em que estudavam houve prevalência de saúde mental em ambos os períodos, destacando-se o período matutino onde 66% dos alunos apresentaram score do QMPA até 7.

Contudo os resultados evidenciam que houve prevalência de saúde mental na maioria das estratificações.

A fim de continuar discriminando a amostra conforme os resultados do QMPA, a Tabela 14 apresenta as médias de acesso à internet conforme o score obtido no QMPA.

Tabela 14 - Média de acesso à internet por score de QMPA (n=150)

Score Horas por Semana Horas por Mês

Média DP Média DP

QMPA até 7 23 hs 20,5 94 hs 82,1

QMPA acima 7 27 hs 20,1 108 hs 80,4

Mediante os resultados da Tabela 14 é possível notar que o tempo médio que os internautas acessavam a internet foi maior entre os que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica.

Para melhor compreensão do acesso à internet conforme a saúde mental de seus usuários, a Tabela 15 discrimina o tipo de acesso que os pesquisados realizavam conforme o score de QMPA que obtiveram.

Tabela 15 - Score de QMPA conforme tipo de acesso à internet (n=150)

Variáveis Níveis n QMPA até 7 QMPA acima de 7

Local de Acesso Residência 148 59% 41% Trabalho 72 62% 38% Instituição de Ensino 140 57% 43% Lan House 32 62% 38% Outros 7 57% 43% Razão de Acesso Lazer 146 57% 43% Trabalho 111 61% 39% Estudos 150 58% 42% Outros 13 46% 54% O que acessa Relacionamento 109 56% 44% Bate Papo 69 51% 49% Pesquisa 149 58% 42% Jogos 51 55% 45% Email 146 58% 42% Outros 21 52% 48%

A Tabela 15 mostra que houve predomínio de saúde mental (QMPA até 7) em todos os tipos de acesso à internet descritos, seja pelo local de acesso, razão de acesso ou o tipo de site de acesso. Com exceção da razão de acesso definida como outros, que refere-se a utilização da internet para compras, busca de emprego, escutar música e obter informações gerais sobre esporte, curiosidades e fofocas, 54% dos internautas que utilizavam a internet por essas razões apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas.

De maneira geral, não houve grande diferenciação nas estratificações acima descritas, entre o local de acesso, razão de acesso ou o tipo de site acessado, se comparado com os sintomas de morbidades psiquiátricas. Dados que remetem as considerações de Levy (1993, 1996) quando o autor menciona que a virtualização não é nem boa, nem má, mas lembra que também não é neutra, e que a questão dos benefícios ou malefícios da mesma dependeria do uso que as pessoas realizam.

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