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4.2 A GEOLOGIA DO QUATERNÁRIO NO CONTEXTO DA ÁREA

4.2.1 Sistema Deposicional Continental

Como depósitos de origem continental, Martin et al. (1988) associam os depósitos de coluviões de pé de relevo, formados por sedimentos mal selecionados depositados ao longo do Quaternário. Posteriormente Villwock e Tomazzelli (1995) indicaram como pertencentes ao sistema continental os depósitos de leques aluviais de idades Pliocênicas a Holocênicas e também os aluviões holocênicos, de forma similar a Caruso Jr (1995). Duarte (1995) associa à deposição em ambiente continental os depósitos de leques aluviais e aluviões, apontando para os primeiros idades Pleistocênicas (anteriores a 123Ka AP). Zanini et al. (1997) associam aos depósitos continentais os leques aluviais e sedimentos de origem fluvial holocênicos com exceção dos depósitos na forma de terraços, que teriam idades Pleistocênicas. Horn Filho et al. (2014) apontam como sistema deposicional continental os depósitos coluviais, de leques aluviais e aluviões recentes,

formados no Quaternário indiferenciado, ao longo do setor ocidental da Planície Costeira.

4.2.1.1 Depósitos coluviais

Como depósitos coluviais, Bigarella, Becker e Passos (2009) definem “os depósitos onde predominam os movimentos de massa, que recobrem as seções médias e inferiores das vertentes, aumentando a sua espessura quando diminuem os declives, entrando em contato com o alúvio.” Os depósitos coluviais são observados ao longo das encostas das elevações, geralmente associados a movimentações do maciço decorrentes do intemperismo atuante, sendo reflexo direto da composição do manto de alteração da rocha fonte. O transporte ao longo da encosta é efeito essencialmente por gravidade, sendo formados depósitos com formas associadas a rampas e tálus, dispostos ao longo das cabeceiras das drenagens locais associadas a feições morfológicas de anfiteatros (MOURA; PEIXOTO; SILVA, 1991). Os colúvios são compostos predominantemente por frações argilosas a arenosas mal selecionadas associadas a macroclastos derivados das rochas fontes (HORN FILHO et al., 2014), que na área de estudo são associadas a granitos e riolitos. Em trabalhos anteriores não são indicadas ocorrências de jazidas de areias relacionadas aos depósitos de colúvio no contexto da área de estudo.

4.2.1.2 Leques aluviais

Como leque aluvial, Boggs (1995) aponta os depósitos com formas aproximadamente semi-cônicas, exibindo perfil transversal convexo, que ocorrem na base de cadeias montanhosas, formados por sedimentos essencialmente mal classificados onde a fração cascalhosa

é dominante. As condições climáticas e a atividade tectônica seriam os principais elementos controladores da ocorrência de leques aluviais, sendo que alguns autores ainda apontam fatores influentes como dimensões da bacia de drenagem, litologia, cobertura vegetal, declividade do canal e descargas de água e sedimento, conforme sumarizado por Pontelli (1998). Neste contexto, em condições climáticas áridas ou semiáridas a formação dos leques seria favorecida, dada a ausência de vegetação e maior incidência de transporte sedimentar ao longo das encostas através de chuvas esporádicas, sendo que em condições de clima úmido a dissecação dos depósitos seria predominante, uma vez observadas condições de maior entalhamento dos canais pelas vazões mais constantes (BLISSENBACH, 1954; BULL, 1968 apud PONTELLI, 1998). Duarte (1995) ressalta ainda, que leques aluviais são feições de um sistema duplo erosivo e deposicional, dadas as condições de variação dos processos climáticos atuantes no ambiente ao longo do tempo, assim como pelas variações da dinâmica aluvial ao longo do perfil longitudinal do leque.

