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Sistema de controle jurisdicional no Brasil

CAPÍTULO 2 DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO

2.3 Sistema de controle jurisdicional

2.3.3 Sistema de controle jurisdicional no Brasil

O sistema de controle jurisdicional dos atos administrativos adotado no Brasil foi o Sistema de Jurisdição Una nos moldes do sistema norte-americano, que influenciou na formulação da primeira Constituição Republicana.

Desde a Independência, os doutrinadores brasileiros, no intuito de livrar-se de qualquer resquício de influência portuguesa - que era vista como entrave ao progresso -, abraçaram o modelo norte-americano. Nesse sentido, assinala Cedeno de Barros que os ideais de progresso humano e reforma, nos Estados Unidos, levaram o sistema norte- americano a insinuar-se entre nós, refletindo-se em todas as nossas instituições”103.

Assim, desde a instauração da Primeira República, o Brasil prima pelo Sistema de Jurisdição Única, ou seja, as questões envolvendo a Administração e os particulares, apesar da existência de órgãos administrativos competentes para dirimir a controvérsia, serão passíveis de julgamento pela justiça comum. Somente ao Judiciário é dado o poder de dizer o direito em caráter definitivo, qualquer que seja a natureza da matéria discutida pelas partes em litígio. Assim, houve uma separação entre Administrador e o Juiz, ou seja, entre o Poder Executivo e Judiciário.

Aponta Meirelles que “para correção judicial dos atos administrativos ou para remover a resistências dos particulares às atividades públicas, a Administração e os administrados dispõem dos mesmos meios processuais admitidos pelo direito comum, e

103 BARROS, José Fernando Cedeno de. Aplicação dos princípios constitucionais do processo no Direito

recorrerão ao mesmo Poder Judiciário - uno e único - que decide os litígios de Direito Público e de Direito Privado. Este é o sentido da jurisdição única adotada no Brasil” .104

Ressalte-se que as Constituições posteriores à primeira Constituição Republicana afastaram a idéia de uma justiça administrativa coexistente com a justiça ordinária. Com o advento da ditadura militar, sobrevieram influências européias buscando afastar as tendências norte-americanas. Chegou-se até a editar Emendas Constitucionais (1/69 e 7/77), na intenção de implantar contenciosos administrativos anômalos e a Emenda Constitucional 11/84 excluindo determinadas matérias da apreciação do poder Judiciário.105

A Emenda Constitucional 1/69, que deu nova redação ao Artigo 111 da Carta Constitucional de 1967, dispunha que a lei poderia criar contencioso administrativo atribuindo-lhes competência para julgamento dos litígios decorrentes das relações de trabalho dos servidores com a União, Autarquias e Empresas Públicas Federais, qualquer que fosse seu regime jurídico. Mais adiante, a Emenda Constitucional 7/77 possibilitou a instituição do contencioso administrativo para dirimir as questões previstas nos artigos 111 e 203 da Constituição Federal, aquele modificado pela Emenda Constitucional 1/69 e este fazendo referência a questões fiscais, previdenciárias, inclusive às relativas a acidentes de trabalho. Tais disposições constitucionais entraram em choque com o Artigo 153 § 4, o qual determinava que a lei não poderia excluir qualquer lesão de direito individual da apreciação do Poder Judiciário. Determinava, ainda, que o ingresso em juízo estaria condicionado ao exaurimento prévio das vias administrativas.

104 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 53. 105 Conforme BARROS, José Fernando Cedeno de. Aplicação dos princípios constitucionais do processo no

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A maioria dos doutrinadores pátrios manifestou-se contrariamente à existência do contencioso administrativo, salientando que o Artigo 111 autorizava a criação de instância administrativa de exaurimento obrigatório, como condição de acesso ao Poder Judiciário (harmonizando os artigos 110, 111 e 153 § 4 ), mantendo o sistema de Jurisdição Una. Por outro lado, a corrente oposta entendia que a lei determinava a criação do contencioso administrativo nos moldes franceses, excluindo a competência determinada pelo Artigo 110 e afastando o Artigo 153 § 4.

Essa situação de insegurança gerada pela Emenda Constitucional resultou em numerosos estudos no intuito da codificação do processo tributário.

Destaca-se a posição de Gilberto de Ulhôa Canto106 para quem

“... a eficiência das jurisdições administrativas, em países nos

quais são erigidos em tribunais contenciosos com capacidade decisória

final resulta de uma longa tradição de seriedade e altitude que seus

integrantes honram (...). No Brasil, ao contrário, os órgãos

administrativos, subordinados que terão de ser ao Poder Executivo,

sofrem toda inevitável sorte de pressões e desvirtuamentos que este

Poder, eminentemente político, costuma exercer sobre o que lhe é

submisso; e a função jurisdicional não pode ficar sujeita às flutuações

dessa modalidade de atuação”.

Após exame detalhado dos modelos de jurisdição instituídos por diversos países, Ulhôa Canto107 faz as seguintes considerações no anteprojeto de Lei Orgânica do Processo Tributário Federal;

106 CANTO, Gilberto de Ulhôa. Anteprojeto de Lei orgânica. In: Processo Tributário. Fundação Getúlio Vargas - Comissão de Reforma do Ministério da Fazenda, 1964. v.2. p. 25-6.

“Pensamos, pois, que na concepção básica de um sistema de

reestruturação do processo tributário, o que se deve ter em linha de

princípio é a observância dos seguintes postulados:

a)

mantida e respeitada a norma constitucional vigente, que

assegura a revisão judicial de quaisquer atos administrativos, se

organizará o processo tributário de tal forma que se desenvolva em duas

fases, uma administrativa, outra judiciária.”

Nessa mesma linha de idéias, Gerd Willi Rothamann108, em estudo comparativo do anteprojeto elaborado por Ulhôa Canto com o Código de Processo Tributário Alemão, manifesta-se pela inconveniência de se adotar o contencioso nos moldes franceses como única via de revisão dos atos administrativos ilegais ou abusivos. Manifestava-se pela manutenção de órgãos especializados em julgamento de modo que fosse mantida a possibilidade da apreciação pelo Poder Judiciário sem necessidade de exaurimento da esfera administrativa. A exemplo da Alemanha, sugeria a manutenção de duas esferas de julgamento: a administrativa e a judicial, garantido total acesso a essa última em todos os

casos.

Com o advento da Constituição brasileira de 1988, afastou-se qualquer dúvida acerca do sistema de Controle jurisdicional de Unidade de Jurisdição, tendo em vista o disposto no Artigo 5, inciso XXXV109, inserido dentro do capítulo dos direitos fundamentais do cidadão, com garantia de irrevogabilidade.

i°8 r o th m A N N , Gerd Willi. O processo tributário.RD P, São Paulo, n. 5, p. 84-118. 1968. 109Artigo 5

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