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2.1 Marco Teórico da Qualidade

2.1.1 Sistema de Gestão da Qualidade na produção de sementes de soja

De acordo com Neto (2010) a semente de alta qualidade “deve ter características fisiológicas e sanitárias, tais como altas taxas de vigor, de germinação e de sanidade, bem como garantia de purezas física e varietal, e não conter sementes de ervas daninhas.”10 Estes atributos, conforme já mencionado anteriormente garantem “a população adequada de plantas,

10 NETO, J.B. França; KRZYZANOWSKI, F.C; HENNING, A.A. A importância do uso de semente de soja de alta qualidade. Informativo Abrates. Agosto de 2010, V. 20, N 1, 2. P 37 e 38.

maior velocidade de emergência e de desenvolvimento das plantas, culminando no fechamento das entrelinhas rapidamente, o que resulta também no controle eficiente das ervas daninhas e evita a introdução de patógenos ou nematóides (pragas) antes ausentes na área.”11

Para se obter sementes de alta qualidade, foi estruturada a atual legislação de sementes, especialmente o Anexo XXIV da IN nº 9 o qual estabelece os Procedimentos do Processo de Certificação de Sementes. Nesse documento estão uma série de exigências documentais e processuais que visam introduzir, na produção de sementes certificadas, ferramentas de controle de registros, calibração e manutenção de equipamentos críticos, limpeza, documentação dos processos, registros de todos os dados relevantes para a qualidade das sementes com vias a se obter a rastreabilidade de cada lote produzido, treinamento e capacitação de funcionários, controle de produtos não conformes, além da metrologia dos equipamentos críticos de controle de temperatura, umidade e pesagem. Assim, entende-se que o MAPA tem consciência da importância das ferramentas de Gestão da Qualidade e da TIB, e busca instruí-las nas normas para que estas passem a ser de adesão obrigatória e não mais voluntárias.

Neto (2009) ainda menciona a atualização das Regras para Análise de Sementes – RAS pelo Ministério da Agricultura em 2009, as quais buscam uniformizar e orientar as atividades dos laboratórios de análise de sementes que emitem boletins e informativos sobre a qualidade dos lotes comercializados e nas quais estão contidas as unidades metrológicas para os diversos testes de qualidade existentes, como outro passo importante na garantia e controle da qualidade das sementes. Além das RAS, cabe reforçar a exigência por parte do MAPA da implantação de Sistema de Gestão da Qualidade baseado na ISO 17025, para a certificação de Laboratórios de Análise de Sementes e sua consequente liberação para a emissão de Boletins por parte do órgão federal. Porém, em relação a esta norma especificamente, cabe destacar

11 NETO, J.B. França; KRZYZANOWSKI, F.C; HENNING, A.A. A importância do uso de semente de soja de alta qualidade. Informativo Abrates. Agosto de 2010, V. 20, N 1, 2. P 37 e 38.

que ainda não é exigido para estes laboratórios sua acreditação pelo INMETRO e a consequente obtenção do selo da ISO 17025, por enquanto, apenas a certificação do MAPA é suficiente.

No entanto, conforme citaram Sikora e Strada (2005),

Holding a certificate confirming the quality of a company’s products is not a legal requirement. Yet, having a certificate issued by an external institution (such as certifying firm) is part of the marketing strategy, shaping a positive view of a

company in the eyes of its customers.

Ou seja, muitas vezes apenas cumprir os requerimentos legais não desperta no consumidor toda a garantia e confiabilidade no produto que a empresa esta oferecendo. Diante deste fato é cada vez mais frequente ver empresas de sementes ou associações utilizarem outros sistemas externos de certificação ou controle de qualidade, bem como aderir à ISO 9001 e outros certificados internacionais. Conforme citado em tópico anterior, estas normas são de adesão voluntária. Caseiro (2009) sustenta esta ideia afirmando que o conceito de qualidade é cada vez mais extenso e atinge não só as características das sementes, mas também o resultado das análises e medições desses fatores.

