4. MÉTODO
5.2. ESTRUTURA OPERACIONAL
5.2.4. Sistemas logísticos (transporte em saúde, acesso regulado, prontuário clínico,
Os sistemas logísticos são as tecnologias de informação para gerenciamento da RAS e que garantem uma organização racional dos fluxos e contrafluxos de informações, produtos e pessoas. Eles permitem um sistema eficaz de referência e contrarreferência e trocas eficientes de produtos e informações ao longo dos pontos de atenção à saúde e dos sistemas de apoio17.
Os principais sistemas logísticos das RAS são o cartão de identificação das pessoas usuárias, o prontuário clínico, os sistemas de acesso regulado à atenção à saúde e os sistemas de transporte em saúde, sendo que os três primeiros podem estar integrados em um sistema único, preferencialmente informatizado17.
Devido ao intercruzamento das finalidades e de certas características já analisadas a respeito dos pontos de atenção e sistemas de apoio, em particular o sistema de informação, pode-se resumir a análise desse componente – sistemas logísticos - em relação ao processo de informatização dos sistemas de serviços de saúde, que deve ser baseada em uma comunicação fluida entre as diferentes unidades produtivas da rede.
No entanto, a respeito do centro de comunicação, representado pela APS, e como primeiro resultado de investigação dos sistemas logísticos, verifica-se que o gerenciamento das tecnologias de informação é de domínio da gestão centralizada da SES/DF. A Regional de Saúde não participa dos processos decisórios quanto à ação de informatização, que vem ocorrendo em toda a SES/DF. No entanto, cabe à sua responsabilidade gestora o acompanhamento, avaliação e a informação sobre os processos em andamento, em um trabalho articulado com as subsecretarias.
No organograma central, há duas subsecretarias que estão envolvidas para esse processo: a Subsecretraria de Logística e Infraestrutura da Saúde (SULIS), e a Subsecretaria de Tecnologia e Informação (STI). A primeira garantindo a infraestrutura necessária para a instalação e o funcionamento adequado das
tecnologias de Informação adquiridas pela STI, no caso atual o Sistema Integrado de Saúde – SIS.
O grupo Intersystems do Brasil Ltda., foi contratado diretamente pela SES/DF para o desenvolvimento do projeto Sistema Integrado de Saúde – SIS, por ser fornecedora exclusiva dos produtos “Caché” (banco de dados), “Ensemble” (ferramenta de integração de dados) e “TrakCare” (ferramenta que automatiza as atividades de uma rede de saúde, incluindo dados clínicos, administrativos e financeiros por meio do Prontuário Eletrônico do Paciente).
Estudos mostram que uso de sistemas de informações computadorizados apresenta amplos benefícios para a assistência aos idosos, devido à prevalência maior de doenças crônicas não transmissíveis, que requerem um acompanhamento longitudinal mais permanente. Esse tipo de tecnologia permite uma melhor integração e acesso das fontes de informação por parte do pessoal envolvido na prestação de cuidados, contribuindo para melhor eficiência sobre as informações relacionadas à avaliação geral do idoso182.
Além disso, análises das condições físicas do local de armazenamento dos prontuários evidenciam que, na maioria das unidades, há uma inadequação, geralmente falta de espaço, para o armazenamento e acúmulo de prontuários em prateleiras, dificultando o acesso e a manutenção da organização do arquivo, bem como a preservação dos documentos181.
Frente à evidente necessidade de integração dos dados e de disponibilidade de informações confiáveis e oportunas, para o atendimento e coordenação da atenção, a possibilidade de incorporação de tecnologias de informação e comunicação (TIC), na Saúde da Família, deve ser considerada pelas equipes de saúde e de gestão do sistema de serviços de saúde181.
Contudo, o estudo observacional permitiu verificar o distanciamento entre a teoria e a prática sob vários aspectos. A infraestrutura necessária para o uso da TI ainda é precário em várias unidades da APS, observando-se a ausência de computadores e pontos de internet em número suficiente na APS (somente o CSPa 01 está utilizando). Além disso, os serviços que usam a TI disponibilizada, através do “TrakCare”, constatam que o sistema é lento, fragmentado, desarticulado com os serviços de infraestrutura de modo que, durante o período de trabalho, ocorrem várias falhas.