A sedimentação nos leques aluviais é essencialmente associada a eventos de fluxos de correntes canalizados ou não canalizados (com formação de depósitos associados a fluxos e transbordamento de canais, inundações em lençol ou depósitos de peneiramento), e/ou a eventos associados a fluxos de detritos (depósitos de debris flow), conforme apontado por Boggs (1995). Neste aspecto, fica evidente a grande variação de fácies relacionada à deposição em ambientes de leque aluvial, sendo que a definição deste ambiente deposicional fica diretamente atrelada à associação entre processos deposicionais e carga de sedimentos do fluxo (PONTELLI, 1998). Tais características também apontam para a alta suscetibilidade a inundações repentinas dos locais formados por depósitos de leques aluviais,

inviabilizando e limitando a ocupação humana ao longo destes locais (PONTELLI; PAISANI, 2005).

No Estado de Santa Catarina, os depósitos de leques aluviais do Quaternário possuem ampla distribuição e abrangência, uma vez observadas as características do relevo regional, geralmente associadas à ocorrência de escarpas, montanhas e vertentes limitadas por planícies e baixadas. Na região sul do Estado, Duarte (1995) analisou os extensos depósitos de leques aluviais da Planície Costeira adjacente às encostas da Serra Geral com base na caracterização dos aspectos morfológicos e sedimentológicos. Krebs (2004) estuda os leques aluviais da mesma região objetivando a definição de potencialidades aquíferas destes depósitos, apontando como principais processos deposicionais atuantes os fluxos torrenciais canalizados e não canalizados, as correntes normais e os fluxos de detritos, que estariam atuando desde o Plioceno até atualmente, inclusive com contribuição de eventos neotectônicos atuantes na região. No setor central da Planície Costeira catarinense, Horn Filho et al. (2014) incluem os leques aluviais dentro do Quaternário indiferenciado (entre aproximadamente 2Ma AP até os dias atuais).

4.2.1.3 Depósitos aluviais

No Estado de Santa Catarina, a atividade de lavra de areia vem sendo desenvolvida principalmente ao longo dos aluviões de importantes rios, como o Rio Tijucas, Rio Itajaí- Açu, Rio Cubatão do Norte e Rio Cubatão do Sul, sendo que a lavra é realizada tanto ao longo dos canais ativos destas drenagens, como também nos depósitos formados pela atividade fluvial Quaternária.

A dinâmica fluvial atuante ao longo do tempo geológico é responsável pela formação de paisagens típicas, formadas por relevo essencialmente plano,

suscetível a inundações quando da ocorrência de intensas chuvas, e que historicamente já tanto afetou as populações de importantes municípios catarinenses. Ao mesmo tempo, tais fenômenos demonstram a grande competência da atividade fluvial na transformação da paisagem, seja através da ação de processos erosivos como também de eventos deposicionais marcantes, sendo estes últimos os responsáveis pela formação de importantes jazidas de areia para uso na construção civil.

Como depósito aluvial, Horn Filho et al. (2014) definem os depósitos resultantes do transporte de sedimentos por meio da energia exercida pelos canais fluviais antigos e/ou atuais depositados nas margens e áreas de transbordo de drenagens ao longo do período Quaternário, de forma indiferenciada. No âmbito da área de estudo, trabalhos de mapeamento anteriores não detalham (sob a ótica da análise estratigráfica) os depósitos de origem fluvial, sendo apenas associados aos depósitos aluviais Quaternários todos os sedimentos inconsolidados de composição cascalhosa a areno argilosa ao longo de várzeas das principais drenagens (MARTIN et al., 1988, CARUSO Jr, 1995, ZANINI et al., 1997).No entanto, Horn Filho et al. (2014) caracterizam os depósitos aluviais do setor central da Planície Costeira catarinense através da indicação de relações de contato com depósitos adjacentes, assim como pela definição de fácies associadas a alguns ambientes de sedimentação aluvial (depósitos de barras em pontal e depósitos de planície de inundação).

Para o reconhecimento e entendimento dos sistemas fluviais antigos, Boggs (1995) aponta a necessidade da definição das formas de canal, processos de transporte sedimentar e caracterização dos sedimentos. Suguio (1980) aponta três principais grupos de depósitos fluviais: os depósitos de canal (formados pela dinâmica atuante na margem ativa das drenagens), depósitos marginais (formados nas margens dos canais principais durante

enchentes), e depósitos de planície de inundação (formados pelo extravasamento dos canais principais através de inundações).

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