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VANESSA PASVENSKAS MARCOS

SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS UNIVERSITÁRIOS

São Bernardo do Campo 2011

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VANESSA PASVENSKAS MARCOS

SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS UNIVERSITÁRIOS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicologia da Saúde, da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto

São Bernardo do Campo 2011

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A dissertação de mestrado sob o título “SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS UNIVERSITÁRIOS”, elaborada por Vanessa Pasvenskas Marcos foi apresentada e

aprovada em 21 de fevereiro de 2011, perante banca examinadora composta por Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto (Presidente/UMESP), Profa. Dra. Marisa Lúcia Fabrício Mauro

(Titular/UNICAMP) e Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno (Titular/UMESP).

__________________________________________ Prof/a. Dr/a. Marília Martins Vizzotto

Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________ Prof/a. Dr/a. Maria Geralda Viana Heleno

Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde Área de Concentração: Psicologia da Saúde

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela realização desse objetivo e de tantos outros já alcançados.

A amizade e orientação da Profª. Drª. Marília Martins Vizzotto que acreditou em minha capacidade para realização desse trabalho e muito me incentivou sempre carinhosamente.

A Profª. Drª. Marisa Lúcia Fabrício Mauro e a Profª. Drª. Maria Geralda Viana Heleno que trouxeram sugestões e contribuições importantes e significativas para esse trabalho.

A todos estudantes que voluntariamente disponibilizaram seu tempo para participar da pesquisa, sem os quais esta não teria acontecido.

A Profª. Drª. Mirlene M. M. Siqueira e a Profª. Cecília V. Farath pela orientação estatística.

A minha avó por todo amor, carinho, ternura e atenção dispensadas durante muitos anos (em memória).

A paciência e amor incondicional de minha mãe, tão importante em diversos momentos da minha vida.

A tranquilidade de meu namorado, Jonathan, que muito me ajudou nos momentos difíceis.

Aos professores e colegas de mestrado em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista que muito me ensinaram nesse início de carreira acadêmica.

A Universidade do Algarve e seus professores, especialmente o Prof. Dr. Saul Neves de Jesus, pela gentil acolhida em Portugal no período de intercâmbio.

E a todos meu amigos e amigas que ajudaram direta ou indiretamente na realização desse trabalho.

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“Peça a Deus que abençoe seus planos, e eles darão certo.” (Provérbios 16:3)

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RESUMO

MARCOS, V. P. Saúde mental de internautas universitários. 2011. 71f. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde). Faculdade da Saúde, Universidade Metodista de São Paulo, 2011.

O presente estudo teve como objetivo avaliar a saúde mental de internautas universitários. Trata-se de uma pesquisa com delineamento transversal e quantitativa. Participaram deste estudo 150 usuários de internet, dos gêneros, masculino e feminino, com idade entre 17 e 53 anos, estudantes universitários de diversos cursos de graduação da faculdade de saúde, de um único campus, de uma universidade privada, localizada na cidade de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. A amostra foi selecionada por critério de conveniência, porém considerou-se a amostragem por cotas para melhor representatividade da população estudada. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de Morbidade Psiquiátrica para Adultos (QMPA) e um questionário complementar desenvolvido para caracterização da amostra. Após coleta, os dados foram lançados e tratados estatisticamente. Os resultados mostraram prevalência de saúde mental em 58% dos internautas universitários. Entre os participantes que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica (42%) prevaleceram os sintomas de exaltação do humor, ansiedade, somatização, irritabilidade e depressão, sintomas comumente referidos como transtornos psiquiátricos menores. Dos internautas estudados 55% foram considerados usuários pesados por utilizarem a internet acima de 60 horas mensais. A média de horas de acesso à internet apresentou correlação com os sintomas de morbidade psiquiátrica avaliados. Contudo estes sintomas de morbidade psiquiátrica não apresentaram diferenciação entre tipo de usuário (pesado e leve), em ambos os casos prevaleceram a avaliação de saúde mental. As horas de acesso à internet foram consideradas um dos indícios do uso patológico da internet, porém insuficiente para estabelecer qualquer diagnóstico. O uso patológico da internet mostrou-se presente em 57% dos internautas, por utilizarem a internet em detrimento de outros aspectos de suas vidas. Os sintomas de morbidade psiquiátrica apresentaram correlações positivas e significativas com as questões sobre o uso patológico da internet. Os resultados desta pesquisa sugerem que o uso patológico da internet revela-se como um novo campo de expressão de morbidades psiquiátricas já conhecidas. Deste modo, a internet não se mostra como um fator de risco para saúde mental de seus usuários. Ela seria um amplificador, uma ferramenta que facilitaria a expressão de tais comportamentos patológicos, que são provenientes de transtornos já existentes, assim como a utilização de diversas outras práticas sociais, que podem se tornar patológicas pela manifestação de diferentes transtornos do indivíduo.

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ABSTRACT

MARCOS, V. P. Mental health of college Internet users. 2011. 71f. Dissertation (Masters in Health Psychology). Health´s University, Metodista University of São Paulo, 2011.

This study aimed to assess the mental health of college internet users. This is a cross-sectional research and quantitative. The study included 150 internet users, genders, male and female, aged between 17 and 53 years old, students from several graduate courses at the college health, a single campus of a private university, located in São Bernardo do Campo on the São Paulo metropolitan area. The sample was selected by criteria of convenience, but it was considered by quota sampling to better represent the population. The instruments used were the Psychiatric Morbidity Questionnaire for Adults (QMPA) and an additional questionnaire designed to characterize the sample. After collection, the data were statistically treated and released. The results showed the prevalence of mental health in 58% of college Internet users. Among participants who had symptoms of psychiatric morbidity (42%) were the most prevalent symptoms of mood disorder, anxiety, somatization, depression and irritability, symptoms, commonly referred to as minor psychiatric disorders. Were considered heavy users by use the Internet for over 60 hours per month, 55% of Internet users studied. However these symptoms of psychiatric morbidity showed no differentiation between types of users (heavy and light), prevailed in both cases the mental health evaluation. The hours of Internet access were considered one of the signs of pathological Internet use, but insufficient to diagnose the pathological use. The pathological Internet use was present in 57% of Internet users, by using the Internet to the detriment of other aspects of their lives. The symptoms of psychiatric morbidity showed significant positive correlations with the issues on the pathological use of the Internet. These results suggest that the pathological use of the internet reveals itself as a new field of expression of psychiatric morbities known. Thus, the Internet does not appear as a risk factor for mental health of its users. It would be an amplifier, a tool that would facilitate the expression of such pathological behaviors, that come from existing disorders as well as the use of various other social practices, which can become pathological manifestations of different disorders by the individual.

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SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO... 9 1.1 – Sobre a Internet... 9 1.2 – Internet no Brasil... 10 1.3 – Internet e Subjetividade... 11 1.4 – Internet e Saúde... 13 1.5 – Saúde Mental... 18 2 – MÉTODO... 22 2.1 – Amostra... 22 2.2 – Ambiente... 24 2.3 – Instrumentos ... 24 2.4 – Procedimento... 25

Aspectos Éticos / Riscos e Benefícios... 26

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO... 27

3.1 – Caracterização da Amostra... 27

3.2 – Padrão de uso da Internet da Amostra... 29

3.3 – Uso Patológico da Internet ... 31

3.4 – Sintomas de Morbidade Psiquiátrica... 35

3.5 – Classificação de tipo de usuário da Internet ... 42

3.6 – Correlações... 47

3.7 – Teste T... 54

4 – CONCLUSÃO ... 57

5 – REFERÊNCIAS... 61

ANEXOS ANEXO A – QUESTIONÁRIO COMPLEMENTAR... 67

ANEXO B – QUESTIONÁRIO QMPA... 68

ANEXO C – AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO... 69

ANEXO D – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA... 70

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LISTA DE TABELAS

Tabela1 - Cálculo da amostragem por cota... 23

Tabela 2 - Dados demográficos da amostra... 27

Tabela 3 - Dados de escolaridade da amostra... 28

Tabela 4 - Média de acesso à internet da amostra... 29

Tabela 5 - Frequência e tipo de utilização da internet da amostra... 30

Tabela 6 - Frequência de respostas para as questões do uso patológico da internet... 32

