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Mapa 21 − Mapa de detalhe da temperatura de superfície terrestre no período seco de

2 O CLIMA URBANO NA PERSPECTIVA GEOGRÁFICA

2.4 O Sistema Clima Urbano-S.C.U

Monteiro (1976) é um dos grandes responsáveis no desenvolvimento de uma nova vertente de análise voltada à investigação do clima na cidade e a tese apresentada ao concurso de Livre-Docência junto ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, nomeada “Teoria e Clima Urbano”, pode representar tal marco.

encontra-se alicerçado na Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida por Von Bertalanffy (1973), e tal escolha, fora justificada pelo próprio autor quando aponta ser “uma preferência paradigmática, imaginando-a capaz de revelar a essência de um fenômeno de complexidade por demais saliente, e por isso mesmo demasiado importante, a ser conhecido” (MONTEIRO, 2011, p. 16).

O Sistema Clima Urbano - S.C.U, conforme Monteiro (1976, p. 95, 96) explana,

É um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização, onde o espaço urbanizado se identifica a partir do sítio, que constitui o núcleo do sistema, mantendo relações com o ambiente regional, no qual as entradas de energia são de natureza térmica, oriundas da fonte primária que é o sol.

Este sistema encontra-se estruturado a partir dos critérios de escolha, enunciados básicos, questões de consistência e os canais de percepção. Os critérios de escolha destinam-se ao emprego do pragmatismo, dinamismo, consistência, empirismo e modelismo, que correspondem aos critérios adotados por seu formulador, direcionando o estudo do clima urbano, a partir do S.C.U.

Referente aos enunciados básicos, estes, consistem nas ideias fundamentais que regulam o sistema clima urbano, muito embora, o seu formulador destaque, que os enunciados não representam axiomas ou postulados, e sim, uma forma de nortear a investigação do ambiente urbano (Quadro 4).

Quadro 4 – Enunciados básicos do S.C.U

Enunciados Básicos

1 O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização. (MONTEIRO, p. 95, 1976)

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O espaço urbanizado, que se identifica a partir do sítio, constitui o núcleo do sistema que mantém relações íntimas com o ambiente regional imediato em que se insere. (MONTEIRO, p. 96, 1976)

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O S.C.U importa energia através de seu ambiente, é sede de uma sucessão de eventos que articulam diferenças de estados, mudanças e transformações internas, a ponto de gerar produtos que se incorporam ao núcleo e/ou são exportados para o ambiente, configurando-se como um todo de organização complexa que se pode enquadrar na categoria dos sistemas abertos. (MONTEIRO, p. 96, 1976)

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As entradas de energia no S.C.U. são de natureza térmica (oriundas da fonte primária de energia de toda a Terra – o sol), implicando componentes dinâmicos inequívocos

determinadas pela circulação atmosférica, e decisivas para a componente hídrica englobada nesse conjunto. (MONTEIRO, p. 97, 1976)

5 A avaliação desta entrada de energia no S.C.U. deve ser observada tanto em termos quantitativos como, especialmente, em relação ao seu modo de transmissão. (MONTEIRO, p.

98, 1976)

6 A estrutura interna do S.C.U. não pode ser definida pela simples superposição ou adição de suas partes (compartimentação ecológica, morfológica ou funcional urbana), mas somente

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O conjunto-produto do S.C.U. pressupõe vários elementos que caracterizam a participação urbana no desempenho do sistema. Sendo variada e heterogênea essa produção, faz-se mister uma simplificação classificadora que deve ser constituída através de canais de percepção humana. (MONTEIRO, p. 100, 1976)

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A natureza urbana do S.C.U. implica condições especiais de dinamismo interno consoante o processo evolutivo do crescimento e desenvolvimento urbano, uma vez várias tendências ou expressões formais de estrutura se sucedem ao longo do processo de urbanização.

(MONTEIRO, p. 100, 1976)

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O S.C.U. é admitido como passível de autoregulação, função essa conferida ao elemento homem urbano que, na medida que o conhece e é capaz de detectar suas disfunções, pode, através de seu poder de decisão, intervir e adaptar o funcionamento do mesmo, recorrendo a dispositivos de reciclagem e/ou circuitos de retroalimentação capazes de conduzir o seu desenvolvimento e crescimento seguindo metas preestabelecidas. (MONTEIRO, p. 101, 1976)

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Pela possibilidade de interferência autoreguladora, acrescentam-se ao S.C.U., como sistema aberto, aquelas propriedades de entropia negativa pela sua própria capacidade de

especialização dentro do crescimento através de processos adaptativos, podendo ser qualificado, assim, como um sistema morfogenético. (MONTEIRO, p. 102, 1976) Fonte: MONTEIRO (1976). Adaptado pelo autor

Inclusos no S.C.U., encontram-se três subsistemas que se articulam e se integram, sendo o termodinâmico, no tocante ao conforto térmico, o hidrodinâmico, no que tange os meteoros de impactos, e o físico-químico, pertinente à qualidade do ar. Conforme Monteiro (2011, p. 43)

Trata-se de um artifício para comodidade da análise que, como qualquer análise, não pode ser executada diretamente ao todo. Creio que ao propor esses canais abstratos, que se iniciam na essência da atmosfera e desembocam na percepção humana, quero ser coerente com a abordagem sistêmica e com a condição lógica de análise.

Dentre os canais abstratos, o termodinâmico preocupa-se em compreender as ilhas de calor, a ventilação e o conforto e desconforto térmico.

Logo, o presente estudo desenvolve-se a partir do subsistema termodinâmico, onde encontra-se como objeto de estudo as Ilhas de Calor Urbanas, bem como a Ilhas de Calor de Superfície – I.C.S. Para Monteiro (1976) “Dentro do esquema do S.C.U., esse canal atravessa toda a sua estrutura, pois que é o insumo básico, é transformado pela cidade e pressupõe uma produção fundamental no balanço de energia líquida atuante no sistema. O uso do solo, a morfologia urbana, bem como suas funções, estão intimamente implicados no processo de transformação e produção. (MONTEIRO, 2011, p. 44)

Na diagramação do Sistema Termodinâmico (Figura 8), Monteiro (1976) apresenta cinco níveis de resolução que se integram, o insumo, a transformação, a produção, a percepção e a ação. O insumo implica na entrada de energia e sua repercussão na circulação atmosférica. A transformação destina-se a “passagem” da energia no ambiente urbano e toda

sua interação com os componentes que caracterizam a cidade. A produção corresponde à geração de uma estrutura térmica na cidade que resulta no aumento da umidade, aumento das precipitações, alteração na ventilação da cidade e as ilhas de calor. A percepção remete- se aos elementos do nível anterior que repercute na sociedade de forma coletiva (problemas sanitários) ou individual (desempenho humano). E por último, tem-se a ação, destinada a reparação do homem através de artifícios individuais (mecanismos voltados ao conforto térmico) e coletivo (referente ao planejamento urbano).

Figura 8 – Subsistema Termodinâmico do S.C.U.

3 SENSORIAMENTO REMOTO COMO SUPORTE AOS ESTUDOS DE ILHAS DE