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Recursos Naturais Assimilação de Lixo

Energia Energia Degradada Materiais Materiais Degradados Materiais Reciclados

ENTROPIA

Fonte: Adaptação de CLEVELAND & RUTH (1997, p. 134)

FIGURA 1 – Subsistema aberto da economia no sistema ambiental fechado Subsistema

Embora nessas considerações se tenham abordado algumas questões específicas dos processos produtivos da economia em relação ao sistema ambiental, essas relações podem ser rebatidas para outras atividades da sociedade. Quando o economista BINSWANGER (1997, p. 42) defende a sustentabilidade como alternativa ao crescimento econômico tradicional, ele argumenta por meio de três considerações que podem ser válidas para outros campos do conhecimento. A primeira é a compreensão dos elementos naturais como base da atividade econômica e como sistema de apoio à vida. A segunda é a tradução dos amplos conceitos que permeiam a sustentabilidade em um conjunto de objetivos específicos que possam tornar-se operacionais como meio de facilitar e expandir a apreensão do significado do termo. E finalmente, a terceira, que é enfocar o problema assegurando uma visualização abrangente, que não se limite à administração de questões isoladamente, demandando para tal um reequacionamento institucional profundo.

A discussão da sustentabilidade abre-se para a necessidade de reflexão sobre vários aspectos da sociedade contemporânea, considerando-se os seus modos de produção, de consumo e de estilos de vida. Um dos desafios reside no fato de que uma perspectiva de sustentabilidade que perdure a longo prazo requer, por um lado, uma conscientização da finitude, enquanto limitação de recursos naturais e, por outro, uma consciência da necessidade de auto-restrição. No desenvolvimento de elementos para a definição de políticas em direção a um consumo sustentável, um relatório do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estabelece um amplo encadeamento de tais relações. De tal forma que, ao se fabricar um determinado produto, se concretizam correlações e impactos em vários níveis, como no caso do automóvel, por exemplo:

“...a utilização do automóvel compreende todos os impactos ambientais durante a produção e o uso do próprio carro. Também implica a produção e o uso de petróleo, a construção de estradas, o uso do solo para estacionamento e os congestionamentos” (PNUMA,

1998, p. 65).

Isso significa que um objeto de consumo como o automóvel implica em uma rede de consequências que ultrapassa o produto em si, estabelecendo

relações com o sistema biofísico por meio de várias vertentes distintas. Além dessas considerações em relação às implicações de determinados produtos e suas atividades correlatas, esse documento discute a diversidade de consumo entre as nações, apontando a necessidade de correção dos extremos:

“...existe uma necessidade global de mudança nos padrões de consumo, tanto do consumo ‘luxuoso’ no Norte quanto ao consumo ‘de sobrevivência’ do Sul, cada um dos quais com seu próprio nível de impacto ambiental” (PNUMA, 1998, p. 64).

Ambos os aspectos apontados pelo relatório do PNUMA são incompatíveis com as tendências atuais decorrentes dos imperativos de uma economia de mercados globalizados, que se pauta pelo incremento e expansão das necessidades de uma sociedade consumidora de serviços e de bens materiais. Algumas alternativas a estas fortes tendências têm sido oferecidas por proposições da denominada permacultura ou pela economia solidária.

ƒ PERMACULTURA E A E

CONOMIA

S

OLIDÁRIA

A proposta da Permacultura contempla uma relação de “harmonia

produtiva com a natureza”, de forma que todas as atividades antrópicas sejam

desempenhadas sob uma ótica conservacionista. O próprio termo “Permacultura” tem origem na conjunção das palavras “permanente” e “cultura”, implicando-se no estabelecimento de concepções que se baseiem em uma relação mais duradoura e equilibrada com o meio socioambiental. As suas idéias têm inspirado diversas concepções das denominadas “eco vilas” ou “ecovillages”, de projetos comunitários baseados no cooperativismo e até mesmo de unidades de ensino universitário, como é o caso do Centro de Estudos Regenerativos, da California

State Polytechnic University em Pomona (EUA), projetado em 1976 pela equipe

coordenada pelo arquiteto John Tillman Lyle.