Tabela 7- Frequência de respostas positivas sobre o uso patológico da internet... 32

Tabela 8 - Dados demográficos e escolares por tipo de uso da internet patológico / não patológico... 34 Tabela 9 - Padrão de acesso à internet por tipo de uso da internet patológico/não patológico... 35

Tabela 10- Scores do QMPA... 35

Tabela 11 - Média e desvio padrão por fatores do QMPA... 37

Tabela 12 - Frequência de QMPA por uso de medicamento controlado... 38

Tabela 13 - Score de QMPA conforme dados demográficos e escolares... 39

Tabela 14 - Média de acesso à internet por score de QMPA... 41

Tabela 15 - Score de QMPA conforme tipo de acesso à internet... 42

Tabela 16 - Frequência de tipo de usuário da internet... 43

Tabela 17 - Dados demográficos e escolares por tipo de usuário da internet... 44

Tabela 18 - Frequência de QMPA por tipo de usuário da internet... 45

Tabela 19 - Frequência de respostas sobre o uso patológico da internet por tipo de usuário... 46

Tabela 20 - Total de respostas sobre o uso patológico da internet por usuário... 47

Tabela 21 - Correlação (r de Pearson) entre horas de acesso à internet e QMPA... 47

Tabela 22- Correlação (r de Pearson) entre acesso à internet e números de respostas positivas sobre o uso patológico da internet... 48 Tabela 23 - Correlação (r de Pearson entre QMPA e números de respostas positivas sobre o uso patológico da internet... 49 Tabela 24 - Correlação (r de Pearson) entre QMPA e tipo de uso da internet... 50

Tabela 25 - Correlação (r de Pearson) entre uso patológico e tipo de uso da internet... 52

Tabela 26 - Teste t das médias de QMPA e tipo de usuário da internet... 54

Tabela 27 - Teste t das médias de horas mensais de acesso à internet e das questões sobre o uso patológico da internet... 55 Tabela 28 - Teste t das médias de QMPA e questões sobre o uso patológico da internet... 56

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1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa estudou a saúde mental de usuários de internet. Justifica-se uma investigação sobre esse tema por se entender que o advento do fenômeno da internet proporcionou modificações no modus vivendi das pessoas em todo o mundo. Houve, inclusive, alterações nos aspectos sócio-culturais, nas relações afetivas, psicológicas e educacionais. Tanto que essas modificações têm levado os próprios meios de comunicação popular a discutir os benefícios e os malefícios provenientes desse novo meio de comunicação e informação. Assim, entende-se que cabe estudar tal fenômeno do ponto de vista psicológico.

O Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática (NPPI, 2009) elucida a importância das pesquisas em psicologia sobre o uso da internet ao declarar que:

“a Psicologia deve acompanhar as mudanças do homem, que se transforma em sua relação com o mundo e com as novas formas de tecnologia disponíveis. Deste modo, é preciso que o psicólogo acompanhe e esteja atento a estas transformações, bem como aos impactos que esse processo acarreta sobre a subjetividade humana e sobre a cultura atual.”

Pesquisas científicas vêem estudando o uso patológico da internet, mas ainda não há consenso sobre o conceito de dependência da internet. Abreu; Karam; Góes; Spritzer (2008) relatam que são necessárias novas investigações para determinar se o uso abusivo da internet pode ser compreendido como uma nova classificação psiquiátrica ou apenas um novo campo de expressão de transtornos já conhecidos.

Para compreender melhor tal fenômeno e suas implicações no campo psicológico, cabe expor o que já se tem investigado e descrito sobre o tema.

1.1 Sobre a Internet

O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e seu desenvolvimento propiciou no século XX a Revolução Tecnológica. Dentre todo o desenvolvimento tecnológico gerado surge o computador, no início visto como uma calculadora gigante, que após o advento da internet, em meados de 1970, passa a ser uma ferramenta de informação, conhecimento, entretenimento e trabalho, transformando-se num meio para criação, simulação e, principalmente, comunicação (FORTIM, 2004). Assim sendo a internet fomentou uma nova revolução, no início do século XXI, ora denominada como Sociedade da Informação, (HONORATO, 2006) outrora como Era do Conhecimento (CASTELLS, 1999).

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que propicia a divulgação de informações e a interação entre pessoas de diversas localizações geográficas. Essa nova forma de comunicação desenvolvida, recebe o nome de Comunicação Mediada por Computador (CMC) e muitas são as ferramentas que propiciam essa comunicação: e-mails, programas de mensagens instantâneas, redes de relacionamentos, salas de bate-papo, blogs, comunidades, grupos, fóruns de discussão, entre outros.

1.2 Internet no Brasil

Em 1995 iniciou o uso da internet comercial no Brasil. Dez anos depois uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caracterizava o perfil dos usuários da internet no Brasil (IBGE, 2005). Dos brasileiros a partir dos 10 anos, 20,9% acessavam a internet, sendo a idade média dos usuários de 28 anos. Considerando a população por faixa etária, verificou-se na época que a utilização da internet estava concentrada nos grupos mais jovens, sendo 33,9% entre os jovens de 15 a 17 anos.

Após três anos, o IBGE realizou a segunda pesquisa sobre o acesso à internet no Brasil (IBGE, 2008) e os resultados mostraram que o acesso à internet aumentou 75,3%. Assim sendo, 56 milhões de pessoas de 10 anos ou mais acessavam a internet em 2008, ou seja, 34,8% dos brasileiros a partir dos 10 anos acessavam a internet. E o grupo de 15 a 17 anos continuou sendo a faixa etária que mais acessou a internet, atingindo o percentual de 62,9%. Porém a idade média das pessoas que acessaram a internet reduziu de 28,1 para 27,6 anos.

Ambas as pesquisas mostraram que quanto maior o grau de escolaridade, maior o tempo de acesso à internet, e o mesmo ocorre conforme a renda per capita. Entre 2005 e 2008 a proporção de estudante que utilizaram a internet cresceu de 35,7% para 60,7%. O local de acesso à internet mais utilizado nas pesquisas de 2005 e 2008 foi o domicilio, 57,1% pessoas acessavam a internet de suas residências em 2008, seguidos de 35,2% que acessavam de centros públicos de acesso pago (lan house), 31% acessavam do local de trabalho, 19,7% de outros locais e 17,5% acessavam através de estabelecimento de ensino. Identificou-se também que o local de acesso à internet está associado à faixa etária. Na pesquisa de 2008 a maior finalidade do acesso à internet foi a comunicação com outras pessoas 83,2%, seguidos pelas atividades de lazer 68,6% e posteriormente para educação e aprendizagem 65,9%. A utilização da internet para finalidade de educação e aprendizagem teve uma redução bastante significativa, decresceu de 71,7% em 2005, quando ocupava a primeira posição nas finalidades de acesso, para 65,9% em 2008.

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divulgada em janeiro de 2009 (IBOPE NET RATINGS, 2009) revelava um novo perfil dos internautas, composto por adultos e idosos que estavam aprendendo a navegar na internet, mas que ainda passavam pouco tempo on-line.

O número de pessoas que acessam a internet continuou crescendo e em julho de 2009, o Instituto IBOPE Nielsen Online (2009) notificou que 36,4 milhões de pessoas usaram a internet no trabalho ou na residência e que o tempo médio de acesso atingiu 48 horas e 26 minutos mensais, considerando somente navegação em páginas. O tempo de navegação em residências cresceu 21% em um ano e atingiu a marca inédita de 30 horas e 13 minutos por pessoa em julho de 2009. Entre os dez países que foi realizada a pesquisa, o Brasil obteve o maior tempo de acesso mensal à internet por usuário, tanto na navegação em páginas quanto no tempo total incluindo programas online. Ainda segundo esse mesmo instituto, (IBOPE NIELSEN ONLINE, 2010) a quantidade de brasileiros com acesso à internet chegou a 67,5 milhões no final de 2009, considerando o acesso no trabalho, residências, escolas, lan houses e outros pontos públicos.