Ademais, quando ocorrem danos a computadores ou ao sistema, como o contrato de manutenção não está vinculado ao pacote de compra dos softwares, a própria Regional deve operar para o funcionamento do serviço. No entanto, sem recursos humanos ou financeiros específicos para esse fim, a resolução dos problemas é prejudicada.
Também foi possível constatar que o “TrakCare” apenas funciona como prontuário clínico, não sendo possível analisar dados a partir dele. Além disso, esse sistema não permite a regulação entre os serviços de saúde do nível primário e secundário (média complexidade) como forma de melhorar o acesso.
A regulação dos serviços de saúde na SES/DF é realizada pela gestão central da rede através do complexo regulador183 subordinado à Subsecretaria de Regulação, Controle e Avaliação (SUPRAC), utilizando a ferramenta informatizada de gerenciamento de marcação dos procedimentos padronizada pelo MS - Sistema de Regulação (SISREG III).
No caso do DF, estão sobre regulação os serviços de alta complexidade (leitos de UTI); exames de cardiologia e radiologia, a saber: ECG, ecocardio, holter, EEF, teste de esforço, MAPA, Tilt Test, Hemodinâmica, ecografia/ultrassonografia, mamografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética; e especialidades ambulatoriais de cardiologia, dermatologia, oftalmologia e cancerologia.
No entanto, semelhante ao caso de São Paulo, a implementação de ações de regulação se restringiu a estruturação de um complexo regulador. A informatização implantada não representou avanço no sentido de que a APS regional assumisse a gestão das vagas disponibilizadas, ou parte delas, já que muitos desses exames são realizados na própria Regional184. Assim, coexistem na regional de Saúde sistemas
diversos e concorrentes para gerenciamento do acesso a esses serviços.
Os serviços de média complexidade, como o caso das especialidades ambulatoriais disponíveis na Regional de Saúde, são agendados no CSPa 01, que detém as vagas disponibilizadas e convoca os usuários através da lista de espera. Contudo, conforme discutido anteriormente, há pouca oferta de serviços especializados.
No caso ainda da solicitação de exames complementares não disponibilizados, o paciente acaba retornando à APS sem ter a resolubilidade de seu caso, e como já foi abordada, a falta de comunicação entre a APS e a média
complexidade perpetua esse processo de encaminhamento com o retorno dos pacientes a esses serviços especializados “congelando” a fila de espera.
Além disso, não é necessário encaminhamento da APS para a marcação de consultas. O próprio paciente pode solicitar uma vaga para determinada especialidade médica, sobrecarregando ainda mais o sistema sendo um dos maiores entraves para a formação das redes17, 181,182.
“Realizo consultas individuais com agendamento prévio ou demanda imediata. E esse caso está se tornado bastante frequente.” (ENF 2)
Dessa forma, os valores, princípios e elementos da APS, destacados pela OPAS, seguem como utopia para o sistema de saúde brasileiro, tão duramente conquistado no bojo da democratização do país185. A efetivação da APS como porta de entrada depende do ainda frágil equilíbrio entre atendimento da demanda espontânea e programada. A atenção básica capaz de interferir na lógica da oferta a partir da demanda, promover maior acesso, equidade e racionalidade econômica ao SUS é aquela que melhor se articula com os serviços de urgência, especialidades e diagnose-terapia.
Já quanto aos sistemas de transporte em saúde, esses têm como objetivo estruturar os fluxos e contrafluxos de pessoas e de produtos nas RAS. A Regional de Saúde possui 1 veículo da frota própria da SES/DF que realiza as ações em transporte necessárias da APS, como transporte das equipes para as áreas rurais, fluxos de documentos dentro da SES, serviços da gestão.
Chama atenção o dinamismo das equipes que realizam o transporte de materiais com colpocitológicos acondicionados por conta própria já que não há um fluxo logístico de recolhimento nas unidades devido indisponibilidade de carros e motoristas, sendo que algumas equipes têm servidores com acesso a autorização para dirigir o veículo.
Como os diferentes tipos de redes e de sistemas de transporte não ocorrem de forma homogênea no território e não atendem aos interesses de todos os agentes, as funções de articulação das ações e de otimização do trabalho desempenhadas pelas redes geográficas tornam-se restritas e limitadas, sobretudo para aqueles lugares e ações que aparecem como sendo residuais (sem importância) aos interesses do sistema político-econômico hegemônico186.