• Nenhum resultado encontrado

3.1 UMRECONHECIMENTOTEÓRICO

A economia industrial surgiu nos anos 70 para com- pensar a incapacidade que tinham as teorias econômicas de compreender e prever o desenvolvimento de tipos de ativi- dades, quando não havia uma situação de concorrência pura e perfeita ou uma situação de oligopólio ou monopólio (me- soeconomia). Uma das primeiras conquistas da economia industrial foi a de reconhecer o alcance de instrumentos do marketing-gestão como ferramentas pertinentes para a aná- lise econômica. Dessa forma, alguns conceitos utilizados no contexto da economia de cadeia de produção foram valida- dos e legitimados em contextos muito mais amplos do que os da empresa. Podem-se citar o ciclo de vida do produto, a diversifi cação, a teoria dos jogos, da aprendizagem (Porter, Morvan etc.)

A análise da cadeia de produção foi considerada como um conceito fundamental da economia industrial e como ferramenta de acompanhamento da política econômica por várias razões. Com efeito:

– nesse contexto foram forjados os primeiros elementos de ajuda à decisão pública, em matéria de indústria agroali- mentar (IAA);

– a validação dos conceitos de marketing-gestão teve pa- pel importante como elemento de verifi cação científi ca do valor da abordagem empírica, baseada na racionalida- de procedimental e na imaginação dos especialistas da cadeia de produção1;

L

EUSIE

– a complexidade das operações técnicas que parece tor- nar obsoleta a segmentação tradicional por produto ainda não questionou a sua pertinência fundamental: a abordagem estrutural e estratégica continua a ser o fun- damento da análise, qualquer que seja o nível de elabo- ração dos produtos.

3.2 ASCONTRIBUIÇÕESDASNOVASTEORIAS

Ainda resta saber se o conceito de cadeia de produ- ção é um bom campo para as novas teorias mesoeconômi- cas, quer tratem de informação, de relações industriais dos efeitos de dominação, de proteção ou de inovação. E tam- bém se essas novas teorias são utilizáveis no contexto das análises compreensíveis, por parte dos operadores, pesqui- sadores e Poder Público.

A chamada teoria dos custos de transação preten- de oferecer meios aos Conselhos de Administração para ar- bitrar entre Mercado e Hierarquia, ou seja, sobre o que deve permanecer como atividade dentro da empresa e o que deve ser delegado às estruturas externas, para maximizar o lucro. Tal dilema está pouco presente nas empresas que se inscrevem nas lógicas da cadeia de produção, principalmen- te as cooperativas muito ligadas ao seu território de origem, com suas competências principais. Portanto, ela tem como limite principal o fato de ser pouco pertinente no contexto voluntarista que impregna boa parte das IAA francesas, que, em sua maioria, sobretudo as cooperativas, não tiveram, his- toricamente, que fazer uma triagem das funções necessárias para a elaboração e a valorização dos produtos em função da sua rentabilidade presente e futura, e sim aceitá-las e in- tegrá-las da melhor maneira possível em uma lógica econô- mica.

1 Cf. Edgar Morin : La science sans conscience est-elle condamnée? /

L

EUSIE

A questão da exteriorização, mesmo que pareça con- trária aos modos de funcionamento das cadeias de produção é cada vez mais colocada, inclusive no meio cooperativo, pe- las necessidades da concorrência internacional. Nesse caso, é a criação de fi liais comuns a várias entidades cooperativas que pode ser analisada como uma adaptação original, em conformidade com o princípio de cadeia de produção e, ao mesmo tempo, realista com relação ao mercado.

Vemos a especifi cidade dos ativos como elemento de refl exão importante para o futuro da empresa, consideran- do, entretanto, que as competências, geralmente exclusivas dos terrenos e territórios de produção, fazem parte desses ativos.

Pode-se observar também a defi nição dos tipos de contratos: constata-se que os contratos clássicos são anti- nômicos da lógica da cadeia de produção, que os contratos ditos neoclássicos (relação no médio e no longo prazo com a necessidade de arbitragem exterior) englobam bastan- te bem um certo número de tipos de relação praticada nas IAA. Por outro lado, o contrato específi co é aquele que me- lhor corresponde à relação de parceria de cadeia de produ- ção, sobretudo nos contextos de diferenciação, pois se trata de um contrato que leva em consideração as características dos parceiros; as relações organizam-se ao redor de normas construídas progressivamente e que regulam, mais do que a contribuição inicial, as relações entre as partes. Como vere- mos, essa defi nição corresponde ao funcionamento dos se- los ofi ciais de qualidade e à certifi cação, muito comum na França.