Levantamento feito pelo IBGE (2008) já havia mostrado que a grande finalidade do acesso à internet no Brasil era para comunicação. E, no que tange a esse aspecto da comunicação, o IBOPE Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research (WIN) divulgou em julho de 2010 (IBOPE INTELIGÊNCIA, 2010) que o Brasil é um dos dez países que mais acessam as redes sociais, e que 87% dos internautas brasileiros haviam acessado as redes sociais no período em que haviam realizado a pesquisa.

Assim, é possível entender que, nestes últimos quinze anos de uso da internet no Brasil houve um crescimento bastante significativo no número de usuários, bem como no tempo de acesso, fatos que posicionaram o Brasil entre os países com maior tempo de acesso à internet. Outros fatores significativos têm sido a mudança de perfil destes usuários, expandindo o uso da internet as diversas classes sociais e faixas etárias, além da predominância do uso da internet para a comunicação com outras pessoas e manutenção das redes sociais.

1.3 Internet e Subjetividade

Diversos autores (CASTELLS, 1999; LEVY, 1993; NICOLACI-DA-COSTA, 2002, 2005b) têm relatado analogias entre as mudanças psíquicas e sociais que foram geradas na Revolução Industrial com o momento contemporâneo das Revoluções Tecnológicas.

Nicolaci-da-Costa (2002) fazendo uma analogia entre as alterações subjetivas que a Revolução Industrial propiciou aos indivíduos dos séculos XIX e XX e as atuais

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transformações subjetivas geradas pelas tecnologias aos indivíduos do século XXI, relata ser fundamental para a psicologia a compreensão dessas alterações, por acarretar transformações importantes na maneira de pensar, se relacionar e sentir. Menciona que profundas alterações na organização subjetiva contemporânea já são constatadas em suas pesquisas (NICOLACI-DA-COSTA 2002, 2005a e 2005b), porém descreve a dificuldade dos profissionais em admitir a mudança radical pela qual passa a subjetividade contemporânea, devido às mudanças internas ocorrerem lentamente.

As novas possibilidades de interação e conhecimento que surgem com o advento da internet geram mudanças sociais, marcadas pelas transformações nas maneiras de comunicação e relacionamento:

“A Internet passa agora a ter uma diferente definição. Deixa de ser um termo técnico que resumia uma rede de computadores conectados via tecnologia e passa a ser um plano socializador de grande potencial, onde pessoas no mundo todo podem trocar conhecimento e satisfazerem suas necessidades de afiliação. Há aqui uma nova definição de alguns termos tradicionais para as ciências sociais. Talvez tenhamos que rever, a partir de agora, definições de termos como “relacionamentos” e “relações”, pois a realidade social está mudando e é composta por pessoas e comportamentos.” (HONORATO, 2006, p. 40). Assim, pode-se dizer que esse novo meio de comunicação proveniente da internet, Comunicação Mediada por Computador (CMC) tem gerado novas formas de relações sociais caracterizadas pela transformação da concepção de tempo e espaço mencionada por diversos pesquisadores e estudiosos desses fenômenos contemporâneos (CASTELLS, 1999; HONORATO, 2006; LEMOS, 2003; LEVY, 1993, 1996, 1999; NICOLACI-DA-COSTA, 2006).

Essa nova concepção de tempo e espaço é descrita por Honorato (2006) como a ausência do corpo presente, ou segundo Nicolaci-da-Costa (2006) pela presença ausente, ou ainda pela abolição do espaço físico-geográfico conforme Lemos (2003) e desterritorialização para Levy (1996). Para Castells (1999) o novo sistema de comunicação transformou as dimensões de espaço e tempo, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares.

O fator presencial parece não se tornar mais necessário, até um determinado momento da relação, apontando para mudanças psicossociais (LEVY, 1999; HONORATO, 2006). E essa nova forma de relações sociais é chamada de Cibercultura (LEMOS, 2003; LEVY, 1999). Lemos (2003, p.11) define cibercultura como “a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais” e para Levy (1999, p.247) a cibercultura “expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura”. Assim a cibercultura gera novas maneiras de

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relacionamento com o outro e com o mundo (LEMOS, 2003).

As investigações feitas por Nicolaci-da-Costa (2005a, 2005b) sobre usuários de internet indicam algumas características do sujeito contemporâneo, tais como: Sente prazer nas atividades on-line; Tem disposição para experimentar novas formas de ser; Faz diversas coisas ao mesmo tempo; É ágil e está em constante movimento; Por meio da escrita habita vários espaços, acessando realidades diferentes; Pode construir diversas narrativas a respeito de si mesmo (verídicas ou não, sinceras ou não, anônimas ou não); Ganha conhecimento de si quando escreve sobre ele mesmo e tem retorno sobre essa escrita; Está em constante processo de revisão de si, através da decorrência de retornos de sua escrita sobre si; Se expõe a diversos espaços, realidades, experiências e retorno, mas tem em si mesmo a única fonte de integração possível; Está em constante processo de redefinição das fronteiras entre as esferas do público e privado, criando novas defesas e recursos; Procura formas de proteger-se contra os excessos gerados pela mobilidade e exposição à diversidade; É singular e auto-referido, por efetuar ele próprio recortes nas realidades às quais está exposto; É flexível, adaptável, inquieto e ávido a novas experiências; E conhece poucos limites para seus desejos.

Assim, com o advento da internet ocorreram grandes transformações subjetivas nos indivíduos contemporâneos, caracterizadas por mudanças sociais e psíquicas, como alterações na maneira de pensar, se comunicar, se relacionar e sentir, configuradas por uma nova concepção de tempo e espaço, onde o fator presencial não se faz mais necessário.

1.4 Internet e Saúde

De acordo com Maiorino (2005) essa nova subjetividade acarreta novos modos de ser e sentir, e assim, novos modos de sofrimento e de adoecimento. Para Levy (1993) o debate a respeito da natureza opressiva, anti-social, ou ao contrário benéfica e amigável da informática depende da questão do bom ou do mau uso da mesma. Para ele “A virtualização não é nem boa, nem má, nem neutra” (LEVY, 1996, p.11).

Muitas são as especulações sobre os benefícios e os malefícios dessa nova maneira de interação. A seguir serão relacionadas pesquisas, estudos e outras considerações de pesquisadores e escritores que demonstram está ambiguidade sobre a questão da saúde dos usuários da internet.

A ambiguidade entre os atrativos da internet e os problemas por ela causados é mencionada por Zacarias (2008), que entende que entre os principais atrativos da internet estão a possibilidade de anonimato, o acesso irrestrito a diversos conteúdos, a democratização

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da informação, a auto-exposição, além de um lugar de expressão e satisfação para diversas fantasias humanas. Já no que se refere aos problemas, o autor entende que o principal deles é o aprisionamento às sensações obtidas por essas vias. Considera ainda, que para avaliar se o efeito está sendo benéfico ou maléfico é necessário compreender o sentido que cada pessoa dá ao seu computador, ao uso que faz da internet, e como isso está se integrando na personalidade e na vivência de cada usuário.

Segundo Nicolaci-da-Costa (2005c) os resultados de inúmeras pesquisas mostram que os ambientes virtuais da internet tornaram-se análogos aos espaços reais, com relacionamentos pessoais de maneira parecida com a sociabilidade tradicional. Assim os relacionamentos virtuais são um complemento para os reais e não um substituto para estes, pois não substitui os reais, mas, sim, os complementa. Compartilhando da idéia de Levy (1999) que considera um erro pensar que o virtual substitui o real, mas, sim, que pode alterá-lo: “O virtual não substitui o real, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo” (LEVY, 1999, p. 88).

Castells (1999) considerou diferentes opiniões e argumentações e dentre elas pode-se observar com maior intensidade a menção ao aumento da solidão e depressão, fuga da realidade, criação de identidades, declínio da comunicação com familiares e expansão da rede social.

Resumindo as considerações da literatura norte-americana sobre o uso patológico da internet, Nicolaci-da-Costa (2002a) menciona que essa via de comunicação pode gerar compulsão, dependência, problemas pessoais e sociais característicos do vício. E que o uso intensivo da rede pode ter como consequência o isolamento social, a solidão e a depressão, quando há substituição de relacionamentos e atividades reais por relacionamentos e atividades virtuais.

