• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO E SISTEMAS

4.3 Sistema e Sistemas de Ensino: conceituação

No quadro a seguir, conceitos / definições formulados por vários autores concernentes ao significado da palavra “Sistema”.

SISTEMA – CONCEITUAÇÃO – AUTORES

CONCEITO AUTOR

“O conjunto de coisas que ordenadamente entrelaçadas contribuem para determinado fim; trata-se, portanto, de um todo coerente cujos diferentes elementos são interdependentes e constituem uma unidade completa” (1986, p. 1127).

AGESTA “Compreende um conjunto de partes em relação harmônica e

interdependente, formando um todo, autônomo e independente”. O termo sistema tem sido usado, entre nós, com tal elasticidade que permite abrigar quase tudo. Reduzindo essa elasticidade, podemos limitar o conceito à sua aplicação na organização da educação brasileira. Para Sanderl, no setor educacional, “a teoria dos sistemas vem sendo utilizada como instrumento analítico geral para descrever a organização e o funcionamento do sistema educacional como um todo e para orientar a prática educacional na consecução de seus objetivos”. (2000, p.9).

BORDIGNON

“(...) um conjunto de elementos dinamicamente relacionados entre si e com o todo de que sejam partes. Nesse duplo relacionamento, a estrutura do todo condiciona as partes, mas é dela uma resultante diferente de mera soma ou justaposição. Por isto, a parte que deixa de vincular-se ao todo constitui um novo todo, enquanto o todo não será mais que uma parte quando integrado em todo maior. Trata-se de verdades antigas que sempre ressurgem com novas roupagens” (1978, p. 270).

CHAGAS

“(A noção de) Sistema pressupõe reunião e ordenação de acordo com um determinado fim, uma intenção, um objetivo. O resultado desta ação é o que podemos chamar de sistema. Sistema é um todo organizado, articulado. A idéia de sistema – reunião intencional de elementos – implica, pois, unidade na diversidade. Isso significa que os elementos constitutivos do sistema não perdem a sua especificidade, sua individualidade. Eles apenas se integram num conjunto, numa relação de partes e todo. Embora não percam a sua individualidade, as partes de um sistema acabam assumindo novos significados em razão do seu lugar no conjunto. Por outro lado, o conjunto (o sistema) não é apenas a soma de suas partes. O todo e as partes de um sistema interagem de tal forma que é impossível conhecer o todo sem conhecer suas partes”.

GADOTTI

“Conjunto de elementos, materiais ou não, que dependem reciprocamente uns dos outros, de maneira a formar um todo organizado” (apud DIAS, 1991, p. 80)

LALANDE

“A unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante” (apud GADOTTI (1993, p. 1)).

SAVIANI

Observa-se, pois, que, em geral, “o sistema está contido dentro de um sistema mais amplo, que é um supersistema. Por outro lado, o sistema pode ser constituído de partes que, também, são sistemas. A estes sistemas que são parte de um sistema maior, dá-se o nome de subsistemas” (DIAS, 1991, p. 80).

Portanto, nesse aspecto, e

Na linguagem atual da “teoria de sistemas”, por exemplo, o todo vem a ser um sistema e cada uma das suas partes um subsistema. Desde, porém, que tomado isoladamente o subsistema passa a configurar ele próprio um sistema, e o sistema em que antes se inseria surgirá como um subsistema quando absorvido em contexto mais amplo. Este será, então, um

supersistema que, por sua vez, poderá converter-se num sistema ou num

subsistema conforme a perspectiva em que venha a se situar. E, assim, por diante (CHAGAS, 1978, p. 270).

Segundo, ainda, Dias (1991, p. 80), não se pode esquecer que

Do ponto de vista de sua relação com o meio ambiente, o sistema pode ser fechado ou aberto. O sistema fechado apresenta fronteiras impermeáveis ao ambiente. No sistema aberto existe um movimento de entrada e saída de elementos através das fronteiras. (...) permitindo-lhe reajustar-se para corrigir eventuais falhas.

Nessa perspectiva, o sistema de ensino é um sistema aberto. Também é importante observar que o sistema pressupõe

(...) o estado de equilíbrio de uma determinada soma de elementos. O essencial é obter a dinâmica desses “estados” que identificaremos como sistemas naturais para canalizá-los em direções que lhes aumentem a eficácia. (...) Se a nação é um sistema natural, o conjunto das instituições nacionais é um sistema formal, mesmo podendo-se dizer de cada um dos subsistemas – econômico, político, social, etc. de que se compõe esse conjunto. O sistema formal será, porém, tanto menos artificial e mais operante quanto mais aberto se apresente – vale dizer, quanto mais nele se considerem as variáveis do sistema natural - ara que o país organizado realize e aperfeiçoe a nação. Do contrário, as previsões e regras terão um efeito reduzido ou nulo, quando não decididamente perturbador (CHAGAS, 1978, p. 270). Ao falar de “sistema” é importante esclarecer o que diz respeito ao termo “estrutura”. Esse vocábulo, quase sempre, é associado ao de sistema no campo da educação; também se relaciona a um conjunto de elementos – razão porque, não raro, os mesmos são empregados como sinônimos, “mas o termo estrutura pode não preencher o requisito da coerência e não preenche o requisito da intencionalidade” (SAVIANI, 1981, p. 75).

