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CAPÍTULO 3 – OS CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL

3.1 Um Pouco de História

No âmbito da Educação Brasileira, distingue-se a existência de Conselhos de Educação desde a época do Império.

A primeira experiência da administração pública, de instituir um Conselho no campo da educação, ocorreu na metade do século XIX (1842) no estado da Bahia. A instituição criada tinha como atribuições aquelas similares aos boards (conselhos) ingleses, muito conhecidos como fórum de discussões e debates.

Segundo Bordignon (2000, p. 15), citando Mendes, essa idéia começou a ser institucionalmente difundida em 1846, quando foi proposta pela Comissão de Instrução Pública da Câmara dos Deputados, a criação do Conselho Geral de Instrução Pública - que, somente 24 anos depois (1870), teve sua atuação permitida pelo ministro do Império, Paulino Cícero, com a denominação de Conselho Superior de Instrução Pública3.

Mas, é no período republicano que se observa uma permanente transformação das concepções que conduziram à estruturação e organização dos Conselhos de Educação nas diversas fases da história da educação no Brasil e que modelaram sua forma de funcionamento. Segundo afirma Teixeira, L. (2004, p. 694), “Estas alterações podem ser reconhecidas nos preceitos legais que estabelecem a natureza desses órgãos colegiados em cada espaço de tempo histórico, as competências que lhes são atribuídas e sua composição” .

O Conselho Nacional do Ensino foi criado em 1925 no corpo da reforma denominada Rocha Vaz, a qual também criou o Departamento de Educação no Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Mais tarde (1931), foi recriado com o nome de Conselho Nacional de

3 É curioso observar que, com base nos Livros de Actas do Conselho Superior de Instrução Pública de-

1860/1932 (Fundos e Livros de Registro – SG / Ministério da Educação Nacional de Portugal, acessível em http://www.sgmin-edu.pt/arq.fundo03.htm, acesso em 05/09/2006, às 23h08), a manifestação da Câmara se espelhava, para tanto, no modelo de Portugal, visto que, no reino português, foi criado, em 07 de setembro de 1835, um Conselho Superior de Instrução Pública, por decreto de Rodrigo da Fonseca, em substituição da Junta da Diretoria-Geral dos Estudos, encarregada da Direção e Regimento de todo o Ensino e Educação Pública. Segundo, ainda, aqueles registros, "o Conselho Superior de Instrução Publica ordena imediatamente por sua própria autoridade em todos os pormenores das suas Repartições que não dependam de Ordem Real", era, pelo visto, dotado de grande autonomia.

Educação – CNE e somente regulamentado em 1936, depois da criação do Ministério de Educação e Saúde Pública.

Todavia, a legislação federal reporta-se à criação de dois conselhos que se pode ter como seus antecessores: o Conselho Superior de Instrução Pública, criado em 1891, e do Conselho Superior de Ensino, instituído pela Reforma Rivadávia Correia (1911), ambos voltados para o Ensino Superior e, conforme suas características, órgãos de fiscalização orientados, no sentido de uma racionalização administrativa do sistema de ensino e com atribuições vinculadas ao funcionamento daquele nível educacional.

Assim como aconteceu em 1842, também em 1942 – um século depois - houve uma primeira tentativa, igualmente no estado da Bahia que antecedeu à propositura feita, em 1946, da mesma forma pela Comissão de Instrução Pública da Câmara dos Deputados, para a criação de um Conselho Geral de Instrução Pública.

Em termos de época republicana, a narrativa de CURY (2005, p. 1), sintetizada no Quadro 6, resume aquelas ocorrências:

QUADRO 6

EVOLUÇÃO DOS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO INSTITUIDOS NO BRASIL, NO PERÍODO DE 1911-1994

ANO LEGISLAÇÃO ÓRGÃO

1891 Decreto nº 1.232-G, de 02/01/91 Conselho Superior de Instrução Pública 1911 Decreto nº. 8.659, de 05/01/11 Conselho Superior de Ensino. 1925 Decreto nº 16.782-A, de 13/01/25 Conselho Nacional de Ensino 1931 Decreto nº 19.850, de 11/04/31 Conselho Nacional de Educação 1961 Lei nº 4.024, de 20/12/64 Conselho Federal de Educação e Conselhos Estaduais de Educação 1971 Lei nº 5692, de 11/0871 Conselhos Municipais de Educação 1995 MP nº. 1.159, de 26/10/95 (convertida

na Lei nº 9.131, de 24/11/95).