Após realizarem uma pesquisa bibliográfica sobre a literatura da dependência de internet, Abreu et al. (2008) constataram que há falta de consenso sobre o assunto entre os pesquisadores do tema. E concluem que são necessárias novas investigações para determinar se esse uso abusivo de internet pode ser compreendido como uma das mais novas classificações psiquiátricas do século XXI ou apenas um novo campo de expressão de transtornos já conhecidos.

A primeira tentativa de definição da dependência da internet ocorreu em 1995, quando o psiquiatra Goldberg (1995) através de uma paródia propôs o uso dos critérios diagnósticos do DSM-IV para Dependência de Substâncias como critério diagnóstico da dependência da internet.

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Atualmente os pesquisadores utilizam adaptações dos critérios diagnósticos do DSM-IV para Jogos Patológicos, a fim de mensurar a dependência do uso da internet. Baseando-se nos estudos de Young (1998a) que foi a precursora no diagnóstico da dependência da internet utilizando como parâmetro os critérios diagnósticos do DSM-IV para Jogos Patológicos em 1996. Pois a pesquisadora considera que o uso patológico da internet pode apresentar relação com a dificuldade do controle dos impulsos, assim como acontece no jogo patológico. Assim afim de investigar a dependência do uso da internet, a autora realizou uma pesquisa (YOUNG, 1998a) utilizando como parâmetro os critérios diagnósticos do DSM-IV para Jogos Patológicos e modificando-os para caracterizar a dependência do uso da internet. E os critérios propostos mensuravam: 1) preocupação excessiva com a internet; 2) necessidade de aumentar o tempo de conexão a internet para ter a mesma satisfação; 3) esforço para diminuir o tempo de uso da internet; 4) presença de irritabilidade ou depressão; 5) permanece conectado mais tempo do que havia previsto; 6) compromete as relações sociais, trabalho ou estudo pelo uso da internet; 7) mentir para outros sobre os acessos a internet; 8) utilizar a internet como maneira de escapar dos problemas ou para aliviar sentimentos de impotência, culpa, ansiedade e depressão. A pontuação de corte proposta é de cinco respostas positivas para os critérios acima especificados, para caracterizar a dependência do uso da internet.

E possível notar grande relação entre os critérios diagnósticos propostos por Young (1998a) e as observações clinicas do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP (FARAH; FORTIM, 2005).

A equipe do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP (FARAH; FORTIM, 2005), com base nos atendimentos realizados à comunidade com queixas de dependência da internet, relacionou os sintomas geralmente apresentados nos quadros de dependência da internet: 1) Preocupação constante com a internet quando não está conectado; 2) Necessidade contínua e crescente de utilizar a internet como forma de obter a satisfação ou excitação; 3) Irritabilidade e dificuldade quando tenta reduzir o tempo de uso da internet; 4) Utilização da internet como maneira de fuga dos problemas, ou de aliviar sentimentos de impotência, culpa, ansiedade, solidão ou depressão; 5) Mentir para familiares e pessoas próximas, com o intuito de encobrir a extensão do envolvimento com as atividades realizadas via internet; 6) Comprometimento social e profissional, redução de contatos e/ou produtividade escolar ou profissional; 7) Comprometimento nas articulações ocasionadas pela digitação (LER – lesões por esforços repetitivos); 8) Falta de interesse em atividades fora da internet; 9) Sensação de estar vivendo um sonho, durante um período prolongado na internet; 10) Os outros percebem e explicitam que a pessoa permanece muito tempo conectada; 11)

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Conversam, preferencialmente, sobre assuntos relacionados com a internet; 12) Comprometimento na qualidade dos acessos realizados na internet, como: uso repetitivo e pouco criativo.

Leitão (2003) realizou um estudo sobre as considerações clínicas de usuários de internet, através de entrevistas com diversos psicoterapeutas, e identificou que as experiências via internet despertaram encantamento e sentimentos profundos de liberdade e onipotência. E que esses sentimentos geraram excessos, pois tudo parecia acontecer livremente sem os limites do mundo real. E os excessos davam-se tanto em relação às horas dispensadas na internet, quanto à auto-exposição.

Young (1998a) também sugere que o uso excessivo da internet pode ser uma característica da dependência, pois nos resultados de sua pesquisa as horas semanais de acesso do grupo com diagnóstico de dependência da internet foi oito vezes maior do que o grupo dos não dependentes. Já Nicolaci-da-Costa (2003) apresenta uma visão positiva sobre o uso acentuado da internet, após entrevistar vinte usuários pesados em sua pesquisa sobre o vício na internet e não constatar nenhum quadro patológico nos entrevistados. Nesta pesquisa a autora, após um breve levantamento sobre o tema, considerou usuário pesado como aquele que passa no mínimo duas horas diárias conectado à internet.

Uma investigação realizada com estudantes universitários usuários da internet (CHEN; PENG, 2008) apresentou diferença significativa entre os usuários considerados pesados e os usuários considerados leves. Nesta pesquisa os usuários pesados foram classificados como aqueles que utilizam a internet acima de 33,97 horas por semana. As diferenças de maior relevância foram que os usuários leves mostraram-se com melhor relacionamento pessoal, desempenho acadêmico e de aprendizagem do que os usuários pesados. E em contra partida os usuários pesados apresentaram maior probabilidade de ficar fisicamente doentes, deprimido, solitário e introvertido do que os usuários leves.

Faz-se importante mencionar, que apenas a quantidade de horas de conexão não seria critério suficiente para determinar a dependência da internet. De acordo com Zacarias (2008) para caracterizar o uso compulsivo da internet é fundamental considerar várias características, pois o tempo de conexão é importante, mas seria muito simplista reduzir o diagnóstico de vício ao fator de tempo de conexão. Outras características, que segundo o autor, auxiliam a diagnosticar o uso compulsivo da internet são: o tipo de uso, o uso repetitivo e pouco criativo, como a pessoa se sente quando não está conectada a internet (ansiosa, triste, irritada e apreensiva para acessar novamente a internet) e como está a vida presencial dessa pessoa (se mantém encontros sociais e amorosos, trabalho, escola, lazer, também fora na internet).

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Dados do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP (NPPI, 2009) indicam que os pesquisadores consideram existir relação entre o uso da internet e as psicopatologias de seus usuários, alertando para suas consequências:

“o uso patológico do computador e da Internet pode produzir consequências graves para o indivíduo, trazendo comprometimentos tanto no campo pessoal, quanto profissional e social, tais como perda de emprego, mau desempenho escolar, divórcios ou rupturas de relacionamentos afetivos e familiares, isolamento social, gastos excessivos de dinheiro, descuido com a própria aparência e saúde física.”

DiNicola e Michael (2004) realizaram um estudo sobre o uso patológico da internet entre estudantes universitários, e verificaram que 7% relataram quatro ou mais sintomas de transtorno do controle dos impulsos relacionados ao uso da internet, e assim foram categorizados como usuários patológicos da internet. O estudo aponta que estudantes do primeiro ano relataram sintomas significativamente mais patológicos do uso da internet do que veteranos. E que os pesquisados mencionaram o impacto negativo da internet sobre seus relacionamentos (1,2%), estudos (7,9%) e sono (20,7%).

Essa relação entre o uso da internet e psicopatologias é notória em diversas investigações internacionais que relacionam o uso patológico ou a dependência da internet às morbidades psiquiátricas, como:

· Transtornos do Controle dos Impulsos (SHAPIRA; LESSIG; GOLDSMITH; SZABO; LAZORITZ; GOLD; STEIN, 2003; YOUNG, 1998b; BEARDE; WOLF, 2003; DAVIS, 2001)

· Transtornos Depressivos (YOUNG; RODGERS, 1998; HA; YOO; CHO; CHIN; SHIN; KIM, 2006; YEN; KO; YEN; WU; YANG, 2007; CEYHAN; CEYHAN, 2008; CHEN; PENG, 2008)

· Transtornos Obsessivo-Compulsivo (HA et al., 2006)

· Transtornos de Ansiedade (SHAPIRA et al., 2003; HA et al., 2006; YOUNG, 1998b; · Transtornos Sociais (ENGELBERG; SJÖBERG, 2004; ERIC, 2001; CAPLAN, 2005;

MORAHAN-MARTIN; SCHUMACHER, 2000)

Frente à relação entre o uso patológico da internet e morbidades psiquiátricas mencionadas por diversos estudiosos e pesquisadores, e as diversas transformações de interação vivenciadas e relatadas por diversos autores, emerge um grande campo de pesquisa e atuação para os profissionais da saúde, principalmente os psicólogos, para melhor compreensão do estado de saúde mental dos internautas.