Uma das grandes contribuições na formulação dos princípios da Permacultura deve-se a Bill Mollison, um biólogo australiano que afirmava que a cooperação e não a competição é a verdadeira base da vida no planeta. Ele estrutura toda a sua argumentação sob o prisma da cooperação como a base essencial da evolução das espécies. Segundo esses postulados, a ciência do século

XX constatou que mais de 80% das relações ecológicas estabelecidas entre os seres vivos são do tipo cooperativo e, apenas a minoria restante, do tipo competitivo. Consequentemente, as espécies mais aptas e que portanto sobreviveram foram aquelas que aprenderam a cooperar, fator esse que geraria grandes implicações nos aspectos relativos à ética e à organização da sociedade humana (MOLLISON, SLAY, 1991).

As propostas da Permacultura têm tido influências em implementações práticas nos chamados Projetos Ecológicos, alguns deles concebidos como detentores de um tripé de considerações: Paisagismo Produtivo,

Edificações Autônomas e Infra-estrutura Ecológica. Com o Paisagismo Produtivo

buscam, além dos usos convencionalmente estabelecidos para o paisagismo, a produção de alimentos isentos de contaminação. Com as Edificações Autônomas, visam assegurar naturalmente o conforto térmico e ambiental, reduzindo ou eliminando o uso de sistemas artificiais de ventilação, refrigeração e aquecimento. E finalmente com a Infra-estrutura Ecológica, almejam uma maior independência energética externa, por meio da utilização de energia eólica ou solar, além de projetos de reuso das águas residuárias e pluviais. O objetivo é captar os fluxos energéticos naturais do sol, do vento, da água e dos nutrientes que constituem a matéria biológica, criando ciclos produtivos no sistema até neutralizar efeitos nocivos (PAIM, CHAVES, 1995).

Alguns especialistas têm tido uma significativa contribuição para o desenvolvimento de projetos “permaculturais”. Esse é o caso do professor John Lyle, que foi responsável pela área de Landscape Architecture na California State

Polytechinic University, onde trabalhou acadêmica e praticamente com projetos e

planejamentos ecológicos, enfatizando os princípios essenciais de processos naturais de desenvolvimento no ambiente humano. São de sua autoria os livros

Design for Human Ecosystems (Van Nostrand Reinhold, 1985) e Regenarative Design for Sustainable Development (John Wiley and Sons, 1994) e uma série de

artigos publicados nos periódicos Landscape Architecture, Landscape Journal,

Um outro especialista envolvido em trabalhos relacionados à Permacultura é William H. Roley, diretor do Permaculture Institute of Southern

California e co-fundador do Eos Institute e seu periódico ambiental Earthword. A

sua formação é de um antropólogo e professor de ciências naturais, que utiliza os conhecimentos da biologia, da arquitetura, da engenharia, da agricultura e da ecologia para criar padrões de restaurações em diversos empreendimentos. O seu trabalho com a ecologia aplicada enfatiza estratégias que visam o futuro, por meio de planejamento de comportamento e de padrões culturais em empreendimentos economicamente viáveis, ambientalmente sensíveis e eticamente apropriados.

Sprout Acres, a sua estação experimental integrativa no estado da Califórnia,

enfoca os ciclos dos resíduos, energia e água e seus impactos sobre a cadeia alimentar. Ele acredita que os conceitos de paisagismo produtivo e engenharia florestal tenham que ser necessariamente incorporados no planejamento urbano do futuro (ROLEY, 1997).

Esses exemplos de atividades relacionadas às idéias da Permacultura possibilitam a apreensão de posturas que se colocam francamente em oposição aos modelos de desenvolvimento vigentes. Algumas “eco vilas”, ou comunidades que buscam alternativas dentro da denominada “Economia Solidária”, têm se distinguido por conseguir entronizar em seus processos econômicos e sociais moedas próprias, adquirindo, assim, uma representativa autonomia em relação aos sistemas econômicos centrais dos locais onde se instalam.