Conselho Nacional de Educação

1996 Lei nº 9.304, de 20/12/96 Conselho Nacional de Educação e Conselhos Estaduais de Educação

A estrutura do ensino no Brasil comporta, atualmente, uma variedade de tipos de conselhos. Entretanto, serão os Conselhos de Educação, constituídos no domínio da União, dos Estados e Municípios, com competências e atribuições relativas à condução da educação nas suas respectivas instâncias, o foco deste Capítulo.

3.1.1 O surgimento dos conselhos estaduais de educação: 1962/1965

A criação dos Conselhos Estaduais deu-se entre 1962 e 1965.

Os primeiros conselhos a serem criados (março/62) foram os do Amazonas, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em junho, surgiram mais dez, entre os quais o da Paraíba. Os conselhos do Paraná (1964) e Rio Grande do Sul (1965) foram os últimos.

Pode-se afirmar que a Lei nº 4.024/61, determinando diretrizes e bases, foi um esteio para o estabelecimento desses colegiados, ao incorporar em seus preceitos a institucionalização dos Conselhos Estaduais de Educação, o que confirmou a necessidade desses órgãos comporem o setor educacional brasileiro. Por outro lado, oficializou-se a configuração da abrangência de suas atribuições e representatividade como fóruns de discussões na esfera da educação - não obstante, e não raramente, essa atuação depender da orientação polítco-ideológica dos governos que os instituem.

Nesta perspectiva, constata-se que, por uma inoportuna distorção nos regimes não democráticos, esses órgãos que são, por natureza e essência, órgãos de Estado4, colocam-se e

atuam, claramente, como órgãos de Governo5

. Todavia, a sua força política, em face da sua

condição de instrumentos de democracia participativa, rege-se pelos princípios democráticos. Quanto aos Conselhos Municipais de Educação no Brasil, não há uma legislação que determine a criação de tais colegiados, porque dependem da estrutura e de condições favoráveis da atuação política local para serem estabelecidos.

Observe-se, também, que são diversos os encaminhamentos firmados pelos governos estaduais, mediante suas secretarias ou seus Conselhos de Educação para implementar o processo de municipalização do ensino, levando a que os sistemas sejam implantados. Tal abordagem pode ser estendida, principalmente, para a criação dos Conselhos Municipais de

4 Conjunto de instituições que caracterizam um país soberano, com estrutura própria e politicamente organizada. 5 Complexo de instituições que têm as suas funções regidas pelas diretrizes do grupo que exerce, sobre o Estado,

o poder político, em especial o poder executivo; e administra a estrutura que define e corresponde à gestão pública.

Educação. É oportuno salientar que estas não são novidades surgidas na Lei 9.394/96 (LDB). A legislação anterior (Lei nº 5.692/71) já tratava do assunto (PERES, 2000, p. 32-33).

Mas foi a Constituição de 1988 que determinou (art.211) que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios “organizarão os seus sistemas de ensino”, estabelecendo como competência desse ente administrativo, atuar na educação infantil e, prioritariamente, no ensino fundamental. Tal preceito, ao ser regulado pela LDB (Lei nº 9.394/96), confirmou essa organização (art. 8º) e definiu os encargos do ente municipal em matéria de ensino (art. 11).

No mesmo dispositivo, foi abordada a criação dos Sistemas Municipais de Ensino com a possibilidade de o município criar o seu próprio ou integrar o Sistema Estadual. Assim, evidencia-se no país uma tendência verificada também na Paraíba de o município optar pelo seu próprio sistema de ensino e, conseqüentemente, de ter o seu Conselho de Educação.

Sobre a questão, observa CURY (1997, p. 1) que se constata como positiva inovação, na Lei nº 9.394/96, ser possível instituir os sistemas municipais de educação, com a devida demarcação de área de abrangência assim como, da mesma forma, a determinação que veda sua presença em níveis mais altos sem que, precedentemente, os anteriores tenham sido totalmente atendidos. Portanto, a característica é a descentralização com definição de responsabilidades.

Mesmo que não se disponha de resultados de pesquisa no tocante à questão, pode-se afirmar que as expectativas com respeito ao estabelecimento de sistemas na maioria dos municípios brasileiros ainda não se realizaram. Todavia, constituídos ou não os Sistemas Municipais de Ensino, são muitos os registros relativos às experiências de Conselhos de Educação com variados formatos em municípios brasileiros (TEIXEIRA, L. 2004, p. 698).