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1.5 Saúde Mental

A Organização Mundial de Saúde (OMS) na Constituição da Assembléia Mundial da Saúde realizada em 1946 (WHO, 2009), definiu saúde como um “estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença”. Essa definição é muitas vezes considerada utópica, tendo em vista que o estado de saúde não é uma situação estável, que quando atingido será mantido, mas sim uma constante variável do binômio saúde/doença. Para Segre e Ferraz (1997) essa definição é inadequada, porque o conceito de bem estar, felicidade ou perfeição é especifico para a subjetividade de cada individuo, pois entre outros seria necessário considerar os sistemas de crenças e valores de cada pessoa. Assim, abolindo a definição de “estado de completo bem estar”, é possível entender a definição de saúde como um caminho a ser percorrido, em busca de um bem estar que integre o ser humano nas vertentes biopsicosocial, e essa interação complexa entre os níveis biológico, psicológico e social torna indissociável a saúde física da saúde mental e vice versa.

Assim sendo, considerando a definição de saúde e transpondo essas considerações para a saúde mental, esta não seria apenas a ausência de doenças mentais. Para a Organização Mundial de Saúde a saúde mental:

“não é meramente a ausência de transtornos mentais, mas sim um estado de bem-estar no qual o indivíduo está consciente de suas próprias habilidades, pode lidar com o stress normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de fazer uma contribuição para sua comunidade.” (OMS, 2007)

Os pesquisadores Lopez e Murray (1998) indicam que os transtornos mentais e do comportamento representam cinco das dez principais causas de morbidade em todo o mundo, sendo esse aumento ainda mais acentuado nos países em desenvolvimento, devido ao envelhecimento da população, a rápida urbanização, a violência e a globalização. Segundo os mesmos autores, embora os transtornos mentais causem pouco mais de 1% da mortalidade, são responsáveis por mais de 12% da incapacitação decorrente de doenças. Em 1990, os transtornos mentais e de comportamento correspondiam a 11% das morbidades no mundo todo, e conforme previsões dos autores acima citados esse valor atingirá 15% em 2020. Sendo a depressão responsável por 13% das incapacitações, alcoolismo por 7,1%, esquizofrenia por 4%, transtorno bipolar por 3,3% e transtorno obsessivo-compulsivo por 2,8%. A depressão foi a quarta principal causa de doença em 1990 e é estimado que será a principal causa isolada em 2020.

Diversos são os transtornos mentais, alguns se mostram comuns e de difícil caracterização, pois não preenchem os critérios formais para os diagnósticos de ansiedade,

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depressão ou somatoformes, e por isso são chamados de transtornos mentais comuns. Goldberg e Huxley (1992) cunharam a expressão transtorno mentais comuns (TMC) para caracterizar sintomas não-psicóticos, como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. Observa-se nos estudos sobre saúde mental a utilização de categorias mais amplas como: transtornos mentais comuns (MARAGNO; GOLDBAUM; GIANINI; NOVAES; CÉSAR, 2006; FACUNDES; LUDEMIR, 2005), transtornos psiquiátricos menores (LIMA; SOARES; MARI, 1999; CERCHIARI; CAETANO; FACCENDA, 2005) ou morbidades psiquiátricas menores (COUTINHO; ALMEIDA-FILHO; MARI , 1999).

Estudos apontam uma prevalência entre 20% e 58,7% de transtornos mentais na população, notando-se um aumento significativo dessas prevalências conforme o gênero, idade, estado civil e escolaridade da população. A seguir serão relacionadas pesquisas sobre as prevalências desses transtornos.

Coutinho et al. (1999) realizaram um estudo sobre os fatores de risco para morbidade psiquiátrica menor e encontraram uma elevada prevalência na população adulta em geral, destacando maior prevalência no gênero feminino, intensificado a partir dos 30 anos de idade. Pessoas de baixa escolaridade e casadas apresentaram maior ocorrência desses sintomas, em comparação aos solteiros, e ao contrário, no grupo de pessoas com escolaridade mais elevada, as pessoas casadas apresentaram menor risco desses transtornos mentais.

Estudo sobre a prevalência de transtornos mentais comuns em populações atendidas pelo Programa Saúde da Família no Município de São Paulo (MARAGNO et al., 2006) identificou a prevalência de 24,95%. Esta prevalência foi significantemente maior nas mulheres, idosos, categorias de menor renda e menor escolaridade.

Um estudo sobre a epidemiologia dos transtornos mentais em uma área da cidade de São Paulo (ANDRADE; LÓLIO; GENTIL; LAURENTI, 1999) mensurou a prevalência de transtornos mentais de 45,6% ao longo da vida e 22,2% no último mês. O transtorno mais comum foi dependência de tabaco (25% ao longo da vida e 9,3% no mês anterior), seguido por transtorno depressivo (18,5%; 5,0%), transtorno ansioso (16,8%; 4,5%), transtorno somatoforme (6%; 3,2%) e uso nocivo/dependência de álcool (5,5 %; 4%). Notou-se que o risco em mulheres foi maior na maioria dos quadros psiquiátricos, exceto uso danoso ou dependência de álcool, drogas e nicotina. E que pessoas entre 25 e 59 anos mostraram-se mais vulneráveis aos transtornos mentais.

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do Sul (LIMA et al., 1999), identificou 22,7% de prevalência de transtornos psiquiátricos. Sendo essa ocorrência 50% maior em mulheres e aumentada com a idade, as pessoas a partir dos 45 anos apresentaram cerca de 30% mais transtornos psiquiátricos menores que os jovens (15 a 34 anos). E os solteiros apresentaram menor prevalência e os viúvos a maior prevalência. Verificou-se também que quanto menor a escolaridade e a renda familiar per capita, maior a prevalência de TPM.

Santana (1982) avaliou a prevalência anual de doenças psíquicas, em um bairro de Salvador, e mensurou 20% de doenças psíquicas em seu estudo.

E Mauro (1996) em sua pesquisa com estudantes trabalhadores identificou a prevalência 58,7% de morbidade psiquiátrica em sua amostra de estudantes do ensino fundamental e médio.

Pesquisas realizadas sobre os transtornos psiquiátricos em estudantes universitários seguiram a prevalência das demais pesquisas citadas anteriormente, entre 25% e 58%.

Cerchiari et al. (2005) identificaram a prevalência de 25% de transtornos mentais menores em estudantes universitários, de diversos cursos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Neves e Dalgalarrondo (2007) verificaram a prevalência de 58% de transtornos mentais entre estudantes de graduação, da Universidade Estadual de Campinas. E Facundes e Ludemir (2005) realizaram estudo sobre transtornos mentais comuns em estudantes da área de saúde em uma Universidade de Pernambuco e mensuraram a prevalência de 34,1% transtornos mentais comuns.

Prevalências estas que evidenciam a importância e a necessidade de se adotar estratégias de proteção, prevenção e promoção de saúde para a população, como apregoa os conceitos da Psicologia da Saúde (SIQUEIRA; JESUS; OLIVEIRA, 2007).

Considerando as inúmeras discussões sobre os malefícios e benefícios da internet, a presente pesquisa pretende:

 Avaliar a saúde mental dos internautas universitários, considerando os sintomas de morbidades psiquiátricas.

 Avaliar o uso patológico da internet realizada pelos internautas universitários.

 Identificar correlações entre o tempo e tipo de acesso à internet e as morbidades psiquiátricas.

 Identificar correlações entre o tempo e tipo de acesso à internet e o uso patológico da internet.

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 Identificar correlações entre as morbidades psiquiátricas e o uso patológico da internet.