4.3.2 Sistemas de Ensino

A perspectiva do que ocorre no setor educacional não é diferente. Sendo subsistema do Sistema Nacional, esse campo reflete e, sobretudo, influi forçosamente nos demais subsistemas. E quando se distingue como sistema, a atividade educacional não prescinde dos seus aspectos natural e formal (CHAGAS, 1978, p. 270/271).

Para CHAGAS apud SAVIANI (1987), o sistema educacional, caracterizado como uma “estrutura”, compreende a soma das influências daquilo que, numa determinada sociedade, é o resultado dos comportamentos individuais e coletivos. Enquanto o sistema de ensino compreende a parte institucionalizada da educação (a escolarização) em certo sentido fechada ao sistema natural. Conforme aponta:

(...) A condição básica é, portanto, a abertura do sistema formal aos padrões e maneiras como a sociedade encara e promove a educação. Mesmo quando o objetivo em vista seja corrigir ou mudar essas expectativas, importa não apenas conhecê-la como segui-las e atuar de dentro para fora do processo natural (CHAGAS, 1978, pág. 271).

A partir desses pressupostos, pode-se dizer que o Sistema Federal de Ensino compõe- se de instituições escolares pertencentes à União – com objetivos, normas, recursos e políticas, tanto quanto possível, respondendo aos problemas e necessidades locais.

Os Sistemas Estaduais e do Distrito Federal, na qualidade de subsistemas, representam o primeiro nível de desdobramento do Sistema Nacional de Ensino, que é constituído do conjunto das instituições escolares existentes no âmbito da respectiva unidade territorial – excluindo-se as federais e os particulares de grau superior integradas quantos aos objetivos, normas, recursos e políticas comuns.

Por sua vez, os Sistemas Municipais de Ensino significam a junção de escolas e unidades congêneres pertencentes à área física do município, sob os mesmos critérios que lhes assegurem a necessária unidade.

Referindo-se, ainda, àqueles sistemas estaduais, saliente-se que cada um deles se estrutura como um órgão executivo, quase sempre na condição de uma Secretaria de Educação, que tem como órgão normativo e, frequentemente, deliberativo no âmbito educacional, o Conselho de Educação.

Para SAVIANI (1999, p. 119), a palavra “sistema”, referentemente à educação é usada com acepções distintas, o que lhe concede uma especificidade de certo modo

equivocada. Ele define “Sistema de Ensino” como “uma ordenação articulada dos vários elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais preconizados para a população à qual se destina”.

Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto que podem existir estruturas sem a existência de sistema, particularmente para ele e outros educadores, não se têm um “sistema brasileiro” na medida em que, no Brasil, não se chegou a um todo organizado na educação, existindo, apenas, estruturas desarticuladas.

Na verdade, é sabido, que não existe no Brasil um Sistema Nacional de Educação, visto que são os diversos subsistemas que funcionam normalmente como estruturas justapostas, observando-se a inexistência de articulação entre si o que conduz ao fato de que não há um conjunto coerente de vinculação entre partes e todo (SAVIANI, 1999, p. 119).

Como reforço a essas afirmações, veja-se, por exemplo, o artigo 211 da Constituição de 1988 que instituiu o "regime de colaboração". Nesse âmbito, Gadotti (1991, p. 1/2) afirma que:

(...) necessita ser um verdadeiro regime de articulação das diversas instâncias do governo. Um sistema nacional pressupõe a articulação e não a justaposição, nem a anulação de um sistema”. (...) “Na constituição de um sistema, necessitamos de uma teoria da educação, de uma teoria da

educação brasileira. Caso contrário, teremos um todo desarmônico, um

amontoado de elementos. Mas não um sistema.

Ainda sobre esse aspecto, o entendimento de Saviani (1999, p. 120), aprofundando a questão, é o seguinte:

Ao que tudo indica, o artigo 211 da Constituição Federal de 1988 estaria tratando da organização das redes escolares que, no caso dos municípios, apenas por analogia são chamadas aí de sistemas de ensino. Com efeito, sabe-se que é muito comum a utilização do conceito de sistema de ensino como sinônimo de rede de escolas. Daí, falar-se em sistema estadual, sistema municipal, sistema particular etc., isto é, respectivamente, rede de escolas organizadas e mantidas pelos estados, pelos municípios ou pela iniciativa particular.