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Os provimentos gerados pelos entrevistados e pelos seus familiares são bem diversos. Cada unidade visitada tem a característica de produzir ou integrar os sistemas de cultivo com os criatórios. Os cultivos anuais e temporários mais citados são: amendoim, batata doce, batatinha, feijão preto, hortaliças, mandioca, milho (trato animal), cana-de-açúcar, pomar (predominância de frutas cítricas). A produção animal básica existente nas unidades é: aves, suínos, peixes, animais para o trabalho, vacas em lactação, terneiros e novilhas. Outros produtos de origem animal e vegetal ou de transformação caseira são mencionados: ovos, leite, queijo, nata, manteiga, mel, banha, lingüiça, bacon, conservas, sucos, schmiers, melado, açúcar mascavo e panificação.

A produção dos agricultores é variada. O fumo que é cultivado por quase todos os pesquisados (sete casos), funciona como uma atividade essencialmente comercial. Além da importância, já referida, da segurança alimentar das pessoas, a vantagem em integrar a exploração animal com a exploração vegetal nas

propriedades é a possibilidade de reduzir os gastos com insumos de fora. Na operacionalização da transição agroambiental, os resíduos vegetais e animais são racionalmente utilizados como fertilizantes de base orgânica. A experiência de quem já praticou as técnicas de manejo ecológicas, em pequenas áreas, afirma:

Olha pra produzir bem ecológico, tem que escolher uma área de terra bastante forte, cuidar do solo e colocar nela bastante esterco, né, que não falte nada à terra, né. A terra ter todos [...] os nutrientes que percisam [precisam], né, aí, já não dá a deficiência na plantação, também, né.

A - O esterco, o Sr. tinha que comprar?

Não, não. Eu usava assim ..., esterco de casa. Esterco de porco, de gado. Eu usava bastante palhada também. Tudo o que eu trilhava, né, feijão que eu trilhava, aqueles ...

A - Os restos.

É, os restos, eu levava tudo pra horta, né.

A - Os estercos, o Sr. deixava curtindo? Ou largava direto, em cima, lá? Deixava assim; não curtia bem, né. Deixava assim, quando me dava

tempo, assim, daí eu levava pra horta, né, pra lavoura onde eu produzia os alimentos, as verduras (4FECO).

Para quem persevera em busca do redenho ecológico da unidade de produção, é preciso “cuidar na recuperação do solo, com o Ph, tratamentos com verdejos [adubos verdes] e usando os estercos existentes” (3DECO).

Para os especialistas dos métodos não-convencionais de agricultura (Paschoal, 1994), as adubações orgânicas ativam a vida do solo, possibilitando o desenvolvimento de organismos, melhoram as suas propriedades físicas e promovem o equilíbrio de macro e micronutrientes. A idéia da adubação exclusivamente orgânica, ou níveis de substituição da adubação sintética por aquela, depende, segundo outros autores (Igue et al., 1984) das condições de solo, do tipo de cultura, dos custos da adubação. A rigor, os que desenvolvem as premissas da agricultura convencional costumam referir que as fertilizações orgânicas não substituem totalmente as fontes de adubo sintético solúvel, particularmente nos casos de fósforo e potássio (Vieira, 1987). Em solos empobrecidos, essa premissa é verdadeira. A lógica, no entanto, não é manejar o solo, sistematicamente com um déficit de nutrientes. A premissa ecológica básica é criar condições, ao longo do tempo, de equilíbrio físico-químico e biológico do solo. Trata-se de criar diversidade acima e abaixo do solo, através da aplicação de técnicas de manejo preventivas e integradas (PASCHOAL, 1994). Algumas dessas, foram citadas neste estudo, ou através dos autores-chave (vide Cap. 4.1), ou mencionados pelos entrevistados. Em poucas palavras, “o solo você precisa cuidar antes de você produzir alimentos ecológicos” (4DECO).

Estes agricultores, como foi dito, procuram aproveitar os resíduos orgânicos gerados na unidade, conforme, principalmente, a disponibilidade de serviço internamente. Vez por outra, mesmo os feirantes ecológicos, recorrem à aquisição do composto orgânico no mercado externo. Se tivessem que arcar com o transporte, muito provavelmente, a compra se tornaria antieconômica para estes e tantos outros agricultores demandantes de transporte agrícola. As Prefeituras Municipais, quase sempre, subsidiam o transporte de produtos para agricultura, casos do calcário e do composto orgânico. As plantas de cobertura do solo (adubos verdes) mais utilizadas pelos entrevistados são: azevém, aveia, ervilhaca e nabo forrageiro. As vantagens dessas culturas sobre o solo, na entresafra, são perceptíveis aos olhos do agricultor pela “proteção”, evitando a erosão causada pela chuva, e serve para implantar o “cultivo mínimo”. Falas como estas: o nível de “produção melhora”, o “produto fica viçoso”, “aparece as minhocas”, “nasce ervas moles”, a “terra recuperada fica fofa”, “o solo é bem mais fácil de trabalhar, o solo não tá [está] mais tão limpo”, “a terra tem mais liga”, “a terra ficou mais escura”, “potencial muito melhor na planta e uma planta bem mais resistente”, são manifestações que resultam da combinação de práticas ecológicas para conservar o solo. Não seria, em absoluto, uma única prática isolada, capaz de potencializar, simultaneamente, a macro, meso e microvida, a fertilidade e a fofice do solo131.

Por causa da produção de leite em escala comercial, certos agricultores são forçados a investirem em pastagens (dois casos) e em pastejo rotativo (um caso). As espécies mais usadas para alimentação animal são: azevém, brachiaria, milheto, milho (silagem) e teosinto. Os dois maiores comerciantes de leite (vide quadro 4) complementam a alimentação animal, basicamente, com rações específicas de fora, fornecidas pelo comprador de leite. Noutros casos, a alimentação dos bovinos, em geral, é baseada em pastagens nativas. A complementação alimentar desses animais, costumeiramente, se realiza no inverno, através do fornecimento de plantas ensiladas, milho e cana-de-açúcar da produção interna, além da suplementação com certa quantia de farelos de arroz e soja. A criação de suínos e aves é praticamente voltada ao abastecimento dos grupos familiares. Vez por outra, vende-se (por

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Detalhes dessa temática podem ser encontrados em Ana Primavesi (1985), na obra “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais”. Estudos técnico-agronômicos com diferentes espécies utilizadas como adubos verdes foram realizados por Igue et al., (1984). Neste documento, os autores informam com detalhes as principais características das espécies, como utilizá-las e as vantagens que proporcionam ao agricultor, algumas destas, condizentes com as afirmações dos entrevistados.

encomenda prévia) aves inteiras ou partes de carne suína, nas feiras fixas, tanto da ECOVALE quanto da ASSAFE. O manejo alimentar desses animais não difere muito entre os pesquisados. Apesar disso, os filiados da ECOVALE dão preferência às regras que balizam a criação ecológica. Prover os animais com alimentos “sadios” da propriedade e adquirir raças puras (caso das aves) são as orientações mais observadas pelos agricultores que perseguem a transição agroambiental. Em geral, as aves são alimentadas com milho, ração inicial, farelos de arroz e soja e plantas verdes; elas também dispõem de grandes espaços para a movimentação e caça de alimentos. Os suínos são criados em pocilgas à base de milho, pasto, mandioca, batata-doce e farelo de arroz.