A presente pesquisa também possibilitará o levantamento de hipóteses que poderão ser testadas por outras pesquisas, visando maiores e mais profundos estudos sobre o quadro de saúde mental dos usuários de internet.

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2. MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma pesquisa quantitativa com delineamento transversal. O estudo transversal é um estudo epidemiológico onde todas as medições são feitas em um único momento, sem período de acompanhamento. (HULLEY; CUMMINGS;

BROWNER; GRANDY; HEARST; NEWMAN, 2003; ROUQUAYROL, 1994;

ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999). Utilizado para investigações da medição de saúde de uma determinada população ou comunidade, com base na avaliação individual dos integrantes do grupo, que então produzem indicadores para a saúde do grupo. Suas vantagens são a facilidade e rapidez para obtenção dos resultados da avaliação da saúde de uma determinada população e a possibilidade de avaliação de diferentes doenças dentro de um mesmo estudo. Baixo custo, alto potencial descritivo possibilitando a descrição do estado de saúde da população pesquisada. E suas desvantagens são que os casos de doenças progressivas ou crônicas são os mas detectados, pois a relação temporal é indefinida nesse tipo de estudo. (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999).

Os estudos transversais podem, também, ser utilizados para descrever associações entre variáveis, frequentemente utilizado por pesquisadores em saúde pública para a descrição da prevalência de uma determinada doença ou condição. Conforme Hulley et. al. (2003) o estudo transversal permite identificar a prevalência de doenças ou fatores de risco da amostra. Forattini (1996) entende a prevalência de uma doença como o número de casos existentes, está pode ser medida num período de tempo (prevalência no período) ou calculada num determinado momento (prevalência momentânea ou instantânea). Segundo Rouquayrol e Almeida Filho (1999) a medida mais simples para a prevalência é a frequencia absoluta dos casos de doença, mas também é possível calcular seu coeficiente através do seguinte calculo:

Coeficiente de Prevalência .=

nº de casos conhecidos de uma

dada doença x 1.000 População

2.1 Amostra

Participaram desse estudo 150 usuários de internet, dos gêneros, masculino e feminino, numa faixa etária de 17 até 53 anos, estudantes universitários de diversos cursos de graduação da faculdade de saúde, de um único campus, de uma universidade privada, localizada na cidade de São Bernardo do Campo na região metropolitana de São Paulo.

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possibilita ao pesquisador o contato com grande número de entrevistados em curto período de tempo e custo mínimo. Segundo Hulley et. al. (2003) na amostra por conveniência minimiza-se o voluntarismo e outros tipos de viés de minimiza-seleção, assim arrolando todas as pessoas acessíveis que atendam aos critérios de participação.

Essa amostra foi selecionada por critério de conveniência, porém considerou-se a amostragem por cotas para melhor representatividade da população estudada.

Para Gil (1999) a amostragem por cotas, de todos os tipos de amostragem não probabilística, é a que apresenta maior rigor por classificar a população em função de propriedades tidas como relevantes para o estudo e determinar as cotas ou proporções da população a ser estudada com base na constituição conhecida ou presumida da população, de modo que a amostra total seja composta em observância à proporção das classes consideradas. Para estabelecer a amostragem por cotas, considerou-se o número total de alunos em cada um dos cursos ministrados na faculdade de saúde, de um único campus, seccionados conforme o ano e o período em que estudavam, e tomou-se como base para este estudo 10% da população descrita para a realização da pesquisa, conforme ilustra a Tabela1.

Tabela1 – Calculo da amostragem por cota

CURSO PERÍODO ANO Nº de Alunos 10% amostra

1º 37 4 2º 37 4 1º 47 5 2º 43 4 3º 79 8 4º 44 4 MATUTINO 4º 42 4 1º 41 4 2º 39 4 3º 38 4 FARMÁCIA* NOTURNO 4º 69 7 FONOAUDIOLOGIA* NOTURNO 3º 27 3 1º 74 7 2º 51 5 3º 61 6 4º 80 8 5º 90 ** 1º 53 5 2º 3º 41 4 4º 36 4 5º 26 3 1º 67 7 2º 3º 4º 5º 1594 150

* Os cursos de Farmácia e Fonoaudiologia só possuem uma turma no Campus pesquisado.

** O 5º ano do curso de Medicina Veterinária não tem aula presencial, o que impossibilitou a participação destes alunos na pesquisa.

MATUTINO NOTURNO BIOMEDICINA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 86 TOTAL 91 9 84 8 90 9 MATUTINO NOTURNO 121 12 PSICOLOGIA 9 NOTURNO

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Os participantes que responderam a pesquisa foram selecionados por critério de conveniência, ou seja, participaram apenas aqueles que se disponibilizaram. O único critério para exclusão foi o participante não ser usuário da internet. Faz-se importante lembrar que na amostragem não probabilística de conveniência, os participantes são selecionados pela sua disponibilidade imediata, não se pode realizar generalizações para além da amostra. (REA; PARKER, 2002; SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006)

2.2 Ambiente

O estudo foi realizado nas dependências de um dos campus da faculdade de saúde de uma universidade privada, na cidade de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Os questionários foram aplicados nas próprias salas de aula onde esses participantes estudavam.

2.3 Instrumentos

Foram utilizados dois instrumentos para pesquisa:

A) O Questionário Complementar visa à caracterização da amostra, através de dados demográficos, detalhamento sobre o curso, semestre e período de estudo dos universitários pesquisados, dados sobre tempo e tipo de acesso à internet, indicadores de possível uso patológico da internet retirados da literatura arrolada na introdução deste estudo, e uso de medicamentos controlados que dariam indícios de controle e tratamento de algumas patologias (Anexo A). Esses dados são importantes para maior conhecimento do perfil dos participantes da pesquisa e compreensão de possível correlação entre estes dados com o QMPA.

B) O Questionário de Morbidade Psiquiátrica de Adultos (QMPA), desenvolvido por Santana (1982) foi construído baseado na experiência clínica de psiquiatras, no Cuestionario de Enfermedad Mental de Groot e Arevalo e no Questionário de Morbidade do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, sendo posteriormente desenvolvido e adaptado às especificidades regionais da linguagem (Anexo B). O QMPA é um instrumento originalmente composto por 45 questões, elaboradas com termos populares que abrangem os mais frequentes sintomas característicos de transtornos psiquiátricos, além de questões sobre tratamento psiquiátrico e uso de drogas psicofarmacológicas. O questionário pode ser auto-aplicado. As respostas são dicotômicas do tipo sim ou não. As primeiras 43 questões

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referem-se ao pesquisado. As duas últimas questões (44 e 45) referem-referem-se a sintomatologia aprereferem-sentada por qualquer um dos membros da família do indivíduo do qual se quer saber o estado de saúde mental. Andreoli; Mari; Blay; Almeida-Filho; Coutinho; França; Fernandes; Busnello (1994) ao realizarem a análise fatorial do QMPA mencionam que as questões 44 e 45 apesar de mostrar relação direta com o quadro psicopatológico apresentam problemas ao serem respondidas, por serem referidas a um membro da família. Portanto as duas questões foram excluídas do questionário utilizado nesta pesquisa. As respostas dadas ao questionário são somadas (sim = 1, não = 0) e os escores finais podem indicar a presença de sintomas psiquiátricos atuais, proporcionando um inventário de sintomas. A validação do QMPA com dados populacionais foi testada para o ponto de corte 7, mostrou sensibilidade entre 75% e 93%, especificidade entre 53% e 94% e índice Kappa de 0,88 (SANTANA, 1982).

Andreoli et al. (1994) realizou a análise fatorial do QMPA e encontrou 7 fatores de morbidades psiquiátricas:

1. Ansiedade/Somatização (composto pelas questões 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 21, 22, 23 e 35)

2. Irritabilidade/Depressão (composto pelas questões 6, 7, 10, 13, 14, 15, 18 e 22) 3. Deficiência Mental (composto pelas questões 16, 37, 38 e 44)

4. Alcoolismo (composto pelas questões 19, 20 e 43)

5. Exaltação do Humor (composto pelas questões 28, 29, 33 e 34) 6. Transtorno de Percepção (composto pelas questões 27, 30 e 31) 7. Tratamento (composto pelas questões 24, 35 e 40)

2.4 Procedimento

Inicialmente foi solicitada autorização da instituição (Anexo C) para coleta de dados com os alunos da universidade. Posteriormente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo para autorização da realização desta pesquisa (Anexo D). A aplicação dos questionários foi realizada coletivamente em sala de aula, com prévia autorização dos professores que ministravam suas aulas naquele período.

