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Sistemas de Classificação de doentes como instrumento de gestão

2.8 GESTÃO E CONTROLO

2.8.1 Sistemas de Classificação de doentes como instrumento de gestão

Durante cerca de 20 anos o Yale University Centre for Health Studies trabalhou no desenvolvimento de um sistema de classificação de doentes. O que se pretendia era atingir um sistema com classes de doentes que permitisse um financiamento prospetivo e fosse um modelo para orçamentos hospitalares (Mateus, 2010).

À unidade de classificação do doente designou-se por Grupo de Diagnóstico Homogéneo (GDH). Este sistema de classificação de doentes deve apresentar as seguintes propriedades: i) ter um número manuseável de classes; ii) cada GDH deve ser clinicamente relevante e coerente; iii) cada GDH deve conter doentes com padrões semelhantes de consumo de recursos (Mateus (2010) citando Thompson, Averill e Fetter (1979).

Portugal foi um dos pioneiros na adoção dos GDHs para o financiamento dos hospitais (Mateus, 2010).

A cada grupo é associado um peso relativo, isto é, um coeficiente de ponderação que reflete o custo esperado com o tratamento de um doente típico agrupado nesse GDH, expresso em termos relativos face ao custo médio do doente típico a nível nacional. O índice de case mix (ICM) de um hospital resulta assim do rácio entre o número de doentes equivalentes ponderados pelos pesos relativos dos respetivos GDH e o número total de doentes equivalentes29.

À semelhança de qualquer sistema de classificação de doentes, os GDH exigem a recolha de um Conjunto Mínimo de Dados (CMD), sendo determinantes as variáveis relativas ao diagnóstico principal, outros diagnósticos, procedimentos, sexo, idade, o destino após a alta e o peso à nascença (no caso dos recém-nascidos) para agrupar um episódio numa das 25 Grandes Categorias Diagnósticas (GCD) e, dentro destas, num dos perto de 794 GDH disponíveis. Conforme a presença ou não de procedimentos considerados de realização em Bloco Operatório (BO) existem GDH Cirúrgicos e GDH Médicos. Para os episódios de ambulatório

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Mais informações, consultar: Administração Central do Sistema de Saúde, Portal de Codificação e dos GDH,

Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH). Disponível em [http://portalcodgdh.min- saude.pt/index.php/Grupos_de_Diagnósticos_Homogéneos_(GDH)] acedido em 10-12-2012.

Mestrado Controlo de Gestão- ISCAC Página 42 (permanência do doente por um período inferior a 24 horas), aplicam-se os GDH Cirúrgicos de Ambulatório e os GDH Médicos de Ambulatório30.

Mateus (2010:p 396 a 403) enumera vantagens face à utilização dos GDH, quer na comunicação inter/intra decisores quer como instrumentos de gestão, que se passam a descrever:

 Existe, em cada hospital, um sistema de informação com base nos GDH, o qual fornece aos administradores instrumentos que lhes permitem uma melhor compreensão da sua produção e comunicar com os médicos. Este sistema permite o estabelecimento e monitorização de objetivos para os serviços, Criando “uma ponte na comunicação entre administradores,

responsáveis pelo controlo da despesa das instituições, e os médicos, responsáveis pela realização da despesa”;

 O peso relativo de cada GDH exprime a sua relação com qualquer outro em termos de consumo de recursos, ou seja, quanto maior é o peso relativo de um GDH mais significativo é o consumo de recursos que lhe está associado;  Estando associado a um financiamento prospetivo permite aos hospitais

saberem antecipadamente qual o valor do orçamento que vão receber com base numa previsão de doentes a serem tratados. (Na realidade, quer os administradores hospitalares quer os médicos, esperam que os preços vigentes para cada GDH sejam superiores aos custos do tratamento de doentes individuais. O financiamento prospetivo com base em GDH funciona como uma garantia de que se o hospital for eficiente, no final do ano não haverá deficit, contudo podem existir áreas aonde a prestação de cuidados seja deficitária e outras aonde seja geradora de mais-valias para a instituição).

 O início da realização de relatórios de retorno anuais para os hospitais. A informação disponível facilita a avaliação do desempenho do hospital de forma rotineira e dota os gestores e médicos com informação acerca das práticas nacionais e de capacidade para monitorizar desvios das suas instituições relativamente a padrões observados. Estes relatórios de retorno incluem três conjuntos de informação: medidas de desempenho, alertas para a qualidade dos cuidados e avaliação da qualidade dos dados.

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Mais informações, consultar: Administração Central do Sistema de Saúde, Portal de Codificação e dos GDH,

Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH). Disponível em [http://portalcodgdh.min- saude.pt/index.php/Grupos_de_Diagnósticos_Homogéneos_(GDH)] acedido em10-12-2012.

Mestrado Controlo de Gestão- ISCAC Página 43  As medidas de desempenho incluem o número de episódios de internamento e correspondente demora média por GDH e a evolução do índice de case mix da organização. É também apresentada a demora média global esperada e que corresponde à demora média global que o hospital teria, se a demora média em cada um dos GDH, fosse coincidente à observada para os GDH do grupo de comparação ou para o nível nacional. Também é relatada informação sobre os doentes excecionais em cada GDH.  No âmbito dos alertas para a qualidade dos cuidados, tem como objetivo

alertar os hospitais para diferenças entre os resultados esperados e os obtidos em termos de estado de saúde do doente para grupos de doentes semelhantes.

 Os dados estão no centro de todo o sistema pois influenciam a qualidade da informação disponível e têm impacte no nível de financiamento das instituições, sendo necessário como tal também a sua avaliação.

 Os dados permitem igualmente a criação de uma base de dados nacional, com variáveis clínicas, demográficas e administrativas, com mais de dez milhões de registos e que permite realizar análises estatísticas, estudos epidemiológicos, de morbilidade e de qualidade, bem como a aplicação do protocolo de revisão de utilização.

Seria importante tornar obrigatória a codificação da produção em GDH para os hospitais privados. O número de Hospitais privados tem crescido enormemente no nosso país e não existe uma base de dados nacional que nos permita comparar as realidades dos setores públicos e privado. Esta situação não contribui para a transparência dos processos entre instituições nem entre consumidores.

3. A SAÚDE DA GESTÃO

Após uma breve descrição dos tópicos relevantes que envolvem a economia e gestão da saúde, implica nesta segunda parte, uma preocupação mais explícita com a saúde da gestão. A própria gestão requer cuidados, que a valorizem e estimem por todos que contribuem para o valor em saúde. A falta de planeamento e respetivo controlo, afetam severamente a saúde da gestão, sendo mais grave a sua repercussão na gestão da saúde.

De certa forma, falar sobre a saúde da gestão, vai ai encontro do estipulado no Memorando de Entendimento de “desenvolver um programa específico de redução

Mestrado Controlo de Gestão- ISCAC Página 44 de custos nos hospitais, com medidas que não afetem a qualidade dos cuidados prestados mas que otimizem a utilização dos seus recursos”31.