A teoria da agência identifi ca na empresa um nó de contratos que são feitos e desfeitos ao sabor das circunstân- cias, enfatizando-se sobretudo os direitos que têm os acio- nistas de exigir e controlar os meios, para maximizar a efi ciên- cia fi nanceira da empresa.

Em um setor conhecido por seu medíocre rendimen- to de capital intensivo, nascido da vontade de sobrevida dos

L

EUSIE

atores e do voluntarismo institucional, esse formato de aná- lise tem pouco impacto. Ele tem eventual utilidade na refl e- xão da defi nição recíproca das funções e interesses dentro de uma cadeia de produção, assim como as relações de força e efeitos de dominação.

Os evolucionistas insistem na adaptação técnica, na aprendizagem e nas rotinas. Eles seguem a lógica da cadeia de produção, quando insistem na construção de competên- cias, feita de maneira paralela e comum aos atores. Eles tam- bém fornecem contextos de análises pertinentes das esco- lhas tecnológicas e da formação dos conhecimentos, que podem ser preciosos quando se trata de prever e analisar as formas de mudanças e suas conseqüências.

A teoria das Convenções também dá contribuições interessantes, sobretudo num contexto de pesquisa da dife- renciação, pois enfatiza a co-construção, por parte dos atores, das qualifi cações dos produtos e das pessoas. Ela também dá um lugar de destaque à função das Instituições, o que é pri- mordial, como se pôde observar, no contexto francês. A teo- ria é portanto amplamente utilizada por pesquisadores que se interessam pela qualidade e especifi cidade dos produtos, para quem é, de bom grado, considerada como o contexto teórico mais adequado para a análise compreensiva de di- ferentes vias de desenvolvimento, utilizando, além do mais, amplamente os autores em organização.

Entretanto, ela parece funcionar melhor nos contex- tos artesanais ou semi-artesanais, nos quais uma qualifi ca- ção precisa assume imediatamente uma importância estra- tégica, do que num contexto industrial onde as questões são mais complexas.

Conclusão. Pode-se constatar que, em vez de ques- tioná-las, essas teorias recentes apresentam novos suportes à análise da cadeia de produção, ao contrário do que se po- deria esperar, quando, após o desenvolvimento das IAA, po- der-se-ia pensar que tal abordagem específi ca não teria mais razão de ser. Isto signifi cava esquecer que:

L

EUSIE

– por um lado, a ancoragem no território de várias indús- trias, sobretudo das cooperativas, as obriga a manter uma especifi cidade forte na defi nição de suas estratégias; – por outro lado, que a missão e a sobrevivência das em-

presas agroalimentares, com fraco rendimento de capital intensivo, justifi cam sempre um forte compromisso insti- tucional, mantendo assim uma atitude de busca da com- preensão dos fenômenos.

Quanto à prática, concordamos com o que diz Fabrice Marty, que, a respeito de uma cadeia de produção específi ca, designou a teoria das convenções como o contexto teórico mais adequado para a análise compreensiva de diferentes vias de desenvolvimento, utilizando, além do mais, ampla- mente os autores de organização.

3.3 UMPROBLEMAIMPORTANTEPARAAECONOMIADECADEIADE PRODUÇÃO: EFEITOSDADOMINAÇÃOEOLIGOPOLIZAÇÃODA DISTRIBUIÇÃO

Até aqui, cada relação resulta, em princípio, da livre es- colha do operador, mesmo se a afi rmação da dominação da grande distribuição faz pesar nas cadeias de produção um conjunto de restrições que limitam de fato um certo número de escolhas.

A complexidade da observação tornou necessária a segmentação da realidade, permitindo a análise das intera- ções, daí a noção de cadeia de produção.