O economista e professor Paul Singer em sua obra denominada “Globalização e Desemprego – diagnóstico e alternativas”, de 1999, traz uma contribuição preciosa para a compreensão do funcionamento da Economia Solidária, bem como para a sua implementação em alguns lugares do mundo, tais como, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Grã Bretanha, Irlanda e Estados Unidos. A respeito de uma definição mais precisa para a economia solidária, esse autor considera que:

“ É possível organizar a produção em escala sem ser pelo molde do grande capital. Um exemplo clássico é a cooperativa de produção e consumo. Mas há experiências ainda mais coletivistas, como o movimento kibutziano em Israel. De uma forma geral, é possível e

necessário encontrar uma forma de quebrar o isolamento da pequena e microempresa e oferecer a elas possibilidades de cooperação e intercâmbio que aumentem suas possibilidades de êxito. O nome genérico que damos a esta forma de organização econômica é economia solidária” (SINGER, 1999, p. 131-132).

Segundo Singer, a maioria dessas experiências ainda são recentes e restritas. No entanto, considera que a implementação de novas formas de organização da economia pode ser uma alternativa ao crescente desemprego, principalmente para a mão-de-obra excluída da nova ordem pós-industrial. No Brasil, cita como um início desse processo a recente organização da ANTEAG - Associação Nacional dos Trabalhadores das Empresas Autogeridas. Esta se apresenta com acentuada referência aos ESOPs - Employee Stock Ownership

Plans, que seriam “Planos de participação dos empregados no capital das

empresas”, que vêm se expandindo nos Estados Unidos desde 1974, data de aprovação da lei de concessão de incentivos fiscais às empresas que aderissem a essa modalidade de plano (SINGER, 1999, p.135).

Se, hipoteticamente, fosse possível conjugar as propostas da Economia Solidária preconizadas pelo professor Paul Singer com os projetos ecológicos pesquisados na Permacultura, provavelmente haveria uma articulação positiva entre várias dimensões da sustentabilidade, no mínimo, na econômica, na social e na ecológica. No entanto, essas proposições se tornam mais viáveis, e portanto menos utópicas, quando se adotam escalas espaciais restritas tais como vilas, cooperativas rurais, comunidades alternativas etc. O problema se torna muito mais complexo ao se implementar alterações que envolvam a diversidade social e os inúmeros aspectos das relações ambientais, econômicas, políticas e culturais das médias e grandes cidades, para não falar dos graves problemas específicos das metrópoles, notadamente as do denominado Terceiro Mundo. Ao refletir sobre as limitações próprias da “anatomia” e da “fisiologia” das cidades que vivenciam o fenômeno da conurbação, NAREDO (1999) salienta que “Se

trata em suma de um organismo em cujo metabolismo falham os ‘feed back’ das informações necessárias para se corrigir sua expansão explosivamente insustentáveis”.

Apesar de seu maior potencial de superação de problemas socioambientais, parte das experiências de ecovilas, especialmente as decorrentes do “New Urbanism”, têm recebido fortes críticas de alguns planejadores que vêem nelas uma limitação à diversidade social presente nestas implementações que se caracterizariam por uma visão excludente de comunidade:

“...propõem uma nova auto suficiência nos assentamentos de não mais que alguns milhares de habitantes vivendo em relação direta com sua área envoltória. As populações dessas comunidades usualmente compartilham crenças e ideais, com preferência pelo isolacionismo...” (MILGROM, 1998).

Esses autores admitem que essas experiências representam uma opção luxuosa e passível de aquisição apenas por um número limitado e privilegiado de pessoas. As condições de vida conquistadas de tal forma não significariam uma solução para os problemas da sustentabilidade a longo prazo na medida em que não contemplam a população como um todo.

Em que pesem estas críticas do caráter parcial e exclusivista dessas experiências em sociedades confinadas, elas podem significar uma contribuição no desenvolvimento de técnicas conservacionistas inseridas mais adequadamente nos ciclos naturais, que podem ser readaptadas em outros contextos sociais mais amplos e diversificados.