O critério de escolha dos participantes, como mencionado anteriormente foi por conveniência, deste modo, o pesquisador divulgou em cada sala de aula o número de estudantes daquela determinada turma que poderia participar da pesquisa, conforme a cota de 10% da turma calculada anteriormente, e os alunos que se dispunham recebiam as informações necessárias para prosseguir a pesquisa. O único critério de exclusão utilizado foi

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o estudante não ser usuário de internet.

Antes da aplicação dos questionários o pesquisador explicou aos participantes o objetivo da pesquisa, falou sobre o sigilo da participação, sobre o fato da pesquisa não oferecer riscos para saúde física ou psíquica e informou sobre a liberdade do participante, mesmo depois de coletados os dados, desistir de sua participação ou ainda sanar quaisquer dúvidas sobre o estudo com o pesquisador. Após concordância na participação da pesquisa foi entregue para assinatura dos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Anexo E), de acordo com os princípios éticos nas determinações constantes do Decreto 196 da Resolução n.196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil para pesquisas envolvendo seres humanos.

Antes da aplicação dos instrumentos, os participantes receberam os devidos esclarecimentos sobre o preenchimento do Questionário Complementar e do QMPA.

Após coleta, os dados foram lançados e tratados estatisticamente através do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Para análise dos resultados foram utilizados a correlação bivariada de Pearson, Teste t, cálculo de médias, desvio padrão e frequência das variáveis apresentadas.

ASPECTOS ÉTICOS / RISCOS E BENEFÍCIOS

A presente pesquisa atende as resoluções CNS 196/96 e CFP 16/2000 seguindo as diretrizes e normas de pesquisas com seres humanos e pesquisas em psicologia com seres humanos. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A pesquisa não proporcionou nenhum risco físico ou psicológico aos seus participantes, por tratar-se de diagnóstico e não de intervenção. Foi garantido o respeito aos participantes mantendo o sigilo e confidencialidade das informações coletadas. Deste modo, entende-se que não há riscos ou danos de nenhuma espécie aos participantes desta pesquisa.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir são apresentados e discutidos os resultados do presente estudo, iniciando-se pela caracterização da amostra, seguindo pela apresentação da prevalência dos sintomas de morbidade psiquiátrica, médias dos fatores de morbidade psiquiátrica, frequências do uso patológico da internet, e posteriormente a apresentação das correlações entre morbidade psiquiátrica, uso patológico da internet, tempo e tipo de acesso à internet, além do Teste t das médias das principais variáveis do estudo.

3.1 Caracterização da Amostra

Participaram desta pesquisa 150 usuários de internet, dos gêneros, feminino e masculino, entre 17 e 53 anos, estudantes de diferentes cursos universitários da área da saúde. Os dados demográficos dos participantes foram compilados e apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Dados demográficos da amostra (n=150)

Variáveis Níveis n % Média

Gênero Feminino 110 73% Masculino 40 27% Idade 23 anos Faixa Etária 17 a 19 anos 36 24% 20 a 25 anos 89 59% 26 a 30 anos 13 9% 31 a 40 anos 9 6% 41 a 53 anos 3 2% Estado Civil Solteiro 133 89% Casado 11 7% Divorciado 3 2% União Consensual 3 2% Atividade Laboral Estágio 47 31% Somente Estuda 45 30% Trabalho formal 38 25% Trabalho informal 20 13% Renda Familiar R$ 4.495,00

A Tabela 2 mostra que os internautas universitários estudados eram na maioria mulheres (73%), e 27% de homens. Com faixa etária entre 17 e 53 anos e idade média de 23 anos, sendo que 59% tinham entre 20 e 25 anos. Em relação ao estado civil houve o predomínio de pessoas solteiras (89%), seguido por 7% casadas, 2% divorciadas e 2% viviam

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em união consensual. Quanto a atividade laboral que exerciam 31% estagiavam, 30% somente estudavam, 25% realizavam trabalhos formais e 13% trabalhos informais. Os participantes apresentaram renda familiar média de R$ 4.495,00 (média de 8,8 salários mínimos), o que poderia ser classificado como classe econômica B1, conforme a média de renda familiar dos estudos da ABEP em 2010.

Os usuários de internet pesquisados eram estudantes de diferentes anos e períodos de diversos cursos de graduação da área da saúde, conforme ilustra a Tabela 3.

Tabela 3 - Dados de escolaridade da amostra (n=150)

Variáveis Níveis n % Curso Biomedicina 28 19% Ciências Biológicas 16 11% Farmácia 7 5% Fonoaudiologia 3 2% Medicina Veterinária 26 17% Psicologia 70 47% Ano 1º 31 21% 2º 34 23% 3º 34 23% 4º 36 24% 5º 15 10% Período Matutino 62 41% Noturno 88 59%

A Tabela 3 mostra que a maioria dos internautas eram alunos do curso de Psicologia (47%), seguidos por Biomedicina 19%, Medicina Veterinária 17%, Ciências Biológicas 11%, Farmácia 5% e Fonoaudiologia 2% . Os anos de estudo cursados na graduação foram mais homogêneos, 24% dos alunos cursavam o 4º ano, 23% cursavam igualmente o 2º e 3º ano, 21% o 1º ano e 10% o 5º ano. Quanto ao período em que realizavam seus estudos, predominou o período noturno em 59%, ante o período matutino com 41%. O percentual de alunos por curso, ano e período foi definido pela amostragem por cotas, representando em 10% a população de estudantes dos cursos da faculdade de saúde de um único campus, da universidade pesquisada, conforme detalhado anteriormente no método desta pesquisa.

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3.2 Padrão de uso da Internet da Amostra

Quanto ao padrão de acesso à internet dos usuários pesquisados foi possível traçar um perfil da média de acessos e o tipo de uso dessa ferramenta, considerando o local de acesso, a razão para o acesso e os sites frequentemente acessados.

A Tabela 4 apresenta a média de acesso à internet dos internautas pesquisados.

Tabela 4 - Média de acesso à internet da amostra (n=150)

Variáveis Média

Desvio

Padrão Mínimo Máximo

Quantidade de dias de acesso na semana 6 1,7 1 7

Horas de acesso por dia 4 2,8 1 19

Horas de acesso por semana 25 20,4 1 133

Horas de acesso por mês 100 81,5 4 532

A média de dias de acesso semanal à internet da amostra estudada foi de 6 dias por semana (DP = 1,7). Sendo o tempo médio de navegação diária de 4 horas (DP = 2,8), variando entre 1 e 19 horas conforme o usuário. Assim foi possível identificar a média de 25 horas de acesso semanal à internet (DP = 20,4), esse tempo de acesso variou entre 1 e 133 horas conforme o internauta. Considerando essa média de acesso obtivemos a média de 100 horas de navegação por mês (DP = 81,5), com grande tempo de variação entre os usuários, de 4 a 532 horas de acesso.

Média mensal essa (100 horas) maior que o dobro da média mensurada pelo IBOPE Nielsen Online (2009) para horas de acesso mensais no Brasil (48 horas e 26 minutos). Sendo assim, os participantes dessa pesquisa podem ser considerados usuários de internet bastante ativos, fato que assegura uma amostragem significativa em termos de acesso à internet. Esta alta média para tempo de acesso à internet, tratando-se de estudantes universitários, pode ser compreendida pelas considerações das pesquisas do IBGE (2005, 2008) que mostraram que quanto maior o grau de escolaridade, maior o tempo de acesso à internet.

A Tabela 5 elucida o tipo de uso da internet que os internautas estudados frequentemente realizavam.