No que concerne à teoria da gestão da qualidade as ideias de Caseiro podem encontrar embasamento no texto de Souza (1998), que defende ser cada vez mais evidente e necessário por parte das empresas, integrar diversos sistemas de gestão a fim de garantir um bom desempenho da organização como um todo. Ele cita que é possível identificar seis grupos de tecnologia de gestão com foco em Qualidade, onde existiriam aqueles orientados para o desempenho, aqueles orientados pelo custo, aqueles orientados pelo tempo, os modelos de autor, os modelos com base em normas e os modelos sistêmicos. No caso das sementes é possível ver esta integração nas empresas certificadoras pelo próprio Anexo XXXIV da Instrução Normativa nº 9, o que reforça a inclinação para um futuro em que o setor de sementes seja cada vez mais certificado e de acordo com normas internacionais de sistemas de gestão da qualidade. Torna-se neste momento evidente a recente evolução das funções da TIB

no setor, com uma maior adequação de padrões metrológicos, normas e um maior número de organismos e instituições voltadas à avaliação da conformidade destas empresas a estes diversos requisitos.

Neste momento se faz importante citar outros SGQ desenvolvidos e utilizados no setor de sementes. O estado do Mato Grosso pode ser indicado como um dos pioneiros neste sentido. Em 2000, anteriormente à promulgação da atual legislação, o estado já havia implementado o SQS – Sistema de Qualidade de Sementes, o qual visava avaliar 100% dos lotes de sementes produzidos na região. Para isso o programa contava com o cadastramento e codificação de todos os produtores por um Responsável Técnico da APROSMAT, posteriormente uma equipe da associação era encarregada de coletar todos os lotes produzidos e analisá-los em laboratório. Após os testes concluídos era realizada uma análise estatística para ponderar a quantidade de cultivares produzidas e determinar o IQS – Índice de Qualidade em Sementes. Com isso os produtores também participavam de um ranking, e aqueles que obtivessem resultados abaixo dos índices considerados ideais recebiam assistência de técnicos e pesquisadores para melhorar sua produção e garantir a qualidade de seus lotes. O programa também instituiu o “Certificado de Qualidade” para aqueles lotes e produtores considerados dentro dos padrões.

Outro sistema de certificação da produção de soja que tem sido muito discutido e difundido no Brasil é a chamada certificação RTRS (Round Table on Responsible Soy). A associação é uma iniciativa internacional fundada em 2006, na Suíça, e com sede executiva em Buenos Aires, Argentina. O objetivo da associação é garantir que diversos atores da cadeia da soja estejam comprometidos com a produção sustentável da soja, visando reduzir os impactos sociais e ambientais da cadeia, melhorando ou mantendo o nível econômico do produtor. Assim a certificação envolve critérios e controles que abrangem o cumprimento legal e boas práticas empresariais, condições responsáveis de trabalho, relações comunitárias

responsáveis, responsabilidade ambiental e práticas agrícolas adequadas. O maior foco do programa é certificar os produtores que têm seus grãos direcionados à exportação, garantindo assim melhor acesso ao mercado e uma visão mais benéfica da produção brasileira no exterior.12

A partir de toda esta explanação referente ao setor produtivo de sementes de soja, é possível concluir que é cada vez mais reconhecido tanto por parte das autoridades governamentais, quanto por parte das empresas sementeiras, a importância de se utilizar um sistema de gestão que permita a rastreabilidade e o controle de todos os processos operacionais e gerenciais do processo produtivo para que seus clientes estejam sempre satisfeitos com seus produtos. Assim, a certificação e a qualidade das sementes produzidas tende a ser cada vez mais confiável e garantida, o que leva a um reforço da importância de se utilizar sementes provindas de empresas que apresentem estas ferramentas. Porém, como será discorrido a seguir, o excesso de burocracia destes sistemas e da legislação atual de sementes pode prejudicar um pouco o setor ou retardar sua evolução e aprimoramento.