A questão inicial da análise de cadeia de produção era acompanhar o nascimento e o desenvolvimento endógeno de um corpo industrial, sendo seu corolário a independência eco- nômica das empresas. Ora, o jogo interativo dos operadores, mesmo baseando-se em uma fi nalidade consensual (que in- clui a pesquisa de situações de dominação de empresas sobre seus parceiros a montante e a jusante na cadeia), é o que se chama, em linguagem de gestão, de controle do meio am- biente. Constata-se que, em alguns casos, o cuidado de realizar economias de gestão e de otimizar a organização logística

L

EUSIE

leva as empresas a buscar prioritariamente, quando possível, o contato com os clientes ou fornecedores da mesma ordem, no plano quantitativo. É esta adequação de fato que explica em grande parte a perenidade das estruturas pequenas e médias.

O efeito de dominação vai da simples infl uência sobre a decisão do parceiro, até a imposição pura e simples. A pes- quisa e a prática do consenso são feitas num contexto mu- tante, devido às constantes interações aplicadas na pesquisa de adequação da oferta e da demanda e pode inscrever-se em um ambiente bastante confl ituoso.

Para retomar alguns conceitos de base da economia industrial, a posição estrutural das empresas lhes dá um po- der que transparece na sua estratégia.

A fi nalidade da gestão é a defi nição e a aplicação dos meios da empresa, com vistas ao controle do ambiente eco- nômico. Mediante o objetivo consensual com várias empre- sas, desenha-se a defesa dos interesses específi cos de cada empresa, diante dos seus parceiros.

Vários comportamentos podem intervir:

– Ou bem a empresa mais poderosa, portanto potencial- mente dominante, considera que o seu interesse con- siste em infl uenciar a estratégia do(s) seu(s) parceiro(s), dando-lhes a possibilidade de fazer ajustes estruturais (investimentos materiais e imateriais) necessários à con- tinuação da relação. Fica-se então na ótica de parceria, mesmo se o diálogo for sem concessão, pois o parceiro dominante reconhece no outro uma capacidade de defi - nir e de aplicar uma estratégia própria.

– Ou bem a empresa mais poderosa exige diretamente que sejam feitas modifi cações estruturais no fornecedor ou cliente, mediante uma lista de especifi cações draconia- na e inteiramente imposta, sem consulta prévia. O poder está geralmente ligado à estrutura do mercado, como por exemplo, a adesão a um oligopólio, como, no caso da dis- tribuição livre, com a forte participação de 70% no mer- cado agroalimentar.

L

EUSIE

Anunciamos acima que o prolongamento máximo da situação intermediária entre a concorrência pura e perfeita e o oligopólio era um objetivo importante do Poder Público. Agora que um dos graus da cadeia de produção – o menos especializado – atingiu esse estágio, o objetivo precedente deve englobar a limitação do exercício do poder oligopolís- tico de um dos elos da cadeia de produção sobre os outros, o que inevitavelmente provocaria:

– Um processo rápido de eliminação das empresas que queiram continuar a defi nir a sua própria estratégia. Sem dúvida, existem casos em que as empresas são incapazes de fazer isso, o que as condena ao desaparecimento ou à venda. Em outros casos, a negação da estratégia própria da empresa por parte da empresa dominante leva a eli- minar do mercado as empresas inovadoras.

– Um empobrecimento da oferta qualitativa dos produtos, devido ao desaparecimento prematuro das pequenas e médias empresas inovadoras.

– E, como conseqüência, uma aceleração da oligopolização dos níveis de cadeias que não sejam de distribuição. – Paradoxalmente, um afrontamento cada vez mais feroz

entre os oligopólios de transformação, como por exem- plo Danone na França, com, em perspectiva, uma maior vulnerabilidade nacional à oferta do exterior.

A dinâmica de cadeia de produção continua a ser a melhor arma de que o Poder Público dispõe para manter e incentivar a iniciativa e a inovação que vêm das pequenas e microempresas e das pequenas e microindústrias.

Essa dinâmica pressupõe que essas empresas e indús- trias não sejam apenas estruturas excessivamente domina- das pelo oligopólio de Distribuição, mantendo porém toda a sua capacidade estratégica: regulamentação, inovações, etc. É então que intervém um trunfo importante das indústrias agroalimentares: a certifi cação do produto.

L

EUSIE

4. A ECONOMIADACADEIADEPRODUÇÃO, CONTEXTODEEMERGÊNCIA