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Tabela 5 - Frequência e tipo de utilização da internet da amostra (n=150) Variáveis Níveis n % "Nunca acesso" "Raramente Acesso" "Às vezes acesso" "Frequentemente acesso" Local de Acesso Residência 148 99% 1% 2% 12% 85% Trabalho 72 48% 52% 12% 11% 25% Instituição de Ensino 140 93% 7% 31% 45% 18% Lan House 32 21% 79% 17% 4% 1% Outros 7 5% 23% 3% 1% 1% Razão de Acesso Lazer 146 97% 3% 9% 34% 54% Trabalho 111 74% 26% 13% 16% 45% Estudos 150 100% 0% 1% 20% 79% Outros 13 9% 24% 3% 1% 5% O que acessa Relacionamento 109 73% 27% 11% 21% 4% Bate Papo 69 46% 54% 11% 11% 24% Pesquisa 149 99% 1% 1% 18% 80% Jogos 51 34% 66% 17% 13% 4% Email 146 97% 2% 1% 6% 91% Outros 21 14% 9% 1% 5% 8%

Através dos dados apresentados na Tabela 5 é possível verificar que 99% dos internautas acessavam a internet de suas residências frequentemente (85%), sendo que 93% dos participantes também acessavam a internet da instituição de ensino com uma frequência menos regular (45% acessavam às vezes e 18% acessavam frequentemente). O acesso à internet no local de trabalho era realizado por 48% dos pesquisados com uma frequência menor (25% acessavam às vezes e 11% acessavam frequentemente). A Lan House era utilizada por 21% dos internautas com uma frequência bastante baixa. Outros locais de acesso representaram 5%, esses acessos eram realizados em casa de amigos, parentes e por celular.

Acessar a internet por motivo de estudo foi mencionado por 100% dos alunos, com frequente utilização (79%). Utilizar a internet para o lazer foi citado por 97% dos pesquisados, e a frequente utilização por esse motivo apareceu em 54% dos casos e outros 34% com menor frequência porque acessavam “às vezes”. Para a realização de trabalhos, o uso da internet foi apontado também por grande parte (74%) dos participantes. Os outros motivos relatados em 9% da amostra eram para compras, busca de emprego, escutar música e obter informações gerais sobre esporte, curiosidades e fofocas.

Referente aos sites acessados, aparece em 99% dos casos o acesso a sites de pesquisa, com grande frequência de utilização (80%), os sites de pesquisas mencionados foram: Google, Scielo, Bvspsi, Capes e Pubmed. Outra grande prevalência de acessos foram os emails, 97% dos internautas costumavam acessar seus emails com grande frequência (91%). Os sites de relacionamento também eram bastante acessados, 73% dos participantes acessavam sites de relacionamento como: Orkut, Facebook e Twitter. Com menor frequência

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de acesso (46%) foram mencionados os sites de bate papo, como: Messenger e Skipe, 34% citaram acesso a sites de jogos e os outros 14% referiam-se a acessos de blogs, sites de notícias, sites de compra e venda de produtos, sites de emprego, sites de cursos de ensino a distância, sites de download, de vídeos e de músicas.

Assim como nas pesquisas do IBGE (2005, 2008) o local de acesso à internet mais utilizado pelos internautas universitários pesquisados foi a residência. Porém seguido pelo acesso à internet da instituição de ensino, que aparece nas pesquisas do IBGE (2005, 2008) como menor percentual de acesso, possivelmente essa diferença se deu por a amostra ser composta de estudantes universitários que possuem fácil acesso de conexão em sua instituição de ensino. Também por esse motivo, a maior finalidade de acesso à internet foi para o estudo (100%), diferentemente das informações do IBGE (2008), onde essa era a finalidade com menor percentual de acessos.

Os tipos de sites acessados pelos internautas pesquisados indicam que a segunda finalidade de acesso é a comunicação, pois 97% da amostra acessavam emails, 73% sites de relacionamento e 46% sites de bate papo. O IBGE (2008) aponta que a maior finalidade de acesso à internet no Brasil é a comunicação e o IBOPE Inteligência (2010) divulgou que o Brasil é um dos dez países que mais acessam as redes sociais. Considerando que a amostra é de estudantes, os dados mensurados corroboram com os altos índices de acesso para fins de comunicação e acesso a sites de relacionamento.

3.3 Uso Patológico da Internet

O uso patológico da internet foi avaliado pelo presente estudo através de quatro questões elaboradas a partir da revisão literária desta pesquisa, com o objetivo de mensurar se os internautas pesquisados realizavam o uso excessivo da internet, em detrimento de outros aspectos de suas vidas. A Tabela 6 apresenta a frequência de respostas afirmativas para cada uma das questões.

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Tabela 6 - Frequência de respostas para as questões do uso patológico da Internet (n=85)

Uso patológico da Internet n %

Você costuma negligenciar tarefas escolares, domésticas ou trabalho

para permanecer mais tempo conectado a Internet? 44 29% Você já se privou de necessidades fisiológicas (como sono, alimentação,

urinar ou defecar) para se manter mais tempo conectado a Internet? 57 38% Você prefere passar mais tempo on-line do que estar com seus amigos e

familiares? 11 7%

Outras pessoas (amigos/familiares) se queixam sobre a quantidade de

tempo que você se mantém conectado a Internet? 30 20%

É possível notar a existência do uso patológico da internet em uma grande proporção dos internautas estudados, sendo que 38% se privaram de necessidades fisiológicas, como o sono, a alimentação, urinar ou defecar para se manter mais tempo conectados à internet, 29% citaram costumar negligenciar tarefas escolares, domésticas ou trabalho para permanecer mais tempo conectados a internet, 20% relataram que outras pessoas, como amigos e familiares, se queixam sobre a quantidade de tempo que estes permanecem conectados a internet. E destaca-se, apesar do baixo índice, uma questão bastante relevante, onde 7% dos participantes mencionaram preferir passar mais tempo on-line do que estar com seus amigos e familiares.

A Tabela 7 mostra a frequência de respostas afirmativas para o uso patológico da internet.

Tabela 7 - Frequência de respostas positivas sobre o uso patológico da internet (n=85)

Total de respostas N %

1 resposta 47 31%

2 respostas 23 15%

3 respostas 11 7%

4 respostas 4 3%

A Tabela 7 demonstra que 57% (N=85) dos internautas pesquisados mencionaram realizar algum dos comportamentos avaliados como indício do uso patológico da internet, e destes, 31% mencionou realizar um dos quatro comportamentos patológicos sobre o uso da internet adotados nessa pesquisa. Seguidos por 15% que realizou dois dos quatros comportamento patológicos pesquisados, 7% que realizou três dos quatros comportamento patológicos e 3% mencionou realizar os quatro comportamento patológicos sobre o uso da internet pesquisados.

Corroborando com o pensamento de Levy (1993) de que a natureza opressiva, anti-social, ou ao contrário, benéfica e amigável da informática depende da questão do bom ou do

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mau uso da mesma, a presente pesquisa através das questões apresentadas acima, pretendeu avaliar se os internautas pesquisados realizavam um mau uso da internet. E com base nos resultados apresentados mensurou que 57% dos internautas pesquisados realizam comportamentos avaliados como uso patológico da internet, por utilizá-la em detrimento de outros aspectos de suas vidas, conforme sugere diversos autores para avaliação dos malefícios do uso da internet (YOUNG, 1998a; FARAH; FORTIM, 2005; ZACARIAS, 2008; CASTELLS, 1999).

Dos questionamentos sobre o uso da internet avaliados nesta pesquisa, o comportamento mais patológico mostra ser o detrimento das relações sociais presenciais em função do uso da internet, mencionado por vários autores de maneira diferenciada: declínio da comunicação com familiares (CASTELLS, 1999), comprometimento das relações sociais (YOUNG, 1998a), substituição de relacionamentos reais por relacionamentos virtuais (NICOLACI-DA-COSTA, 2002a), comprometimento social e redução de contatos (FARAH; FORTIM, 2005 e ruptura de relacionamentos afetivos e isolamento social (NPPI, 2009). E presente em apenas 7% da amostra, elucidando que o nível de comprometimento do uso patológico da internet da amostra não é tão severo.

Para compreensão do perfil dos internautas que fazem o uso patológico da internet a Tabela 8 apresenta os dados demográficos e escolares dos internautas pesquisados discriminando conforme o tipo de uso da internet (patológico ou não patológico).

Referências

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