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Os Agricultores Familiares e seu Ambiente 1 Localização das Propriedades

4. Caracterização e Trajetória dos Agricultores 1 Quintal da Ilha

4.1.4. O Sistema de Produção

Os sistemas de produção na comunidade de Ratones, há trinta anos atrás, visavam basicamente o autoconsumo. Não havia um grande comércio que proporcionasse uma intensificação das atividades produtivas. A população da comunidade e da região era relativamente pequena, fato de não gerava grande demanda de produtos, somente com a intensificação da urbanização é que se iniciam atividades produtivas mais intensivas. De qualquer forma, a maior parte dos produtos vinha de fora da comunidade.

Nas atividades agrícolas que eram desenvolvidas na comunidade, pouca preocupação havia com a conservação de solo e água. Não se têm relatos sobre a utilização de práticas conservacionistas no uso dos recursos naturais. Como forma de tração mecânica na lavração do solo, era empregado animal, principalmente bois. O uso de tratores foi muito reduzido na comunidade, somente a partir dos anos 70 é que se há relatos do uso de microtratores. As sementes, mudas e manivas eram escolhidas dentre as melhores plantas da lavoura e eram armazenadas como sementes para o plantios dos anos seguintes.

O sistema de produção da unidade familiar de Guilherme se constitui num diferencial. Trata-se de um sistema singular que foi desenvolvido a partir da situação que encontrou ao assumir o imóvel. As condições de solo não eram as mais favoráveis ao cultivo de hortaliças. O solo estava pobre e degradado pela exploração com a cultura da mandioca durante anos, seguido da criação de gado (pastagem). Mas era um imóvel que lhe permitia conciliar outro aspecto, o social, onde tornou-se possível a moradia de sua mãe e seu irmão, além de seu cunhado.

Foto 2: Destaque para os túneis plásticos – Guilherme

Foi necessário um grande desprendimento de trabalho e conhecimentos técnicos para reverter a situação de má estruturação e infertilidade do solo. Mas foi necessário, sobretudo persistência e confiança naquilo que estavam propostos a construir sobre aquela área de terra.

Logo no início Guilherme e Cida desenvolveram práticas de conservação de solo e água que propiciaram o ressurgimento de vida no solo. Guilherme destaca a não lavração (não

revolvimento) do solo como sendo o grande diferencial. Também realizou, neste primeiro momento, práticas de plantio em curva de nível, formação de cordões vegetais, não utilização de tração moto-mecânica, aproveitamento da água pluvial e a não realização de capinas.

Foto 3: Destaque para a cobertura morta com serragem – Guilherme

A partir do momento em que o solo e a propriedade como um todo, foi se estruturando, outras práticas de manejo de solo e água foram sendo incorporadas ao sistema produtivo. Para o preparo do solo, Guilherme salienta que não há preparo mecânico do solo, seja no plantio em covas ou nos canteiros fixos. Esta é uma outra característica interessante, quando na formação dos canteiros, essa operação acontece uma única vez, nos cultivos posteriores não há desestruturação do canteiro para a formação de um novo, mas sim o aproveitamento do canteiro já existente. Para a formação dos canteiros faz uso de jornais, que são colocados sobre a adubação orgânica de cobertura (esterco curtido) e em seguida cobertos com serragem. O jornal, além de ter a função de eliminar por abafamento plantas espontâneas, auxilia na manutenção da umidade.

No prepara das mudas para plantio, utiliza um substrato que tem na sua composição húmus e composto produzidos na propriedade. As mudas são produzidas em bandejas sob cultivo protegido, com a preocupação de não haver um enriquecimento demasiado do substrato e nem a proteção solar excessiva das mudas, fatores que proporcionariam uma muda muito vigorosa, com dificuldades de adaptação por ocasião do transplante.

da comunidade, restos de comida, cascas e folhas de plantas, restos culturais (resteva), cinzas e esterco de galinhas produzidas na propriedade. As cinzas são obtidas, quando disponível, de fornos de pizzarias.

Foto 4: Vista do galinheiro – Guilherme

A adubação orgânica dos cultivos é realizada no plantio e em cobertura, não havendo grandes diferenças entre as quantidades a serem aplicadas para as diferentes culturas. As quantidades são aplicadas da seguinte maneira: covas – 5 Kg/cova; canteiros – 60Kg de esterco bovino fresco/2m²; cinzas – 300g/m² ou 100g/cova, quando disponível. Esta quantidade que Guilherme usa em seus cultivos é suficiente para quatro cultivos sucessivos. Relata que quando observa alguma deficiência, a partir da observação das plantas dos cultivos anteriores, faz uma aplicação suplementar com esterco de galinha em cobertura. Este sistema de adubação foi desenvolvido ao longo dos anos, variando de forma dinâmica na medida que o solo vai se estruturando e criando vida.

Outro sistema de manejo muito interessante é a utilização das plantas espontâneas como companheiras na estruturação do solo e no equilíbrio da vida na horta. Na sua percepção, os insetos e plantas espontâneas fazem o controle biológico de insetos prejudiciais às plantas de interesse econômico.

Além dessas práticas diferenciadas de manejo, nosso agricultor usa também outras práticas consagradas na conservação e enriquecimento da vida do solo, como rotação de culturas, consorciação, adubação verde, uso de cobertura morta, entre outras.

Foto 5: Destaque da cobertura do solo com cobertura viva (mato) – Guilherme

No tratamento de alguns tipos de insetos prejudiciais, utiliza como controle biológico, o produto comercial Dipel (Bacilus thurigiensis). O uso desse produto é eventual, na maioria das vezes, relata que aproveita a vida que é gerada na horta para controle biológico.

Quanto à irrigação da horta, utiliza água captada de fonte própria, através do represamento de um riacho que atravessa a propriedade. Possui um sistema de irrigação por gravidade, com o uso de microaspersores e mangueira de polietileno linfar com microfuros produzidos por laser. Mais recentemente adquiriu alguns túneis plásticos com o objetivo de evitar encharcamento excessivo do solo em épocas de concentração de chuva, além de evitar a perda de mudas pelo impacto das gotas da chuva.

A comercialização de produtos é feita por ele mesmo - Guilherme, em contato direto com os consumidores. A venda dos produtos é feita através da entrega de cestas em domicílios e com os produtos colocados em câmara fria e oferecidos aos consumidores na loja “Quintal da Ilha” de propriedade do casal. Toda limpeza, lavagem, beneficiamento e industrialização dos alimentos produzidos na propriedade, são realizados no local, sendo toda a venda destinada diretamente aos consumidores.

Foto 7: Feira ecológica – Guilherme